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O amor esponsal na vida celibatária pelo Reino dos Céus e na virgindade

Certamente, a estas alturas da nossa reflexão, é necessário aprofundar, mesmo que brevemente, a forma virginal da vida esponsal e da fecundidade, não entendida como uma alternativa ao matrimônio, mas com significado próprio e autêntico. A vida cristã não consiste em duas estradas separadas. A virgindade celibatária exprime radicalmente o modo em que se realiza o mistério da redenção e representa a vida esponsal na cruz, indicando o significado da relação entre o homem e a mulher. A este propósito é justo acenar o quanto São João Paulo II nos enriqueceu com a sublime catequese sobre o corpo e o amor humano, falando de virgindade e celibato pelo Reino e reconhecendo neles a plena realização esponsal. Com muita audácia, ele afirmou que a pessoa que se consagra inteiramente a Deus o faz com a sua própria masculinidade e feminilidade, na própria condição de homem e mulher. O celibato e a virgindade, então, em tal prospectiva, são cheios de alteridade, indicam e exprimem a gratuidade apaixonada do amor pelos outros, longe de qualquer retribuição, de uma concepção de amor como fusão ou de uma procura e experiência de fantasmas, que alguns chamam de espiritual, banalizando a profundidade da palavra espiritual.

Tivemos a graça, durante o programa “Em casa com a Sagrada Família”, transmitido todas as semanas diretamente aqui da casa de Nazaré, de receber a visita de uma convidada muito especial: irmã Margherita De Cesare. Uma religiosa italiana que vive aqui na Basílica da Anunciação há quarenta anos. Vive aqui na casa da Santa Família... Nestes quarenta anos, ela trabalhou com as crianças e depois tomou conta, de forma muito materna, dos religiosos, dos sacerdotes, dos freis que vivem aqui, fazendo aqueles serviços mais simples, mesmo sendo uma irmã com formação acadêmica. Ela vive isso com uma maternidade única, que tem no seu coração, no seu ser. Irmã Margherita nos relatou esta sua experiência também com os peregrinos.

Perguntamos à irmã Margherita se a maternidade é uma vocação, e ela respondeu:

Certamente! É um chamado particular que não é devido aos nossos méritos, mas ao Amor de Deus. Me sinto... Aqui nesta casa de Nazaré... Me sinto, verdadeiramente, envolvida neste Amor de Deus e neste mistério da Encarnação. De modo particular, porque como irmã da Caridade da Imaculada Conceição, entro no mistério, e assim vivo esta minha esponsalidade em relação contínua, no cotidiano com o Senhor. Sou agradecida ao Senhor pela minha vocação, e, neste relacionamento de esponsalidade, me sinto realizada na minha feminilidade... E como virgem, na fecundidade... E, portanto, eis a maternidade. Nestes anos, nestes longos anos também de serviço aqui nesta casa, me sinto, realmente, afetuosamente, uma mãe.

isso, perguntamos à irmã Margherita sobre a sua dedicação aos jovens, porque ela trabalhou com as crianças quando chegou aqui em Nazaré, na escola materna. Depois cuidou dos freis, dos sacerdotes, e agora está também a serviço dos peregrinos.

Outra pergunta feita à irmã foi sobre a maneira como ela vive esta realidade na sua consagração.

Eu a vivo mesmo. Até hoje, pelo menos, procurei vivê-la com o próprio espírito de Nazaré, próprio da família de Nazaré... Ou seja, cotidianamente e com simplicidade... Me aproximei primeiro das crianças e ali aprendi com elas tantas coisas, de modo particular a simplicidade, a espontaneidade, e aproveitei, verdadeiramente, com afeto, com elas e no relacionamento com os pais. Depois passei para o serviço do convento, portanto, ao serviço dos padres, e aqui me senti ainda mais mãe no sentido de como Maria vivia! Viveu, na casa de Nazaré, esta vida doméstica e pensava sempre que... Os discípulos sempre saíam... Os apóstolos saíam juntamente com Jesus, em Cafarnaum, ou aqui, ou ali... E Maria ficava em casa... O seu Evangelho era fixo, fazendo o seu trabalho doméstico... Não sei, com alguma panela, com a agulha... Ela fazia estes serviços assim como eu faço. E assim me encontrei... Realmente, neste sentido, na maternidade... Eu me sinto mãe também neste sentido: quando os padres, como os apóstolos, saíam e, portanto, estavam em contato direto com o povo, fazendo o apostolado... Maria ficava em casa, portanto, com as preocupações: quem sabe o que estão fazendo? O que está acontecendo? Quem sabe? Nisso também me encontrei, isto é, me preocupo com os problemas. Encontramos diversos problemas ao longo da história, em todas as épocas. Hoje, por exemplo, me preocupo com os jovens, com seus problemas, com as famílias e todos os seus problemas... Estamos no tempo do Sínodo... Todas estas coisas me absorvem, não é somente o trabalho, digamos, material... Mas também me preocupo com o lado espiritual... E assim, com esta dedicação, me sinto realizada.

Irmã Margherita cresceu sem a figura materna, pois ficou órfã quando tinha oito anos. Pedimos a ela para nos contar como esta falta se tornou um dom para a Igreja, para a congregação, para o mundo, para nós que estamos aqui.

Sim, sentia este vazio, então pensei que... Gradativamente, quando fosse crescendo, pensava em preenchê-lo me doando para os outros. Assim, me dizia: aquilo que faltou para mim, quero doá-lo. Procurei me aproximar sempre das menininhas e das crianças, sempre com este espírito. Por quê? Porque ver as crianças sofrerem, para mim, é algo que, de fato, é um sofrimento... Sofro junto... Quando vejo que as crianças são como... objetos de alguém… Se tornam objetos materiais... Para mim, isto é um sofrimento. No tempo que vivi, era diferente... Mas já sentia este sofrimento, pela falta, pelo vazio que sentia, e assim comecei a pensar: O que fazer? Como preencher isso? E depois, pouco a pouco, veio a vocação.

No final de nossa entrevisa, irmã Margherita De Cesare deixou uma mensagem para todas as mães e para todas as religiosas.

A todas as mães, àquelas que estão no sofrimento pelos seus filhos, eu digo: você precisa ter esperança, e esta nasce da nossa oração. Esta consolação virá da nossa oração. A todas as religiosas, quero dizer,

como disse Papa Francisco: não deixe que nada roube a alegria. O encontro de Maria com Isabel é um canto de alegria. A alegria não é um barulho, uma euforia. A alegria é algo que vem do interior, que está dentro e que se exprime na paz, na serenidade. É isso! É isso que desejo a todas as religiosas: procuremos ser sempre na alegria, porque é o único testemunho que podemos dar.