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D KIYAGA MULINDWA, 1984 54 R SMYTH, 1984.

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 141-146)

O impacto da Segunda Guerra Mundial nos territórios sob domínio britânico e belga

53 D KIYAGA MULINDWA, 1984 54 R SMYTH, 1984.

55 Consultar J. CARY, 1944. 56 R. SMYTH, 1984.

57 Tal era certamente o ponto de vista do governador das colônias, sir Bernard Bourdillon: consultar J. WHITE, 1981, pp. 233-234; S. CONSTANTINE, 1984, capítulo 9.

torno do futuro político das colônias se iniciara, malgrado a espera pelo fim das hostilidades, hiato necessário, para que um programa de “descolonização” propriamente dito, ganhasse a luz do dia. No desenrolar da guerra, a incerteza reinava quanto a saber quem herdaria o poder: autoridades autóctones, elite educada ou uma associação entre estes dois grupos. Mas, sejam quais forem as suas formas, nenhuma data fora prevista para a transferência do poder aos afri- canos. Promessas de reforma política haviam sido feitas nas colônias da África Ocidental e, embora o seu alcance se tenha revelado totalmente insignificante, deve-se observar que os projetos elaborados, tanto no que diz respeito à Nigéria quanto relativamente à Costa-do-Ouro, testemunham da incerteza reinante em relação à escolha dos futuros beneficiários do poder58.

No Congo, nenhuma promessa desta ordem fora expressa pela administração. O Estado colonial, de fato independente durante o transcorrer da guerra e em estreita relação econômica com os britânicos e americanos, continuava a exercer o mesmo rígido controle sobre a população africana, comparativamente à época em que ele derivava diretamente da autoridade do Ministério Belga das Colô- nias. Não se fazia nenhuma concessão à id de um eventual papel político dos africanos na vida da colônia, em que pesem os sinais manifestos de uma insa- tisfação e de uma agitação que se haviam ampliado durante os anos de guerra59.

Como sublinha J. Stengers, a guerra não fora, para este país, “um período de maiores transformações. Sobre quaisquer pontos de vista, no que diz respeito à evolução do Congo, ela não representou um ponto de inflexão60”. Após a guerra,

o antigo regime de governo colonial, sob a autoridade da metrópole, seria uma vez mais imposto. Nos anos do imediato pós-guerra, o Congo desempenhara em relação à recuperação da Bélgica um papel tão essencial quanto outrora, fornecendo aos Aliados alguns ingredientes à sua vitória. Segundo o escrito por R. Anstey, “essencialmente, as políticas econômicas e administrativas dos anos da guerra representam um desenvolvimento das práticas existentes e, de forma alguma, das inovações; a continuidade também constitui um dos traços do pós-guerra61”. Seria preciso alcançar o ano de 1950 para acompanhar o começo

58 Para uma interessante análise acerca das discussões sobre o futuro das colônias na África, desenvolvidas no Colonial Office durante a guerra, notadamente quanto à existência de projetos de descolonização, conferir J. FLINT, 1983, pp. 389-411 e a resposta de R. D. PEARCE, 1984, pp. 77-93.

59 R. ANSTEY, 1977, p. 157. 60 J. STENGERS, 1983, p. 11. 61 R. ANSTEY, 1977, p. 159.

da contribuição belga, de forma substancial, ao desenvolvimento econômico e social do Congo.

O impacto da guerra sobre as dependências africanas da Grã-Bretanha fora muito diferente. De forma geral, a nova id provinda da crise segundo a qual o governo britânico teria a obrigação de assegurar o bem-estar econômico e social das suas colônias, expandir-se-ia no decorrer da guerra. Certos planos seriam então elaborados no sentido de criar, nas colônias, estabelecimentos de ensino superior e outros destes projetos visariam lá construir organizações sindicais. Créditos foram reservados para a pesquisa colonial, desta forma, criou-se: um Conselho de Pesquisa sobre os produtos coloniais, um Conselho de Pesquisa colonial voltado para a ciências sociais, um Comitê de Pesquisa dedicado à medicina, bem como um Comitê de Pesquisa sobre agricultura, saúde animal e florestas coloniais.

A Grã-Bretanha engajar-se-ia na via das reformas: por um lado e primei- ramente, sob a pressão do seu aliado americano, não disposto a fazer a guerra unicamente para permitir-lhe a conservação do seu império; também e por outro lado, intuindo responder às incitações provindas do Colonial Office e de outras fontes; assim como, finalmente e de forma preventiva, para evitar a repetição dos distúrbios ocorridos nas Antilhas em 1940 em razão de escandalosas condições econômicas e sociais. Tornara -se rapidamente notório que, no pós -guerra e sobretudo na África Ocidental, o programa experimental de reformas, lançado durante a guerra, mostrar -se -ia completamente inapropriado. Malgrado a reto- mada econômica por ela suscitada, a guerra, em lugar de diminuir o desconten- tamento rural e urbano dos anos 30, tê -lo -ia exacerbado. Os agricultores não haviam plenamente aproveitado a nova elevação das cotações mundiais dos seus produtos de exportação pois, a administração controlava os preços e destinava as somas, obtidas da diferença entre preços mundiais e preços locais, a uma caixa de compensação cuja função seria financiar as compras de material bélico nos Estados Unidos. Assim, na Tanganyika, o sisal era comercializado por menos da metade do preço pago pelos americanos, o que permitiria ao Tesouro britânico acumular, segundo os cálculos de J. Iliffe, um benefício de 11 milhões de libras, durante o período de controle sobre os preços62.

No Quênia, os agricultores brancos conheceriam um renascer da fortuna, sobretudo a partir da ocupação, pelos japoneses, das colônias dos Aliados no Extremo Oriente. Os poderes públicos compravam -lhes o milho a preços

subsidiados e mecanismos de assistência financeira haviam igualmente sido implantados para o linho, o centeio e o trigo. O preço subsidiado garantido aos colonos era amiúde duas vezes mais elevado que aquele ofertado aos cul- tivadores africanos que tampouco viveriam qualquer período de prosperidade, a ponto de levá -los a colocarem novas terras em aproveitamento. Em gestação, o conflito de interesses entre os dois grupos de agricultores não fizera senão se acentuar63.

Embora os agricultores africanos não gozassem de todos os benefícios alcançados com a elevação das cotações dos produtos no mercado mundial e, em certos casos, sequer os percebessem, ser -lhes -ia necessário pagar mais caro pelas mercadorias importadas cuja oferta se encontrava reduzida em razão das dificuldades no âmbito do transporte marítimo. Como consequência, surgiria uma inflação de incidência indistinta sobre trabalhadores rurais e urbanos. Na Tanganyika, os preços quase dobrariam durante a guerra e os autores de uma enquete conduzida em Dar es -Salaam, no ano de 1942, notariam que “cerca de 87% dos empregados nos serviços públicos recebem um salário com o qual lhes é materialmente impossível subsistir sem endividamento64”. O número de

trabalhadores urbanos aumentara sensivelmente, tanto em razão da implantação de indústrias de substituição para os produtos importados cuja compra não ser- -lhes -ia mais possível, quanto em consequência do início das obras de constru- ção de estradas, objetivando permitir a comunicação entre a África Ocidental e a África Oriental, ligação esta tornada essencial para as operações militares na África do Norte e, igualmente, fundamental para a provisão e abastecimento em combustível dos navios a caminho da Índia e da campanha da Birmânia. No Congo belga, a guerra estimulara o êxodo rural pois, os africanos desejavam se livrar da política desenfreada de recrutamento executada pelas autoridades e das suas pesadas exigências em matéria de produção agrícola65.

O crescimento de um proletariado urbano não se acompanharia de um com- parável desenvolvimento no tangente às possibilidades habitacionais, muitos de seus componentes viviam em terríveis condições de existência nas favelas. Neste contexto, agravado pela inflação, tal proletariado encontrar -se -ia maduro para a ação política e reivindicatória. Numerosas greves foram desencadeadas em apoio a reivindicações salariais durante a guerra na África britânica. No pró-

63 D. ANDERSON e D. THROUP, 1985, p. 335 e subsequentes.

64 Report of enquiry into wages and cost of living of low grade African government employees in Dar es Salaam, setembro de 1942, citado por J. ILIFFE, 1979, p. 354.

prio Congo belga onde a autoridade era exercida de modo muito mais estrito, os operários da União Mineradora por -se -iam em greve em 1941, em protesto contra a degradação das suas condições de existência, não retornando ao trabalho senão coagidos ou forçados, através da intervenção das forças armadas após o assassinato de 70 grevistas66.

A guerra estimulava igualmente as ambições dos indivíduos pertencentes à elite instruída, entre eles alguns vir -se -iam atribuir -lhes postos na administra- ção e nos negócios da colônia, em substituição a funcionários e gestores britâ- nicos militarmente convocados. Estas ambições inspirar -se -iam, notadamente, na Carta do Atlântico, assinada em 1941 por Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill, texto de afirmação “do direito, de todos os povos, à escolha da forma de governo sob a qual eles pretenderiam viver” e de expressão do desejo em “ver restaurados os direitos soberanos e a autonomia àqueles aos quais estas atribuições teriam sido usurpadas pela força”. A infirmação ulterior do Primeiro

66 B. FETTER, 1976, p. 173.

figura 4.2 O dia da independência da Suazilândia: o chefe Sobhuza II, “o Leão da Suazilândia”, passa em revista as suas tropas. (Foto: Camera Press, Londres. Foto de Jan Kopec.)

Ministro britânico segundo o qual a Carta não dizia respeito aos territórios africanos do seu país, não fizera senão exacerbar os rancores nacionalistas vis-

-à -vis do regime colonial. A este respeito, o contraste com a África belga era

evidentemente surpreendente, aqui não havia nenhuma elite instruída pois a escola primária consistia no mais elevado nível de instrução ao qual podia aspirar a maioria dos africanos, se resumindo as possibilidades de educação, muito mais além, em tudo e por tudo, ao seminário católico.

A elite não fora a única a ver as suas ambições excitadas em razão da guerra. Os homens recrutados nas propriedades rurais para combaterem na Birmânia ou para trabalharem como operários no Oriente Médio e na Itália, estes indi- víduos haviam adquirido novas competências e aprendido novas profissões; muitos deles haviam sido alfabetizados; outros tantos foram aqueles que expan- diram os seus horizontes ao permanecer na Índia onde haviam testemunhado a exigência da partida dos britânicos por parte dos nacionalistas, igualmente na Itália, país onde presenciaram as massivas destruições que os brancos haviam sido capazes de se infligir uns contra os outros. Quando retornaram ao seu país, estes homens alimentaram para si mesmos e para os seus filhos, ambições muito distintas daquelas por eles conhecidas à época do seu recrutamento. No Congo belga, as aspirações nascidas sob outros céus permaneciam sufocadas por um sistema administrativo cujos acessos, rigorosamente controlados, não deixavam alternativa política alguma aos africanos. No próprio desenrolar da guerra, afri- canos instruídos já tentariam, portanto, pela primeira vez, abrir uma brecha no regime colonial; com efeito, suboficiais negros montaram contra os belgas, em Élisabethville, uma conspiração mal organizada, facilmente neutralizada67. Mas,

em colônias como a Costa -do -Ouro ou a Nigéria, os soldados desmobilizados da guerra podiam expressar as suas novas aspirações, transformando -se em militantes, por vezes dirigentes, dos partidos políticos em luta desde logo pelo direito dos africanos ao autogoverno.

A África sob domínio britânico e belga no

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