• Nenhum resultado encontrado

A Tunísia

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 178-181)

À independência do Marrocos adveio imediatamente aquela referente à Tunísia. Nos dois países, a luta de libertação desdobrou -se com certo parale- lismo. Ela opôs -se, em ambos os casos, à mesma potência colonial, confrontada a uma influente comunidade francesa de colonos e, sem menor importância, inscrita em idêntico contexto internacional4. As diferenças entre os dois pro-

cessos não são, contudo, negligenciáveis. Os sindicatos − animados por um bri- lhante organizador, Farhat Hashed − tomaram instantaneamente parte na luta dos tunisianos, os quais puderam, progressiva e posteriormente passar, de uma participação parcial no governo à autonomia interna. Mas, devemos também observar a séria cisão ocorrida no seio da direção do Néo -Destour, antagoni-

zando Habib Bourguiba e Salah Ben Yusuf, bem como a relativa passividade do bei, chefe oficial do Estado.

Após a fundação, em agosto de 1947, da Frente Nacional Tunisiana, a pressão sobre os franceses intensificou -se, em meio a numerosas greves e manifestações, nas quais a exigência de melhores condições de vida era acompanhada pela reivindicação da independência política. Entre 1945 e 1955, o nível de vida das massas conheceu uma degradação generalizada; sobre certas regiões do país abateu -se a fome. Em 1949, assim que Bourguiba retornou de um exílio voluntário (1945 -1949), a direção do Néo -Destour superou uma etapa maior, elaborando uma estratégia de luta pela independência. Não obstante a conquista total desta última fosse o objetivo último de todos os tunisianos, Bourguiba − consciente da forte oposição francesa a uma imediata independência − estava aberto a compromissos táticos mediante os quais alcançaria progressivamente seus objetivos. Os franceses aceitaram primeiramente negociar a questão da autonomia interna parcial e, em agosto de 1950, um novo governo formou -se sob a direção de Muhammad Chenik; ele compunha -se, em proporções equâni- mes, de ministros franceses e tunisianos. Mas, enquanto os franceses estimavam ser esta a sua última possível concessão, sem todavia perder o controle do país, o Néo -Destour logo formularia novas exigências. Isto conduziu, em 1951, a uma nova crise, a França havia rejeitado a reivindicação em prol de um parlamento tunisiano. Esta repulsa produzira -se muito mais em virtude dos colonos france- ses que devido a uma vontade política de Paris. Esta característica particular − a influência dos colonos sobre a política colonial francesa da IVa República − é

recorrente em todos os países do Magreb. Este traço provocou, em todos estes países, efeitos trágicos sobre a população oprimida e, a longo prazo, catastró- ficos para os próprios colonos brancos. No início de 1952, a França pôs fim a novas negociações com os nacionalistas tunisianos, interditou o Congresso do Néo -Destour e deteve muitos outros militantes, em um espectro englobando tanto o radical Bourguiba quanto o moderado Chenik. Certos combatentes, entre os quais Salah ben Yusuf, segundo na hierarquia do Néo -Destour, fugiram para o Cairo. Ao final do mesmo ano, o dirigente sindical Farhat Hashed foi assassinado, provavelmente pela organização terrorista clandestina dos colonos, a Mão Vermelha.

Embora os franceses tenham intensificado a repressão, manifestações e gre- ves reproduziram -se nas cidades. No curso do primeiro trimestre de 1954, o descontentamento generalizado suscitado pela dominação colonial estendeu -se aos distritos rurais. Pela primeira vez na história moderna da Tunísia, os pró- prios camponeses constituíram grupos armados de partisans, objetivando atacar

os colonos europeus, sabotar os meios de comunicação (através do corte de cabos ou descarrilando trens) e combater pequenas unidades francesas. Longe de limitar -se a distritos periféricos, estas ações concentraram -se na península do Cabo Bon e no norte do país. As propriedades dos colonos exigiram a sua proteção por tanques; as operações maciças de limpeza lançadas pela polícia e pelo exército francês não tiveram êxito em bloquear a insurreição.

Em meio a este período de crescentes dificuldades, sobrevieram o choque provocado pela derrota francesa em Diên Biên Phu (em 7 de maio de 1954) e a crise política em Paris, convergindo na formação do governo Mendès France. Os novos responsáveis políticos decidiram retomar as negociações com os nacio- nalistas tunisianos; Bourguiba e outros militantes foram prontamente libertados e, pouco após, retornaram ao seu país. Os franceses ofereceram à Tunísia a autonomia interna, guardando para si o controle das forças armadas e da polí- tica externa. As negociações não se acabaram senão em 1955. A Tunísia obteve então a sua autonomia interna, comprometendo -se, todavia, a salvaguardar os interesses franceses e a manter uma estreita relação com a França. Esta, por sua vez, continuava a controlar a política externa, a defesa e a segurança interna. A Convenção franco -tunisiana estava aquém das aspirações do povo tunisiano mas, Bourguiba, fortalecido por sua larga experiência, sabia que nas circuns- tâncias da época, era impossível obter maiores concessões da França por meio de negociações, de tal maneira que ele aceitou este acordo atraindo para a sua posição a maioria do Néo -Destour. A oposição estava representada pelo grupo de esquerda dirigido por Salah ben Yusuf cujo retorno do Cairo, permitira -lhe preconizar a continuação da luta armada com o objetivo de forçar a França a reconhecer a plena independência da Tunísia. Por ocasião do conflito conse- guinte, Bourguiba conseguiu atrair a maioria dos membros do Néo -Destour. No congresso do partido, organizado em novembro de 1955, Salah ben Yusuf foi excluído em razão de sua oposição à Convenção. Malgrado a expressão, pelo Congresso, da opinião comum a todo o povo tunisiano, em defesa da permanên- cia da sua luta até a plena independência do país, o compromisso de junho de 1955 e a exclusão de Ben Yusuf demonstraram que, doravante, o partido seguiria uma política moderada, abandonando o radicalismo.

Mas o período de “autonomia interna” não perduraria. Em razão do impacto dos acontecimentos no Marrocos e, sobretudo, do começo da guerra na Argé- lia, a França aceitou negociar para salvaguardar, tanto quanto possível, os seus interesses econômicos e estratégicos. Após um mês de tratativas em Paris, um protocolo em reconhecimento à plena soberania tunisiana foi assinado em 20

de março de 1956: após setenta e cinco anos de exploração colonial, a Tunísia entrava nas comunidades das nações livres do mundo.

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 178-181)