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Deus Criou o Homem Conform e o Sábio Conselho da Trindade

I I A FÉ SALVADORA

V O DEUS CRIADOR

7) A criação se distingue de Deus, não sendo sua extensão, mas o resultado de sua vontade e poder.

1.2. Deus Criou o Homem Conform e o Sábio Conselho da Trindade

A Bíblia atesta que Deus faz todas as coisas conforme o conse­ lho de sua vontade (Ef 1.11): conforme seu santo prazer e delibera­ ção (SI 115.3;135.6). Todos os seus atos, livres como são, constitu-

468 John Calvin, Commentaries on The First Book o f M oses Called Genesis, Grand Rapi­ ds, Michigan, Baker Book House, 1981 (reprinted), Vol. I (Gn 1.14), p. 84

469 Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan, Wm. Eerdmans Pu­ blishing Co. 1986, Vol. I, p. 3.

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em-se em manifestações de seu soberano poder e de sua infinita sabedoria (Pv 3.19; Rm 11.33).

Jeremias escreve: “O Senhor fez a terra por seu poder; estabe­

leceu o mundo por sua sabedoria, e com sua inteligência estendeu os céus” (Jr 10.12). No livro de Jó lemos: “Eis que Deus se mostra grande em seu poder!” (Jó 36.22). A criação é resultado da vontade

e do poder criador de Deus, revelando aspectos da grandeza de Deus (Gn 1.1, 26, 27; Sl. 148.5; Is 44.24; Jr 32.17; Rm 1.20; 4.17; 2Co 4.6; Hb 11.3; Ap 4.11).

No relato da criação do homem encontramos o registro inspira­ do: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, con­ forme a nossa semelhança...” (Gn 1.26). Deus se aconselha consigo mesmo e delibera. Aqui podemos ver a singularidade da criação do homem; em nenhum outro relato encontramos esta forma relacio­ nal.470 Conforme acentua Bavinck, “Ao chamar à existência as ou­ tras criaturas, nós lemos simplesmente que Deus falou e essa fala de Deus trouxe-as à existência. Mas quando Deus está prestes a criar o homem, ele primeiro conferencia consigo mesmo e decide fazer o homem à sua imagem e semelhança. Isso indica que especi­ almente a criação do homem repousa sobre a deliberação, sobre a sabedoria, bondade e onipotência de Deus (...) O conselho e a deci­ são de Deus são mais claramente manifestos na criação do homem do que na criação de todas as outras criaturas.”471 Aqui temos o decreto trinitário que antecede o tempo, e que agora se executa his­ toricamente conforme o eternamente planejado: “Façamos”. “É a Trindade quem delibera, sem qualquer intervenção ou consulta fei­ ta aos anjos.”472

O “façamos” de Deus é a execução autodeliberada dele em criar o homem; desse modo, na criação em geral, e do homem em espe­ cial, encontramos a concretização precisa do decreto eterno de Deus.

470 Vd. Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1999, p. 24.

471 Herman Bavinck, Our Reasonable Failh, p. 184.

472 Ernest F. Kevan, Gênesis: ln: F. Davidson, ed. O Novo Comentário da Bíblia, 2" ed. São Paulo, Vida Nova, 1976, p. 84.

O homem é o produto da vontade de Deus. “Tudo quanto aprouve

ao Senhor ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos" (SI 135.6). Assim, o homem não foi criado por um insen­

sível acaso, por uma catástrofe cósmica ou por uma complicada mistura de gases e matérias. O homem foi formado por Deus de acordo com sua sábia e soberana vontade (Gn 2.7; Rm 11.33-36). “Louvem o nome do Senhor, pois mandou ele, e foram criados” (SI 148.5).473 O poder de Deus “é a primeira coisa evidente na história da criação (Gn l.l).”474 E a criação do nada nos fala de seu infinito e incompreensível poder.475

Davi, contemplando a majestosa criação de Deus, escreveu:

“Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as suas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (SI 139.14).

Embora a Bíblia não declare o método usado por Deus, a idéia de uma evolução teísta está fora de questão. O texto de Gn 1.26, 27 implica na criação do homem, não a partir de seres criados, nem como resultado de uma suposta evolução de seres inferiores. O ver­ bo XH3, usado em Gn 1.26, 27, no “Kal”, é sempre teológico, apre­ sentando Deus como o sujeito da ação, que do nada, pelo seu poder, faz vir à existência algo novo, que antes não existia (cf. Gn 1.1; 2.4; SI 51.10; 102.18; 148.5; Is 41.20; 48.6-7; 65.17, Am 4.13, etc.),476contrapondo-se também aos deuses pagãos (Ez 28.13,15).477

473 Como indicativo histórico do conceito judeu referente à criação do mundo como sendo proveniente do nada, citamos o livro apócrifo de Macabeus, que diz: “Suplico-te, meu filho, que olhes para o céu e para a terra e para todas as coisas que há neles, e que penses bem que Deus as criou do nada, assim como a todos os homens” (2Mac 7.28).

474 Stephen Charnock, Discourses Upon The Existence and Attributes o f God, 9a ed. Michigan, Baker Book House, 1989, Vol. II. p. 36.

475 Cf. Stephen Charnock, Discourses Upon The Existence and Attributes ofG od, Vol. II, p. 38.

476Cf. William Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3a ed. Michi­ gan, WM. Eerdmans Publishing Co. 1978, pp. 138-139; Thomas E. McComiskey, !0 3 : In: R. Laird Harris, ed. Theological Wordbook o f the Old Testament, 2” ed. Chicago, Moody Press, 1981, Vol. 1, p. 127b; H.H. Esser, Criação: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo D icio­

nário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. I, p. 536; C.F. Keil & F. Delitzs­

ch, Commentary an the Old Testament, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans (s.d.), Vol. 1 (Gn 1.1), p. 47; G.L. Archer Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento, São Paulo, Vida

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O homem como criação secundária (em termos de ordem, não de importância) foi formado com maestria e habilidade478 de maté­ ria previamente criada por Deus (Gn 3.19); entretanto, ele recebeu diretamente de Deus o fôlego da vida (Gn 2.7), passando ao mesmo tempo a ter uma origem terrena e celestial. “Isto nos persuade que, criação direta (imediata), o homem recebeu a impressão da ima­ gem divina; que na criação as Pessoas divinas, cada uma efetuou uma obra distinta; e, finalmente, que a criação do homem com refe­ rência ao seu destino se realizou pelo sopro do fôlego de Deus.”479 Agostinho (354-430), no final do 4o século (c. 395-398), extasi­ ado com a criação de Deus, escreveu de modo poético:

“D e que modo, porém, criastes o céu e a terra, e qual foi a m áquina de que Vos servistes para esta obra tão imensa, se não procedestes com o o artífice que forma um corpo doutro corpo, impondo-lhe, segundo a con- cepção da sua mente vigorosa, a imagem que vê em si mesma, com os olhos do espírito? Donde lhe viria este poder, se Vós lhe não tivésseis cria­ do a im aginação?

“O artífice impõe a forma à m atéria - a qual já existia e já a continha - isto é, à terra, ou à pedra, ou à madeira ou ao ouro ou a qualquer coisa material. M as donde proviriam estes seres, se os não tivésseis criado? (...). M as de que modo as fazeis? Com o fizestes, meu Deus, o céu e a terra? Sem dúvida, não fizestes o céu e a terra no céu ou na terra, nem no ar ou nas águas, porque também estes pertencem ao céu e à terra. N em criastes o Universo no Universo, porque, antes de o criardes, não havia espaço, onde pudesse existir. N em tínheis à mão m atéria alguma com que m odelásseis o céu e a terra. N esse caso, donde viria essa matéria que V ós não criáreis e Nova, 1974, p. 208; William G.T. Shedd, Dogmatic Theology, 2° ed. Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1980, Vol. I, pp. 465-466; A.H. Strong, Systematic Theology, pp. 374- 376; Walter C. Kaiser Jr. Teologia do Antigo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1980, p. 76; Millard J. Erickson, Christian Theology, 13“ ed. Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1996, p. 369. Outras características do verbo e seu emprego no AT podem ser en­ contradas em W.H. Schmidt, fí"D: In: Ernst Jenni & Claus Westermann, D iccionario

Teologico Manual dei Antiguo Testamento, Madrid, Ediciones Cristiandad, 1978, Vol. I,

pp. 489-490.

477 W.H. Schmidt, N12: In: Ernst Jenni & Claus Westermann, Diccionario Teologico

Manual del Antiguo Testamento, Vol. 1, p. 489.

478 Vd. Derek Kidner, Gênesis: introdução e Comentário, São Paulo, Vida Nova/Mundo Cristão, 1979 (Gn 2.7), p. 57.

com a qual pudésseis fabricar alguma coisa? Q ue criatura existe que não exija a vossa existência?

“Portanto, é necessário concluir que falastes, e os seres foram criados (SI 33.6, 9). Vós os criastes pela vossa palavra!

“M as com o é que falastes? (...). Efetivamente, qualquer que seja a subs­ tância com que produzistes essa voz, de m odo algum poderia existir, se a não tivésseis criado. M as que palavra pronunciastes para dar ser à matéria com que havíeis de formar aquelas palavras?” .480

Charnock (1628-1680)481 observa que o fato da criação de Deus ter em si a capacidade de se propagar conforme a ordem divina:

“Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves” (Gn 1.22) - revela o poder do Cria­

dor. Deus por sua Palavra cria o mundo e, segundo o exercício deste mesmo poder, capacita suas criaturas a se propagarem, tornando “o ser humano como co-criador criado”.482

1.3. O Homem Foi Criado à Imagem e Sem elhança de