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A criação da Liga dos Estados Árabes

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 92-94)

Malgrado essa derrota, o Egito desempenha um papel central na criação da Liga dos Estados Árabes. A aspiração por unidade dos países árabes remonta ao fim da Primeira Guerra Mundial; ela se manifesta no fim dos anos 30 e, posteriormente, uma vez mais a partir de 1942 com o apoio dos britânicos. Os objetivos da Grã -Bretanha e dos nacionalistas árabes são diferentes, dois projetos são sucessivamente defendidos pela Grã -Bretanha antes que tenha êxito aquele sustentado pelo Egito. Após a conferência de Alexandria (25 de setembro/10 de outubro de 1944), a Carta da Liga é assinada, em 22 de março de 1945 durante o encerramento da conferência do Cairo, pelo Egito, Síria, Iraque, Líbano, Transjordânia, Arábia Saudita e Iêmen. Todo novo Estado árabe independente tem o direito de a ela aderir; os palestinos encontram -se representados por Musa ‘Alami. Os princípios relativos à soberania e à não ingerência são reafirmados e as decisões tomadas, por maioria, não criam obri- gações senão aos Estados que as tenham aceito. A sede da Liga é fixada no Cairo e seu primeiro secretário -geral é um egípcio, teórico da unidade árabe.

No chifre da África, a derrota italiana permite o restabelecimento da inde- pendência etíope, bem como a retomada com a ajuda americana da política de modernização. No Sudão, uma vez mais, a questão das relações com o Egito domina a vida política, ao passo que na Somália, afirma -se um nacionalismo que transcende o fracionamento territorial e político. As reivindicações políticas são relançadas no Sudão em 1946, por ocasião das negociações anglo -egípcias tangentes à revisão do acordo de 1936. Os dois partidos buscam um procedi- mento comum, enviando uma delegação ao encontro do governo egípcio com vistas a expor -lhe um programa para um governo sudanês democrático, unido ao Egito e aliado à Grã -Bretanha. Após a resposta negativa apresentada pelo Egito, os representantes do Partido Umma deixam o país. A Grã -Bretanha, interessada em manter uma presença militar e econômica no Sudão, encoraja a autonomia sudanesa. A Constituição de 1948 é redigida; ela comporta uma Assembleia Legislativa eleita em sufrágio universal e um Conselho Executivo com ministros sudaneses. O Partido Umma participa da política em prol da autonomia do Sudão, ao passo que os al -Ashikka’ boicotam as eleições legis- lativas; as rebeliões que eles organizam, nas grandes cidades, são reprimidas e seu líder, Isma´il el -Azhari, é preso. O Partido Umma controla a Assembleia Legislativa e se beneficia da sua preponderância no Conselho Executivo. Apesar de guardar o direito de veto e sustentar certa reserva em algumas matérias, o governador -geral controla estritamente o sistema político.

A Etiópia reencontra em 1945 a sua situação de Estado africano indepen- dente. A retomada da política de modernização não logra mascarar uma difícil situação político -econômica. O país, então com 20 milhões de habitantes, apre- senta níveis econômicos medíocres. O rendimento anual médio atinge, em 1957, em torno de 30 dólares americanos, segundo estatísticas das Nações Unidas. A população é essencialmente rural e a agricultura abrange 75% da produção. Os progressos alcançados dizem respeito à prospecção geológica e ao sistema hidroelétrico; indústrias de transformação e do setor cimenteiro iniciam as suas atividades. No domínio da educação, desde o fim da guerra, novas escolas secundárias são abertas em Adis -Abeba, contando com programas e um corpo docente calcados no modelo europeu. Jovens etíopes são enviados ao estrangeiro para continuar os seus estudos. A questão da Eritreia permanece pendente até 1952. O país é colocado sob administração britânica, durante e após a guerra. O seu destino final forma o tema de vários projetos levados ao âmbito das Nações Unidas mas, a região é integrada à Etiópia, gozando de uma ampla autonomia, graças à uma constituição federal.

O problema da unidade territorial e política é ainda mais agudo na Somália. Em 1946, a população está espalhada pelo Distrito Norte do Quênia, pelas pro- víncias etíopes do Haud e do Ogaden, e pela Somália francesa, italiana e britânica. A Costa Francesa dos somalis torna -se, após escrutínio eleitoral, território de além -mar, com uma assembleia local e uma representação parlamentar em Paris. O restante da Somália é administrado pela Grã -Bretanha. A Liga da Juventude Somali, constituída no imediato pós -guerra, desenvolve o seu recrutamento nas cidades. Ela exige a criação de uma Grande Somália, unindo a Somália italiana, o Ogaden etíope, o Somaliland e a Somália francesa. O projeto é apoiado pela Grã -Bretanha mas, declina rapidamente em razão da atitude das Nações Unidas.

No tocante à gênese da África contemporânea, as crises e transformações da década 1935 -1945 são decisivas; a suas consequências prolongam -se, em alguns casos, até os dias atuais. Em uma perspectiva ampliada, dois dados fundamentais da África contemporânea emergem com evidência no curso dessa década: o subdesenvolvimento e os nacionalismos. Os anos do pré -guerra e a guerra não constituem o ponto de partida, nem do subdesenvolvimento e tampouco dos nacionalismos cujas raízes são mais antigas e complexas mas, tanto um quanto o outro, emergem com a aceleração dos seus processos formativos.

C A P Í T U L O 3

A África tropical e equatorial sob domínio francês, português e espanhol estendia -se das ilhas do Cabo -Verde, no Atlântico, ao litoral do Oceano Índico, em Moçambique. As colônias francesas formavam um bloco contínuo, englo- bando diversos enclaves britânicos de diferentes extensões. As colônias portu- guesas compreendiam três territórios continentais e dois arquipélagos, muito distantes uns dos outros. A colônia espanhola situada ao sul da região unia o Rio Muni, em terra firme, e a Ilha de Fernando Poo; a sua porção ao norte controlava a Costa Saariana.

O período dos anos de 1935 a 1945 foi chamado “a idade de ouro da coloni- zação” e considerado como o apogeu da era colonial. Mas, essas denominações conferem uma falsa impressão da real situação, esta soi -disant “idade do ouro”, na realidade, termina impreterivelmente durante a Grande Crise econômica dos anos 301.

Talvez fosse mais exato dizer que os anos de 1935 a 1945 tenham consti- tuído a “década de ouro” do extremismo de direita na Europa. Foram os anos do triunfo e posteriormente do ocaso da ambição fascista. As colônias das quatro potências imperiais europeias foram profundamente afetadas pelas tendências fascistas que haviam se expandido em suas respectivas metró-

1 “A crise da colonização está definitivamente aberta”, assim escreve A. SARRAUT, 1931, p.219, citado por J. SURET -CANALE, 1964, p. 567.

A África tropical e a África equatorial sob

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