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RS da Licenciatura para estudantes dos Cursos de Ciências Biológicas e Letras

CAPÍTULO V – EDUCAÇÃO SUPERIOR E POLÍTICAS DE FORMAÇÃO SOB A

5.2. CONTEÚDO E A ESTRUTURA DAS RS DOS ESTUDANTES DE CIÊNCIAS

5.2.2. RS da Licenciatura para estudantes dos Cursos de Ciências Biológicas e Letras

Na Tabela 12, são analisadas as evocações dos estudantes ao termo indutor licenciatura.

Tabela 12. Conteúdo e estrutura de Representação Social sobre Licenciatura para estudantes de Letras e Biologia (N=39)

Palavras e termos evocados f ≥ 9 OM < 3,3

NC Dificuldades Profissão 9 14 3,222 3,143 P P f > 9 OM ≥ 3,3 Ensinar Precarização 16 9 4,500 3,667 5≤ f < 8 OM < 3,3 Dedicação Educação Formação Formação-continuada Salários-baixos 6 6 7 5 6 3,000 3,000 2,429 3,000 2,833 P D 5≤ f < 8 OM ≥ 3,3 Conhecimentos 6 4,167

f = frequência OM = ordem média de evocação

Total de evocações (Estudantes de Ciências Biológicas e Letras = 147) Total de palavras diferentes (Estudantes de Ciências Biológicas e Letras = 46)

Para os estudantes, os elementos que organizam com mais força a RS de licenciatura mostrado na Tabela 12 são: profissão e dificuldades. Imersos em uma lógica socialmente construída, os estudantes tomam a licenciatura como um curso que vem acompanhado de muitas dificuldades, mas que lhes proporcionarão o acesso a uma profissão, termo mais prontamente e mais frequentemente evocado por eles, que demonstra a interiorização de uma representação mais hegemônica de licenciatura. Aqui a ideia de profissão tem um grande peso.

O conceito genérico de profissão, segundo Oliveira (2008) se refere a atividades especializadas, que possuem saberes específicos e acessíveis apenas ao grupo profissional, com códigos e normas próprias e que estão inseridos em determinado lugar da divisão social do trabalho, assim surge um questionamento: até que ponto o magistério obteve ou obtém condições para se definir como tal? Ainda segundo a autora, a profissionalização do magistério pode ser compreendida como um processo de construção histórica, que sofre

variações de acordo com o contexto socioeconômico a que está submetido, e que, sobretudo tem definido tipos de formação e especialização de carreira e remuneração para um determinado grupo social que vem crescendo e se consolidando. Logo, o desenvolvimento da noção de profissionalização é resultado de uma forma específica de organização do Estado, “[...] a forma racional-burocrática de estruturação dos serviços públicos, que traz consigo a instituição de um corpo funcional”, como aponta Oliveira (2008, p. 30).

A instituição escolar moderna é resultado desse aparato estatal e dependente dele. Dessa forma, a primeira grande luta pela profissionalização da docência esbarra no estatuto funcional que, por meio da sua conversão em servidores públicos, quer dizer funcionários do Estado, acabam perdendo a autonomia e autocontrole sobre o próprio ofício. Assim, a história dos trabalhadores da educação pode ser reconhecida como um movimento resultante dessa ambiguidade: luta pela obtenção de reconhecimento profissional e que, ao mesmo tempo acaba usufruindo da condição de servidores públicos (OLIVEIRA, 2008).

O elemento dificuldades aparece também como um dos elementos definidores da RS de licenciatura. Os estudantes evidenciam já estarem cientes de que ao cursar uma licenciatura eles terão que se deparar com grandes dificuldades ao longo da vida profissional. Essas dificuldades citadas pelos estudantes estão relacionadas à intensificação do trabalho docente: ampliação da jornada de trabalho, aumento considerável de responsabilidades assumidas pelos docentes com a consagração do princípio de gestão democrática do ensino público, artigo 206, inciso VI da Constituição Federal de 1988, como ressalta Oliveira (2006). A autora destaca que esse dispositivo representou uma conquista dos movimentos sociais, e trouxe novas exigências para a escola: os trabalhadores devem participar da gestão da escola, da escolha direta para diretores e coordenadores, representar conselhos escolares, sendo eleitores e postulantes, elaboração coletiva do planejamento escolar e dos programas e currículos, foi nesse momento também que ocorreu a ampliação de 180 dias letivos para 200, ou 800 horas.

Portanto, este quadro de nova regulação educativa resulta no que os estudantes apontaram como dificuldades no exercício da profissão docente, é claro que existem outras dificuldades, como violência no ambiente escolar, falta de acesso a novas tecnologias e materiais didáticos, transporte escolar precário, entre outros problemas, é o que Borges (2012, p. 124) chama de “fragilidades estruturais”, que podem ser entendidas como “[...] a ausência de condições materiais mínimas e desejáveis para a operacionalização de processo pedagógico de qualidade”.

Faz parte da fragilidade estrutural a ausência de “[...] profissionais da educação devidamente preparados para a profissão” (BORGES, 2012, p. 124), já que é comum estes profissionais serem substituídos por contratos temporários. O fato é que a nova regulação educativa aponta para a intensificação do trabalho docente, precarização das relações de emprego, mudanças nas relações de trabalho que interferem diretamente na identidade e condição docente (FANFANI, 2005; OLIVEIRA, 2003).

Os trabalhadores docentes se submetem à ampliação da jornada individual de trabalho, já que assumem mais de um emprego para compensar os baixos salários, como aponta Oliveira (2003). Uma minoria de professores assume outro emprego que não a docência (FANFANI, 2005), porém os professores que trabalham na rede pública acabam tendo mais de uma jornada de trabalho em diferentes instituições, acabam ministrando aulas em dois ou até três estabelecimentos diferentes, tendo em vista que os salários dos professores, no Brasil, são baixos se comparados com os de outras profissões que exigem formação profissional parecida, como chama atenção Oliveira (2006).

Esse processo de intensificação do trabalho docente trás consequências danosas ao trabalho do professor, já que este deixa de conhecer seus alunos, e passa a não ter tempo para executar atividades que ajudam no melhor desempenho profissional, como preparar aula, estudar, pesquisar, manter-se atualizado, participar de cursos que promovam a formação continuada (NORONHA, 2001). A intensificação da jornada de trabalho dentro dos estabelecimentos escolar tem sido cada vez maior, ocorre um aumento da carga horária de trabalho sem qualquer remuneração adicional (OLIVEIRA, 2006).

Formas sutis e menos visíveis de exploração do trabalho docente remunerado têm ocorrido por meio de incorporação de novas funções e responsabilidades, visando responder às exigências dos órgãos do sistema, bem como da comunidade (OLIVEIRA, 2006). A autora afirma também que a incorporação de certa flexibilidade nas políticas educacionais promove a desregulamentação, o que acaba proporcionando maior liberdade administrativa à escola. Nesse contexto político da legislação e dos programas de reforma, os professores são forçados a dominarem novas práticas, saberes e competências no exercício da docência.

A periferia próxima do NC representada pelos elementos com maior possibilidade de mobilidade é aqui representada pela ideia de ensinar e precarização, seguida dos termos dedicação, educação, formação, formação continuada e baixos salários. Todos esses termos ocupam lugares intermediários dessa representação e ajudam a explicar definitivamente o surgimento das expressões profissão e dificuldades no NC.

Dentro da periferia próxima a palavra ensinar apareceu com bastante frequência, o que faz sentido no contexto pesquisado, já que a licenciatura prepara os estudantes para serem professores na educação básica, ou seja, para ensinarem determinada disciplina, no caso deles: ciências, biologia, língua portuguesa e inglesa. Observa-se, que o ato de ensinar vem acompanhado da precarização do trabalho docente. Pochmann (1999) destaca que o processo de precarização do trabalho na América Latina é resultado do modelo de crescimento econômico adotado que não prevê a ampliação do número de empregos, o que só agrava o acirramento das desigualdades sociais.

Esse contexto faz com que surjam novas formas de ocupação o que acaba provocando maior segmentação do mercado de trabalho, como destaca Oliveira (2006). Os contratos de trabalho, bem como as legislações social e trabalhista passam a ser mais flexíveis, ocorre redução na taxa de sindicalização e do número de greves, o que acaba demonstrando maior grau de autonomia das empresas. Essas relações são estabelecidas no magistério público por meio de contratos temporários que não asseguram os mesmos direitos e garantias dos trabalhadores efetivos como destacam Oliveira e Melo (2004).

Assim, como o trabalho de modo geral, o trabalho docente tem sofrido com a precarização no que se refere às relações de emprego. Tem ocorrido cada vez mais o aumento de contratos temporários na rede pública, sendo que em alguns casos esses equivalem ao número de trabalhadores efetivos, outros aspectos relacionados à precarização do trabalho docente são: o arrocho salarial; não cumprimento da lei que estabelece o piso salarial; planos de carreira inadequados, ou até mesmo ausência deles; a perda de garantias trabalhistas e previdenciárias de origem nos processos de reforma do Estado têm intensificado cada vez mais o processo de precarização do emprego no magistério público (OLIVEIRA; MELO, 2004).

O fato é que políticas educacionais com vistas a erradicar a precarização do trabalho docente precisam ser criadas e implementadas para que a docência passe a ser mais atrativa aos estudantes dos cursos de licenciatura e que faça com que os professores que já estão atuando na educação básica não desistam da profissão.

Os estudantes conceberam na periferia próxima que para a conclusão do curso de licenciatura deve existir dedicação, já que esta exige estudo, pesquisa, pois é por meio dela que se terá acesso à educação, primeiro por parte dos próprios licenciados e em seguida, dos cidadãos matriculados na educação básica. Os participantes deixaram claro que, durante a realização de um curso de licenciatura ocorre a formação dos futuros professores e que esta

deve ser continua. Foi apontado um aspecto negativo em relação à licenciatura: os baixos salários pagos aos professores da educação básica, no Brasil. Barbosa (2011, p. 152) participa desta discussão ao afirmar que “Quem opta por permanecer na docência e conta apenas com o salário de professor para atender às necessidades objetivas enfrenta pobreza material”.

Logo, para que se tenha um salário digno que consiga cobrir as despesas mensais, os professores se veem obrigados a intensificarem seu trabalho, trabalhando em duas ou mais instituições de ensino e até mesmo exercendo outra profissão, além da docência, caso não façam isso terão acentuada a condição de pauperização.

Um estudo da UNESCO (2004) mostrou que a renda familiar dos docentes era pouco maior do que a da média da população do país, situando-se entre dois e dez salários mínimos, porém se comparado com as demais profissões que exigem formação em nível superior, o poder aquisitivo dos professores pode ser considerado inferior. A docência exige gastos grandiosos, portanto, receber mais do que dois salários mínimos é pouco para um professor.

Sampaio e Marin (2004) ressaltam que a pauperização dos professores é preocupante, pois, esta dificulta o acesso aos bens culturais, tão importantes para a formação e prática do trabalho docente. Barbosa (2011) ressalta que a aquisição de bens culturais, bem como a participação em eventos culturais, visita a museus, teatros, shows, cinema são essenciais para o aprimoramento pessoal e profissional dos professores, porém, tudo isso custa dinheiro, ter acesso a todos esses bens acaba se tornando difícil para os professores, devido aos baixos salários pagos a eles. Colaborando com essa discussão pode-se citar que a UNESCO (2004) mostrou que, os professores adquirem e consomem mais bens culturais quanto maior é a renda familiar deles, o que provavelmente, pode representar maior atuação profissional.

A respeito da situação de pobreza material Guimaraes-Iosif (2007, p. 122), afirma que esta aliada a todos os problemas que cercam o espaço escolar, tais como “[...] todas as desgraças e violências oriundas do novo modelo capitalista periférico” leva o professor a se sentir desestimulado, sem forças para se organizar juntamente com seus pares para lutar por melhores condições de trabalho e de vida, assim, o professor abre mão de contribuir para a mudança social.

A autora aponta ainda que este contexto socioeconômico pode ajudar na promoção da constituição de um professor que não estuda e nem pesquisa, já que este não recebe salário que lhe proporcione tais atividades e muitas vezes não encontra estímulo institucional para investir em formação continuada. A autora ressalta que se trata de um professor politicamente ingênuo, que não ajuda na promoção da emancipação popular, “[...] uma vez que não

consegue ensinar seu aluno a construir e desconstruir conhecimento, a pensar, a aprender, a ler, a escrever um texto com coerência” (GUIMARAES-IOSIF, 2007, p. 123).

A periferia distante sugere que a licenciatura é um meio de acesso a conhecimentos, o que faz bastante sentido no contexto pesquisado, já que os participantes buscam na formação inicial adquirir conhecimentos para se tornarem bons professores. E como já foi observado nesta pesquisa, o professor deve ter acesso não apenas aos conhecimentos científicos, pedagógicos, curriculares, mas também aos conhecimentos ou bens culturais, pois como Barbosa (2011) evidencia o desenvolvimento profissional e pessoal dos docentes inclui acesso à arte, música, leitura, teatro, novas tecnologias, escrita por prazer, turismo, etc., tudo isso é fundamental para o aprimoramento profissional.

Como resposta ao estímulo indutor licenciatura, o teste de Associação Livre de Palavras (ALP), aplicado aos estudantes participantes desta pesquisa, fez emergir por meio da análise lexicográfica um total de 147 evocações. Destas, 47 com significados diferentes. Tal como aconteceu com o termo ensino superior, em função da similaridade semântica entre as palavras, houve necessidade de agrupá-las em uma mesma terminologia; por exemplo: oportunidades e oportunidade foram agrupadas na terminologia oportunidades. Desta forma, os 47 vocábulos foram reduzidos a 18 agrupamentos semânticos, que correspondem a categorização das evocações que foi realizada com o auxilio da análise de conteúdo de Bardin (1979).

Tabela 13. Categorias resultantes das evocações obtidas no teste de associação de palavras, sobre Licenciatura com 39 estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras

Categorias Evocaçã1ª o Evocaçã o Evocaçã o Evocaçã o Evocaçã o Frequência 1 Ensinar 0 4 5 4 2 34,1% 2 Profissão 0 5 5 1 3 29,7% 3 Dificuldades 0 4 1 2 2 21,2% 4 Precarização 0 1 3 3 2 19,1% 5 Dedicação 0 3 1 1 1 14,8% 6 Formação 0 6 0 0 1 14,8% 7 Salários baixos 0 2 3 1 0 14,8% 8 Conhecimentos 0 0 1 3 2 12,7% 9Formação continuada 0 1 2 2 0 10,6% 10 Luta 0 0 1 1 0 8,5% 11 Oportunidades 0 2 0 1 1 8,5% 12 Emprego 0 1 0 1 0 6,3% 13 Sucesso 0 0 0 1 2 6,3% 14 Amor 0 1 1 0 0 4,2% 15 Desistência 0 0 0 0 1 4,2% 16 Falta de respeito 0 0 0 0 2 4,2% 17 Pesquisa 0 0 2 0 0 4,2% 18 Vocação 0 0 1 0 0 2,1% Total 39 39 39 39 100%

Fonte: Teste de Associação Livre de Palavras

A Tabela 13 demonstra a categorização resultante da análise de conteúdo de Bardin (1979) e das evocações obtidas no teste de associação de palavras, sobre Licenciatura em ordem decrescente de frequência. Algumas palavras foram citadas por um pequeno número de participantes, indicando certa ausência de consenso para representar o que entendem por licenciatura.

Os dados evidenciam que a evocação mais frequente para o termo indutor licenciatura foi a palavra ensinar (34,1%), seguida das palavras profissão (29,7%), dificuldades (21,2%) e precarização (19,1%). Ora, quem escolheu cursar licenciatura, escolheu uma profissão que enfrenta muitas dificuldades como a precarização do trabalho docente. Observa-se que mesmo antes de terem concluído a licenciatura os estudantes já a enxergam como uma profissão que enfrenta muitas dificuldades, o que pode ser explicado pelo fato de muitos deles mesmo ainda não tendo concluído o ensino superior já estão ministrando aulas na educação básica como foi evidenciado, anteriormente, no perfil deles, além dos estágios e de bolsas como o PIBID que promovem práticas pedagógicas na educação básica para os licenciandos.

Os estudantes apontaram também a licenciatura como uma profissão que exige dedicação (14,8%), formação (14,8%), e que é acompanhada de baixos salários (14,8%), proporciona acesso a conhecimentos (12,7%) e que exige formação continuada (10,6%). Os

participantes da pesquisa deixaram claro suas preocupações com a formação, já que esta exige dedicação. Contribuindo com essa discussão Freire (1994, p.112) afirma que o processo de formação de professores deve ser cercado de uma licença “[...] democrática, alerta, curiosa, humilde e cientificamente competente”. Percebe-se que Freire já apontava a insuficiência do conhecimento científico, ele mostra a ampliação da fronteira dos saberes necessários para a formação docente, sendo que uma das formas de se obter essa ampliação pode ser pela constante formação continuada.

Nenhuma profissão pode ser exercida sem competência científica, porém esta é apenas mais uma forma de conhecimento, que não pode ser considerada única e conclusiva. O sujeito que se dispõe a ser professor tem de buscar constantemente novos saberes, de modo que amplie seu nível de percepção como destacam Arnt e Galasso (2010). Nesse sentido, Freire (2011, p. 107) diz que,

[...] como professor, não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha. Não posso ensinar o que não sei. Mas, este, repito, não é saber de que apenas devo falar e falar com palavras que o vento leva. É saber, pelo contrário, que devo viver concretamente com os educandos.

Espera-se que os futuros professores e participantes deste estudo já tenham consciência dos saberes defendidos por Freire e enxerguem a formação continuada não apenas como mais uma forma de conhecimento científico, mas como forma de manter acessa a curiosidade e aperfeiçoamento da fazer pedagógico.

A licenciatura foi apontada também como uma profissão que requer disposição para luta (8,5%), que pode proporcionar a quem a escolheu oportunidades (8,5%) de emprego (6,3%), sucesso (profissional, acadêmico, social, 6,3%). É possível perceber no discurso dos estudantes que a licenciatura, assim como o acesso à educação superior estão relacionadas à acessão social desse grupo, já que eles apontaram que apesar da licenciatura ser considerada uma luta, ela pode ainda lhes proporcionar oportunidades de emprego. Gatti e Barretto (2009) chamam atenção para esse aspecto em seu estudo ao mostrar que a escolha pela docência muitas vezes representa para os licenciados uma forma de “seguro desemprego”, ou seja, é mais uma alternativa caso eles não consigam exercer outra atividade profissional, mesmo os salários sendo baixos.

Para uma parte dos estudantes a escolha pela licenciatura é antes de tudo um ato de amor (4,2%), porém alguns aspectos fortemente negativos relacionados à licenciatura como profissão a ser seguida, faz haver desistência (4,2%), pois é uma profissão que vem

acompanhada de falta de respeito (4,2%), evidencia-se também um interesse pela pesquisa (4,2%), já que nela pode se ter mais respeito e reconhecimento profissional e até mesmo melhores salários. Uma pequena parcela dos estudantes compartilham os mesmos ideais: a docência é um ato de amor, porém muitos profissionais têm desistido da profissão, pois a falta de respeito, aqui citada como sinônimo também de falta de reconhecimento social e financeiro, vai ao encontro do que pode ser observado na fala da professora de matemática Hortênsia Virginia Américo, retirada de uma reportagem escrita pela jornalista Luciene Câmara (2013) do “Jornal O Tempo”, a reportagem foi intitulada Desistência: cinco professores se demitem por dia das escolas estaduais de Minas Gerais, e a professora diz: “Eu me decepcionei muito. As salas de aula são lotadas, há muito desrespeito com o professor, e o salário não compensa o sacrifício”.

Observa-se que a fala da professora Hortênsia Virginia Américo demonstra uma realidade vivida atualmente não apenas no Estado de Minas Gerais, mas em todo o país, trata- se da precarização da profissão docente, assim o magistério passa a ser visto como “sacrifício”. Os dados vinculados na reportagem são condizentes com os divulgados pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG): diariamente, cinco professores concursados, em média, pedem demissão, das escolas estaduais de Minas Gerais, de janeiro a agosto de 2013, 1.283 educadores desistiram de seguir carreira na rede, mesmo com a estabilidade garantida no serviço público. O número superou as exonerações de 2012, quando foram registrados 1.238 pedidos de exoneração. E o motivo para tanta desistência já são velhos conhecidos: salário baixo, falta de plano de carreira, más condições de trabalho e desrespeito dos alunos estão entre os motivos da evasão apontados pelos professore.

Um pequeno grupo de estudantes participantes deste estudo apontou a perspectiva da licenciatura como vocação (2,1%), como dom inato. Segundo Costa (1999), no Brasil assim como em países do Norte, como os Estados Unidos a docência na forma de catequese representa historicamente uma ação civilizatória praticada pela igreja, o que proporcionou o fortalecimento entre os vínculos da ação pedagógica e missão religiosa. Aderiu-se à cultura do magistério uma visão social que passou a associar a docência com vocação, sacerdócio, abnegação, submissão à medida que os quadros docentes foram se laicizando e feminizando. A autora destaca ainda, as consequências disso:

A representação da docência como “vocação” já foi largamente utilizada, afetando as exigências que são feitas à mulheres – o grande contingente supostamente vocacionado que se dedica ao ensino -. E não é recomendável que continuemos a incrementá-la nos meios educacionais. A manipulação da retórica de professoras como “eleitas”, “escolhidas”, agentes perfeitas em um trabalho marcado pela “doação”, já causou demasiado danos às docentes e à educação escolar. Precisamos agora é de estratégias que valorizem as características que as mulheres incorporam ao ensino por sua repercussão positiva no trabalho com as/os estudantes e não pelo que elas significam como predisposição à exploração e ao controle. (COSTA, 1995, p. 236)

Mesmo os textos de Costa (1995; 1999) terem sido produzidos há mais de uma década, é evidente que eles continuam atuais, pois nesta pesquisa uma parcela dos estudantes dos cursos de licenciaturas ainda aponta a docência como profissão relacionada à vocação.

Lüdke e Boing (2004) chamam a atenção para o fato de que a própria formação para o exercício do magistério é um fator determinante para a dificuldade de reconhecê-lo como profissão, já que essa formação pode se dá em diferentes instituições formadoras, e em diferentes níveis de ensino. Os cursos oferecidos pelas universidades como pedagogia e os cursos de licenciatura, convivem com o normal superior, dentro dos institutos superiores de educação, e ainda o antigo curso normal, em nível médio. O que acaba sendo mais uma