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Afrontar o tema da educação no contexto familiar é como tocar o coração de todas as formas que já afirmamos até aqui. Diz um provérbio chinês: “Se fazes projetos por um ano, plante o grão; se fazes projetos para um maior número de anos, plante uma árvore; se fazes projeto para uma vida, eduque as pessoas.” Realmente, a educação é o maior tesouro e a mais importante das heranças que os pais podem dar aos filhos, já nos diziam nossos avós e pais na fé. Mas certamente é um dos principais desafios diante dos quais se encontram as famílias de hoje e, sem dúvida, se tornou ainda mais exigente e complexo por causa da realidade cultural contemporânea e da grande influência dos meios de comunicação, mundo do social work, Internet. É preciso ter, na devida consideração, as exigências e as expectativas de famílias capazes de ser, na vida cotidiana, lugares de crescimento, de transmissão concreta e essencial das virtudes que forjam a existência. Isto indica que os pais podem escolher livremente o tipo de educação que desejam oferecer aos filhos, em conformidade com as convicções que lhes são próprias.

Compartilho ainda a estreita relação entre educar e gerar, na qual a relação educativa entre pais e filhos é uma relação que se instaura no interno da família, já no nascimento, deixando marcas indeléveis. A contribuição do pai e da mãe, na complementaridade entre eles, tem um influxo decisivo na vida dos filhos. Espera-se dos pais assegurar aos filhos a cura, o afeto, a orientação de senso e orientação no mundo de hoje, escutando mais do que falando, agindo com coerência mais do que comandando. Criando um clima de confiança que se torna como uma bússola na regulação interna dos filhos.

Sempre foi enfatizada a necessidade da dimensão materna, mas constatamos que ela se encontra sempre mais fraca e às margens da figura paterna. Nossos filhos necessitam muito da presença da figura paterna e enérgica que possa lhes garantir um desenvolvimento sadio e seguro. Mas, na realidade, a responsabilidade educativa é dos dois, em uma unidade que já meditamos nos capítulos precedentes. Assim, é a própria diferença e reciprocidade entre pai e mãe que cria o espaço fecundo para o pleno crescimento dos filhos.

Na tarefa educativa familiar, gostaria de propor a expressão “cura responsável”, a paternidade e maternidade responsável, terminologia que usamos e propomos também para a maternidade e paternidade espiritual, aos reitores dos seminários e responsáveis das comunidades religiosas e de consagrados. Cura responsável que se conjuga com “a proximidade e a confiança” típicas da figura materna e com “o senso de justiça e de igualdade”, típico do aspecto paterno da relação. Aqui peço perdão se insisto em dizer que esta orientação na relação educativa familiar forma um espécie de “bússola interior”,

que forma critérios de referências para os filhos nas diversas situações da vida. Por isso, a educação familiar é escola de humanidade, na qual a tarefa dos pais seria aquela de tirar as potencialidades dos filhos. A palavra latina que exprime esta realidade é “e- ducere”, que é o contrário de pretender que os filhos sejam cópias e semelhanças dos próprios pais, ou seja, “se-ducere”. Tal relação, porém, deve ser harmonizada entre autoridade e liberdade, e talvez aqui já mencionamos o desafio real da educação, ou seja, evitar o excesso de autoritarismo e de liberalismo, ou ainda pais sem a consciência da responsabilidade a eles confiada. Este desafio encontra equilíbrio quando a vida familiar é compartilhada nos seus momentos cotidianos.

Assim como nos ensina a Sagrada Família de Nazaré, a autoridade dos pais, como aquela de José e Maria, se torna real e coerente, fazendo o crescimento dos filhos, através do próprio estilo de vida, caracterizado pelos valores humanos e cristãos, porque é próprio das famílias que os filhos aprendam as relações gratuitas e não instrumentais. É próprio do ambiente familiar que aprendamos o direito inalienável da pessoa humana no exercício da sua liberdade. Meditando assim a relação familiar como modelo educativo, podemos dizer que a família permanece sempre como a primeira e indispensável comunidade educadora, na qual a educação é um dever de todos os pais, porque está conexa com a transmissão da vida, e é insubstituível, porque não pode ser delegada, nem mesmo substituída. Como escuto os casais com filhos adolescentes e jovens, vejo que muitos deles vivem um senso de solidão, sentimento de inadequação e até mesmo de impotência. Mas estes desafios são superados com o amor e atenção às famílias em dificuldades, amando-as em todas as partes, suportando-as e ajudando-as a serem protagonistas ativas da educação dos filhos e, assim, da inteira comunidade.

Aqui a tarefa educativa dos pais recebe também a força da graça sacramental, que faz dos casais, através do sacramento do matrimônio, sinal do Amor de Deus que cura e educa os Seus filhos. Nesta preciosa missão das famílias, a Igreja desempenha um precioso papel de apoio a elas, começando pela iniciação cristã, através de comunidades acolhedoras. Hoje, mais do que ontem, tanto nas situações complexas como nas normais, as comunidades eclesiais devem encontrar modos de apoio às famílias no seu compromisso educacional. De modo concreto, no acompanhamento das crianças, dos adolescentes e dos jovens em seu crescimento, para que sejam capazes de se introduzirem no pleno sentido da vida e de despertarem ações responsáveis, vividas à luz do Evangelho. E aqui voltamos ao exemplo da Sagrada Família de Nazaré, na qual a ternura, a misericórdia e a sensibilidade, materna e paterna, são uma escola de humanidade e de vida.