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RS do Ensino Superior para estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e

CAPÍTULO V – EDUCAÇÃO SUPERIOR E POLÍTICAS DE FORMAÇÃO SOB A

5.2. CONTEÚDO E A ESTRUTURA DAS RS DOS ESTUDANTES DE CIÊNCIAS

5.2.1. RS do Ensino Superior para estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e

A análise de evocação foi realizada considerando a ordem natural das evocações de palavras e expressões citadas pelos participantes. A média das ordens de evocação calculada pelo software EVOC, ou seja, o Rang, foi de 3,4, representando uma média ponderada de posição que pode variar de 1 a 5, sendo que as palavras que mais se aproximam de 1 são as mais prontamente evocadas, e as que se aproximam de 5 são as mais tardiamente evocadas, como ressaltam Simoneau e Oliveira (2011).

Ainda segundo as autoras evidencia-se que o tratamento dos dados é feito tendo como critérios de importância a frequência e a ordem de aparição dos termos produzidos, parte-se da premissa de que os termos que atendam, ao mesmo tempo, aos critérios de maior frequência e ordem prioritária de evocação teriam maior importância no esquema cognitivo do sujeito e, provavelmente, pertenceriam ao núcleo central da representação. Na Tabela 10, apresenta-se o conteúdo e a estrutura das Representações Sociais de ensino superior.

Tabela 10. Conteúdo e estrutura de Representação Social sobre Ensino Superior para estudantes de Letras e Biologia (N=39)

Palavras e termos evocados f ≥ 9 OM < 3,4

Conhecimentos Oportunidades 13 9 3,308 3,222 f > 9 OM ≥ 3,4 Emprego Sonho 18 15 4,222 3,933 5≤ f < 8 OM < 3,4 Formação Futuro Profissão Salário 7 5 6 5 2,714 3,000 2,833 2,800 5≤ f < 8 OM ≥ 3,4 Educação Formação-continuada 6 5 3,833 4,000

f = frequência OM = ordem média de evocação

Total de evocações (Estudantes de Ciências Biológicas e Letras = 147) Total de palavras diferentes (Estudantes de Ciências Biológicas e Letras = 39)

Observa-se na Tabela 10 que o núcleo central (NC) da representação de ensino superior por estudantes relaciona-se aos aspectos do desenvolvimento da carreira profissional dos participantes da pesquisa e futuros professores, já que aponta que a aquisição de conhecimentos gera oportunidades. Essa representação demonstra está organizada em torno de valores ligados à profissionalização, ou seja, por meio do ensino superior se tem oportunidades de construção de uma carreira profissional. Estes dados se relacionam às características dos participantes do estudo, já que eles são na maioria mulheres, pardas e oriundas da escola pública e de famílias com baixo capital cultural. Gatti e Barretto (2009), Inep (2009), Louzano et al. (2010), afirmam que este é o perfil dos sujeitos interessados em seguir a carreira docente, pois, os sujeitos com esse perfil veem na docência uma oportunidade de se constituírem profissionais, mas não qualquer profissional, um profissional que até então não existia nas famílias de origem, com curso superior.

O perfil do candidato à docência também ajuda a reafirmar a desvalorização dessa profissão, já que ele representa o coletivo popular e como explica Arroyo (2011, p. 74) na democracia republicana o poder não tem origem no povo, nem de sua instrução e as “[...] imagens sociais do magistério, da instrução, do ensino elementar ou médio popular estão associadas às imagens negativas, inferiorizadas dos trabalhadores e dos coletivos populares, seus destinatários”. O autor ainda afirma que a maioria dos docentes que atuavam no ensino público no Império, depois na República, tinham origem no coletivo popular, portanto a docência primária nunca foi um ofício de disputa da elite, fato que ainda prevalece na sociedade democrática e que ajuda a explicar o atual status social destinado a essa profissão.

As palavras do NC de ensino superior são cercadas por aquelas que pertencem à periferia próxima e se constituem na interface entre a realidade concreta e o sistema central, como destacam Martins, Trindade e Almeida (2003). Os elementos mais flexíveis, com maior possibilidade de mobilidade, e que têm entre as funções aquela de proteção do núcleo central, são aqui representadas pela ideia de emprego e sonho, seguidos dos termos formação, futuro, profissão, salário. Todos esses termos que ocupam lugares intermediários dessa representação ajudam a explicar definitivamente o surgimento das expressões conhecimentos e oportunidades como ideias centrais na representação social de ensino superior.

Quando os estudantes pensaram em ensino superior, pensaram, de fato, em conseguir um emprego, sendo que este é considerado um sonho para muitos deles, para tanto é necessário se formar para se ter acesso a uma profissão que no futuro lhe proporcionará um salário, já que a sociedade contemporânea tem privilegiado o desenvolvimento econômico e social, o que acaba exigindo um maior nível de formação da população. Assim, as instituições de ensino superior devem resolver os problemas oriundos da democratização do acesso ao ensino superior. Entre estes problemas, destaca-se o da relação entre o saber e a universidade, pois muitos estudantes enxergam a universidade apenas como um meio de conseguirem um bom emprego, e por consequência um salário.

Dessa forma, a docência passa a ser enxergada como uma espécie de “seguro desemprego” (GATTI, 2010), mais uma alternativa caso não seja possível o exercício de outra profissão. Atualmente, “[...] há mais diplomas, mas não têm o mesmo valor” (CASTELL, 2010, p. 462), portanto, o “ecumenismo social” evidencia a valorização social de determinadas profissões em detrimento a outras. Dessa forma, o fato de se obter um diploma de curso superior não é garantia de melhores condições salariais e sociais, afirmação fácil de

ser constatada na sociedade brasileira quando se compara o salário e o prestígio social destinado aos professores, principalmente dos que atuam na educação básica.

O fato de o acesso à educação superior representar um sonho para muitos estudantes, novamente demonstra ligação com o perfil da família dos participantes da pesquisa, pois, muitos deles representam o primeiro membro da família a concluir um curso superior, ou seja, eles enxergam a universidade como meio de realização de um sonho que é de passar por um processo de formação para ter um emprego que lhe resultará em um bom emprego.

A periferia distante que representa os elementos mais individuais da representação, sugere que o ensino superior é um meio de acesso à educação e que proporciona formação continuada, o que poderá proporcionar aos futuros professores melhores oportunidades de desenvolvimento profissional e integração à própria progressão na carreira. Como observa Barretto (2012) quando os professores passam a frequentar cursos básicos de aperfeiçoamento, eles passam a ter a possibilidade de ter acesso a cursos como os de especialização no mesmo domínio.

O teste de Associação Livre de Palavras (ALP), aplicado a 39 estudantes de Ciências Biológicas e Letras, fez emergir por meio da análise lexicográfica um total de 147 evocações como respostas ao estímulo indutor: ensino superior. Destas, 39 com significados diferentes. Em função da similaridade semântica entre as palavras, houve necessidade de agrupá-las em uma mesma terminologia; por exemplo: conhecimentos e conhecimento foram agrupadas na terminologia conhecimentos. Desta forma, os 39 vocábulos foram reduzidos a 19 agrupamentos semânticos, que correspondem a categorização das evocações que foi realizada com o auxílio da análise de conteúdo de Bardin (1979), a categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto e reúnem um grupo de elementos com caracteres comuns, sob um título genérico.

Tabela 11. Categorias resultantes das evocações obtidas no teste de associação de palavras, sobre Ensino Superior com 39 estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras.

Categorias Evocação Evocação Evocação Evocação Evocação Frequência

1 Emprego 0 6 3 8 0 46,1% 2 Sonho 0 0 7 2 6 38,4% 3 Conhecimentos 0 4 4 2 3 33,3% 4 Oportunidades 0 3 3 3 1 23,1% 5 Formação 0 4 2 0 1 17,9% 6 Profissão 0 4 0 1 1 17,9% 7 Qualidade de vida 0 2 0 1 1 17,9% 8 Educação 0 1 2 0 3 15,3% 9 Salário 0 2 2 1 0 15,3% 10Formação continuada 0 0 0 2 3 12,8% 11 Futuro 0 2 1 2 0 12,8% 12 Luta 0 1 0 1 1 10,2% 13 Concurso 0 0 1 1 1 10,2% 14 Reconhecimento 0 1 2 0 1 10,2% 15 Pesquisa 0 1 0 2 0 7,6% 16 Responsabilidade 0 1 0 2 0 7,6% 17 Cultura 0 0 1 0 1 5,1% 18 Ensino 0 2 0 o 0 5,1% 19 Independência 0 0 1 1 0 5,1% Total 39 39 39 39 39 100%

Fonte: Teste de Associação Livre de Palavras

A Tabela 11 demonstra a categorização resultante das evocações obtidas no teste de associação de palavras, sobre Ensino Superior em ordem decrescente de frequência.

Os dados mostram por meio da análise lexicográfica que a evocação mais frequente para o termo indutor ensino superior foi a palavra emprego (46,1%), evidenciando que antes de qualquer coisa os estudantes envolvidos na pesquisa buscam no ensino superior e nas licenciaturas uma oportunidade de emprego, pois como aponta Penna (2007) a docência tem atraído cada vez mais pessoas oriundas de classes sociais menos favorecidas e que estão a procura de um emprego, percebe-se, que essas pessoas buscam uma colocação no mercado de trabalho e veem a docência como uma forma de ascensão social. Em seguida, aparece a palavra sonho (38,4%) e por meio dela se observa, que os estudantes veem o ensino superior como um sonho a ser alcançado, uma forma de adquirir conhecimentos (33,3%) para se ter mais oportunidades (23,1%) profissionais, dados que vão ao encontro dos já observados no perfil dos participantes desta pesquisa, pois, praticamente todos os participantes têm origem em famílias com capital cultural bastante comprometido, pessoas que não tiveram acesso ao ensino superior, assim os dados apontam que eles são as primeiras pessoas da família a terem a oportunidade de serem profissionais que estão tendo acesso ao ensino superior.

Dessa forma, a visão que os estudantes têm do ensino superior é a de que ele representa um meio de acesso ao mundo do trabalho, assim, “[...] O trabalho é reconhecido como a fonte da riqueza social” (CASTEL 2010, p. 226), além de material. O autor ainda afirma que pessoas que não têm nada além da força de seus braços utiliza o trabalho para pagar sua dívida social, sendo assim, ter um trabalho é lei dentro da sociedade, é a colocação social de todo cidadão, porém o autor ressalta que o trabalho não é origem de riqueza pelo contrário, representa o fato do sujeito se encontrar fora da ordem da riqueza. O trabalho não mantém uma relação visível com a riqueza e,

[...] menos ainda, a riqueza com o trabalho: via de regra, os mais ricos trabalham menos ou absolutamente não trabalham. O trabalho, ao contrário, é com frequência o quinhão dos pobres e dos que ganham pouco, reduzidos à necessidade de trabalhar a matéria ou de cultivar a terra para sobreviver. É, ao mesmo tempo, uma necessidade econômica e uma obrigação moral para os que nada têm, o antidoto contra a ociosidade, o corretivo para os vicio do povo. (CASTEL, 2010, p. 227)

Assim, o estudante que enxerga o ensino superior apenas como meio de colocação no mercado de trabalho, e por consequência a possibilidade de ascensão social e econômica pode acabar se decepcionando, frustrado, ainda mais quando escolhe cursar alguma licenciatura, já que esses cursos quase sempre não proporcionam acesso às profissões bem remuneradas, principalmente no que refere à docência na educação básica brasileira. Arroyo (2011) afirma que para muitos jovens o acesso à educação representa uma forma de mediação para garantir o direito ao emprego, sendo este o elo aos direitos que lhes são negados, como direito à dignidade, à cidadania, à vida e a todos os direitos sociais que deverão propiciar a libertação da opressão racial e social dos coletivos.

As palavras formação, profissão e a expressão qualidade de vida (17,9%) tiveram a mesma frequência de evocação. Observa-se que, os estudantes buscam uma formação para terem uma profissão que no futuro (12,8%) lhes proporcionará qualidade de vida, dados que acabam indo ao encontro do que Penna (2007) afirmou, isto é, a docência é uma forma de ascensão social, proporcionando aos sujeitos maior bem-estar, por meio do salário (15,3%) a ser adquirido após a conclusão do ensino superior.

Os estudantes apontaram também que o ensino superior é um meio de ter acesso à educação (15,3%), sendo que esta exige formação continuada (12,8%), fato que evidencia uma preocupação com o futuro profissional e concebe a formação docente como um processo contínuo que apenas se inicia na formação inicial e deve prosseguir ao longo da vida (ORTEGA, 2011).

Os estudantes apontaram que o ensino superior está relacionado à luta (12,8%) para ser aprovado em um concurso (10,2%), pois assim terão reconhecimento (10,2%), mais uma vez pode-se observar que o fato de ter acesso ao ensino superior está relacionado à acessão social e à busca por melhores condições de vida, como melhores salários, reconhecimento social e independência (5,1%), como evidenciado na pesquisa de Gatti e Barretto (2009).

Um grupo de estudantes apontou a pesquisa (7,6%) como caminho para alcançar o desejo de se tornarem pesquisadores, ele evidencia também que a pesquisa exige responsabilidade (7,6%), pois ela é uma forma de cultura (5,1%) que dever ser relacionada ao ensino (5,1%). Portanto, os dados demonstram um pequeno interesse no ensino voltado à construção da pesquisa de forma responsável e como forma de disseminação da cultura acadêmica, ou ainda, como forma de mais opção de emprego, pois, como afirma Barretto (2012) as áreas voltadas a pesquisa e ao bacharelado têm mais ofertas de emprego e costumam ser mais diversificadas e atraentes que o magistério, apresentam também maior status social, maiores salários e maiores expectativas de crescimento profissional.

5.2.2 RS da Licenciatura para estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e