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FUNCIONAMENTO DE APARELHOS AUDITIVOS EM FAVOR DE MENOR SAÚDE DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL ART 227 DA CF/88 LEGITIMATIO AD CAUSAM DO PARQUET ART.

2.13 Evolução e localização do direito à saúde

2.13.2 O direito à saúde nas Constituições anteriores

Grandes problemas de saúde só foram possíveis depois que o homem passou e viver em sociedade: o controle das doenças transmissíveis, o saneamento básico como forma de controle e melhoria do ambiente urbano, assistência médica, qualidade da água e dos alimentos etc. Como se verifica a saúde era vista como algo restrito ao aspecto comunitário.

O tema, contudo, não era de todo estranho ao nosso Direito Constitucional anterior, que dava competência ao Estado para legislar sobre defesa e proteção da saúde, mas isso tinha

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SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução: Laura Teixeira Motta. Revisão técnica de Ricardo Doninelli Mendes. 5ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 17.

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sentido de organização administrativa de combate às endemias e epidemias. Agora é diferente, trata-se de um direito do homem.

No Império havia apenas algumas medidas para assegurar a Saúde Pública. De acordo com o artigo 179, inciso 31°, da Constituição de 1824, o Estado garantia “socorros público”207. Demais tipos de assistência aos doentes eram de responsabilidade de instituições particulares, a maioria das quais detinha vínculo com uma ou outra religião. Contudo, apesar de seu caráter individualista – a Constituição de 1988 busca recepcionar valores aparentemente antagônicos relativos de um lado ao Estado liberal (individualismo), de outro ao Estado do bem estar (valorização do social) -, já se verifica a proteção social como um dos direitos humanos cuja garantia é a própria Constituição.

A Constituição de 1891 não tratou diretamente do direito à saúde. Apenas se reservou a afirmar que a aposentadoria poderia ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez nos serviços da Nação (art. 75). O tratamento comunitário para o direito à saúde teve prosseguimento, ficando reservado à União a responsabilidade pelos serviços de higiene, medidas profiláticas, combate à disseminação das doenças exóticas e indígenas, estatística demógrafo-sanitária, fiscalização do exercício da medicina e farmácia, análise de substâncias importadas e serviço sanitário marítimo. Permanece esse quadro até o auge do período cafeeiro, quando então o problema da saúde surge como uma questão social relacionada ao trabalho.

Tomando como ponto de partida o modelo da República de Weimar, a Constituição de 1934, inseriu três títulos que até então inexistiam nas constituições anteriores. São eles: a ordem econômica e social; da família, educação e cultura; e da segurança nacional. O caráter social, então, era evidentemente voltado para a pluralidade e autonomia dos sindicatos, dispondo também sobre a legislação trabalhista. Em matéria propriamente de saúde, limitou- se a afirmar a competência privativa da União para legislar sobre assistência social [art. 5°, XIX, c)] e estabelecer competência concorrente com os Estados para cuidar da saúde e assistências públicas. Ainda garantira assistência médica, sanitária e previdenciária ao trabalhador [art.121, h)]; amparo aos desvalidos, estímulo a educação eugênica208, amparar a maternidade e a infância, socorrer as famílias de prole numerosa, proteger a juventude contra a exploração, o abandono físico, moral e intelectual, combater a mortalidade infantil e a propagação das doenças transmissíveis, cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os

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Expressão utilizada pela própria Carta de 1824. 208

Referente à eugenia, ciência que estuda as condições mais propícias à reprodução e melhoramento genético da espécie humana - não olvidar o contexto nazi-facismo da “Era getuliana”.

venenos sociais [art. 138, a) e ss]. Como se observa, o direito à saúde nessa época estava mais voltado a proteger a relação capital/trabalho; fato que, em parte, ainda se verifica.

A Constituição do Estado Novo (1937), conhecida como “a polaca”, dará continuidade ao autoritarismo iniciado em 1930, regulando o direito à saúde como norma fundamental, dando especial enfoque a saúde da criança (art. 16, XXVII); bem como a assistência pública, obras de higiene popular, casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais (art. 18); assistência médica e higiênica ao trabalhador e à gestante, assegurado a esta, um período de repouso antes de depois do parto (art. 137); sem cogitar nada acerca do custeio, tampouco dispor sobre a contribuição da União. Esse fato pode explicar porque hoje não há igualdade contributiva para a saúde. Data-se desse ano a Lei no 378, de 13 de janeiro, a qual instituiu o Departamento Nacional de Saúde, que, aliás, desempenhou papel de capital importância para a saúde.

Em 1946 a nova Constituição restaura e amplia os direitos e garantias individuais. No aspecto social, pouca mudança foi observada em relação à Constituição de 1934. O Estado assume agora o compromisso de defesa e proteção da saúde (art. 5°, XV); melhoria da condição de vida dos trabalhadores, assistência sanitária, hospitalar, médico-preventiva ao trabalhador e à gestante, assistência aos desempregados, previdência mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da morte (art. 157). Ainda focada no trabalhador, a Constituição, entretanto, apresenta alguns avanços. Um avanço, que importa para o presente estudo refere-se ao privilegiamento da prática médica curativa, individual, assistencialista e especializada. Nesse modelo é patente já o Estado como grande financiador da saúde.

Às voltas com a necessidade de legitimar o golpe de 1964, o então presidente Castelo Branco baixou três Atos Institucionais, trinta e seis Atos Complementares, trezentos e doze Decretos-Leis e 3.746 Atos Punitivos. Eis a Carta de 1967, na qual estava espraiada por todo o corpo a marca da arbitrariedade do governo militar, sobretudo nas chamadas “cláusulas de excludência”, as quais proibiam o Judiciário de examinar o dispositivo. No que tange à saúde, o texto definitivo garantiu o seguro, a previdência social, a defesa e a proteção da saúde (art. 8°); a higiene e segurança do trabalho, assistência sanitária, hospitalar e médica preventiva, previdência social nos casos de doença, velhice, invalidez, morte, seguro desemprego, seguro contra acidentes de trabalho e proteção da maternidade mediante contribuição da União, do empregador e do empregado (art. 165, IX, XV e XVI). Curioso é que na Carta de 1967, um recado interessante é deixado ao legislador do Estado Novo, com a ressalva consistente na proibição de criação, majoração ou extensão de prestação de serviço de assistência ou de

benefício compreendidos na previdência social, sem a correspondente fonte de custeio total (§ 1°, art. 165).

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