• Nenhum resultado encontrado

FUNCIONAMENTO DE APARELHOS AUDITIVOS EM FAVOR DE MENOR SAÚDE DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL ART 227 DA CF/88 LEGITIMATIO AD CAUSAM DO PARQUET ART.

3. ASPECTOS PROCESSUAIS RELEVANTES PARA O ESTUDO DA TUTELA COLETIVA

3.12 Aspectos e requisitos relevantes comuns das class actions americanas

3.13.3 Acesso à justiça

Não são poucos os exemplos no plano do ser que, embora um direito exista no plano teórico, lá não se efetiva. Quando isto ocorre deve existir um meio de acesso à ordem jurídica que seja justa de fato. Contudo, por um longo período, direitos de natureza “trans” padeceram com a inexistência de instrumentos eficazes para fazer valer em juízo, sobretudo em razão do histórico caráter individual do processo. Diante da fundamentalidade do acesso à ordem justa, e como única forma de impedir a injustiça, impôs-se, por meio da percepção de uma técnica eficiente de controle social, a elaboração de instrumentos adaptados às particularidades dos conflitos coletivos.

Pequenas lesões financeiras causam pouca repercussão se analisadas em seu aspecto individual. Também o dispêndio financeiro de cada processo desestimula a busca pela prestação jurisdicional. Soma-se a estes obstáculos o evidente desgaste causado ao longo de uma ação. Na maioria dos casos, nem mesmo um tribunal de pequenas causas é alternativa economicamente viável. No Brasil a experiência com esses tribunais foi motivada

335

Antonio Gidi, op. cit., p. 26. 336

Antonio Gidi adverte que a economia obtida nas ações coletivas, porém, tem um aspecto negativo e socialmente indesejável. Se por um lado viabiliza a tutela de um grande número de interesses individuais em uma única ação, a um custo apenas marginalmente superior ao de um a ação individual, a sentença coletiva tem um valor geometricamente superior ao de uma ação individual, a sentença coletiva tem um valor geometricamente potencializado, de acordo com o número de membros do grupo. “A desproporção entre o baixo custo do processo e o alto valor da sentença faz com que mesmo uma ação com pequena possibilidade de vitória seja economicamente viável para o grupo e extremamente perigosa para o réu. A situação de desigualdade persiste, mas agora de forma invertida”. A parte antes opressora passa agora a ser oprimida. “Essa desproporção existente entre os interesses em jogo do grupo e os riscos para o réu está na base dos abusos existentes na prática das ações coletivas americanas, mas decorre da própria natureza das coisas e não pode ser evitada” (op. cit., pp. 28-29).

especialmente pela necessidade de celeridade e de concretização do acesso à prestação jurisdicional. Bem assim, ainda que o indivíduo lesado saia vitorioso no litígio, esse resultado não obrigará nem terá o condão de fazer a ré alterar a sua conduta perante os demais membros do grupo, até porque uma vitória assim é tão significativa para o responsável pelo dano quanto uma gota de água é para o rio Amazonas.

Como se vê tudo contribui para inviabilidade do acesso à justiça em lesões dessa natureza quando perpetradas contra as massas se adotarmos o paradigma clássico do processo. Então, a perspectiva de tutela coletiva de direitos transindividuais surge como uma luz em meio à escuridão em que se encontravam tantas expectativas frustradas.

Tal conjuntura é invertida quando centenas ou milhares de pessoas em uma mesma situação podem se reunir com o objetivo de combater uma injustiça coletiva através de um único processo e de uma única sentença, que obrigue todos os interessados. A composição coletiva é, decididamente, um momento em que o grupo lesado e o réu se encontram em posição de igualdade.

Em situações que envolvessem uma ordem contra a violação de um direito indivisível, todos os membros deveriam, em tese, ser chamado a fazer parte do processo, de modo que fosse possível conhecer a totalidade do litígio.

Se a quantidades de pessoas lesadas fosse grande demais, de modo a tornar inviável o litisconsórcio em uma única ação, a tutela da pretensão coletiva indivisível seria impraticável, não fosse a possibilidade de uma delas representar o interesse das demais.

É inegável a importância da tutela coletiva em circunstâncias que ocorram condutas ilícitas realizadas em larga escala, quando atinge bens juridicamente protegidos de um grande grupo de pessoas de maneira semelhante. A transgressão em massa é bastante comum numa economia globalizada, onde uma simples decisão pode molestar milhares ou milhões de pessoas, especialmente nas áreas do consumidor, antitruste e mercado de valores.

Diante da evidente desigualdade entre o indivíduo membro do grupo lesado e a empresa violadora, em termos de informação, organização e capacidade financeira, negar a tutela coletiva de direitos nesses casos, implica em negar o próprio acesso à justiça que, aliás, é um dos pilares mor do Estado contemporâneo.

Outro aspecto interessante consiste no fato de que não apenas os custos processuais serão proporcionalmente divididos entre os membros do grupo, como também o alto valor dos honorários motivam os advogados competentes a aceitarem e até a financiarem a causa.

Como já possível inferir, a ação coletiva também pode proporcionar a proteção de interesses de pessoas hipossuficientes, que sequer sabiam que seus direitos haviam sido

violados ou não possuíam iniciativa, independência ou organização necessárias para fazê-los valer em juízo. Incluem-se nesse rol: crianças, deficientes físicos ou mentais, pessoas pobres ou de pouca educação ou simplesmente ignorantes dos fatos ou dos seus direitos inerentes a sua pessoa.

Importa destacar que a ação coletiva também pode ser utilizada por minorias oprimidas da sociedade, que, em razão mesmo de serem minorias, não têm acesso às instituições representativas do regime democrático, como negros, mulheres e homossexuais337.

Como se observa, o processo coletivo é uma das vias que o cidadão comum tem de modificar em seu favor o estado de coisas, restabelecendo o equilíbrio entre o indivíduo e as instituições que o oprimem, como o governo e as grandes empresas, ao passo que proporciona um combate em igualdade de condições, criando um ambiente propício para uma efetiva negociação dos interesses em conflito. Sim, porque apenas dizer que o escopo da tutela coletiva é proteger a parte mais fraca no conflito, não somente motiva uma discussão baseada em argumentos emotivos, como constitui um equívoco. Por assim dizer, o verdadeiro objetivo da tutela coletiva é adaptar o processo de modo a espelhar melhor a realidade da controvérsia em exame. A partir daí, a conquista ou o restabelecimento da igualdade entre as partes é mera conseqüência. Nesse sentido, a ação coletiva seria nada menos que um instrumento processual para compor um litígio coletivo de maneira coletiva.

Outline

Documentos relacionados