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I I A FÉ SALVADORA

L. Berkhof (1873-1957) assim coloca a questão:

4. EVIDÊN CIAS DA FÉ SALVADORA

4.1. O Desejo de Ser Batizado

Um homem desprovido de fé salvadora pode até desejar ser ba­ tizado; isto é admissível, especialmente no caso da fé temporal; todavia, não o é um crente, salvo pela graça de Deus, não desejar receber este sinal externo que evidencia sua filiação divina. O ba­ tismo é uma seqüência natural da fé salvadora (Mc 16.16; At 8.37, 38; 16.30-33; 18.8).

4.2. Fraternidade

A fé salvadora é demonstrada na vida diária da Igreja (At 2.44; 4.32).

4 .3 . Viva Esperança em Deus

A fé é demonstrada em nossa atitude de esperança depositada em Deus e em suas promessas. A esperança sem o conhecimento de Cristo e de suas promessas é apenas uma utopia humana. Jesus Cristo é o Senhor e o alvo de nossa esperança que procede da fé (Rm 4.18; 6.8; ICo 15.19; 2Tm 1.12; 4.7; Hb 11.1). “A esperança não é mais do que o alimento e a força da fé.”329

4.4. O bediência

Fé significa conhecer a Deus e também em saber o que Deus deseja que façamos. Fé envolve um compromisso entre nós e Deus. Nós fomos criados em Cristo para as boas obras (Ef 2.8-10). Deste modo, é inconcebível um “crente” de “muita fé” desobediente à Palavra e às determinações da Igreja - enquanto esta permanecer

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fiel à Palavra de Deus. A obediência é fruto da fé genuína. “Só o crente é obediente, e só o obediente é que crê.”330 “A fé só é fé no ato da obediência”.331 A verdadeira fé se evidencia no fato de to­ marmos a Bíblia como nossa norma de vida (At 15.22-29; 16.4-5; vd. Rm 1.4, 5; 16.25, 26; Hb 11.7, 8, 17-19; Tg 2.14, 20-23). A profissão de nossa fé se dá no ato de nossa obediência: “A resposta do discípulo não é uma confissão oral da fé em Jesus, mas sim um ato de obediência (...). Não há qualquer outro caminho para a fé senão o da obediência ao chamado de Jesus”.332

Agostinho (354-430), de modo poético, diz:

“...Ele cham a e nós respondemos, não pela voz, mas pela fé; não pela língua, mas pela vida.”333

No Catecismo de Heidelberg (1563), analisando a doutrina da

Justificação, lemos:

“Esta doutrina não torna as pessoas descuidadas e ím pias?”. Responde: “D e forma alguma, pois é impossível que alguém, que está enxertado em Cristo por uma verdadeira fé, não produza frutos de gratidão” (Pergunta

64).

Um crente seguro de sua salvação é um trabalhador ardoroso e fiel na Causa de Cristo; não um espectador indolente com uma su­ posta fé bem fundamentada.

4.5 . Procedimento Diário

A fé em Deus influencia nossa cosmovisão e, conseqüentemen­ te, nosso comportamento. A fé não é algo abstraído da realidade; os assuntos da fé têm relação com nosso hoje existencial; não pode­ mos separar a fé de nosso testemunho, de nossa ética, de nossa for­ ma de viver (Rm 1.17; 2Co 5.17; G1 2.20).

330 Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, 2" ed. São Leopoldo, RS, Sinodal, 1984, p. 25. 331 D. Bonhoeffer, Discipulado, p. 25.

332 Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, p. 20.

333 Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo, Paulus (Patrística, 9/3), 1998 (SI (102)101), Vol. 111, p. 31.

4.6. Santificação

A fé salvadora conduz-nos ao crescimento espiritual, à apropri­ ação dos meios concedidos por Deus para o nosso crescimento (Mt 13.23;At 26.18). A fé cresce através da Palavra (2Ts 1.3; lTm 4.6).

A fé está indissoluvelmente ligada à santificação:

“O ra, visto que a fé abraça a Cristo como ele nos é oferecido pelo Pai, e Aquele, de fato, seja oferecido não apenas como justiça, remissão dos p e ­ cados e paz, mas também como santificação, e fonte de água viva, sem dúvida jam ais o poderá alguém conhecer devidamente que não apreenda ao mesmo tem po a santificação do Espírito. (...) A fé consiste no conheci­ m ento de Cristo. E Cristo não pode ser conhecido senão em conjunção com a santificação de seu Espírito. Segue-se, conseqüentem ente, que de m odo nenhum a fé se deve separar do afeto piedoso”.354

4.7. O perosidade

O crescimento e fortalecimento de nossa fé é demonstrado atra­ vés de nossa operosidade (lTs 1.3, 8), agindo sempre em amor (G1 5.6; Ef 1.15; 6.23; Cl 1.4; ICo 13.2). A fé não é algo simplesmente contemplativo, ela se manifesta em atos. A palavra empregada por Paulo, traduzida por “operosidade” (êpyov; lTs 1.3), tem o sentido tanto de trabalho ativo como de resultado do trabalho feito. Paulo diz ter sido confortado com as notícias trazidas por Silas concernentes ao fato de que os tessalonicenses, mesmo sob forte tribulação, permane­ ciam firmes na fé (lTs 2.14; lTs 3.7). De passagem, vemos que nosso trabalho deve ser guiado pela fé, e a fé se materializa no trabalho. A Igreja de Corinto era fruto do trabalho de Paulo (ICo 9.1).

A fé dos tessalonicenses era tão ativa que já repercutira nas re­ giões da Macedônia e Acaia (lTs 1.7-9). Um fato que se tornou notório foi sua conversão a Deus e o abandono da idolatria (lTs 1.9). O mesmo aconteceria posteriormente com a Igreja de Roma. Paulo então escreveu: “Dou graças a meu Deus mediante Jesus

Cristo, no tocante a todos vós, porque em todo mundo é proclama­ da vossa fé” (Rm 1.8).

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Tiago diz que “a fé sem obras é morta” (“Jtícraç X^P^Ç êpycov

VEKpá è a x iv ” (Tg 2.26). Ou seja, a verdadeira se manifesta em atos de obediência. A operosa é aquela que obedece aos manda­ mentos de Deus. Daí, a recomendação de Paulo aos coríntios: “Por­

tanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abun­ dantes na obra (êpyov) do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho (kótcoç) não é vão” (ICo 15.58). Do mesmo modo instrui

a Tito quanto ao que deveria ensinar: “Fiel é esta palavra, e quero

que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido (TCEJuatsuKÓTEç) em Deus sejam solícitos na prática de boas obras (KaXóàv335 êpycov). Estas coisas são excelen­ tes e proveitosas aos homens” (Tt 3.8).

Do mesmo modo, Paulo enfatiza que para isso mesmo é que todos fomos eleitos, sendo regenerados para as boas obras: “Pois

somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras (ê

pyoiç òcyaBotç336), as quais Deus de antemão preparou para que

andássemos nelas” (Ef 2.10). Nessa prática, agradamos a Deus, “...frutificando em toda boa obra (êpyco áyaBco) e crescendo no pleno conhecimento de Deus” (Cl 1.10).

É interessante observar que no Apocalipse, repetidamente, quan­ do Deus fala às sete igrejas da Ásia, diz: “conheço as tuas obras” (Ap 2.2, 19; 3.1, 8, 15) -, mostrando que o juízo é conforme as obras de cada um, procedentes da fé (Ap 18.6; 20.12, 13; 22.12).

4.8 Perseverança

A fé salvadora é aquela que permanece até o fim firmada em Deus e em sua Palavra (Jo 8.30, 31; Hb 10.39; Ap 14.12); todavia, ela se tornará desnecessária: No céu já não mais precisaremos de ter fé, pois a plenitude daquilo que esperávamos pela fé terá sido alcançada (ICo 13.9-13).

335 KaW ç, “bom”, “útil”. A palavra grega indica algo que é essencialmente bom, formoso - a idéia de beleza estética está classicamente presente nesta palavra -, útil e honroso.

136 òíYaGóç, denota o que é moral e praticamente bom. A vontade de Deus é boa (óeyaSóç; Rm 12.2) porque ele é bom (Lc 18.19).