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A política colonial da França

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 97-100)

Durante o período considerado, as possessões francesas estavam reunidas em duas federações de colônias e em territórios sob mandato. A África Ocidental Francesa (AOF), de superfície correspondente a 4.633.985 km2, compreendia

o Senegal, o Sudão francês (atual Mali), a Guiné francesa, o Alto -Volta (atual Burquina Fasso), a Costa do Marfim, o Daomé (atual Benin), o Niger e a Mau- ritânia e tinha como capital federal a cidade de Dakar. A África Equatorial fran- cesa (AEF), cuja extensão era de 2.510.000 km2 e a capital Brazzaville, reunia as

colônias do Congo -Médio (atual Congo), do Chade, de Oubangui -Chari (atual República Centro -Africana) e do Gabão. Os dois territórios sob mandato eram Camarões (432.000 km2) e Togo (57.000 km2), possessões tomadas da Alema-

nha logo após a Primeira Guerra Mundial, partilhadas entre a Grã -Bretanha e a França, e postas sob mandato da Sociedade das Nações (SDN).

O sistema colonial francês estava fundado em uma administração centra- lizada e direta; um governador -geral, representante do ministro das colônias, estava na direção de cada agrupamento de territórios; os territórios sob mandato eram administrados por um alto -comissário da República. Diferentemente das colônias, nestes territórios sob mandato não havia alistamento militar e à França cabia apresentar à SDN um relatório anual da sua administração.

Durante boa parte da década, os governadores -gerais e os alto -comissários governariam por decreto, tomados por sua conta própria ou procedentes dos decretos de autoridades governamentais francesas; eles eram assistidos por um Conselho de Governo de papel puramente consultivo. Além disso, este Conselho era formado por alto -funcionários diretamente subordinados ao governador -geral ou ao alto -comissário, dos quais eles eram colaboradores pró- ximos, tais como: o secretário -geral que podia assegurar o ínterim na ausência do governador -geral; o comandante superior das tropas coloniais; o procurador- -geral; e os diretores -gerais dos serviços federais (finanças, saúde e educação). O governador -geral detinha poderes muito amplos: “Nenhuma lei, nenhum decreto, mesmo que especialmente tomados para o grupo de colônias conside- rado, não são aplicáveis antes de terem sido promulgados pelo governador -geral por decreto2.” Ele possuía não somente a autoridade sobre a administração mas

também dispunha de uma força armada. Ele nomeava e revogava a seu bel- -prazer. Tratava -se verdadeiramente de um pró -cônsul.

Em Dakar, Brazzaville, Lomé e Yaoundé, os governadores -gerais e os alto- -comissários eram assistidos por repartições que asseguravam serviços gerais. As mais importantes eram as direções de assuntos políticos, de finanças, de traba- lhos públicos, de educação, dos assuntos econômicos e da saúde. Graças a estes serviços, o governador -geral acompanhava regularmente a vida administrativa das colônias. A África -Equatorial, reagrupando somente quatro territórios e dispondo de parcos meios de comunicação, era tendencialmente considerada como uma colônia única. Muito frequentemente, o governador -geral assegurava também as funções do governador do Congo -Médio; ele nomeava delegados ou comandantes superiores no Gabão, no Chade e em Oubangui -Chari.

Na direção de cada colônia encontrava -se um tenente -governador colocado sob as ordens do governador -geral. Ele contava em seu entorno com um conselho administrativo similar ao Conselho de Governo. Ele era o chefe administrativo da colônia, dirigente dos serviços especializados correspondentes aos serviços federais. No interior do país, ele era representado por administradores das colô- nias, denominados comandantes de círculo, pois cada colônia estava dividida em um número variável de unidades territoriais, chamadas circunscrições ou círcu- los; a África -Ocidental contava com uma centena e a África -Equatorial com por volta de cinquenta destas unidades. No Camarões e no Togo, o território era dividido em circunscrições – de 60 a 70 para o primeiro e uma dezena para o segundo3. A administração era garantida, na base da sua estrutura, por chefes

de Cantão e chefes de comunidade. Em princípio, as antigas famílias reinantes garantiam estas funções mas, na realidade, estes chefes eram somente auxiliares cujo papel consistia, essencialmente, em executar as ordens recebidas do coman- dante de círculo; eles podiam igualmente ser escolhidos no exterior das famílias reinantes. Antes de 1914, os teóricos da colonização pensavam em estabelecer uma rede de funcionários com autoridade, em todos os níveis, suprimindo assim toda intermediação de autóctones. Este projeto foi abandonado no momento da supressão de numerosos postos durante a guerra4.

A burocracia absorvia a maioria dos administradores coloniais: em lugar de servir in loco, eles lotavam os escritórios das capitais cantonais. Em 1937, computavam -se 385 administradores dos quais metade estava em atividade nas capitais cantonais. Esta burocratização afetava até mesmo os círculos em que, ao

3 A denominação “círculos” prevaleceu na AOF -Togo, ao passo que em 1934, as 49 circunscrições da AEF foram reduzidas a 20 e batizadas “departamentos”; no Camarões, o território foi recortado em regiões, entre 15 e 20, compreendendo de 60 a 70 subdivisões. Consultar J. SURET -CANALE, 1964, p. 391. 4 Ibid., p. 392.

invés de efetuar viagens de controle, os administradores passavam o seu tempo a redigir relatórios. Se os primeiros administradores se dedicavam a conhecer o “seu” país e até mesmo escrever livros a respeito, após a Primeira Guerra Mun- dial, os administradores formados na Escola Colonial possuíam sobre o lugar apenas uma formação teórica. Em razão disso, havia cada vez menos especialistas e cada vez mais burocratas intercambiáveis, “aplicando os mesmos princípios e os mesmos métodos, tanto em Agades quanto em Sassandra5”, em nada preo-

cupados com as realidades locais.

O comandante de círculo era o principal representante do poder colonial conhecido pelos africanos. Tratava -se de um déspota local em um sistema des- pótico. Ele era, simultaneamente, chefe político, chefe administrativo, chefe da polícia, procurador -geral e presidente do “tribunal indígena”. Ele prescrevia o imposto de capitação, controlava o recebimento das taxas, exigia o trabalho forçado, confiscava as culturas de exportação, mobilizava o trabalho obrigatório e impunha o serviço militar. Ele era julgado em função dos benefícios obtidos para a França e não, em contrário, pelos serviços que ele viesse a oferecer aos africanos. A sua preocupação não era atender às necessidades dos autóctones mas, em oposição, tratava -se de zelar pelos interesses das câmaras de comércio e das grandes empresas, capazes de impor métodos pouco ortodoxos aos gover- nadores e administradores.

Uma administração que não levasse em conta os interesses da população, quase inexoravelmente, desembocaria na opressão política. O comandante de círculo e o chefe de Cantão provocaram profundos traumatismos no meio rural. A cobrança do imposto de capitação, o recrutamento de soldados ou o trabalho forçado, esgotaram o meio rural. Os chefes de comunidade constituir -se -iam em simples fantoches e posteriormente em agentes implacáveis da exploração. Se o imposto não fosse arrecadado, eles eram destituídos e encarcerados. Por outra parte, se eles obtivessem “êxito”, aos olhos de seus mestres coloniais, seriam detestados pelos seus – os camponeses.

O advento do governo da Frente Popular na França, em junho de 1936, não trouxera relevantes mudanças ao sistema colonial. Diante da necessidade de enfrentar, por toda parte, fortes tendências de direita, o governo socialista proclama a necessidade “de extrair do sistema colonial o máximo de justiça social e de potencial humano6”. Ele recomendava algumas reformas mas, sem

5 Ibid., p. 394.

6 Ministro das colônias, Marius Mouter, nota não datada, Arquivos Nacionais da França, Seção Além -Mar, AFF. Polit. PA 28/1.

indicar os meios necessários à sua realização. No momento da queda da Frente Popular, suas modestas ideias reformistas não haviam encontrado nenhum eco favorável na África colonial.

A estrutura fundamentalmente dirigista da administração colonial se com- bina com um sistema de consulta em que as aparências democráticas se presta- vam, sobretudo, a mascarar o autoritarismo. O sistema democrático das comunas mistas, das comunas “indígenas”, dos conselhos de notáveis e das quatro comu- nas urbanas do Senegal, formava um conjunto de relações sistematicamente manipulado pela administração. Com efeito, somente uma ínfima minoria da população participava das consultas. O número de eleitores nas comunas do Senegal (Saint -Louis, Dakar, Gorée e Rufisque) não ultrapassava em hipótese alguma 10.000 indivíduos. Nas regiões rurais, o conselho de notáveis preparava as pesquisas de recenseamento e coletava o imposto de capitação, ele o fazia por ordem do governo e não na qualidade de representante do povo.

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 97-100)