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II. Análise semântico-temporal dos tempos verbais do português no D

2.5. Os tempos do CONJ

2.5.1. Os Usos do CONJ: factores sintácticos e semântico-pragmáticos

2.5.2.2. O PConj no corpus seleccionado

Os três enunciados transcritos (vd. infra:116s) apresentam, a forma de PConj na oração introdutória de DI. Em termos temporais, o PConj apresenta uma leitura de simultaneidade face a ME actual e a MEO, no exemplo 17. A mesma leitura ocorre no exemplo 60, em que se estabelece uma relação deíctica com o ME. No entanto, é possível remeter para um valor de permanência sem delimitações temporais definidas em que Pconj tem validade independentemente do ponto de referência considerado. No exemplo 145a, o PConj ocorre em articulação com uma forma perifrástica em PRInd, que não só permite uma presentificação dos acontecimentos face a ME actual, como tem uma leitura semântico-pragmática de processo que é coincidente com ME em sentido lato e se estende para além deste, eventualmente. O PConj estabelece com o predicado subordinante e ME uma relação de sobreposição na tentativa de presentificação do momento enunciativo passado face a ME, na medida em que “avançar com a informação” é, neste contexto, um acto ilocutório pontual. Por outro lado, o emprego de PConj justifica-se em termos sintácticos pela integração numa oração concessiva factual, que não permitiria a utilização de outro modo verbal. Nos dois primeiros exemplos consultados (17 e 60), verificamos que os sujeitos indeterminados, o que implica que o jornalista ou não tem um conhecimento comprovado dos acontecimentos, ou pretende distanciar-se claramente dos possíveis sujeitos intervenientes. No último exemplo (145a), existe um sujeito colectivo identificado como sendo a Câmara de Gaia. Nas duas primeiras ocorrências, o PConj ocorre numa oração relativa livre, com um contexto transparente em que não seria possível o IND, uma vez que não há uma leitura específica de sujeito. O facto de o predicado da oração principal se encontrar em PRInd implica a selecção, na oração relativa, de PConj. o que significa uma determinação sintáctica na organização da mensagem a ser transmitida, sendo aliás, este o mesmo argumento a ter em conta na utilização do PConj como predicado da oração concessiva, como vimos.

17) Mas o líder do PND admite que esta questão possa “não ser pacífica” num partido recém-formado, que vai fazer dois anos em Novembro. Até porque há na Nova Democracia quem entenda que não faz sentido apoiar um candidato que defende o semipresidencialismo, que é federalista e apoia a Constituição Europeia. – p.9

60) Entre os cidadãos contactados pelo Público, há quem diga que José Silvano continuou o trabalho do seu antecessor, mas “mais calmamente”, e quem sinta que “o investimento refreou” ou até que “estagnou”. - p.16

145a) A Câmara de Gaia continua a dizer que nada sabe, embora avance com a informação que, por se tratar de uma construção dentro de um hospital, não precisa de licenças para a sua instalação. Apesar disso, o vice-presidente, Firmino Pereira, prometeu, na última sessão da Assembleia Municipal, realizada na passada quinta-feira, que procurará inteirar-se do assunto, através do departamento de Urbanismo. (http://jn.sapo.pt/2005/10/23/grande_porto/residuos_hospitalares_preocupam_vila.html, 23.10.05

Os exemplos seguintes seleccionam o PConj. em contexto de oração subordinada, enquanto texto citado:

36) Os responsáveis pela associação querem que o assunto seja discutido no Parlamento, pelo que, se conseguirem recolher pelo menos quatro mil assinaturas (…). – p.12

46) Sá Fernandes visitou também a encosta do Bairro da Liberdade (…) estranhando que lado a lado com os prédios desertos esteja em curso a construção de um edifício. – p. 14

84) E a troika de ministros da EU, constituída pelo reino Unido, a Alemanha e a França, solicitou que os governadores da AIEA reunidos em Viena comuniquem ao Conselho de Segurança e à Assembleia Geral das Nações Unidas as “muitas quebras” das obrigações iranianas de cumprir tudo o que está estipulado no NPT. – p.22

116) E agora o mayor Ray Nagin pede para que as pessoas voltem a sair. – p. 28

122) (…) três quartos consideram importante que haja uma comissão independente sobre a catástrofe, em vez de uma investigação no seio do Congresso. – p. 28

Em todos os enunciados o PConj. integra uma oração completiva de verbo ou de adjectivo. Os verbos que seleccionam o CONJ, designadamente “querer”, “estranhar”, “solicitar” e “pedir”, não permitem a ocorrência de outro modo, que não este, o mesmo acontecendo com o adjectivo “importante”, na expressão de um contexto de necessidade. Trata-se, por isso, de uma utilização do CONJ que implica obrigatoriedade de ocorrência, que é essencial para a compreensão do enunciado, até porque os verbos em questão

exigem, no que concerne às relações inter-sintagmáticas26 que estabelecem, a ocorrência deste modo verbal. Em termos temporais, a selecção de PConj. depois de PRInd, nos exemplos 36, 118 e 122, implica a projecção dos acontecimentos num momento posterior a ME original e actual. Relativamente ao exemplo 84, o verbo de relação de ilocução no PPS permite, igualmente, projectar os acontecimentos para além do acto enunciativo original e, muito provavelmente, de ME actual. No enunciado 76, o PConj. ocorre numa oração directamente introduzida pelo GER, ainda que este remeta para uma sobreposição face ao momento designado pelo PPS. Assim, a forma de PConj é parcialmente coincidente com PPS, mas oferece a mesma leitura relativamente a ME actual, uma vez que o tipo aspectual do predicado e a utilização do PConj permitem uma leitura de iteratividade e de actualidade.

É importante ressalvar que, à excepção do exemplo 145a, a presença dos sintagmas em que ocorre PConj. representa, face aos predicados da oração subordinante, a função de complemento directo, ou seja, há uma rede de posições hierárquicas contextuais que necessitam de ser preenchidas, tendo em conta o predicado principal. Repare-se, no entanto, que é sempre inerente ao CONJ uma série de sentidos específicos de acordo com as circunstâncias pragmáticas inerentes ao acto ilocutório: “o conteúdo semântico específico (“dúvida”, “possibilidade”, “ordem”, “desejo”, etc.) dos sintagmas ou das frases em questão será quase sempre apreendido antes do traço genérico “não-afirmação” (Santos 2003: 393).

O PConj na oração introdutória permite manter os tempos verbais que terão integrado o discurso citado original, ou seja, não se verifica transposição discursiva. Relativamente à sua leitura em contexto de dependência face ao verbo de relação de ilocução introdutório, verifica-se a não existência de transposição temporal quando o predicado principal ocorre em PPS ou em PRInd porque a leitura adequada nas duas situações comunicativas é de futuridade.

26 Os conceitos “determinação intra-sintagmática” e “determinação inter-sintagmática” são utilizados por

Santos (2003) e remetem respectivamente, para uma determinação interna e externa das formas de CONJ, ou seja, a primeira confere-lhe o valor axiológico de “não-afirmação” através de um momena de conjuntivo, enquanto que a segunda remete para as relações básicas de construção frásica, em que o os predicados em tempos do conjuntivo exercem funções específicas determinados, ou mesmo determinando outros sintagmas (cf. Santos 2003: 513)

2.5.3. O IConj no DI

2.5.3.1. Considerações Iniciais

À semelhança do que ocorre com o PConj, o IConj é marcado por um traço distintivo geral de “não-afirmação”, a partir do qual decorrem várias actualizações semântico-pragmáticas, que no caso do DI são essencialmente fornecidas pelo verbo de relação de ilocução, na definição do acto ilocutório em que o predicado no CONJ se enquadra. As ocorrências de IConj., em termos temporais, podem remeter para a configuração de um intervalo temporal simultâneo ou posterior relativamente ao MR, fornecido pelo predicado da oração principal, que normalmente se encontra em PImp ou PPS; pode, igualmente estabelecer uma relação deíctica com ME, tomado em sentido lato, verificando-se uma relação de sobreposição parcial com este, na medida em que subjaz um valor de permanência.