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É a vocação comum entre os cristãos, convocados pelo batismo a viver a própria vida, fundamentalmente imergidos na condição da maioria do povo de Deus, que são chamados ao sacramento do matrimônio; sendo tal sacramento que une o homem e a mulher em Cristo. E somos convidados a uma nova inteligência na relação homem- mulher. De fato, tal relação foi vista na história como antropologia dramática, mas aqui queremos meditá-la no mistério de Cristo e da Sua Igreja. Deus criou o homem por amor, o criou à Sua imagem; quer rever no homem a dinâmica do dom e o Seu amor recíproco à semelhança da Trindade. Nesta ótica, o homem se realiza somente quando ama. A vocação, então, de todos os homens, de todos os batizados, é amar: amados por Deus, somos todos chamados a corresponder ao Seu amor, de ser como Ele, na realização do amor ao próximo. O amor é a característica do cristão, é aquilo que o distingue; assim como Jesus disse: “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).

Aqui gostaria de acentuar que o Amor de Deus pela humanidade tem a característica nupcial, Deus não ama abstratamente, não se limita somente à criação ou a uma paterna assistência, mas se doa ao homem e para o homem, e morre na cruz por ele, como um esposo que se dá totalmente à sua esposa. Este amor nupcial de Deus pela humanidade é o amor que Deus deseja que exista entre os homens como resposta ao Seu amor. Por este motivo, Ele pensou para cada um de nós um modo concreto de viver esta resposta de amor, por uma estrada pessoal, única e não repetível. São Paulo de fato diz: “Aliás, gostaria que todos fossem como eu. Mas cada um recebe de Deus um dom particular, um este, outro aquele” (1Cor 7,7). É claro que o contexto que ele fala se refere ao matrimônio e ao celibato. Para Deus, o matrimônio e o celibato são dons, específicos chamados e meios para chegarem a Ele; e assim todos chamados à santidade. E podemos afirmar que a vida matrimonial é uma vida ordinária e privilegiada da santidade.

Quando Deus criou a relação entre o homem e a mulher, pensou como realidade positiva e em origem não ferida. No casal, um é parte do outro, e juntos se unem com Deus; os cônjuges então são “sacramento”, manifestação visível do amor divino e humano de Deus pela humanidade, e isto se realiza no dom recíproco dos esposos. Se vocês me permitem uma analogia um pouco rústica, eu direi que a família é o mapa, mas somente “Deus” é o tesouro. Enquanto dom e sacramento, sabemos que é a manifestação do Amor de Deus e não se pode ser realizado sem Ele.

Que lindo, eu me emociono, como consagrado religioso e presbítero, ao refletir que mediante o sacramento do matrimônio, que se torna o instrumento de santificação, os esposos se tornam “uma só carne” e recebem as graças necessárias. Assim, os casados

são chamados a testemunhar, na vida conjugal de todos os dias, a fé no Deus amor, com a reciprocidade, a partilha, a alegria, o sacrifício e a relação profunda com Deus e com a Sua Igreja.

O matrimônio tem assim uma dignidade vocacional própria, um carisma próprio. Os esposos na Igreja exercem um carisma específico, que nasce do sacramento, se nutre e se manifesta na própria relação de amor. Neles o sacramento leva à realização da graça do batismo, dando-lhes a plenitude de ser homem e mulher, de modo que realizem no mais profundo de si o serem homens e mulheres casais para a missão da Igreja.

Lembro-me de que escutava a palavra “carisma” somente para os religiosos e, assim, ao dom dado aos fundadores. Mas aqui entendemos que a vocação ao matrimônio é o carisma que consiste na comunhão matrimonial, em uma vida comunitária intensa, como é a vida de uma família. Os casais, amando-se em Cristo, recebem uma unidade natural, e é esta a originalidade do carisma, que por obra do Espírito Santo detém a missão de custodiar, revelar e comunicar o Amor de Deus. Assim, a família como matriz do Amor de Deus exercita o carisma de ser imagem de Deus e prepara-se para o Paraíso, para o encontro nupcial eterno com Deus. A dignidade do sacramento do matrimônio nos leva à união com Deus, porque quando homem e mulher se amam, amam no mais profundo do coração do outro, onde Deus vive. Quando você ama seu namorado, sua namorada, seu esposo, sua esposa, você está amando a Deus no mais profundo do ser daquela outra pessoa, por isso a dignidade desta vocação, na qual amando, saindo do egoísmo, saindo de si mesmo, você começa a se abrir ao amor profundo da outra pessoa, reconhecendo os seus defeitos, aceitando e vivendo a realidade.

Gostaria de partilhar com você, caro(a) irmão(ã), um testemunho de dois jovens, André Luiz da Rosa e Eliziane Alves, que participaram do nosso programa “Em casa com a Sagrada Família” e nos ajudaram a entender como é necessário um caminho de discernimento para abraçar a vocação matrimonial como vocação e carisma. Sobre a questão do caminho percorrido no namoro na comunidade Canção Nova, Eliziane nos relatou:

No início, quando eu e o André começamos a conversar, nós primeiro trilhamos um caminho de amizade entre nós. Ele morava na Itália, e eu morava no Brasil, na missão de São Paulo. E iniciamos esta amizade, porque acredito que o namoro começa sempre na amizade, no conhecimento profundo um do outro, e em janeiro vamos completar dois anos de namoro. Mas, a princípio, os gostos, as conversas e as brincadeiras eram normais de um relacionamento de afetividade. Com o tempo, a amizade foi crescendo e o sentimento foi brotando, até se tornar um namoro.

Ao falar do dom do discernimento no matrimônio, André disse:

dentro da Igreja, é algo importante e sério. Hoje, nós temos um casal que nos acompanha, eles são casados há mais de dez anos, e conversamos com eles sobre vários assuntos. As brigas, dificuldades, são coisas normais, e eles nos ajudam a resolver estas questões. Voltando ao tema do discernimento, em 2005, quando entrei na Canção Nova, eu queria ser padre, até que tive uma conversa com padre Jonas, e nesta conversa eu descobri que minha vocação não era o sacerdócio, mas ainda fiquei com a dúvida: seria o celibato? A vida na comunidade me ajudou muito. Como nós temos a vida comunitária, então vejo como um padre, como um celibatário e como uma família vivem sua vocação, então isso me ajudou a chegar a esta conclusão. Mas para mim o ponto central foi que Deus me chamava a ter uma vida comunitária mais profunda; não é que os religiosos e os padre não tenham vida comunitária, mas eles têm uma vida comunitária dentro de um certo horário, e cada um entra no seu quarto e, assim, ficam sozinhos com Deus. No casamento é diferente, o casal trabalha, tem vida durante o dia, quando chega em casa eles têm a vida comunitária, e quando vão dormir se deitam na mesma cama, não tem como fugir, vai ser um constante confronto um com o outro, uma constante doação de si para outro. Eu me sinto muito chamado a isso, e acho que é a pedagogia de Deus para me levar para o Céu. Deus precisa que me santifique, saindo de mim para ir ao encontro do outro.

Quando perguntei ao jovem André Luiz quando ele achava que um jovem estaria pronto para abraçar o sacramento do matrimônio, ele me respondeu:

Eu acho que o casal está pronto para casar quando um ama o outro com os seus defeitos; eu acho que este é o ponto. Quando eu, olhando para ela, a amo com os seus defeitos e limitações. Então, quando um olha para o outro e consegue amá-lo, apesar dos defeitos, esta é a hora de casar.

E fazendo a mesma pergunta para Eliziane, ela disse:

Eu acredito que o primeiro passo é não ter medo, muitas vezes você está com alguém e não está preparado, você sabe no fundo que não é aquela pessoa. Mas não tenha medo, entregue tudo para Deus na oração. Eu acho que a oração é necessária e também é um discernimento neste grande passo da nossa vida, passo para o resto da vida, para a eternidade. Então é muito importante você se olhar, ser verdadeiro consigo mesmo e com a pessoa que está com você.

Agradecendo o testemunho dos nossos amigos André Luiz e Eliziane Alves, é inevitável colocar-nos de frente à concreta realidade de uma escolha definitiva. É ainda possível, mesmo na cultura relativista em que vivemos, falar de escolha “para sempre” no sacramento do matrimônio.

Acredito que a preparação dos jovens para este passo não seja baseada simplesmente em um cálculo ao redor das próprias capacidades, mas implica em algo que vai além das forças pessoais dos cônjuges, implica na própria Graça, uma presença operante do Espírito Santo, própria do sacramento e do carisma que os possibilitam ao seguimento de Cristo, no qual os cônjuges cristãos se prometem reciprocamente na fidelidade, porque Deus é fiel e doa aos esposos a força da Sua fidelidade.

amenamente do amor. E esta indissolubilidade é a expressão da nova aliança na relação esponsal entre Cristo e a Sua Igreja. Na fé é possível assumir os bens do matrimônio como compromissos que melhor se cumprem mediante a ajuda da graça do sacramento. Deus consagra o amor dos esposos e confirma a sua indissolubilidade, oferecendo-lhes a ajuda para viver a fidelidade, a integração recíproca e a abertura à vida. Por conseguinte, o olhar da Igreja dirige-se aos esposos como ao coração da família inteira, que também fixa o próprio olhar em Jesus.

Salve, ó Senhora Santa, Rainha Santíssima,

Mãe de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita Igreja, eleita pelo Santíssimo Pai Celestial,

que vos consagrou por Seu Santíssimo e dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito.

Em vós residiu e reside toda plenitude da graça e todo o bem. Salve, ó palácio do Senhor!

Salve, ó tabernáculo do Senhor! Salve, ó morada do Senhor! Salve, ó manto do Senhor! Salve, ó serva do Senhor! Salve, ó mãe do Senhor!

E salve vós todas, ó santas virtudes derramadas, pela graça e iluminação do Espírito Santo,

nos corações dos fiéis, transformando-os de infiéis em fiéis servos de Deus!

Amém!

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