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II. Análise semântico-temporal dos tempos verbais do português no D

2.3. Os tempos do IND

2.3.7.2. O PMPS no corpus seleccionado

Tendo em conta a reduzida produtividade de PMPS no corpus seleccionado, iremos analisar as três ocorrências verificadas em conjunto, ainda que uma delas remeta para a utilização do PMPS na oração subordinante:

67) O rosto da diplomacia alemã, que ainda durante a campanha dera a entender que estaria disponível para assumir a liderança da bancada ambientalista no Bundestag, se a coligação “vermelho-verde” perdesse as eleições, tenciona contudo assumir o seu mandato de deputado. – p.19

5) Isser Harel, chefe da Mossad, quando Eichman foi capturado, chegou a dizer que o contributo de Wiesenthal era uma “invenção”. Outros acusaram-no de ter exagerado o seu papel. Wiesenthal respondeu uma vez que nunca reclamara ter sido o único a contribuir para a captura, e que não estava certo de como a Mossad usara a informação que lhes dera, em 1954. – p.3

165) Charles Phillips negou que a Oracle pretenda, com as suas recentes aquisições comprar marcas e, questionado sobre as lições que a sua empresa retirara da compra, no ano passado, da PeopleSoft (…), apontou a necessidade da comunicação com os clientes da empresa adquirida. – p. 34

No primeiro enunciado (67), a forma do PMPS tem como ponto de referência a expressão adverbial “ainda durante a campanha” que localiza ME citado como sendo anterior face a ME e remete para um intervalo de tempo passado concluído relativamente a esta. De ressalvar que, de acordo com as ligações contextuais que o texto jornalístico em questão estabelece, podemos considerar que, apesar de anteceder o enunciado em análise, uma citação em discurso directo, o excerto que a introduz, pode servir de ponto de referência a PMPS, anterior a ME citador. Vejamos: “ Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fischer, renunciou à chefia da bancada (…)” (Público n.º 5658: 19). Assim, o adverbial temporal “ainda durante a campanha” situa o evento designado pelo PMPS antes da renúncia do político em questão e é o PPS que serve de ponto de referência a PMPS. Relativamente aos exemplos seguintes, verificamos que, no enunciado 5, o PMPS surge em conjugação com o advérbio “nunca” que, logo a priori, designa um intervalo temporal (de limite anterior indefinido, mas cujo limite posterior coincide com MEO e com validade para qualquer ME considerado até então) passado face a ME citado que lhe serve de ponto de referência e que é, por sua vez, justificado pelo ME citador, a par com a expressão adverbial “uma vez”. A forma do PMPS surge, entretanto, em articulação com o INF composto que, segundo a Nova Gramática do Português Moderno, “exprime uma acção concluída” (Cunha & Cintra 1997: 481) e, portanto, corrobora a leitura de perfectividade do verbo principal, podendo ainda, considerar-se a existência de anterioridade /sobreposição parcial do INF composto relativamente a PMPS. No exemplo que se segue (165), o PMPS é introduzido pela forma nominal do PAR sem auxiliar que, com verbos transitivos como “questionar” assume um valor passivo, sendo que a expressão adverbial “ no ano passado” localiza temporalmente a acção designada pelo PMPS, como sendo anterior ao intervalo estabelecido pela forma nominal, justificada directamente por ME. Os exemplos compulsados permitem-nos verificar que o PMPS estabelece uma relação de anterioridade e sobreposição (parcial) temporal, configurando uma acção retrospectiva concluída, face a um MR, também ele passado face a ME da situação de enunciação actual.

As formas do mais-que-perfeito dependem amplamente das relações contextuais em que se inserem na medida em que ME não é um ponto de ancoragem suficiente para localizarmos um evento configurado pelo PMPS. No entanto, do contexto não dependem possíveis valores semânticos que a forma verbal pode adquirir uma vez que, tal como verificámos, as interpretações permitidas pouco ou nada variam em termos de significação. Relativamente à compatibilidade das sequências temporais consideradas face à regra formulada por Comrie, consideramos que, sendo o PMPS claramente um tempo de passado, a forma de FP a seguir ao predicado “dera a entender” (exemplo 67) aponta para um sentido modal hipotético e para um valor temporal de futuro face a MEO. A forma correspondente em DD seria o FS ou o PRInd, com ancoragem directa a ME e com a mesma interpretação semântico-temporal, mudando apenas a perspectiva. Relativamente aos dois exemplos seguintes, o PMPS transpõe formas verbais de PPS, sendo a interpretação idêntica à que se verificou com contextos semelhantes com PMPC.

2.3.8. O FP no DI

2.3.8.1. Considerações Iniciais

O FP ou COND ocorre, tal como nos é permitido verificar, apenas ao nível da oração subordinada, com um total de 14 enunciados. Sendo um tempo verbal derivado do INFP, acrescido da terminação –ria, procuraremos, antes de mais, definir o comportamento semântico-temporal desta forma, partindo da noção de que o seu posicionamento no sistema verbal português é, não é unânime, tendo em conta as hesitações em classificá-la como tempo ou modo, tal como a bibliografia consultada demonstra.

Comecemos por considerar a perspectiva de Said Ali (1964) e Cunha & Cintra (1997), que definem o FP como um tempo verbal e não um modo. A Gramática Histórica da Língua Portuguesa classifica o emprego de FP como “futuro problemático”, apontando para empregos de carácter modal que traduzem perplexidade, incerteza ou permitem remeter para estados de coisas que não correspondem a expectativas anteriores. Acresce ainda a utilização de FP como sinónimo do “modo potencial” na expressão de incerteza e dúvida sobre a concretização de eventos futuros. (Said Ali 1964: 320s). Na Nova Gramática do Português Moderno, os autores definem uma utilização temporal do FP de acordo com

cinco parâmetros. O primeiro é a referência a intervalos temporais posteriores a ME, e quatro outros empregos que remetem para uma interpretação modal, a saber: a expressão de incerteza sobre factos passados, enquanto forma polida de presente (única utilização em que o FP remete para uma ancoragem directa a ME, ainda que com valor modal), em frases interrogativas ou exclamativas para denotar surpresa ou indignação ou em orações condicionais para mencionar factos não realizados e eventualmente não realizáveis. Não obstante os autores fundamentam da seguinte a sua opção quanto à classificação do FP como tempo:

A Nomenclatura Gramatical Brasileira eliminou a denominação de MODO CONDICIONAL para o FUTURO DO PRETÉRITO. (…) decidimos optar pelo seu emprego nesta obra porque, em nossa opinião, se trata, na verdade, de um tempo (e não de um modo) que só se diferencia do FUTURO DO PRESENTE por se referir a factos passados, ao passo que o último se relaciona com factos presentes. E acrescente-se que ambos aparecem nas asserções condicionadas, dependendo o emprego de um ou de outro do sentido da oração condicional. (Cunha & Cintra 1997: 462)

As conclusões desta gramática apontam, num primeiro momento, para uma questão meramente terminológica na utilização das designações de Modo COND ou FP, não sendo devidamente apontadas as questões semântico-temporais que levariam a considerá-lo um tempo e não um modo. Por outro lado, acresce o paralelismo com a forma do FS, sendo que a principal discrepância entre ambas se situa ao nível do ponto de referência considerado. Na verdade, ambas as formas marcam posterioridade e remetem em termos modais para contextos de incerteza, com a diferença que FP tem como ponto de ancoragem um ponto de referência distinto de ME, e o FS perspectiva directamente um intervalo temporal a partir deste. No que concerne às orações condicionadas, as duas formas parecem apresentar um elevado grau de complementaridade, sendo que o seu emprego depende das relações estabelecidas pelo contexto e da intenção comunicativa do falante, tendente a uma “maior ou menor probabilidade na realização dos factos” (Loureiro 1997: 98).

Bento de Oliveira na Grammática portuguesa considera apenas a existência do modo condicional, subdividido em duas formas, nomeadamente: o condicional imperfeito e o condicional perfeito. Esta opção reside, fundamentalmente, no facto de, segundo o autor, o FP surgir em articulação com uma oração condicional e por ter sempre uma

informação semântico-temporal hipotética, em que pode haver indeterminação temporal, o que leva a que o COND remeta, para condicionantes anteriores a ME. Por outro lado, a forma pode remeter para um “futuro possível e contingente”, que se relaciona também com o passado (Oliveira 1880: 69).

Mateus et alii (2003) considera que em português existem três modos: IMP, IND e CONJ, pelo que, quer o Futuro quer o Condicional, nas suas formas simples ou compostas podem, efectivamente, permitir uma interpretação modal, dependendo da articulação contextual. Assim, assume que o FP se comporta como um tempo quando o ponto de perspectiva temporal é passado, porque inscreve os factos na linha do tempo anterior a ME; quando tal não ocorre o FP adquire um valor modal. A dificuldade em localizar o FP no sistema verbal português decorre, igualmente, do facto de o FP se caracterizar “ por estabelecer com ME uma relação de indefinição, que se por um lado dificulta a aferição da sua identidade, por outro se apresenta, provavelmente, como recurso semântico importante” (Loureiro 1997: 102). O FP detém um total de 14 ocorrências na oração subordinada.