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CAPÍTULO V – EDUCAÇÃO SUPERIOR E POLÍTICAS DE FORMAÇÃO SOB A

5.1 CARACTERÍSTICAS DO CAMPO DO ESTUDO E PERFIL DOS

5.1.2 Perfil dos estudantes de Letras

Os estudantes matriculados no último período do curso de Letras correspondem ao total de 23, desses 18 responderam ao questionário (78,2%). 11,11% (n=2) afirmaram ter 21 anos de idade e 16,6% (n=3) têm 24 anos de idade, os demais estudantes apresentam idades diversas, permanecendo no grupo a idade média de 29 anos. 83,3% (n=15) dos participantes são do sexo feminino e 16,6% (n=3) do masculino, nota-se, novamente a feminização da docência, como dito anteriormente, esse fenômeno não representa um fenômeno novo. Segundo Hypolito (1997):

Dentre as características que permitiram o ingresso maciço das mulheres na profissão ou dentre as características femininas que se adequavam às da profissão podem ser destacadas: a proximidade das atividades do magistério com as exigidas para as funções de mãe; as “habilidades” femininas que permitem um desempenho mais eficaz de uma profissão que tem como função cuidar de crianças; a possibilidade de compatibilização de horários entre o magistério e o trabalho doméstico, já que aquele pode ser realizado em um turno; a aceitação social para que as mulheres pudessem exercer essa profissão.

Hypolito (1995; 1997) mostra em seus estudos que o professorado passou por um processo de feminização e que as funções sagradas e maternais da profissão, associadas à vocação, veem promovendo a consolidação das características profissionais atuais.

Quando questionados a respeito da renda mensal 72,2% (n=13) disseram pertencer a uma família com renda mensal entre 1 e 3 salários mínimos; 16,6% (n=3) responderam que a família tem renda mensal entre 4 e 6 salários mínimos e apenas 11,1% (n=2) declararam pertencer a uma família com renda entre 7 a 11 salários mínimos. Em relação ao grau de escolaridade dos pais dos participantes 38,8% (n=7) responderam ter pais que não concluíram o ensino fundamental, outros 11,1% (n=2) dizem ter pais que não concluíram o ensino médio,

33,3% (n=6) afirmam que os pais concluíram o ensino médio e apenas 16,6% (n=3) disseram que os pais concluíram o ensino superior e fizeram pós-graduação.

Os dados referentes à renda mensal e ao grau de escolaridade dos pais dos participantes vão ao encontro das considerações feitas por Penna (2007), quando a autora destaca o interesse de pessoas pertencentes a classes sociais menos favorecidas pela docência, já que pessoas de classes sociais mais favorecidas têm demonstrado cada vez menos interesse por essa profissão. Mesmo o salário do profissional docente sendo considerado baixo, a escolha pelo magistério é para a maioria das pessoas que fazem a opção por ele, uma forma de ascensão social, devido as condições econômicas das famílias de origem.

Quanto à etnia 61,1% (n=11) declaram ser pardos e 38,8% (n=7) brancos. E 88,8% (n=16) dos participantes concluíram o ensino médio em escola pública, 11,1% (n=2) em escola particular, 100% (n=18) afirmaram ter concluído o ensino médio na modalidade regular. Todos os participantes da pesquisa 100% (n=18) afirmaram não possuir outra graduação, 61,1% (n=11) disseram falar outro idioma e 38,8% (n=7) afirmaram não dominar, o que acaba sendo um dado preocupante, pois estes estudantes estão concluindo o curso de Letras/Inglês, assim, espera-se desses profissionais, proficiência em língua inglesa, logo demanda da universidade brasileira ações consistentes para o “[...] fortalecimento dos programas de Licenciatura, visando elevar a qualidade da formação inicial e continuada de professores”, como chama a atenção Cunha (2012, p. 1). E mais uma vez, percebe-se o interesse pela docência pelos alunos pardos e oriundos de escolas públicas, interesse esse já apontado por Gatti et al. (2010) em seus estudos sobre o perfil do profissional docente.

Quando questionados se possuíam alguma bolsa, 83,3% (n=15) estudantes responderam que não e apenas 16,6% (n=3) disseram que têm bolsa, sendo que 2 estudantes são bolsistas do PIBID e 1 estudante tem bolsa do ProUni. O governo federal tem apresentado algumas iniciativas e programas que têm favorecido o acesso ao ensino superior, como o ProUni e vem criando articulações entre os cursos de licenciaturas e as escolas de educação básica, como o PIBID.

Dentre os 18 estudantes, 55,5% (n=10) informaram que já atuam como docente, mesmo não tendo concluído o curso, 44,4% (n=8) não atuam como professor. Há uma forte tendência internacional na formação de professores que se refere ao processo de universitarização ou terceirização da formação, como expõe Akkari (2011). O autor aponta que este processo foi precoce na América do Norte, ocorrendo nos anos de 1950 e 1960; na França ele ocorreu até os anos de 1980 e, já na Suíça e no Brasil só a partir de 2000 é que se

vê o princípio da universitarização da formação de professores ser adotado. Portanto, o fato de estudantes que ainda não concluíram o curso de licenciatura já estarem ministrando aulas na educação básica se relaciona ao processo tardio da universitarização da formação de professores no Brasil, e com a precarização da profissão visto que devido a ela a docência tem perdido muitos profissionais e com a própria legislação educacional brasileira que é permissiva a essa situação.

A maioria dos estudantes, 94,4% (n=17), afirmaram não ser sindicalizados, apenas 5,5% (n=1) dos estudantes disseram ser sindicalizado, também 94,4% (n=17) afirmaram não pertencer a nenhuma associação e 5,5% (n=1) disseram pertencer à associação do bairro onde reside. E apenas um estudante respondeu ser filiado a um partido político, o Partido Social Democracia Brasileira (PSDB).

O fato de ser sindicalizado, pertencer a uma associação ou ainda ser filiado a um partido político, não pode, simplesmente, ser justificado por especificidade de inserção profissional, ou ainda experiência pessoal, deve este representar uma opção por uma política de verdade, como expõe Biavatti (2004). Dessa feita, o ingresso a um sindicato docente não deve ser diferente do ingresso em qualquer outra instituição no sentido do fazer política. Santos P.(2012, p. 2) conceitua política como “[...] exercício do poder em sociedade, seja em nível individual, quando se trata das ações de comando, seja em nível coletivo, quando um grupo exerce o controle das relações de poder em uma sociedade”. Toda intervenção política terá consequências diretas sobre os indivíduos sejam elas individuais ou coletivas.

Do total de participantes inseridos neste grupo, 83,3% são do sexo feminino, nota-se a feminização da docência e 55,5% já atuam como docentes, logo, é necessário preocupação com a produção e reprodução das relações de gênero nos sindicatos, pensando na importância do gênero dentro do contexto de lutas sindicais, pois como ressalta Ferreira (2009, p.8) “O fato de a docência ser principalmente composta por mulheres marca as identidades docentes, as representações existentes sobre a mesma e as relações da categoria com seu principal empregador, o Estado”. A autora ainda expõe que os discursos de homens e mulheres para justificar seus ingressos nas atividades militantes são diferentes, a mulher se mostra com dificuldade de atribuir-se competências legítimas para tal, já “[...] os homens discursam de forma mais elaborada; a memória já parece ter sido reorganizada cronologicamente”. Os homens têm demonstrado mais segurança para produzir discursos a respeito de suas experiências políticas. As mulheres ainda, segundo Ferreira (2009), explicitam receber

reforço, para militar, vindo este de membros da família, especialmente do sexo masculino como pais, marido e filhos.

Os estudantes responderam ainda a algumas questões relacionadas ao capital cultural. Quando questionado com qual frequência eles viajam, obtiveram-se as seguintes respostas: 1 vez: 44,4% (n=8) estudantes, 2 vezes: 16,6% (n=3) estudantes, 3 vezes: 22,2% (n=4) estudantes e mais de 3 vezes: 5,5% (n=1) estudante e 11,1% (n=2) não responderam. Com relação ao cinema: nenhuma vez ou nunca: 5,5% (n=1) estudante, 1 vez: 11,1% (n=2) estudantes, 2 vezes: 11,1% (n=2) estudantes, 3 vezes: 5,5% (n=1), mais de 3 vezes: 5,5% (n=1) estudante; e 61,1% (n=11) dos participantes não responderam. Quanto a frequência com que vão ao teatro: nenhuma vez ou nunca: 5,5% (n=1) estudantes, 1 vez: 5,5% (n=1) estudante e 88,8% (n=16) dos participantes não responderam a esse item do questionário.

Os dados acima se relacionam com outros analisados por pesquisadores da área educacional como Gatti e Barretto (2009); Gatti et al. (2010), ao evidenciar que o capital cultural dos estudantes dos cursos de licenciatura têm se mostrado insatisfatório. Vaillant (2006) destaca que, os baixos salários têm dificultado o recrutamento de bons profissionais para a docência, dessa forma, nota-se que a profissão tem atraído pessoas com baixo capital cultural e que muitas vezes não tiveram oportunidades em outras áreas. Situação preocupante, pois, como aponta Bianchini (2005), dependendo do curso de formação realizado por estudantes e futuros professores com baixo capital cultural e com defasagens de conhecimentos da educação básica, poderá se ter grandes lacunas de importantes conhecimentos para o exercício da prática docente.

5.2 CONTEÚDO E A ESTRUTURA DAS RS DOS ESTUDANTES DE CIÊNCIAS