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III. Análise semântico-temporal dos tempos verbais do alemão no D

3.3. O INDK e KONJ no paradigma verbal alemão

3.4.2.2. O PRT no corpus seleccionado

Tal como procedemos para a análise dos exemplos constantes do corpus em língua portuguesa, começamos por interpretar as ocorrências de PRT na oração subordinante, tendo em conta alguns exemplos paradigmáticos. Fizemos já menção à grande produtividade deste tempo verbal na oração introdutória, uma vez que é a forma verbal que regista o maior número de ocorrências:

4) Die CDU-Vorsitzende Angela Merkel hat inhaltliche Bedingungen für mögliche Koalitionsgespräche mit dem Ziel einer « Regierung der Erneuerung » aufgestellt. (…) Sie forderte die SPD auf, den Regierungsauftrag der Union anzuerkennen . (...) Das könne in der kommenden Woche der Fall sein. Die SPD müsse den Willen haben, dass die nächste Regierung eine « Regierung der Erneuerung » sei. - p. 1

12) E.on Ruhrgas erklärte zu dem Vorwurf, trotz weitgehender Kompromiβbereitschaft habe das Unternehmen sich nicht mit dem Kartellamt verständigen können. Auch der Essener Energiekonzern RWE bedauerte den Abbruch der Verhandlungen. - p. 1

20) Das groβe Einvernehmen in der CDU wurde nur durch den bayerischen Innenminister Günther Beckstein (CSU) leicht eingetrübt. Im WDR antwortete er auf die Frage, ob nicht CSU-Chef Edmund Stoiber doch noch Bundeskanzler werden könnte: “Es gibt viele Spekulationen. Im Moment will ich nichts ausschlieβen.” Zuvor hatte Beckstein zwar ebenfalls versichert, dass Merkel die Kanzlerkandidatin sei, und später beteuerte er dies erneut. Stoiber selbst lieβ daraus resultierende Mutmaβungen als “abwegig” zurückweisen. - p. 2

29) Wie die EU-Kommission am Montag mitteilte, wollen die Luxemburger Eichels Trick, über den Verkauf von Pensionsforderungen die Neuverschuldung im Etat des laufenden Jahres zu drücken, nicht akzeptieren. Dadurch würde sich der Anteil des Defizits am Bruttoinlandsprodukt auf bis zu vier Prozent erhöhen. - p. 3

38) Am Rande der gestrigen Sitzung des höchsten Grünen-Gremiums gab es mehrheitlich Unterstützung für Bütikofers Position. Der Verzicht Schröders sei unausweichlich, hieβ es. Allerdings dürften die Grünen in dieser Frage nicht zu offensiv werden. - p. 4

67) (…) als Piëch in einem Interview öffentlich donnerte, dass es bei VW viel zu lange dauere, bis der Fehler abgestellt sei. Er hob zwar hervor, dass Konzernchef Pischetsrieder die richtige Wahl sei. - p. 9

Enquanto introdutor de DI, o PRT apresenta uma leitura semântico-temporal muito semelhante em todos os exemplos que constituem o corpus em alemão seleccionado. Assim, e de acordo com os contextos analisados, o PRT assume-se como um tempo de passado, com um valor semantico-temporal retrospectivo relativamente a ME actual, sendo contextualizado por intermédio de expressões adverbiais como “am Montag” (exemplo 29), “in einem Interview” (exemplo 67) ou de orações prévias (exemplo 4), que lhe servem de ponto de referência secundário. Este último é, aliás, tipo de enunciado a que a Duden Grammatik (2005) faz especificamente referência, na medida em que o excerto transcrito corresponde à parte inicial de uma notícia, em que é comum ocorrer uma forma de PER introdutória e final, seguida de PRT no decorrer do relato: “Solche Rahmensätze stellen den Bezug zur Gegenwart her, während der Hauptteil des Textes im Präteritum über Vergangenes weiterberichtet, das mit dem einleitenden Präsensperfekt vorgestellt wurde” (Duden Grammatik 2005: 520).

O exemplo 38 apresenta uma formulação recorrente no texto jornalístico, designadamente a expressão impessoal “hieβ es”, em que não existe identificação do LOC e que seria impossível de substituir por PER, não só devido ao tipo de formulação em causa, mas porque neste caso PRT assume, em nosso entender, um valor semântico- temporal de sobreposição relativamente ao momento assinalado pela oração anterior, equivalente ao PImp em Português, com valor retrospectivo, em que os factos são circunscritos no intervalo de tempo marcado pela oração anterior.

No que concerne ao emprego de PRT na oração subordinada destacamos os seguintes exemplos, que nos parecem paradigmáticos:

42) Die Begegnung fand, wie das vatikanische Presseamt gestern bekannt gab, schon am vergangenen Samstag statt und wurde als „freundschaftlich“ geschildert. Beide Seiten, so der Vatikan, seien sich einig gewesen, „dass es nicht sinnvoll sei, im Rahmen dieser Begegnung in

einen Disput über die Lehrfragen einzutreten, die zwischen Hans Küng und dem Lehramt der katholischen Kirche bestehen“. So habe sich das Gespräch auf zwei Bereiche der Arbeit Küngs konzentriert: die Frage des Weltethos und der Dialog der Vernunft der Naturwissenschaften mit der Vernunft des christlichen Glaubens. - p. 4

69) Das schlimmste, sagt er, waren die Radiostationen. Denen waren nur die schlimmsten Meldungen gut genug, sie schürten Gerüchte, schwadronierten alarmistisch, putschten die Leute, die in der Falle auf den Straβen saβen, ohne Scham und ohne jede Kontrolle auf: „die haben unsere Gehirne überflutet mit Sensationen.“ - p. 10

100) Wie das Statistische Bundesamt in Wiesbaden meldete, legten die Fahrgastzahlen im ersten Halbjahr 2005 im Vergleich zum Vorjahreszeitraum um 0,4 Prozent zu. - p. 12

106) Wie das Unternehmen aus dem münsterländischen Horstmar erklärte, stiegen sowohl der Umsatz um fast um 30 Prozent als auch die Produktion der Fahrzeuge auf damit rund 36.000. - p. 14

171) Die beiden Patienten ohne Körpergefühl konnten die Aufgabe nicht lösen, weil es für sie unmöglich ist, die wahrgenommene Handlung im Geist zu simulieren, glaubt Knoblich. - p.31

O emprego dos tempos verbais do INDK em contexto de DI reveste-se de uma natureza que, como vimos, não se restringe a questões temporais. Nesse sentido, o emprego de PRT nos enunciados supra apresentados remete para tipos de contextos distintos que justificam a possibilidade do seu emprego nesta tipologia discursiva. O enunciado 42 apresenta a reprodução das intervenções alheias recorrendo ao emprego do modo IND mas também ao uso de KONJ. No entanto, o emprego de PRT ocorre num contexto em que o jornalista remete para um dado factual, a localização temporal de um acontecimento. A divulgação feita pelo Departamento de Imprensa do Vaticano não se reveste de um carácter opinativo ou dúbio, tratando-se de uma informação que, devidamente sinalizada pela oração introdutória, nos remete para um contexto de DI. Assim, a marcação desta tipologia discursiva pelo KONJ poderia ser possível mas não é necessária em termos semânticos e composicionais, porque não existe uma necessidade de demarcação do jornalista relativamente ao discurso de outrem. O emprego de KONJ no excerto subsequente está intimamente relacionado com o conteúdo veiculado pelo restante comunicado do Vaticano, de cariz valorativo e em que são divulgados conteúdos de uma

conversa e se processa à apreciação do seu decurso e, nesse sentido, o discurso deve ser claramente imputado ao LOC original. Esta interpretação do emprego de PRT em contexto de DI é corroborada no exemplo 100, em que o jornalista se reporta a um dado factual e percentual. A forma verbal “legten” poderia revestir-se de alguma ambiguidade dado o sincretismo formal entre PRT e KONJII. No entanto, em termos formais ou semântico- pragmáticos, o KONJII não se justifica no contexto. Relativamente ao exemplo 69, o enunciado transcrito é de tipo narrativo, uma vez que existe uma sucessão de factos passados que fazem parte de um cenário de conflito. Trata-se um exemplo em que a fronteira entre DI e a narrativa é ténue e a marcação de transposição discursiva está apenas a cargo da oração introdutória. Em última análise, a ausência de KONJ pode sinalizar uma empatia do jornalista pelos factos descritos pelo LOC original. O enunciado 106 apresenta uma forma do verbo “steigen” que, em virtude do sincretismo formal entre as formas de PRT de INDK e KONJ, poderia suscitar ambiguidade na identificação do modo verbal. No entanto, o tipo de contexto em que a forma “stiegen” ocorre, permite-nos considerar que se trata do modo IND, na medida em que o assunto abordado é de cariz factual, suportado por dados numéricos e estatísticos, que em nada comprometem o jornalista na divulgação da informação. Por último, o exemplo 171 é constituído, na oração subordinada, por duas formas de INDK, designadamente, PRT e PR, sendo que a forma de passado aponta para um MS pontual circunscrito a um momento no âmbito de uma experiência científica, cuja localização é fornecida contextualmente pela oração temporal “Nachdem sie das Vídeo beobachtet hatten”. A opção de empregar as formas de IND, em detrimento dos tempos verbais correspondentes de KONJ deverá, novamente, prender-se com o conteúdo noticioso em causa, uma vez que se trata de um teor científico, objectivo e factual.

Em termos semântico-temporais, o PRT detém nos contextos analisados uma interpretação parcialmente semelhante. Nos enunciados 42 e 100, em que as orações introdutórias estão igualmente no PRT, este tempo verbal tem uma interpretação semântico-temporal retrospectiva, que remete para factos passados circunscritos anteriores a MEO e a ME. No exemplo 69, PRT é igualmente retrospectivo, sendo que o ponto de referência é fornecido pelo contexto, pelo que a sucessão de eventos descritos se inscreve num lapso temporal anterior a ME. O emprego de PR presentifica a enunciação original e, como tal, ME e MEO parecem convergir enquanto pontos de orientação, ainda que a

leitura atribuída a PRT o distancie da enunciação actual e o balize num momento passado que não depende directamente desta.

O PRT implica, como vimos, algumas especificidades contextuais que em muito dependem do conteúdo do discurso citado original e do posicionamento do jornalista relativamente a uma dada matéria jornalística, sendo que esta será uma variável a ter em conta no emprego dos tempos verbais de INDK no DI, em alemão. Efectivamente, Zifonun et alii. (1997: 1780s) e Fabricius-Hansen (1989: 125s) remetem para o facto de INDK sinalizar uma forma de perspectiva dupla, em que a voz do LOC original e da instância jornalística parecem concordar.

A integração contextual das formas verbais de PRT analisadas aponta para o emprego do denominado “figuraler verankerter Indikativ” (Fabricius-Hansen 1989: 125s), em que o discurso citador não serve como ponto de ancoragem às formas verbais constantes da oração subordinada, sendo antes o MEO que potencia essa subordinação temporal, o que configura uma leitura de dicto, que se aproxima do DD. Esta interpretação configura, assim, o denominado “Prinzip I”, em que o tempo verbal da oração subordinante não influencia nem contextualiza a forma verbal presente na oração subordinada, uma vez que MEO é o ponto referencial de ancoragem, pelo que se depreende existir a manutenção dos tempos verbais constantes do acto discursivo original.

3.4.3. O PR no DI

3.4.3.1. Considerações Iniciais

O PR é a segunda forma mais utilizada em contexto de DI ao nível dos tempos de INDK, apresentando uma produtividade elevada em contexto de oração subordinada e subordinante, com 132 e 62 ocorrências, respectivamente.

O PR é um tempo verbal que apresenta um cariz polissémico por se assumir como uma categoria verbal não marcada “unmarkierte Tempuskategorie” (Duden Grammatik 2005: 511) que lhe permite ocorrer numa variedade de contextos, sem apresentar as limitações semântico-temporais das restantes formas verbais dificultando, assim, a sua sistematização. Há, no entanto, uma unanimidade considerável na análise que os vários autores consultados fazem deste tempo verbal destacando, primeiramente, o seu valor

enunciativo, na coincidência estrita de MS relativamente a ME. Nesse sentido, Thieroff (1992: 102) faz notar que o PR é o único tempo verbal capaz de veicular, especificamente, este tipo de informação semântico-temporal.

A ancoragem de PR à enunciação não se restringe, unicamente, ao sentido enunciativo, considerado de forma literal. Acresce, igualmente, um sentido actual, em que o momento designado por ME é naturalmente incluído, e daí a necessidade de recorrer a marcadores temporais, nomeadamente expressões adverbiais que especificam e/ou delimitam o sentido semântico-temporal da forma em contexto. O PR presta-se, ainda, a uma leitura habitual/permansiva, em que não existe imposição de quaisquer limites temporais específicos, ou seja, MS é válido em todos os intervalos considerados, “als unmarkiertes Tempus wird das Präsens auch dann verwendet, wenn etwas Allgemeingültiges ausgedrückt werden soll” (Duden Grammatik 2005: 512).

Por outro lado, o PR pode exprimir futuridade, ou seja, remeter para um MS posterior à enunciação: “Bei Handlungsbeschreibungen kann der Sprecher der Präsens benutzen, wenn der Beschluss, die Handlung ausfuhren, im Sprechzeitpunkt gefasst ist oder gefasst wird, die „eigentliche“ Handlung selbst aber noch nicht eingeleitet ist und insofern in die Zukunft fällt“ (Duden Grammatik 2005: 512). A possibilidade de permutar o PR pelo FUT depende da informação contextual fornecida, na medida em que é necessário que seja veiculada a noção de futuridade de forma inequívoca, não sendo possível criar uma relação de dispensabilidade entre os dois tempos verbais quando o enunciado transmite uma noção de “presente”, “[wenn die] entscheidende Voraussetzungen für das zukünftige Geschehen schon in der Gegenwart erfüllt sind” (Duden Grammatik 2005: 516). Por outro lado, não é comum empregar FUT em vez de PR quando o evento futuro está previamente definido e programado, em contextos em que estão em causa horários, programas pré-definidos e situações similares. Tendo em conta o corpus por nós seleccionado, verificamos que o FUT não consta de nenhum dos enunciados analisados o que aponta para uma fraca produtividade desta forma verbal e, de facto, a Duden Grammatik (2005) aponta para o uso preferencial de PR na oralidade e em enunciados escritos de alguma extensão.

Por último, o PR pode ainda remeter para intervalos temporais passados, estabelecendo uma relação de dispensabilidade com PRT. O denominado “historisches Präsens” pode assumir um valor cénico ou épico dependendo do contexto em causa, sendo

que a primeira interpretação permite transpor um facto passado para o presente, enquanto que a segunda se assume como uma forma estilística circunscrita a algumas formas literárias.