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III. Análise semântico-temporal dos tempos verbais do alemão no D

3.2. Opções Metodológicas e Organização dos Capítulos

Tendo em conta os objectivos a que nos propusemos e a necessidade de delimitar o espectro da nossa análise, reunimos para a língua alemã um corpus que contempla um total de 345 enunciados em que ocorre a transposição discursiva em estilo indirecto. Do total de exemplos contabilizados, 197 pertencem a uma única fonte jornalística, designadamente o jornal Die Welt 226-39, de 27 de Setembro de 2005, tratando-se, por isso, de um corpus recolhido de forma intensiva e exaustiva, ou seja, foram contempladas todas as manifestações de DI constantes no referido jornal, em que ocorre claramente uma relação de subordinação entre um discurso citador e um discurso citado. Seleccionámos, portanto, exemplos em que há uma sinalização inequívoca de um discurso prévio imputado a outrem, que é reacomodado numa situação comunicativa actual. A segunda metade do corpus é constituída por 148 recolhidos de forma aleatória de várias fontes jornalísticas, devidamente sinalizadas, o que permite dotá-lo de outra abrangência, ou seja, equacionar o DI no texto jornalístico, em alemão, de acordo com várias fontes, de forma a confirmar, infirmar e tornar mais abrangentes as manifestações discursivas em estilo indirecto recolhidas a partir de uma única fonte. Do corpus constam, igualmente, enunciados em que ocorre o denominado conjuntivo independente, que não depende sintacticamente de um verbo ou expressão introdutória, mas que se reporta, necessariamente, à sinalização prévia

de um acto enunciativo. A opção metodológica de inserir no universo recolhido este tipo de enunciados decorre do facto de as ocorrências de conjuntivo sintacticamente independente consistirem numa marca distintiva incontornável da configuração e organização do DI em alemão, globalmente designada de BR – “berichtete Rede”. No entanto, as formas verbais que ocorrem nesta modalidade discursiva não foram inseridas na contagem de formas verbais constantes do anexo 3, ou seja, à imagem do que fizemos para o corpus em português contabilizámos, unicamente, as formas que ocorrem em contexto de DI sintacticamente dependente. Naturalmente, que a variante BR será por nós abordada e analisada de forma pormenorizada, uma vez que a sua representatividade é evidente no texto jornalístico, havendo, alias inúmeros enunciados em que as duas modalidades de DI coexistem.

A título de exemplo, seleccionámos o enunciado 17 para demonstrar na prática o tipo de análise por nós elaborada do corpus em língua alemã, sendo que no excerto compulsado coexistem as duas variantes acima consideradas:

17) Unterdessen hat Angela Merkel Bedingungen gestellt: Die Union werde Koalitionsverhandlungen mit der SPD nur beginnen, wenn drei Forderungen erfüllt seien, sagte die Kanzlerkandidatin nach einer CDU Präsidiumssitzung. Es müsse, erstens, eine “Vertrauensbasis geschaffen”, zweitens der “Ausgangspunkt künftiger Politik bestimmt” werden und drittens Einigkeit darüber bestehen, dass es um eine “Regierung der Erneuerung” gehe. Insbesondere die erste Forderung wird zur Nagelprobe. Denn Vertrauen bedinge, so die CDU-Vorsitzende weiter, dass “Regeln eingehalten werden”. Und dazu gehöre “dass wir als der gröβere Partner die Kanzlerin stellen”. Für die Sondierungsgespräche mit der SPD, deren zweite Runde morgen stattfinden soll, gelten diese Vorbedingungen nicht, sagte Merkel. - p. 2

Assim, e seguindo o critério que estabelecemos no capítulo anterior para o português, considerámos para efeitos de contagem numérica e análise percentual, os verbos introdutórios, que neste caso em particular serão duas ocorrências do verbo “sagen”, e os tempos verbais que constituem o predicado da oração subordinada dependente desses verbos de relação de ilocução, designadamente “werde...beginnen” e “gelten”. Os restantes predicados que são parte integrante do DI, mas pertencem a orações secundárias de tipo temporal, relativo, concessivo, entre outros, não são contempladas em termos quantitativos, mas têm um papel estruturante na localização relativa das formas verbais nucleares e na sua especificação semântico-temporal, num contexto específico, tendo em

conta a importância que a sequência temporal adquire ao nível da coesão textual. À semelhança do que ocorre em contextos de subordinação sintáctica, também nas manifestações de DI em BR, foram considerados os tempos verbais que ocorrem na oração subordinante, que no caso específico do exemplo 17 se consubstanciam nas formas: “müsse…geschaffen werden”, “müsse…bestimmt werden” e “bestehen”, uma vez que se tratam de orações coordenadas copulativas e, mais adiante, o predicado “gehöre”.

A análise das tabelas no anexo 3 permite verificar que foram contabilizadas um total de 401 formas verbais em contexto de discurso citador e 457 no discurso citado. É, igualmente, visível a incidência que as formas de PR e PRT têm ao nível da expressão introdutória de discurso indirecto, enquanto que o PRK se destaca quantitativamente dos outros tempos verbais em contexto de discurso citado, seguido do PERK. Fica, também, demonstrado que as formas de PRTKII e PPKII não têm uma representatividade muito significativa no nosso universo, com um total de 31 e 13 ocorrências, respectivamente. O mesmo acontece com a construção analítica “würden+Infinitiv” que surge apenas 3 vezes. Estes dados levantam algumas questões quanto à incidência diminuta destas construções e das formas de KONJII em contexto de DI, no domínio da escrita, partindo nós do pressuposto que a sua ocorrência se deve, em parte, a questões de coincidência formal entre formas verbais dos INDK e KONJ, que como veremos no ponto 3.3 ocorrem com alguma frequência no sistema verbal alemão.

Por outro lado, é possível observar que as formas de INDK ocorrem nos enunciados considerados com alguma incidência, sendo que o PR apresenta um total de 62 ocorrências, o que é um número significativo tendo em conta o total contabilizado. Efectivamente, sabemos que o falante alemão tem à sua disposição as formas de INDK e KONJ para poder reportar-se a um acto discursivo prévio devidamente contextualizado e inserido numa situação comunicativa posterior, mas se o modo KONJ é considerado uma marca específica desse produto discursivo, não deixa de ser um dado importante para reflexão e análise, a incidência algo significativa das formas de INDK. Cumpre, igualmente, mencionar que a combinação PRT e PRKI, em discurso citador e discurso citado, respectivamente, constitui a combinação mais produtiva de todo o corpus analisado. Por último, parece-nos importante salientar que verificámos existirem exemplos em que a coincidência formal entre as formas de INDK e KONJ nos suscitaram algumas dúvidas, quanto à classificação desses mesmos tempos verbais. Optámos, naturalmente,

por classificá-los, apoiando-nos nas leituras que fizemos de textos gramaticais e da especialidade, bem como uma análise individual e contextualizada de cada um dos exemplos mais dúbios e recorremos à análise e esclarecimento de dois falantes nativos de língua alemã, que exercem em Portugal a função docente, no ensino universitário e secundário, respectivamente.

No que concerne à organização dos capítulos, iremos num primeiro ponto descrever e analisar globalmente algumas propostas de organização do sistema verbal alemão, de forma a fornecermos uma visão global do mesmo, tendo em conta a coexistência, articulação e contraste entre os modos INDK e KONJ.

No ponto seguinte, debruçamo-nos sobre o papel que os tempos verbais que constituem o INDK em contexto de DI, partindo de uma análise semântico-temporal das formas verbais tendo em conta as gramáticas e textos científicos consultados, para seguidamente, procedermos a uma análise específica do enquadramento actualizado desses tempos verbais no DI. Seguindo o mesmo procedimento para o KONJ, pretendemos descrever e analisar o comportamento de cada um dos tempos verbais que o compõem, tendo em conta os níveis de produtividade quantitativa e semântica, os vários pontos de referência considerados, os contextos específicos em que estão integrados, de forma a reconhecermos o seu valor semântico-temporal e o que é constante para cada uma deles.

Antes da síntese, iremos analisar os casos que nos parecem dúbios e que levantam algumas questões relativamente à identificação e classificação do tempo verbal, prestando atenção, num momento posterior, aos enunciados em que ocorrem verbos modais. Finalmente, tendo em conta os dados recolhidos e as considerações finais iremos tentar averiguar quanto à aplicabilidade da teoria de Comrie (1986) sobre transposição verbal em DI, na língua alemã.