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A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS 1 O que Inspiração Não E

I A INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS

2. A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS 1 O que Inspiração Não E

2.1.1. Mecânica ou Ditada

Inspiração não significa que os escritores receberam o conteúdo de seus escritos por ditado divino. Se assim fosse, significaria que eles foram apenas os secretários, amanuenses de Deus, que copia­ vam pura e simplesmente o que lhes fora ditado;257 logo, não have­ ria estilos diferentes na Bíblia; o que, como sabemos, há. O estilo, neste caso, seria do Espírito Santo! Um dos textos que indicam o contrário é 2Pe 3.15, 16, quando Pedro faz alusão à maneira própria de Paulo escrever.

2.1.2. Iluminação

A Inspiração não consiste apenas numa intensificação da ação do Espírito Santo sobre os escritores, de tal forma que eles puderam ter um grau mais elevado de percepção espiritual. Se a inspiração fosse apenas isso, cairíamos num subjetivismo extremamente peri­ goso, pois, neste caso, a veracidade dos textos bíblicos dependeria da apreensão de cada “iluminado” para que pudesse registrar o que percebera. Conseqüentemente, não poderíamos considerar a Bíblia como o registro inerrante da Palavra de Deus, visto que a Bíblia apenas conteria a Palavra que foi apreendida, captada... Este con­ ceito contraria o ensino das Escrituras (vd. Jo 10.35; At 4.25, 26; 6.2), que afirma que Deus fala através dos seus servos, sendo o seu registro, a Palavra de Deus, a qual não pode ser anulada.

2.1.3. Intuição

Inspiração não significa que os escritores foram inspirados da mesma forma que os grandes autores da literatura, inventores, cien­ tistas, músicos etc.258 Se assim fosse, a Bíblia poderia até ser um

257 Notemos que não haveria nenhum problema em copiar o “ditado” divino; o que esta­ mos dizendo é que a Bíblia não nos ensina isto.

158 Richardson, que sustenta tal posição, diz: “A inspiração dos livros da Bíblia não nos força a aceitar que foram produzidos ou escritos de qualquer maneira genericamente difc-

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belíssimo livro, todavia apenas um livro humano, criado pela geni­ alidade humana e, por mais belo e extraordinário que fosse, seria falível, cheio de erros, preceitos antiquados e, o pior de tudo: não nos conduziria a Deus (Jo 5.39).

2.1.4. Parcial ou Fracional

Inspiração não significa que os autores tiveram apenas uma ins­ piração parcial quanto a alguns assuntos da Bíblia. Os defensores desta idéia entendem que doutrinariamente a Bíblia contém a Pala­ vra de Deus (embora não haja unanimidade quanto à aceitação des­ ta ou daquela doutrina); contudo, ela contém erros de história, cro­ nologia, arqueologia, geografia etc. A idéia mais comum é a de que a Bíblia só teria autoridade em matérias morais e espirituais. Este conceito traz em seu bojo a pressuposição consciente ou inconsci­ ente de que a Bíblia tem uma “inerrância limitada”, restrita aos assuntos morais e espirituais.259 Todavia, Paulo diz que “Toda Es­ critura é inspirada por Deus...” (2Tm 3.16). O labor humano em tentar separar - como se existisse o que separar - o que é “inspira­ do” do que “não é inspirado”, se constitui em algo nocivo e temerá­ rio, visto que o homem arroga para si a condição de superior à Pala­ vra, colocando-se sobre a Bíblia para julgá-la, com critérios subje­ tivos, estabelecendo um “Cânon dentro do Cânon”, rejeitando o próprio testemunho das Escrituras.

rente daquela por que se escreveram outros grandes livros cristãos, como, por exemplo, A Imitação de Cristo ou O Peregrino. A inspiração do Espírito Santo, no sentido em que o apóstolo Paulo disse ter a direção do Espírito, não cessou quando foram escritos todos os livros do Novo Testamento, ou quando se estabeleceu finalmente o cânon do Novo Testa­ mento. Há uma boa porção da literatura cristã que vai do século segundo ao século vinte, que pode com muita propriedade ser tida como inspirada pelo Espírito Santo, precisamente no mesmo sentido formal que julgamos inspirados os livros da Bíblia” (Alan Richardson,

Apologética Cristã, 2“ ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1978. p. 167).

2WR.C. Sproul apresenta de forma clara e objetiva alguns desvios decorrentes da aceitação da “inerrância limitada” (R.C. Sproul, Sola Scriptura: Crucial ao Evangelicalismo: ln: James M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, pp. 134-138. A interpretação católica roma­ na, a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), corresponde a este conceito. Conforme já vimos, o Concílio declarou: “Deve-se professar que os livros da Escritura ensinam com certe­ za, fielmente e sem erro, a verdade que Deus em vista da nossa salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras” (Compêndio do Vaticano II, 11.3.11. § 179, p. 129).

2.1.5. Mental

Inspiração não significa que os autores secundários tiveram ape­ nas os seus pensamentos inspirados, mas não as palavras de seus registros. Se isto fosse assim, os pensamentos seriam verdadeiros, contudo o registro destes pensamentos poderiam e, de fato, conteri­ am erros. Ora, esta concepção é extravagante, pois admite a possi­ bilidade de Deus inspirar o pensamento humano sem palavras. Não é justamente em palavras que nós pensamos, ainda que a sua ex­ pressão possa ser pictórica?! Além do mais, a Bíblia nos ensina que Deus dá as palavras para serem registradas (cf. Ex 24.4; 34.27; Is 30.8; Jr 1.9; 36.2; Hc 2.2; Ap 21.5). À inspiração termina não nas idéias, mas no registro final das Escrituras (2Tm 3.16).

2.2. O que Entendemos por Inspiração 2.2.1. Considerações Gramaticais

A palavra “inspiração” não ocorre no Novo Testamento. Ela só aparece uma única vez no Antigo Testamento: “Mas ninguém diz:

Onde está Deus que me fez, que inspira (Hb. ]ri3 (Nãthan) = “dar”,

“conceder”) canções de louvor durante a noite" (Jó 35.10; ARA).260 No Novo Testamento, a palavra é decorrente de uma tradução inter- pretativa do Texto de 2Tm 3.16, que diz: “Toda Escritura é inspira­

da por Deus...". A expressão “inspirada por Deus” provém de um

único termo grego, ©eÓJivetmoç, que só ocorre aqui (não aparece na LXX). Todavia, a tradução que temos (Almeida, Revista e Atua­ lizada) segue aqui a Vulgata, que traduz, “Divinitus Inspirata”.261

A palavra ©eòjiveuaxoç não significa “ins-pirado”, mas, sim,

“ex-pirado”', ou seja, ao invés de soprado para dentro, soprado para

fora. Este adjetivo, comenta Colin Brown, “não significa qualquer modo específico de inspiração, tal qual alguma forma de ditado divino. Nem sequer dá a entender a suspensão das faculdades cog­ nitivas normais dos autores humanos. Do outro lado, realmente quer 260 o verbo é traduzido da mesma forma em BJ. ARC eAC R traduzem mais literalmente

por “dá”.

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dizer algo bem diferente da inspiração poética. É um erro omitir o elemento divino no termo, transmitido por theo (The New English Bible faz assim, ao traduzir a frase; ‘toda escritura inspirada’).262 É claro que a expressão não dá a entender que algumas escrituras são inspiradas, enquanto outras não são. Todas as Sagradas Escrituras expressam a mente de Deus; fazem assim, no entanto, com o alvo da sua operação prática na vida.”263 O que Paulo quer dizer é que toda a Escritura Sagrada é soprada, exalada por Deus. Ou, se tomar­ mos a palavra apenas no sentido passivo, diremos que “Deus em sua revelação é soprado pelas páginas das Escrituras”. Desse modo podemos dizer que Deus é o Autor e o Conteúdo das Escrituras.

Benjamin B. Warfield (1851-1921), comentando o Texto de 2Tm 3.16, diz:

“N um a palavra, o que se declara nesta passagem fundam ental é, sim- plesmente, que as Escrituras são um produto divino, sem qualquer indica- ção da maneira como Deus operou para as produzir. N ão se poderia esco- lher nenhum a outra expressão que afirmasse, com maior saliência, a pro­ dução divina das Escrituras, como esta o faz. (...) Paulo (...) afirma com toda a energia possível que as Escrituras são o produto de uma operação especificamente divina.”264

Com isso estamos dizendo que o Deus que se revelou esteve “ex­ pirando” os homens que ele mesmo separou para registrarem esta revelação. A inspiração bíblica garante que seja registrado de forma veraz aquilo que a inspiração profética fazia com respeito à palavra do profeta, para que ela correspondesse literalmente à mente de Deus; em outras palavras: a Palavra escrita é tão fidedigna quanto a Palavra falada pelos profetas; ambas foram inspiradas por Deus.

262 De fato, assim lemos na The New English Bible: New Testament, Great Britain, Oxford University Press, 1961: “Every inspired scripture”. Mesmo equívoco comete ARC. Vd. uma boa discussão sobre este ponto In: Edwin A. Blum, The Apostles’ of Scripture: In: Norman L. Geisler, ed. Inerrancy, Grand Rapids, Michigan, Zondervan Publishing House, 1980, p. 45ss.

i<a C. Brown, Escritura: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional cie

Teologia do Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1981-1983, Vol. II, pp. 103-104. Vd.

a análise da questão In: Homer C. Hoeksema, The Doctrine of Scripture, Grand Rapids, Michigan, Reformed Free Publishing Association, 1990, p. 40ss.

264 B.B. Warfield, The Inspiration of the Bible: In: The Works o f Benjamin B. Warfield,

A Bíblia é o registro infalível da Palavra de Deus. Deus fez com que os seus servos registrassem a sua vontade mediante a Revela­

ção,, Inspiração e Iluminação do Espírito; desta forma, o Deus Tri-

úno é o Autor das Escrituras, sendo a Inspiração mais propriamente atribuída ao Espírito (cf. 2Sm 23.2; Mt 22.43; At 1.16; 4.24-26; 28.25; Hb 3.7-11; 9.6-8; 10.15-17; IPe 1.10-12; 2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21).

2.2.2. Definição de Inspiração

Podemos definir a Inspiração como sendo a influência sobrena­ tural do Espírito de Deus sobre os homens separados por ele mes­ mo, a fim de registrarem de forma inerrante e suficiente toda a von­ tade de Deus, constituindo este registro na única fonte e norma de todo o conhecimento cristão.

Com isso estamos dizendo que o Deus que se revelou esteve “expirando” os homens que ele mesmo separou para registrarem esta revelação. A inspiração bíblica garante que seja registrado de forma veraz aquilo que a inspiração profética fazia com respeito à palavra do profeta, para que ela correspondesse literalmente à men­ te de Deus; em outras palavras: a Palavra escrita é tão fidedigna quanto a Palavra falada; ambas foram inspiradas por Deus.

Van Groningen coloca a questão nestes termos:

“O Espírito Santo habitou em certos homens, inspirou-os, e assim diri­ giu-os para que eles, em plena consciência, se expressassem em sua singu­ lar maneira pessoal. O Espírito capacitou homens a conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os de incluir qualquer coisa que fosse con­ trária a essa verdade de Deus. Ele também impediu-os de escrever coisas que não eram necessárias. Assim, homens escreveram como homens, mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de Deus, não a do homem. ”2Í5

Desse modo cremos que a Inspiração foi Plenária, Dinâmica,

Verbal e Sobrenatural.