• Nenhum resultado encontrado

FUNCIONAMENTO DE APARELHOS AUDITIVOS EM FAVOR DE MENOR SAÚDE DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL ART 227 DA CF/88 LEGITIMATIO AD CAUSAM DO PARQUET ART.

2.16 Desenvolvimento, saúde e meio ambiente

Como afirmado alhures, o conceito de saúde também é uma questão de direito à vida saudável, de qualidade de vida que deve objetivar a democracia, igualdade, respeito ao meio ambiente e o desenvolvimento – entendendo por isto o que Amartya Sen, bem afirma ao alocar o direito à saúde na perspectiva da liberdade, e esta como condição para o desenvolvimento255.

O autor ainda destaca que as liberdades não são apenas os fins primordiais do desenvolvimento, mas também os meios principais; e que as oportunidades sociais (na forma de serviços de educação e saúde) facilitam a participação econômica256. Com oportunidades sociais adequadas, os indivíduos podem moldar seu próprio destino e ajudar uns aos outros.

253

É oportuno recomendar o artigo de Carlos Wagner Dias Ferreira, o qual, em caráter conclusivo, observando os balizamentos da argumentação racional hodierna, sintetiza as premissas à respeito do processo de interpretação dos direitos fundamentais, por intermédio dos princípios de Direito (FERREIRA, Carlos Wagner Dias. A interpretação dos direitos fundamentais: interpretar é argumentar por meio de princípios. In: Revista

Direito e liberdade / Escola de Magistratura do Rio Grande do Norte – Ano 3, v. 5, n. 1 (2005- ). – Mossoró: ESMARN, 2007 – Edição Especial -, p. 210- 213). Nesse sentido, Inocêncio Mártires Coelho e Jacinto de Miranda Coutinho também apresentam, sob prismas diversos, os contornos da interpretação jurídica (COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação constitucional. 2. ed., rev. e aument. Porto Alegre: SAFe, 2003, p. 143-145 / COUTINHO, Jacinto de Miranda. Dogmática crítica e limites lingüísticos da lei. In: Diálogos constitucionais: Direito, neoliberalismo e desenvolvimento em países periféricos. Coordenado por Jacinto Nelson de Miranda Coutinho e Martônio Mont’Alverne Barreto Lima. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 225-232).

254

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Coleção “Os pensadores”. Tradução de José Carlos Bruni. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979, destaque em “folha de rosto”.

255

Amartya Sen, op. cit., p. 17. 256

Não precisam serem vistos sobretudo como beneficiários passivos de “engendrosos” programas de desenvolvimento.

Importa que a idéia atual aplicada ao desenvolvimento insere-se no contexto dos direitos do homem, objetivamente verificados através do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que leva em consideração a inclusão social como um todo (saúde, educação, moradia, lazer, amparo social, trabalho, qualidade de vida, taxas de natalidade e mortalidade, participação no exercício da soberania, liberdade de expressão, de associação e informacional, acesso à internet, acesso ao Judiciário etc., enfim o ambiente em que se encontra inserido o homem). É nesse sentido que se devem estabelecer as balizas para uma interpretação conforme a Carta Política, no que se refere para a garantia expressa do desenvolvimento nacional esculpida no inciso II do art. 3°.

Deste modo, é preciso considerar que os direitos sociais, incluindo é claro o direito à saúde, são na verdade direitos humanos em sua essência, na medida em que constituem fundamentos da civilização democrática que a humanidade vem construindo nos últimos séculos. Conforme vimos, constituem alicerces essenciais desta civilização que as pessoas não proprietárias de capital não tenham que morrer por falta de assistência ou submeterem-se a condições de trabalho perigosas para a sua saúde.

Assume relevância capital, a inserção de direito à saúde no contexto do direito ao meio ambiente257 (legislação, precedentes e doutrina), considerando como tal todo o espaço (físico, biopsíquico e social) onde vive e se desenvolve o indivíduo humano.

Antônio Herman V. Benjamin, em análise ao pensamento de José Celso de Mello, ainda na vigência da Constituição de 1969, destaca que “a tutela jurídica do meio ambiente decorre da competência legislativa sobre defesa e proteção da saúde”258.

Antes da Constituição Federal de 1988, várias foram as Constituições que trataram do tema saúde, considerando-o, sob vários enfoques, como algo dotado de importância peculiar.

Bem destaca o autor em referência que o intérprete houve por bem nivelar a degradação ambiental à degradação sanitária, pelo fato de não haver previsão expressa, ou até mesmo, compreender a degradação ambiental no âmbito da esfera difusa dos domínios estatais de regulação da produção e do consumo.

257

Importa destacar que a expressão “meio” e “ambiente” quando jungidas apresenta problemas de sintaxe em razão da redundância, considerando que a palavra “meio” por ser compreendida como o lugar em que se encontra todo indivíduo humano, assim, como também, detém igual significado, a expressão “ambiente”. Atualmente, já não se perde tanto tempo com esses preciosismos, considerando que as duas palavras têm valor assente tanto na linguagem técno-jurídica quanto natural (vulgar).

258

BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcelos. Constitucionalização do ambiente e ecologização da Constituição brasileira. In: Direito constitucional ambiental brasileiro. Organizadores: José Joaquim Gomes Canotilho, José Rubens Morato Leite. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 90.

Hodiernamente, tal empenho mostra-se limitado, tendo em vista que pode ser considerado eticamente insuficiente, porque, a tutela ambiental, deixa o rigorismo encontrado em sua raiz de natureza antropocêntrica e passa a abrigar uma abordagem mais abrangente, esta de feição biocêntrica259.

Pelo fato de não poder se enlear o direito à saúde com o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, também se apresenta pouco vigoroso dogmaticamente, considerando que seus contornos exteriores não são, via de regra, equiparados. Muito embora ao se tutelar o meio ambiente esteja-se na maioria das vezes de modo recíproco, favorecendo a saúde humana.

Como forma de se colocar em prática as normas constitucionais, faz-se mister distinguir em esferas próprias as questões do direito de não ser afetado por gases poluentes ou pela deterioração do meio ambiente, e a do direito à proteção da natureza propriamente dita. Na primeira hipótese, o escopo da interferência é analisar o meio ambiente como causador de prováveis lesões ao indivíduo ou ainda à sua propriedade. Já a segunda, se propõe a garantir a conservação do equilíbrio ecológico, como valor intrínseco, não obstante, de forma indireta, tal atitude venha a afiançar uma maior “qualidade de vida” para a população.

A Constituição Federal de 1988 ao cuidar da proteção ao meio ambiente propriamente falando, conserva a conexão vida-ambiente, saúde-ambiente e segurança-ambiente, não obstante essa idéia esteja firmada em extensa tradição doutrinária e nos contextos constitucionais precedentes260.

Nesse sentido, é de mencionar a guisa de exemplo, que dentre as competências do SUS (Sistema Único de Saúde), encontram-se, de acordo com o artigo 200, VI, o controle, a fiscalização e a inspeção de “águas para consumo humano”, ainda no artigo 200, VII, a “produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos (...) tóxicos e radioativos”, bem como a colaboração “na proteção do meio ambiente, nele compreendendo o do trabalho”, previsto no inciso VIII do mesmo dispositivo261.

Como se verifica, no atual constitucionalismo pátrio é expresso o reconhecimento de um direito ao meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, o que coloca o direito à saúde como complementador da tutela contra ameaças e deteriorações ao meio ambiente.

Pode-se depreender do disposto acima que se trata de uma reduzida associação de normas. Não obstante a crítica teórica feita acima, o assentimento de uma assistência

259

Antônio Herman de Vasconcelos Benjamin, ibid, p. 90. O autor chega a propor, além da expressão “biocêntrico”, uma outra similar: “econcêntrico”.

260

Antônio Herman de Vasconcelos Benjamin, ibid, p. 92. 261

ambiental autônoma não afasta em muitos dos casos, sua vinculação com a idéia de saúde e segurança humanas.

O raciocínio da proteção à saúde traz vantagens manifestas à tutela ambiental. Como ocorre em outros países, o direito à saúde no Brasil, em comparação com outros direitos constitucionais, encontra-se no nível mais elevado da estrutura constitucional e legal.

Nesse sentido, Antônio Herman de Vasconcelos Benjamin, bem destaca que certos países, como a Bélgica, por exemplo, colocaram a mencionada vinculação no seio de novéis direitos relacionados ao meio ambiente. Assim, ao reformar, em 1994, o artigo 23(I) de sua Constituição, incluiu, no campo dos direitos econômicos e sociais, o “direito à proteção de um meio ambiente sadio”262. Em idêntico sentido, encontra-se a previsão da Constituição brasileiro de 1988, no que se refere ao meio ambiente, apenas melhor precisando com a expressão “sadia qualidade de vida” (conferir caput do art. 225 da CF).

2.17 Esfera pública em países periféricos: o discurso da cidadania em saúde e suas

Outline

Documentos relacionados