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Tayeb Chenntouf

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 60-64)

demográfica e a urbanização, menos dependentes da conjuntura, advêm de evoluções mais lentas e relativamente antigas. As maiores dificuldades sur- gem em razão das dinâmicas na reviravolta conjuntural no mundo, de seus efeitos inerciais e das dificuldades estritamente endógenas das economias locais.

As economias da África setentrional e do chifre da África, integradas, pelo menos desde a segunda metade do século XIX, às trocas mundiais e que foram, em diferentes graus, modeladas por uma legislação elaborada pelas potências coloniais, essa economias revelam -se sensíveis às flutuações internacionais. Toda variação do comércio mundial repercute nas econo- mias locais em função da importância, por um lado, das trocas externas, as quais perderam seu ímpeto no período entre as guerras, especialmente com as metrópoles e, por outro lado, das produções agrícola e de mineração, elementos -chave das exportações.

O comércio exterior revela diretamente as reviravoltas na conjuntura e a crise das economias francesa, inglesa e italiana. A baixa se reflete tanto nas importa- ções quanto nas exportações, mas as vendas para o exterior resistem melhor pois não concernem senão um pequeno número de produtos, minerais e agrícolas, tradicionalmente exportados para a Europa. Na Argélia, o valor das importações cai pela metade entre 1929 e 1935.

O desmoronamento do comércio exterior tunisiano é consecutivo à crise mineira e agrícola. As exportações diminuem em valor a partir de 1930, mantendo a curva decrescente até 1935. O comércio exterior do Marrocos se enfraquece entre 1929 e 1931 e, em seguida, entra bruscamente em colapso. Em 1936, ele baixa pela metade, comparativamente aos índices de 1926. Ele passa de 3,8 bilhões de francos, em 1926, para 1,932 bilhão de francos em 1936, ou seja, uma baixa em valor de 50%. As flutuações do comércio exterior da Líbia são mais limitadas em razão da sua própria fraqueza. As trocas exter- nas com a Itália ou com outros países europeus são, em 1930, extremamente modestas. O comércio externo líbio passou, contudo, de 482 milhões de liras, em 1925, para 366 milhões de liras em 1934. A diminuição é da ordem de 30%, se ignorada a depreciação monetária1. Em razão da exportação pratica-

mente total da produção mineral, a influência do mercado torna -se determi- nante, qualquer baixa na demanda afeta as produções locais, provocando uma crise no setor de extração mineral. Com efeito, é primeiramente a Tunísia

que conhece essa crise. A cotação do minério de ferro no mercado mundial apresenta uma tendência de queda desde 1928; em 1930, a exportação dos principais produtos da mineração sofre uma queda brutal: de 330 milhões de francos, em 1930, para 100 milhões de francos, em 1932. No Marrocos, a venda de fosfatos diminui em 1931, registrando uma importante queda e caindo de 1,7 milhão de toneladas, em 1930, para 900.000 toneladas. Em seguida estacionária, ela permanece entretanto medíocre. Em 1931 e 1932, todos os centros mineradores, com exceção do situado em Djerada, reduzem as suas atividades; as minas de chumbo e de zinco são fechadas, a extração do manganês continua, mas em baixos índices2. O setor minerador conhece

igualmente na Argélia uma queda brutal em sua produção. A queda relativa ao minério de ferro é, entre 1929 e 1932, de 75%. A baixa dos fosfatos de cal é, sensivelmente, da mesma importância: a produção que atingira 920.000 toneladas, em 1925, cai para 400.000 toneladas em 1939. Os outros minerais seguem a mesma evolução3.

Na agricultura, certos produtos agrícolas vivem uma situação assaz próxima daquela dos produtos mineiros, pois que, essencialmente, tanto os primeiros quanto os segundos destinam -se à exportação.

Na Líbia, os raros produtos passíveis de exportação pelos colonos italianos da Tripolitânia sofrem uma crise em sua comercialização, contudo, de incidência restrita a alguns produtos secundários, como os hortifrutícolas.

A agricultura egípcia é atingida pela queda catastrófica do preço do algo- dão no mercado mundial. Os agricultores que haviam tomado empréstimos para desenvolver a irrigação ou para a compra de bombas são incapazes de saldar suas dívidas. Os pequenos camponeses são expostos à ameaça de perder a sua propriedade. O governo Sidi organiza a estocagem do algodão ás custas do Estado. Em 1931, é criado o Banco de Crédito Agrícola, voltado para os pequenos proprietários. Os sinais de retomada manifestam -se no fim de 1933; eles encorajam o governo a retomar os trabalhos de irrigação e de drenagem.

As culturas argelinas voltadas à exportação (cítricos, algodão, óleo, tabaco) encontram dificuldades em seu comércio, principalmente junto ao mercado francês; as medidas adotadas pelo Parlamento postergam momentaneamente a questão da comercialização do vinho e protegem, por um tempo, a viticultura. Em contrapartida, considerando o papel dos cereais para a agricultura e para a economia como um todo, a queda nos preços alimenta, neste caso, a crise agrá-

2 R. GALISSOT, 1964, p. 56. 3 A. NOUSCHI, 1962, p. 42.

ria. O preço dos cereais está em baixa, de 1930 a 1935, no mercado mundial. As safras agrícolas, entre 1929 e 1939, são muito ruins, com exceção do ano de 1933 -1934, as piores colheitas se situam, neste contexto, nos períodos de 1930- -1931 e de 1935 -19364.

Quanto aos produtos mais representativos da agricultura tunisiana (cereais, cítricos e azeite de oliva), um primeiro movimento de baixa configura -se em 1929. A baixa é durável de 1930 a 1935 e, inclusive, além desse período, a queda nos preços é brutal entre 1932 e 1935. O declínio tem caráter generalizado no conjunto dos produtos agrícolas para exportação, apresentando os seus menores índices em 1933. A crise afeta todas as atividades agrícolas e os rendimentos dos agricultores regridem, em todas as regiões, a ponto de ameaçar a situação dos pequenos produtores rurais.

No Marrocos a colonização agrícola mais recente é sacudida pela queda nos preços. O preço do trigo passa de 126,60 francos por quintal (quatro arrobas) para somente 60 francos, entre 1930 e 1933; a cevada cai de 60 francos, em 1930, para 23,20 francos, em 1934. Até as colheitas são ruins, com exceção do ano de 1934. A baixa dos rendimentos dos agricultores foi, entre 1930 e 1933, da ordem de 60%5.

Em contraste com a produção mineira e agrícola voltadas para exportação, a produção artesanal e industrial não é afetada pela recessão mundial, ao menos não diretamente. Indiretamente, ela acelera uma crise local no Marrocos e em outros países.

Desde então, o artesanato tunisiano está em crise, abalado pela manifesta- ção da recessão mundial que o desorganiza ainda mais: entre 1928 e 1932, as exportações de tecidos em lã recuam 82%, ao passo que a progressão do volume de vestimentas em lã importadas atinge 50%; a queda na exportação de carretéis cônicos (chéchias) é contínua de 1932 a 1937 – 82.640 unidades, contra 26.491. Os utensílios em cobre que empregavam, em Túnis, perto de 400 pessoas, não empregariam em 1932 nada além de uma centena de trabalhadores.

A evolução revela -se a mesma no tangente ao artesanato argelino, malgrado as medidas de incentivo adotadas. As atividades industriais originadas a partir da Primeira Guerra Mundial consagram -se a setores derivados da agricultura, (moagem, oleicultura, cervejaria). Em se tratando de indústrias de substituição, destinam -se ao mercado local e empregam 90.000 operários em 1936.

4 Ibid., p. 46.

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