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Classe 4 – O exercício da docência e a legislação: um enfoque negativo

CAPÍTULO V – EDUCAÇÃO SUPERIOR E POLÍTICAS DE FORMAÇÃO SOB A

5.3. CAMPO COMUM, AS DIFERENCIAÇÕES INDIVIDUAIS E GRUPAIS E OS

5.3.1. EIXO 1 – A DOCÊNCIA: PROCESSO DE FORMAÇÃO E PRÁTICA

5.3.1.2. Classe 4 – O exercício da docência e a legislação: um enfoque negativo

A Classe 4 representa 13% do total do corpus analisado. A Tabela 17 traz as palavras mais significativas desta classe e remetem a uma questão mais negativa dos aspectos legais da docência.

As palavras agrupadas aqui têm alto χ2, conforme pode ser evidenciado na Tabela 17,

e retratam que os estudantes deixam claro que conhecem a LDB e os PCN, porém as Diretrizes Curriculares específicas dos cursos deles não.

Tabela 17. Classe 4. O exercício da docência e a legislação: um enfoque negativo

Classe 4: O exercício da docência e a legislação: um enfoque negativo χ2 Alunos 66 Fundamental 55 Médio 55 Sala 45 Lecionar 44 Incentivo 44 Diretrizes 44 Professor 32 Ensinar 27 Direitos 27 Estágio 18 Aprender 18 13,0%

O discurso agrupado aqui é de estudantes que apontam todos esses documentos como sendo leis que regem e orientam a prática docente, bem como os currículos escolares. Como pode ser observado nas falas seguintes:

Cheguei a ler a Lei de Diretrizes e Base da Educação e me lembro das leis específicas para o ensino médio e fundamental, inclusive consta na Lei de Diretrizes e Base o papel que o professor deve desempenhar na sala de aula. (Estudante 3, Ciências Biológicas, 24 anos)

Percebe-se no discurso acima que o estudante evidencia existir leis que norteiam o trabalho do professor em sala de aula. No discurso analisado o estudante parece demonstrar preocupação com o “papel” que ele deverá desempenhar em sala de aula. Assim, a universidade deveria se aproximar mais da escola para que os futuros professores realmente passassem a conhecer a prática escolar.

Desde os anos noventa do século passado, época em que a avaliação do desempenho da educação básica começou a ser feita com regularidade, primeiro por organismos nacionais, e em seguida ocorreu o acréscimo de avaliações internacionais, ficou evidente que o aumento no número de matrículas não vinha acompanhado de padrões de qualidade compatíveis para a atualidade, como destaca Cunha (2012). O autor ainda aponta que com a ampliação do papel da imprensa na divulgação do desempenho dos estudantes da educação básica, seguida de comparações internacionais com estudantes de outros países, o que acabou sendo destacado foi a distância qualitativa de educação básica no Brasil.

Dessa forma, a universidade passou a ser questionada sobre seu compromisso com a formação de professores, principalmente “[...] no sentido da não valorização do preparo para o magistério na educação básica e da baixa prioridade curricular em relação à prática do ensino”, como ressalta Cunha (2012, p. 2). O autor ainda expõe que a não priorização das licenciaturas pelas universidades apenas reflete a falta de investimentos na educação no Brasil, demonstrando o grau de prioridade que os governos municipais, estaduais e federais têm dado à educação.

E quanto menos se investir na formação de professores e na educação de modo geral, mais a educação pública fracassa no objetivo de oferecer educação de qualidade para todos. Guimaraes-Iosif (2009) chama a atenção para o fato de que o Estado deve ser responsabilizado pela precariedade que se encontram a maioria das escolas públicas do País, bem como da abertura, reconhecimento e recredenciamento de IES em todo País, já que é obrigação legal do Estado o zelo com as instituições de educação básica e de formação docente.

Portanto, a não priorização das licenciaturas pelas universidades juntamente com a precarização da profissão docente seguida da indisciplina, violência, entre outros problemas, têm contribuído para que muitos jovens estudantes de licenciaturas desistam de seguir o ofício de professor, como se pode observar nos discursos abaixo:

Além do estágio ao qual percebi que os alunos não respeitam os pais, os professores, não temos nenhum incentivo para exercer a profissão, uma vez que a profissão é uma das mais importantes da sociedade. (Estudante 22, Letras, 21 anos)

Porque para ser professor tem que realmente gostar da profissão, porque os profissionais da educação enfrentam muitos problemas na sala de aula, problemas com os alunos, então é para que realmente gosta. (Estudante 14, Ciências Biológicas, 23 anos)

Como se observa os estudantes já nos períodos de estágios, têm se sentido desmotivados em seguir a docência, já que a mesma enfrenta uma série de adversidades como a indisciplina dos alunos da educação básica. Os participantes da pesquisa chegam a apontar que os alunos não respeitam se quer os próprios pais.

Assim, além da indisciplina, da violência nas escolas, tem também a desvalorização, a pauperização da profissão professor, as precárias condições de trabalho, falta de perspectiva por melhores salários são situações desestimuladoras para os professores em exercício e para os jovens que poderiam ingressar nas licenciaturas como descreve Silva A. (2012). A autora destaca ainda que essas precárias condições aliadas à falta de política de incentivo à docência levam muitos jovens de talento para os estudos, a buscar outras carreiras que tenham status social mais elevado, bem como melhores remunerações e também melhores condições de trabalho.

A fragilidade que cerca a carreira docente é acrescida ainda da fragmentação dos currículos que preservam a estrutura disciplinar e mantém o distanciamento entre conhecimentos teóricos e a realidade escolar em que o licenciado vai atuar o que acaba promovendo uma desarticulação entre os estudos vivenciados na educação superior com os dos currículos e práticas pedagógicas das escolas de educação básica em todo País, como ressalta Silva A. (2012).

É esse complexo conjunto de adversidades que cerca a docência que faz com que jovens com um perfil mais acadêmico e mais voltado para a pesquisa se distancie dela, buscando melhores condições de trabalho em outras áreas. Assim, se não há motivação pela sociedade e políticas mais fortes de valorização da carreira docente a perspectiva é de não ter avanço na melhoria da sua qualificação.