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2 A POLÍTICA E AS AÇÕES DE FORMAÇÃO DE GESTORES DE ESCOLA NA SEEDUC/RJ SOB A ÓTICA DOS DIRETORES

2.1 A pesquisa bibliográfica e a revisão de literatura

2.1.3 O Trabalho do Gestor Escolar e as Dimensões da Gestão Escolar

2.1.3.1 A Liderança e a Gestão – Conceitos e Processos que se

No dia a dia é muito comum as pessoas associarem as atividades de um Gestor ao perfil de liderança, o que pode nos levar a uma falsa ideia de que “gestor eficaz é aquele que aprende e desenvolve a sua capacidade de liderança. O que não é verdade. A liderança é apenas um dos trabalhos do gestor” (MACHADO, 2012, p. 1).

A partir da interpretação dos resultados de sua pesquisa, Mintzberg (2010) criou um modelo de Gestão que ele denominou de genérico, pois, segundo o autor é um modelo que resume às atividades consideradas como comuns a qualquer tipo de Gestor. Afirma que atualmente “sofremos de excesso de liderança e falta de gestão” (MINTZBERG, 2010, p. 22). Para o pesquisador, é possível conceituar liderança e Gestão e diferenciá-las. No entanto, ele entende que este esforço não vale a pena, pois na prática caminham juntas. Ele atesta que: “em vez de diferenciar gerentes de líderes, deveríamos enxergar os gerentes como líderes e a liderança como a gestão praticada corretamente” (MINTZBERG, 2010, p. 22).

Para Mintzberg (2010) a tentativa de evidenciar o processo de liderança separado do processo de Gestão vai de encontro ao conceito de comunidade, indispensável para o trabalho de cooperação necessário a todas as organizações. Sendo assim, Machado (2012, p. 3) conclui que “a gestão e a liderança constituem parte essencial do que se pode chamar de senso de comunitariedade”. Essa expressão indica que o trabalho de Gestão é um trabalho social e, por isso, deve ser realizado através do espírito de equipe. Nesse caso, o Gestor deve ser reconhecido

como líder de uma comunidade, reconhecido dentro e fora dela. A cooperação entre as partes que compõem o grupo são fundamentais para o sucesso do trabalho. Entre outras palavras, Gestor e equipe são partes de um todo integrado, sem essa integração a qualidade do trabalho fica prejudicada.

A dinâmica do trabalho de Gestão é intensa, ininterrupta. E Mintzberg (2010) auxilia o entendimento sobre esta dinâmica, desmistificando alguns mitos muito comuns:

(1) O gerente é um planejador reflexivo e sistemático; [...] (2) O gerente depende de informações agregadas, cuja melhor fonte é o sistema formal; [...] (3) A gestão em geral trata de relações hierárquicas entre um “superior” e seus “subordinados”; [...] (4) Os gerentes mantém controle rígido – de seu tempo, de suas atividades, de suas unidades (MINTZBERG, 2010, p. 33-45).

Na sequência, o primeiro mito está relacionado à falsa ideia de que todo Gestor tem que ser analítico e sistemático. Mintzberg (2010) afirma que esta tese não é verdadeira. Faz parte do trabalho de “gestão apagar incêndios”, normalmente trabalham em ritmo acelerado, estão sempre em ação. “Suas atividades geralmente se caracterizam por brevidade, variedade, fragmentação e descontinuidade” (MINTZBERG, 2010, p. 33). Além disso, os gerentes preferem se comunicar utilizando os meios de comunicação formal o que também, afirma ele, não ser verdade. Segundo o autor, eles acham melhor utilizar os canais informais, principalmente os eletrônicos (e-mail) e os que usam a voz (reuniões e telefone) como veículos de comunicação. Por fim, o último mito afirma que o Gestor só se relaciona de forma hierárquica. No entanto, a prática demonstra que as relações do gerente acontecem em todos os sentidos: horizontal e vertical. Ele convive de maneira direta com colegas, clientes, sócios, etc.

Tendo como referência o edital do último Processo Seletivo Interno (PSI) para Diretores e Diretores Adjuntos de unidade escolar da SEEDUC/RJ, onde consta a descrição das duas funções e as principais atribuições pode-se afirmar que, os planos de atuação do Gestor e os papéis identificados nos estudos de Mintzberg (2010), se assemelham com os planos e os papeis desempenhado pelo Diretor de uma unidade escolar. Isso demonstra o quanto é importante para a Gestão Escolar se apropriar desses fundamentos. Para a SEEDUC/RJ, cabe ao Diretor e ao Diretor Adjunto de unidade escolar:

Diretor – Articular toda a equipe e comunidade escolar para o planejamento, divulgação, execução e avaliação das atividades pedagógicas e administrativas no âmbito de sua competência, em consonância com o Projeto Pedagógico da Escola, definindo as linhas de atuação de acordo com os objetivos e metas estabelecidos, viabilizando a melhoria da qualidade do ensino. [...] Diretor Adjunto – Contribuir com toda a equipe e comunidade escolar para o planejamento, divulgação, execução e avaliação das atividades pedagógicas no âmbito de sua competência, em consonância com o Projeto Pedagógico da Escola, auxiliando o Geral na definição das linhas de atuação, de acordo com os objetivos e metas estabelecidos, viabilizando a melhoria da qualidade de ensino (RIO DE JANEIRO, 2014b, p. 3).

Os Gestores Escolares atuam em seu cotidiano nos três planos definidos por Mintzberg (2010) e desempenham papéis muito similares aos definidos pelo autor. A diferença está no público, na forma e na natureza da atividade. Uma empresa tem como foco o lucro. O foco das escolas públicas, por sua vez é a aprendizagem dos alunos. No entanto, para que possam garantir os resultados voltados para a melhoria do ensino ofertado, essas escolas também precisam se preocupar com o futuro, definindo missão, visão de futuro, estratégias, diretrizes, objetivos e metas. Os Gestores Escolares em seu cotidiano atuam no: (1) Plano das informações, quando é nele que está depositada a responsabilidade de comunicar, controlar, trabalhar com a informação, e repassá-la; (2) Plano das pessoas, já que, ele deve liderar a sua equipe, articular e negociar com seus pares dentro (diretor adjunto, coordenador pedagógico, coordenador de turno, orientador educacional, secretário, agente de pessoal, professores e responsáveis) e fora da escola (outros diretores, Gestores do Órgão Central); (3) Plano das ações, pois ele precisa colocar em prática todas as solicitações da SEEDUC/RJ e da comunidade. Não adianta ter excelentes ideias e não retirá-las do papel. No Quadro 14, a seguir, é possível visualizar melhor os três planos e papeis definidos por Mintzberg (2010) para qualquer Gestor, bem como, as atribuições desta função, identificadas a partir de documentos da SEEDUC/RJ e da Pesquisa de Campo, “Atribuições do Diretor e o tempo gasto nas atividades do dia a dia”, que será melhor explicada na seção 2.6. No edital PSI contém a publicação do desempenho esperado por cada Diretor de unidade escolar.

Quadro 14 – Planos, Papéis e Funções de Atuação do Diretor de Unidade Escolar

PLANO PAPEIS MINTZBERG ATRIBUIÇÕES DA FUNÇÃO PARA A SEEDUC/RJ

IN F O R MAÇ Ã O C omu ni ca , co nt ro la , e p re ci sa ap re nd er a tra ba lh ar co m a in fo rma çã o

 Promover o cumprimento das normas legais e da política definida pela Secretaria de Estado de Educação e pelo MEC;

 Propiciar o bom funcionamento da escola, coordenando as atividades administrativas, acompanhando a frequência de professores e funcionários, zelando pela preservação do patrimônio e a conservação de seu espaço;

 Prover a segurança dos alunos na unidade escolar; assegurar a integridade dos documentos e atualização das informações dos docentes e discentes;

 Utilizar os materiais destinados à Unidade Escolar de forma racional;

 Gerenciar os recursos financeiros destinados à Unidade Escolar de forma planejada, atendendo às necessidades do Projeto Pedagógico, assegurando a prestação de contas de acordo com os termos da legislação vigente.

PESSO AS Pre ci sa g ost ar de g en te , j á qu e el e lid era a su a eq ui pe , a rt icu la e n eg oci a co m se us pa re s, d en tro e fo ra d a org an iza çã o

 Estimular e apoiar o aperfeiçoamento profissional dos servidores sob sua direção;

 Supervisionar a elaboração e a execução da Proposta Pedagógica da Unidade Escolar;

 Monitorar o fluxo escolar, adotando medidas para minimizar a evasão escolar, informando aos pais e/ou responsáveis sobre a eriódicas dos alunos;

 Monitorar o rendimento escolar, adotando medidas que garantam a realização de recuperação para alunos com menor rendimento;

 Implementar normas de gestão democrática e

participativa, integrando objetivo das Políticas Nacional, Estadual e da Unidade Escolar, promovendo a integração Escola/Família/Comunidade;

 Promover a atuação integrada da equipe escolar nos diversos turnos da Unidade Escolar.

AÇ ÃO Pre ci sa a gi

r  Acompanhar as avaliações internas, externas e diagnósticas da Unidade Escolar, responsabilizando-se

pela correta aplicação e utilização dos resultados no Planejamento Pedagógico;

 Convocar e/ou presidir reuniões, assembleias, colegiado da escola, associação de apoio escolar, grêmio estudantil e outros.

Fonte: Elaborado pela autora com base no estudo de Mintzberg (2010, p. 56) e no Edital de PSI para Diretor de unidade escolar.

Deste modo, fica evidenciado que o modelo de Gestão desenvolvido por Mintzberg (2010) pode ser visualizado e aplicado em qualquer atividade de gerenciamento, independente do público e da natureza da ação, sendo importante apenas levar em consideração o contexto.

Para complementar o que foi discutido até aqui sobre o trabalho de Gestão, faz-se necessário ainda apresentar as contribuições de Lück (2009) sobre as dimensões da Gestão.