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I. Enquadramento teórico 1.1 Distinções terminológicas prévias

1.2. A utilização do discurso indirecto no texto jornalístico

A bibliografia consultada no que concerne à análise do DI no texto jornalístico permite-nos verificar a existência de uma demarcação deste relativamente ao texto ficcional e ao discurso oral. Marie-Hélène Perennec analisa o emprego do DI em textos ficcionais e não ficcionais, considerando que o primeiro tipo de texto tem um objectivo essencialmente narrativo, em que a voz do narrador, muitas vezes omnisciente, se dilui, enquanto que a voz das personagens surge à superfície. No que concerne aos textos não ficcionais, a voz do LOC é dominante, instrumentalizando as vozes de situações enunciativas anteriores, que podem ser interpretadas, reformuladas por ele:

In fiktiven Texten ist Redewiedergabe ganz der erzählerischen Absicht untergeordnet. Der Berichter, hier Erzähler genannt, trifft oft hinter seinen Figuren zurück, selbst der sogenannte allwissende Erzähler dämpft seine Stimme, wenn die seiner Figuren laut werden. In Wirklichkeitstexten hingegen bleibt die Stimme des Berichtenden immer dominant, der Berichtende instrumentalisiert die Stimmen, die er wiedergibt, er macht sich die fremde Rede zu eigen, indem er sie interpretiert, bewertet und benutzt. (Pérennec 2002: 52)

Graciela Reyes (1982), no artigo “El estilo indirecto en el texto periodístico”, estabelece resumidamente as diferenças entre discurso oral e escrito e entre discurso e histoire. As distinções explanadas pela autora assentam na distinção entre Sit E (situação de enunciação), a situação real de produção de um texto e Sit E, a situação de enunciado, que estabelece o texto em si, ou seja, a primeira remete para um conceito de enunciação como processo, a segunda para enunciação como resultado desse processo. Assim, o discurso oral caracteriza-se de acordo com a seguinte formulação: “Sit E es co-presente

com el texto; abundam los shifters (aunque aparentemente no hay necessidad de verbalizar los datos de Sit E); estos shifters remiten a Sit E, es decir, no son ambíguos; los enunciados se refieren a una Sit E implícita” (Reys 1982: 3). Por seu turno, o discurso escrito apresenta as seguintes características: “Sit E ausente (de ahí la necesidad de una verbalización de sus componentes), shifters que pueden ser ambíguos (…), los enunciados se refieren a Sit E, pero se ha verbalizado al menos parte de ella”(Reys 1982: 3s).

Relativamente à segunda distinção supra referida, ao contrário do que acontece com o discurso, na histoire não existe nenhum tipo de relação entre Sit E e Sit E, e não aparecem shifters verdadeiros. O tempo básico é o Pretérito que não tem propriamente valor de passado porque na histoire não existe um T, tempo da enunciação real, daí que não se possa falar de passado, mas de um tempo desconectado de E. Assim, e segundo a autora, a histoire inclui o texto ficcional: “Advirtamos que, según este planteamiento de la diferencia entre discours e histoire, hay que incluir en la histoire una parte importante de los textos que consideramos literários y de una actividad verbal corriente: la narrativa.” (Reyes 1982: 4) Estas distinções nem sempre são perfeitamente lineares, uma vez que se verifica, não raras vezes, uma forte profusão textual entre histoire e discours, na narrativa, por exemplo, em que o diálogo pode alternar com o relato.

O texto jornalístico é de cariz iminentemente informativo e remete para o mundo real, objectivo e factual, daí que a sua função seja essencialmente referencial e epistémica. Nesse sentido e, segundo Linda Waugh (1995), o texto jornalístico tem quatro grandes objectivos, designadamente: “referentiality, truth, reliability and accountability”(Waugh 1995: 129). Uma questão importante é o facto de se tratar de um documento público relativamente ao qual há um acesso muito amplo, remetendo para temas recentes, que pela sua natureza económica, social e política, entre outras, é, não raras vezes, controverso.

Teun A. van Dijk, no seu livro News as Discourse (1988), considera que a persuasão tem no texto jornalístico uma função muito específica e esta mesma dimensão é, igualmente, salientada por Linda Waugh (1995: 132). A este propósito, van Dijk destaca a argumentação implícita ou explícita como um elemento essencial no trabalho cognitivo que subjaz a aceitação de uma proposição. O texto jornalístico é totalmente orientado para o público leitor5 daí a importância da utilização de recursos textuais que permitam

5 A este propósito Ahti Jänti comenta a importância social do jornalismo e o papel do jornalista neste

contexto: “Die Leser sind wichtig, weil erstens die Presse für das lesende Publikum da ist, zweitens dieses im Prinzip bedeutenden Ausschnitt aus der Bevölkerung ausmacht, drittens die Wirkung der Presse nun über die

demonstrar a natureza factual dos eventos relatados pelo jornalista e que, segundo o mesmo autor, se consubstanciam nas seguintes manifestações: a descrição directa de eventos em curso, o uso de provas fornecidas por testemunhas oculares ou por outras fontes fiáveis como autoridades, profissionais, entidades respeitadas, sinais que indicam precisão como datas, números, entre outros e o uso de citação directa, principalmente quando estão envolvidas opiniões provenientes de várias fontes, ou seja, a transposição discursiva em estilo directo e indirecto adquire um especial relevo tendo em conta a natureza e a composição do tipo de texto em questão (van Dijk 1988: 84).

A construção do texto jornalístico assenta num conjunto de fontes difusas de vária ordem, daí que o resultado seja, um produto altamente refundido e reescrito, que compreende e condensa uma série de textos anteriores de proveniências diversas. Assim, é sempre resultado de uma escolha por parte do jornalista, há sempre uma selecção prévia e a necessidade de optar por uma formulação correcta do conteúdo da notícia (Waugh 1995: 133 e Jänti 2002: 144).

Graciela Reyes considera, por isso, que num sentido amplo, o texto jornalístico corresponde a uma noção lata de DI,6 pois a notícia advém sempre de uma ou várias fontes e antes de ser impressa sofre um processo de reescrita e reformulação7 e, no mesmo sentido, Waugh considera que a notícia “is an index of, points to the exitence of a specific, really existing, original text (outside of the quoting text) which was created by some other real person or persons at a real given time and place, that is in a real, original speech event.” (Waugh 1995: 135). Nessa medida, a interpretação do discurso transposto no texto jornalístico compreende a existência de três eventos comunicativos: dois actos discursivos (acto discursivo original e o acto enunciativo que o cita) e um outro discurso que consiste numa reformulação do primeiro e se submete à contextualização do segundo momento enunciativo, é o discurso citado (Loureiro 1997: anexo I). Repare-se, no entanto, que o texto original está, não raras vezes, fora do alcance do leitor dos jornais, pelo que a

Leser zum Tragen kommt. Die Journalisten als Verfasser und Bearbeiter der Meldungen tragen wiederum die Verantwortung für die Ausformulierung des abgedruckten Textes.” (Jänti 2002: 140)

6 A autora define a paráfrase “Z(p) dice que S(f) dice X” como sendo aquela que representa a estrutura

profunda da notícia: “La noticia periodística es discurso sobre discurso. Al simplificarse lingüisticamente la translación, “desaparece” en gran medida su responsable. La reformulación transfiere, explícita o implícitamente, la responsabildad de las aserciones de otro sujeto” (Reyes 1982: 21).

7 El discurso de la noticia corresponde, básicamente, a una noción muy amplia de la configuración “estilo

indirecto”: toda noticia procede de una fuente (agencias, reporteros) y antes de ser impresa es reescrita en la redacción del diario. La reescritura suele ser perceptible en la superficie del texto, especialmente porque las normas de composición del DIP exigen que, cuando sea pertinente, se mencione la procedencia (fuente) de la noticia”(Reyes 1982: 6).

enunciação transposta é sempre irrecuperável, independentemente de uma possível interpretação por parte do jornalista.

Marie-Hélène Pérennec considera que, em termos pragmáticos, é necessário considerar três aspectos fundamentais do discurso transposto, designadamente: “Informativität”, “Sprechaktverschiebung”, “Beziehungsgestaltung” (Pérennec 2002: 42s). De acordo com as máximas de desenvolvidas por Grice no seu Princípio Cooperativo - “Cooperative Principle”, a máxima da quantidade “Informativitätsmaxime” prevê que cada acto ilocutório “das genaue Maβ an Information beisteuern soll” (Pérennec 2002: 42). No entanto, a transposição discursiva nem sempre cumpre esta máxima, na medida em que há sempre um défice de informação, não só relativamente ao discurso original em si, mas também quanto ao contexto, sendo que tal é evidente em técnicas de composição textual como a condensação.

Por outro lado, o segundo aspecto mencionado pela autora aponta para uma modificação que a transposição discursiva opera relativamente à enunciação original visível, por exemplo, na utilização de sujeitos colectivos em vez da nomeação individualizada (c) e na utilização de verbos introdutórios ou expressões que não são neutrais mas apontam para uma marca de interpretação subjectiva por parte do jornalista (d), ou seja, o valor ilocutório inicial pode sofrer alterações:

c) Der Industrieverband BDI und der Handwerksverband ZDH appelierten ebenfalls an die Parteien, sich schnell auf eine stabile Koalition zu einigen (Die Welt 21.09.05, p.1)

d) No momento mais quente do debate, o recandidato da coligação PSD-CDS/PP-PPM- MPT disse que herdou as empresas da sua antecessora, Edite Estrela (PS), e acusou Soares de incoerência por ter criado cinco empresas durante o seu mandato de autarca de Lisboa. (Público nº. 5665/28.09.05, p. 15)

No que concerne ao terceiro aspecto referido, verificamos que o DT potencia, não só a transmissão de um discurso original, mas também, com ele, uma dimensão valorativa, que remete para uma tentativa de estabelecer uma relação com o receptor da mensagem e de, até certo ponto, manipular o leitor, podendo alterar a relação emissor/receptor original:

e) Er sei mit der Verschiebung des Einheitsfeiertags nicht einverstanden, sagte er mit freundlicher Stimme. Er habe ihm einen Brief dazu geschrieben. (Der Spiegel nr. 47/15.11.04, p. 23)

f) Miguel Ginestal criticou, com veemência, o facto de Viseu ser um dos concelhos do país com impostos mais elevados. (Jornal de Notícias nº 128 do ano 118/ 7.10.05, p. 26)

Assim, de acordo os três critérios pragmáticos referidos, o DT pressupõe sempre a construção de uma imagem: “Redewiedergabe ist also immer mit komplexer Imagearbeit verbunden” (Pérennec 2002: 44)

No jornalismo, a distinção entre transposição discursiva em estilo directo e indirecto, manifesta-se de forma categórica pela utilização de aspas e, por vezes, itálicos no primeiro estilo de citação, enquanto que no discurso indirecto, estas marcas ortográficas não ocorrem. Autores como Susanne Günthner (2000: 2s) e Linda Waugh (1995: 139) defendem que a utilização destas marcações está relacionada com os elementos prosódicos da oralidade, que, de alguma forma, estão presentes no discurso directo, uma vez que se trata aqui de uma reconstrução de um discurso, em que é evidente a cesura entre dois planos enunciativos.

Para além das alterações gramaticais protótipo, típicas do DD e DI (ponto de ancoragem deíctica e relação paratática vs. hipotática, por exemplo), ocorrem formas em que o DI recorre à parataxe (g), podendo haver mudança da deíxis verbal, ou não. Em alemão o DI surge, amiúde, em frases independentes e não em orações subordinadas antecedidas por um verbo relator, sendo que o “Konjunktiv I” (KONJI) assume, por norma, a função de marcador de discurso indirecto (h):

g) Die Juristen von Clifford Chance weisen das zurück. Und der Hamburger Oberstaatsanwalt Rüdiger Bagger meint: Ob ein Opfer selbst womöglich ein Gauner sei, spiele juristisch keine Rolle. (Der Spiegel nr. 38/13.09.04, p. 54)

h) Sie suchte etwas zu tun für ihre Finger und machte sich ans Kaffeerösten, dann sprach sie ein bisschen. Sechs Jahre habe sie im Gefängnis verbracht. Sie habe auch wieder Kinder bekommen, von einem anderen Mann. Die habe sie verstoβen, als dieser Mann versehrt von der Front zurückkam. (Der Spiegel nr. 38/13.09.04, p.74)

Em português são também frequentes os enunciados em que a transposição discursiva em estilo indirecto é sinalizada com elementos ortográficos característicos do discurso directo (i), em que não ocorre transposição deíctica verbal:

i) O presidente da PT mantém a sua versão: não conhece Palmieri, nem recebeu Valério na data que ele diz, adianta o seu porta-voz, Abílio Martins. E repete: pela parte da PT, o caso está encerrado. Também Fernando Pinto, da TAP, negou esta quinta-feira, no Brasil, qualquer envolvimento com o mesmo caso. (Sábado nº 68/ 19.08.05)

A ausência de discurso citador tem, no entanto, que ser relativizada no discurso jornalístico. O verbo introdutor pode não ocorrer, havendo outros recursos a utilizar, designadamente a nominalização do verbo (j), (m) ou a apresentação metonímica do sujeito com ausência de verbo. A identificação do sujeito é, no entanto, necessária e ocorre na grande maioria dos casos. Linda Waugh (1995) menciona, para além destes dois recursos, a identificação do falante tendo em conta a sua função social (k), a referência a fontes anónimas (l), (n), o uso de expressões como de acordo com, in Übereinstimmung mit /gemäβ (que evidenciam um distanciamento e mesmo cepticismo por parte do jornalista) a atribuição explícita no texto (extremamente produtiva) e a referência a uma instância não atribuída / não identificada (o) (Waugh 1995: 144s):

j) Aos lamentos dos residentes por realojar, que se queixaram dos políticos que visitam o bairro e fizeram promessas que deixam por cumprir, Sá Fernandes pediu “o benefício de quem se candidata pela primeira vez” (Jornal Público nº 5658 de 21/09.05, p.14).

k) Para isso, o primeiro-ministro considera indispensável que avance a reforma da Administração Pública, garantindo ao Governo a flexibilidade necessária para levar

serviços do Estado para fora da capital.

(http://dossiers.publico.pt/shownews.asp?id=1169441&idCanal=1086)

l) Segundo soube o JN, as razões estão ligadas ao “achincalho político” a que tem estado submetido o órgão regulador para a Comunicação Social desde que se levantou a controvérsia em torno da renovação das licenças de televisão dos dois operadores privados portugueses. Segundo a mesma fonte, a AACS considera-se juridicamente capaz de lidar com a questão. (Jornal de Notícias nº. 128 do ano 118/ 7.10.05)

(m) Kritik an Porsche-Einstieg bei VW. (título) (Jornal Die Welt nr. 226-39 de 27.09.05, p.11)

(n) Eine Sprecherin des Ernährungsprogramms der Vereinten Nationen (WFP) berichtete, dass Spendenappelle bisher weitgehend ungehört verhallt seien. (Jornal Die Welt nr. 226-39 de 27.09.05, p.6)

(o) Sirona will die Akquisition im ersten Quartal 2006 abschlieβen. Die Vorstände beider Gesellschaften hatten dem Vorhaben zugestimmt, hieβ es weiter. (Jornal Die Welt nr. 226- 39 de 27.09.05, p.14)

A mesma autora e Graciela Reyes (1982) confluem quanto aos motivos apontados para a necessidade de identificação do falante no discurso jornalístico:

La mención de una fuente y la desaparición del periodista contribuyen a crear la aparencia de objetividad imprescindible en la prensa (Reyes 1982: 6)

The first major use, according to my preliminary results, is for newsworthiness. (…) The second major use is for evidentiality. (Waugh 1995: 144)

A ausência de referência ao acto enunciativo que cita potencia, a par com o uso da parataxe e subsequente manutenção de elementos deícticos do discurso original, a dificuldade na distinção entre DI e a voz do jornalista, sendo que esta ambiguidade remete para a forma de discurso indirecto que Graciela Reys denomina de oratio quasi obliqua.

Linda Waugh considera que a condensação textual é uma das características mais determinantes do DI no texto jornalístico, pois permite uma míriade de possibilidades de composição textual:

With indirect speech, the reporter can, for instance, summarize the text in fewer words, or give a concise statement of only the major point or points, or even a minor point, of the text, or put together ideas from different places in the text. (Waugh 1995: 159)

A condensação pode assumir, assim, várias modalidades, como por exemplo, a nomeação de um sujeito plural, que compreende uma série de actos ilocutórios diferentes sobre um mesmo assunto/tema (p), (r); pode, igualmente, ocorrer um sujeito colectivo,

sendo que a nomeação de uma instituição (q) (r) é o exemplo mais representativo deste recurso textual:

p) No entanto, 11 pais dos alunos consideram que a directriz é uma clara violação da primeira emenda da Constituição norte-americana, que assegura a separação entre a Igreja e o Estado. Os pais e a Liga para as Liberdades Civis Americanas dizem que o desígnio inteligente não é mais do que religião mascarada de ciência. (Público nº 5666/ 29.09.05, p. 33)

q) A Polícia Judiciária (PJ) anunciou ontem a apreensão de 2750 quilos de cocaína e a detenção de sete homens espanhóis, que seriam os operacionais de uma rede internacional.

r) Zum Schluß der Verhandlung erörterte der Bundesgerichtshof die Ausschüttung von „Alternativpensionen” an ehemalige Mannesmann-Vorstände in Höhe von insgesamt rund 60 Millionen Euro. Die Bundesanwaltschaft sieht auch hierin eine strafbare Schädigung Mannesmanns. Die Angeklagten hatten sich dagegen stets darauf berufen, sie hätten damit einen angemessenen Vergleich mit früheren Managern und deren Hinterbliebenen geschlossen.(http://www.faz.net/s/RubD16E1F55D21144C4AE3F9DDF52B6E1D9/Doc~E 8F40D08FF06B4802B680C433A0C0D9DF~ATpl~Ecommon~Scontent.html)

Porém, o DI pode, ainda, apresentar formas mais extremas de condensação, em que praticamente não há transposição do conteúdo proposicional, ainda que haja a indicação de um acto ilocutório, (por exemplo, através da nominalização do verbo introdutório já anteriormente mencionado); o jornalista pode, também, recorrer ao que podemos designar por relato narrativo de um acto discursivo, em que não há indicação do conteúdo proposicional ou ilocutório (s):

s) Ontem, Rui Rio foi vaiado, insultado, alvo de tentativas de agressão quando começava uma visita a Aldoar, um dos bairros sociais mais problemáticos da cidade. (Público nº 5666/ 29.09.05, p. 12)

t) Die Leute im Saal brüllen, sie geben Paul Krugman Standing Ovations, als er ans Pult tritt. Krugman erzählt, wie er vorhin mit dem Path-Train von New Jersey in New York ankam. (Der Spiegel nr. 37/06.09.04, p. 180/181)

Uma variante deste tipo de condensação é o denominado “pseudo-indirect style” (estilo directo livre) que, apesar de pouco representativo no texto jornalístico, tem a particularidade de não apresentar marcas ortográficas como aspas ou itálicos e as referências deícticas permanecem típicas do discurso directo (u) sendo, no entanto, o jornalista que reconstrói o que os enunciadores proferiram (Waugh 1995: 160):

u) Eine VDA-Sprecherin sagte: Es gibt keine vertrauliche Statistik des VDA zum Thema Maybach. (Die Welt 19.09.05, p.14)8

Todos os exemplos utilizados e as estratégias textuais apresentadas procuram demonstrar o espectro alargado de formas que podem ocorrer sob a designação de DI. Verificamos que este tipo de transposição discursiva possui sempre uma dimensão icónica, porque reenvia sempre o texto original, mas a apropriação pode ter várias formas, dependendo da interpretação do jornalista enquanto mediador:

There are many, many different ways in which a given instance of indirect speech may be related to, and represent, the original, with respect to iconicity, compression and inferencing, and that there are a great variety of intertextual, inferential, stylistic and rhetorical strategies used by reporters in constructing instances of indirect speech. Indirect speech is quite variable, especially when compared with the relatively more invariable direct speech. […] it may contain some image iconic elements, but it also may be the result of a number of interpretive strategies […] (Waugh 1995: 163)

Esta contextualização do DI no texto jornalístico procurou apontar para algumas especificidades que esta forma de citação pode apresentar, mediante a natureza funcional que subjaz ao texto noticioso escrito. Na verdade, o enfoque deste trabalho não é, de todo, como já esclarecemos anteriormente, inventariar e analisar todas as modalidades e possibilidades de reenvio de enunciações anteriores no texto jornalístico. Assim, e tal como havíamos explicitado no capítulo introdutório, iremos circunscrever a nossa análise aos exemplos de transposição discursiva indirecta “canónicos”, introduzidos por verbos de relação de ilocução. Entraremos em linha de conta com todas as formas que compreendam subordinação sintáctica explícita ou implícita (efectuada com recurso a marcas de pontuação como a vírgula). No que concerne aos exemplos compulsados em língua alemã

serão, igualmente, analisadas todas as formas de transposição discursiva em estilo indirecto que surjam em frases independentes, desde que pertencentes a uma sequência formal de DI previamente sinalizada e antecedida por um verbo introdutório. O critério de selecção de exemplos do corpus alemão justifica-se pelo facto de uma das marcas distintivas centrais da transposição em estilo indirecto assentar no denominado “Referatskonjunktiv” (Eisenberg 1999: 116) “reportiver Konjunktiv” (Fabricius-Hansen 2004: 122) que exclui a necessidade de utilização de verbo introdutório ou de qualquer outra expressão com função semelhante num dado segmento, uma vez que aqueles podem ser fornecidos contextualmente:

(…) liegt die Einleitung einer indirekten Rede bereits mehrere Teilsätze im Text der in einer Äuβerung zurück, so werden wir wieder zum Konjunktiv wechseln, um sicherzustellen, dass der Leser oder Zuhörer die geäuβerten Inhalte auch tatsächlich als ‚wiedergegeben Rede eines Anderen’, als indirekte Rede versteht. (Schecker 2002: 5)

1.3. A expressão da deíxis temporal e a regra “sequence of tenses” formulada por