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A Incorporação de tecnologias no SUS

No documento Conasems Brasília 2021 (páginas 183-188)

Após a oficina, alguns assuntos identificados pela equipe de Aurora, ain- da necessitavam de ser trabalhados e contemplados no plano de ação que a coordenadora Karla está organizando. A equipe destacou no produto da oficina um conjunto de situações problemas relacionados ao acesso e utilização de medicamentos e produtos de interesse para a saúde.

Karla buscou novamente o apoio de Fernanda, e em conversa ambas bus- caram analisar em loco as situações identificadas, e perceberam que muitos usuários apresentavam a prescrição originadas por estabelecimentos de saúde de outros municípios da região de Vale feliz, com medicamentos que não são ofertados no seu município de origem, mas eram padronizados em Aurora e Vila SUS.

Da mesma forma, identificaram que alguns dos seus munícipes estavam requerendo medicamentos ofertados nos municípios vizinhos e que não constavam nas suas REMUME, o que levou as farmacêuticas informar aos seus respectivos secretários. João Pedro e Olga ao saberem desta situação perceberam que parte dessas requisições recebidas por ambas SMS eram consequência dessa desarticulação entre os municípios, e resultaram em ações judiciais.

Diante deste cenário, surgiram alguns questionamentos importantes: »Como definir o elenco de medicamentos que atenda a

necessidade dos municípios e da região de Serra dos Sonhos?

»Quais os instrumentos que orientam a padronização dos medicamentos?

Com base nas recomendações e normativas, Karla e Fernanda conversa- ram com os gestores João Pedro e Olga, para a adoção pela região de Vale Feliz de uma Relação Regional de Medicamentos Essenciais (REREME), e assim o conjunto dos municípios das demais regiões, poderiam inovar na elaboração de suas REREME.

João Pedro e Olga, propuseram a discussão na CIR, entendendo que o diálogo, os pactos e a cooperação entre os municípios da Região de Saúde, é o caminho para discutir, identificar as necessidades, situações e problemas de saúde enfrentados por cada município e também na região, sendo que este cenário pode ser compartilhado pela sua semelhança e complexidade, e necessitam de uma ação coletiva.

No decorrer da discussão e com todas as orientações repassadas pelo COSEMS, os gestores alertaram que a definição do elenco de medicamentos, não deve se restringir apenas às necessidades prioritárias, mas também ser um instrumento de gestão com a clara definição de responsabilidade e financiamento, entre os três entes federados (União, estadual e municipal) dos medicamentos ofertados, sendo fundamental integrar este processo no Planejamento Regional Integrado (PRI).

Vendo a necessidade de apoiar os gestores da região, Vitória organizou uma reunião para tratar sobre a elaboração do elenco de medicamentos e

sobre a incorporação de novas tecnologias em saúde.

A apoiadora, apresentou como utilizar a RENAME como instrumento norteador da racionalidade terapêutica. Explicou que a edição atual está di- vidida em quatro seções: A, B, C e D. De forma geral, ao longo do documento, os itens são apresentados com sua denominação genérica, concentração e/ ou composição, forma farmacêutica e/ou descrição.

Cabe destacar que a RENAME é elaborada atendendo aos princípios fun- damentais do SUS, isto é, a universalidade, a equidade e a integralidade, con- figurando-se como a relação dos medicamentos disponibilizados por meio de políticas públicas e indicados para os tratamentos das doenças e agravos que acometem a população brasileira. Seus fundamentos estão estabelecidos em atos normativos pactuados entre as três esferas de gestão do SUS.

A partir da criação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), esta passa a ser responsável por propor a atualização da RE- NAME, conforme estabelecido no Decreto nº 7.646, de 21 de dezembro de 2011. Vitória apresentou ainda, a relacão entre uma possível REREME e o que deve anteceder a essa definição : a organização da RAS, incluindo os pro- cessos de cuidado, protocolos, fluxos, instrumentos e meios para guardar coerência com seus objetivos. Após as explicações de Vitória, os gestores municipais de saúde das duas regiões, demandaram outras informações:

»Como funciona a CONITEC?

»Os municípios possuem representação na CONITEC?

»Como os municípios podem solicitar uma demanda de incorporação de tecnologias em saúde?

Diante destes questionamentos, Vitória explicou que a CONITEC é um ór- gão colegiado de caráter permanente, que tem como objetivo assessorar o Ministério da Saúde nas atribuições relativas à análise e à elaboração de estudos de avaliação dos pedidos de incorporação, ampliação de uso, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde; e na constituição ou na alteração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas (PCDT).

Por meio de instrumento legal, a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) foi institucionalizada no Brasil como critério indispensável para a tomada de decisão sobre a incorporação tecnológica no SUS.

A atualização do elenco da RENAME proposta pela CONITEC compreende:

»Um processo reativo em que os demandantes são órgãos e instituições, públicas ou privadas, ou pessoas físicas; e

»Um processo ativo conduzido por uma subcomissão da CONITEC – a Subcomissão Técnica de Atualização da RENAME e do Formulário Terapêutico Nacional.

Em ambos os processos, os medicamentos e insumos são incorporados, excluídos ou alterados no SUS, após avaliação da CONITEC e decisão do Ministério Saúde respeitando as pactuações na CIT das responsabilida- des financeiras destas incorporações, tendo o prazo de 180 dias para a disponibilização nos serviços de saúde.

A apoiadora reforçou que é fundamental que os gestores municipais se identifiquem como protagonistas no processo de incorporação/inclusão, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde, sendo integrantes do ple- nário da CONITEC. Para isso, é essencial compreender como se dá a parti- cipação dos municípios nesses processos.

Na perspectiva dos gestores do SUS o principal objetivo do processo como um todo é escolher bem (a melhor tecnologia) em uma enorme va- riedade opções terapêuticas, e otimizar os recursos disponíveis.

A premissa básica que tem de ser compreendida é: nem tudo o que é novo é bom e/ou melhor do que já está em uso, também nem sempre o produto (tecnologias em saúde) mais caro é melhor ou tem qualidade su- perior. Saber escolher e distinguir as novidades (tecnologias que prometem inovação) exige um trabalho complexo com análise de evidências, e implica na sustentabilidade do sistema. Vitória enfatiza que “toda inovação traz consigo incertezas, e não se conhecem todo o leque de eventos adversos e/ ou efeitos colaterais, além dos potenciais benefícios que prometem”.

Uma das polêmicas no dia a dia da gestão do SUS é que teoricamente tudo está coberto e todas as pessoas têm direito a tudo, no entanto, tem de se apurar e minimizar os riscos, sem prejuízo das ações consolidadas, uma incorporação mal planejada pode consumir recursos e impactar nos tratamentos e procedimentos já consolidados na prática clínica.

Ao fim da reunião Vitória reforça que os municípios utilizem a RENAME e evitem incluir novos medicamentos em suas listas sem avaliação e reco- mendação prévia da CONITEC, encerrando com as orientações de como os municípios devem proceder para submeter uma demanda de incorporação de tecnologias em saúde.

Vitória relembra, que os entes podem constituir suas listas complemen- tares mediante a uma condição de saúde pública que justifique a utilização de tecnologias não incorporadas pelo SUS. O cuidado que deve ser observa- do é que qualquer um pode incluir e utilizar tecnologias por si, ao definir suas listas complementares, os entes (estado ou município) deverão dispor de recursos próprios para provimento, e deverão se basear nas melhores

Outra preocupação a ser observada é quando um município incluir uma tecnologia (medicamento, produto) pode desequilibrar e gerar demanda para os outros municípios que não o fizeram. Por isso é recomendável que as demandas sejam submetidas a avaliação pela CONITEC, seja algo que estão pensando em incorporar, ou que já tenha sido incorporado no passa- do, e assim avaliar, saber se vale a pena incluir ou retirar dos seus elencos complementares, possibilitando inclusive, minimizar as ações judiciais.

Portanto os municípios que identificarem a necessidade de inclusão de uma nova tecnologia no SUS, de ampliação do uso de uma tecnologia já in- corporada ou de exclusão de alguma tecnologia ofertada pelo sistema podem solicitar apoio ao COSEMS que encaminhará a demanda para a CONITEC via sua representação no plenário pelo CONASEMS. Embora não afete os processos judiciais, , os municípios que são acionados judicialmente para disponibilizar tecnologias não ofertadas pelo SUS podem solicitar a avaliação dessa tecnologia pela Comissão.

Para saber mais:

Brasil. Ministério da Saúde. Relação Nacional de Medicamentos Essen- ciais: RENAME 2020 [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secre- taria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. – Brasília: Ministério da Saúde, 2020. 217p

Organização Panamericana de Saúde: https://www.whocc.no/atc_ddd_ index/

Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias em Saúde no SUS: http://conitec.gov.br/

Brasil. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 12401 de 28 de abril de 2011. Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a assistência terapêutica e a incorporação de tecnologia em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS

Decreto nº 7508/2011 -Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências.

Para saber mais: http://assistenciafarmaceuticarmr.galoa.com.br/ https://antigo.saude.gov.br/assistencia-farmaceutica

ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE LA SALUD. ServiciosFarmacéu- ticosbasadosenlaAtención Primaria de Salud: documento de posición de la OPS/OMS. Washington DC: OPS, 2013. 106 p.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Es- tratégicos.Serviços farmacêuticos na atenção básica à saúde / Ministé- rio da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 108 p.

07CAPÍTULO

No documento Conasems Brasília 2021 (páginas 183-188)