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A Sagrada Família, dom e projeto de Salvação

este capítulo, querido(a) amigo(a) e companheiro(a) nesta aventura do conhecimento de Jesus por meio da Sua Sagrada Família, gostaria de compartilhar a seguinte afirmação, que penso ser de extrema importância para o conhecimento do nosso Mestre: “Jesus não é somente o salvador, mas é a própria Salvação”. Portanto, a Sua vida familiar, vivida por trinta anos na casa de Nazaré, também é Salvadora.

Igualmente como se afirma de Jesus, pode-se também enfatizar, em senso analógico, a imensa importância da vida santificada e santificante de Maria e José, pela participação singular na obra da Redenção. No desígnio de Deus, a salvação é fruto não somente da morte de Cristo na cruz, mas também de toda a Sua vida, inclusive a vivida em Nazaré, na convivência cotidiana com Maria e José. Trata-se de uma salvação que, ao mesmo tempo, é dom e projeto que requer a colaboração dos homens salvos, e esses primeiros colaboradores foram Maria e José.

A colaboração à obra de salvação de Cristo é transmitida através da realidade, dos gestos, das situações difíceis e belas da experiência familiar. Existe, então, um dom de graça que emana da Sagrada Família de Nazaré a todas as famílias do mundo, pelo qual todas elas são chamadas à salvação. É um dom que germina dos valores e daquelas exigências da vida familiar que fizeram parte da experiência cotidiana de Jesus com Maria e José, em Nazaré. Deste modo, molda-se uma “presença” invisível, mas real e eficaz; força da qual a Família de Nazaré não é somente um “protótipo e exemplo”, mas também uma proteção para todas as famílias.

Entende-se, assim, a urgência, a necessidade, a profundidade e a originalidade de se retornar à Sagrada Família, de imitá-la, rezar com ela pedindo a sua intercessão nos problemas da vida conjugal e familiar. Penso que seria importante recordar o magistério de São João Paulo II sobre a Família de Nazaré na sua inevitável influência sobre as famílias cristãs atuais, em um ensinamento de continuidade e renovação. Continuidade porque o Papa santo fez tesouro dos ensinamentos tradicionais da Igreja, que sempre contemplou a Família de Nazaré como o modelo exemplar e a celeste proteção para as famílias cristãs fundadas no amor e na responsabilidade para com o mundo e a Igreja. De renovação porque São João Paulo II se apoiou nos ensinamentos intensos e originais do Concílio Ecumênico Vaticano II e do Beato Paulo VI, enfatizando e intensificando, com força doutrinal e com estratégia pastoral, a realidade familiar, frequentemente dependente das contradições do tempo e da sociedade pós-moderna.

As grandes mudanças sociais que deram novas características históricas à sociedade, a qual chamamos de moderna, e que ainda contribuíram para o seu nascimento, interferiram também na família, envolvendo-a em um processo de transformações, refletindo em sua missão na sociedade. Essas transformações deram início a muitas fragmentações e desorientações. Nessa passagem cultural entre modernidade e pós- modernidade, podemos constatar transformações de regras das ciências, da literatura e da arte, levando, porém, a uma forte perda do pensamento e influindo, assim, no conceito de família como núcleo da sociedade.

Mas a família, mesmo neste contexto de fenômenos disjuntores, continua a ser o lugar de pessoas unidas pelo sacramento do amor, dedicadas a dar prosseguimento, na experiência pessoal e comunitária, à desafiante tarefa do projeto do Deus Trinitário para a família humana, especialmente para a família cristã. Projeto de harmonia e responsabilidade na procura dos cônjuges e filhos em exprimir o “dom sincero do amor”, no qual o exemplo da Sagrada Família é excessivamente atual. Tudo isso é exprimido por São João Paulo II na exortação Gratissimam Sane, de 2 de fevereiro de 1994, que exalta o matrimônio e a família como componentes essenciais da sociedade na civilização do amor, dom de Deus, ameaçado pela cultura de morte, que faz com que o homem não se reconheça como dom, gerando dinâmicas de ruptura e de divisão.

Emerge, assim, a urgente missão da Igreja em repropor com coragem a verdadeira história do amor puro, na verdade e na beleza, como dom de si mesmos, encontrando na Sagrada Família de Nazaré o ícone e o modelo de toda a família humana, conforme afirma Papa Francisco ao convocar o Sínodo dos bispos com o tema “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”, no qual expressa que, no decorrer dos tempos, Cristo sempre será o redentor, Filho de Maria, e, em virtude da genealogia de Davi, Filho de José, nosso irmão universal, com o Seu Evangelho de caridade, que não pode ser um obstáculo à unidade, mesmo na legítima diversidade da família humana fundada no amor.

Do exemplo de Cristo, São João Paulo II ainda afirma que existe um convite universal e presente, no qual cada homem e cada mulher de boa vontade tem a sã responsabilidade de acolher, de transmitir um ensinamento válido para cada família humana, que coincide com a atual convicção de que a “essência do amor e da família é definida pela doação”. É o amor que define, para nós, cristãos, a identidade e a obra de Deus na Trindade, conscientes de que a Santa Família de Nazaré define e constitui a identidade de toda família cristã. Por isso, nas páginas seguintes, meditaremos a presença da Família Santa de Nazaré no mistério da Encarnação Redentora.

A participação da Família de Nazaré na história da