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Portanto, seguindo os santos Pais, todos nós, em perfeito acordo, ensinamos Que se deve confessar um só e o mesmo Filho, nosso Senhor ]esus Cristo, perfei­ to na Deidade e também perfeito na humanidade; verdadeiro Deus e verdadeiro hom em ,"0 de alma racional (VPuxil ^o y ik t^)"1 e corpo, consubstanciai (ó|iooi$ c i o ç ) " 2 ao Pai na Divindade e consubstanciai (ò|iooúcJioç) a nós na humanida­

109 O Credo de Calcedônia é precedido pela confirmação dos Credos de Nicéia (325) e Constantinopla (381). A elaboração deste novo Credo pode ser explicada pelo surgimento de novas heresias referentes a Cristo (Apolinarismo, Nestorianismo e Eutiquianismo), que precisavam ser combatidas (vd. P. Schaff, The Creeds o f Christendom, Vol. II, pp. 63-64).

110 Este conceito já estava presente em Irineu (c. 130- c. 200) (Irineu, Irineu de Lião, IV.6.7) pp. 382-383.

1,1 Esta expressão visa a combater o Apolinarismo. Apolinário, o jovem (c. 310-C.390), bispo de Laodicéia na Síria (c. 360), teve os seus ensinamentos condenados em vários Concílios: Alexandria (362) (aqui somente o apolinarismo, não Apolinário); Roma (377) (Apolinário e o apolinarismo); Antioquia (378), no 2o Concílio Ecumênico de Constantino­ pla (381) (Apolinário e o apolinarismo). Apesar destas condenações, Apolinário conseguiu adeptos; um de seus discípulos, Vitális, fundou uma congregação em Antioquia (375), sen­ do sagrado bispo por Apolinário. “Os apolinarianos tiveram pelo menos um sínodo em 378, e há evidência no sentido de ter ocorrido um segundo sínodo. Depois da morte de Apoliná­ rio, seus seguidores dividiram-se em dois partidos, os vitalianos e os polemeanos ou sinusi- atos. Por volta de 420, os vitalianos já estavam reunidos com a Igreja Grega. Pouco mais tarde, os sinusiatos fundiram-se no cisma monofisita” (V.L. Walter, Apolinarismo: In: Wal- ter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teolágica da Igreja Cristã, I, p. 98).

Devido à sua concepção tricotômica do homem, bem como seu desejo de preservar a divindade e a unipersonalidade de Cristo, terminou por concebê-lo como sendo totalmente divino e apenas 2/3 humano. A idéia de total humanidade envolvia o conceito de pecamino- sidade, por isso sua tentativa de resguardar o Filho. Para ele, o homem era constituído de ZãHioc (carne ou corpo); VP'UX11 (alma animal) e nveí3(xa (alma racional). O Ilv eín a é que torna o homem o que ele é. Aplicando estes conceitos a Jesus, Apolinário dizia que Jesus tinha Scqxo e 'Puxl1 iguais a de um homem comum; já o nveC(aa fora substituído pelo Aóyoç; assim, Jesus possuía um corpo, uma alma, mas não possuía um espírito humano.

Assim, para Apolinário há uma única vida; uma perfeita fusão do homem (carne) com o divino, sendo a carne de Jesus glorificada pelo Logos, daí ele falar de “carne divina”, “car­ ne de Deus”, “natureza encarnada da Palavra divina”.

Os ensinamentos de Apolinário foram censurados pelo fato de que, se o Logos não tomou sobre si a integridade da natureza humana - estando toda ela afetada pelo pecado - , esta natureza não poderia ser redimida, visto que aquilo que o Filho não levou sobre si não pode ser alvo de sua redenção.

112 ó|ioo\3aioç, na versão latina: "consubstantialem”. Da mesma substância, consubstan­ ciai, coessencial. Atanásio, combatendo o Arianismo, já havia usado este termo em Nicéia (325), referindo-se à Trindade, indicando a unidade da essência do Pai, do Filho e do Espí­ rito Santo. Aqui em Calcedônia, a expressão é utilizada para indicar a verdadeira divindade

Os Símbolos de Fé na História 43

de, 'em todas as coisas semelhante a nós, exceto no pecado';113gerado antes de todas as eras pelo Pai Quanto à sua Divindade, e nos últimos dias, por nós e para nossa salvação, nasceu da Virgem Maria, a Mãe de Deus (©eoxÓKOç),114 Quanto à sua humanidade; um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigénito, sendo conhe­ cido em duas naturezas, inconfundíveis (òntr/^oixcüç),115 imutáveis (òrcpéracoç),116 indivisíveis (à S ia ip é x c o ç ),"7 inseparáveis (ó%<»píatcoç);M8 a distinção das duas naturezas de modo algum é anulada pela união, mas as propriedades de cada natureza são preservadas e concorrem em uma Pessoa (npóacojtov)l|,; e uma Subsistência (tiTC Ó ataaiç),120 não separada ou dividida em duas pessoas (ripó aam o v), porém um e o mesmo Filho, Unigênilo, Verbo de Deus, o Senhor |esus Cristo, conforme os profetas do passado e o próprio Senhor ]esus Cristo nos ensinaram a respeito dele e o Credo dos santos Pais nos transmitiu.”

e verdadeira humanidade de Cristo. Calvino (1509-1564) diz que “essa palavrinha fazia a diferença entre os cristãos de pura fé e os sacrílegos arianos” {As Instituías, 1.13.4).

113 Hb 4.15.

114 ©eotÓKoç, na versão latina: “Dei genetrice" [0eóç & Tókoç= Tíkico = “Dar à luz um

menino; gerar, chegar a ser mãe; produzir”: “Mãe de Deus”. A expressão foi usada para indicar que Aquele que foi concebido de Maria fora obra do Espírito Santo, portanto era Deus. A expressão também ressalta que Maria não foi mãe simplesmente da natureza hu­ mana de Jesus, mas sim, da pessoa Teantrópica de Jesus Cristo (cf. P. Schaff, The Creeds of

Christendom, Vol. II, p. 64)].

115 ÒKn>y%ina>ç, na versão latina: “in c o n fu se “Sem confusão”, “sem mistura”. Expres­ são usada contra o Eutiquianismo, que sustentava que a encarnação fora o resultado da fusão do divino com o humano.

116 òctpéjttcoç, na versão latina: “immutabiliter”. “Sem conversão”, “sem transformação”. Da mesma forma, esta expressão também foi usada contra o Eutiquianismo.

117 òíSiaipÉtcoç, na versão latina: “indivise”. “Sem divisão”. Expressão que visava a com­ bater o Nestorianismo, que separava as duas naturezas de Cristo, afirmando ser sua união apenas moral, simpática e afetiva.

118 óe^ctípícrccoç, na versão latina: “inseparabiliter”. “Sem separação “, “indissolúvel”. Termo também usado contra o Nestorianismo. G.C. Berkouwer, interpretando Korff, co­ menta que estes quatro advérbios de Calcedônia: inconfundíveis (4í£juY%irta>ç), imutáveis (óapéTCtcoç), indivisíveis (ixSiaipéxcoç), inseparáveis (á^copícrccoç), “Enriquecem a fé e a humildade da Igreja. Esses advérbios assemelham-se a um alinhamento de bóias cercando o estreito canal navegável e alertando os navios contra os perigos ameaçadores dos dois la­ dos. Não são uma definição nem servem para definir, pois tal não foi a intenção da Igreja” (G.C. Berkouwer, A Pessoa de Cristo, p. 68. Vd. também: B. Lohse, A Fé Cristã Através

dos Séculos, 2a ed. São Leopoldo, RS, Sinodal, 1981, pp. 100-101). Num mar tormentoso

como aquele vivido em Calcedônia, as “âncoras” foram necessárias - e ainda são - para preservar segura a Igreja em meio a todas as ondulações heréticas na história, sem se dis­ tanciar da plenitude da revelação bíblica.

"’Ilpóacojtov, na versão latina: “Personam”. “Pessoa”; significando primariamente “face” ou “expressão”. A idéia básica da palavra é a de um papel representado por alguém numa