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Adaptações às primeiras florestas do Holoceno no norte da Europa

No documento Depois do Gelo (páginas 126-133)

9600 – 8500 a.C.

Visitar Star Carr, em Yorkshire, é visitar um dos sítios arqueológicos-chave na Europa. Foi comparado com precisão em importância à caverna pintada de Lascaux e ao túmulo de Tutancâmon. Mas quando chegamos, não há ônibus de turistas poluindo o ar nem guias ávidos por dinheiro. E tampouco centros de patrimônio, lojas de suvenires, postes de sinalização, monumentos ou placas; apenas um quase perfeito recanto do campo inglês.

Minha última visita foi numa tranquila tarde de verão em 1998. Eu encontrara o caminho ao percorrer uma senda não sinalizada e um terreno de fazenda, parando para ver as acrobacias de andorinhas e martins-pescadores. Um atalho levou-me por campos com vacas a pastar o mato não ceifado, e ao longo de uma fileira de sebes onde minhas únicas companhias eram borboletas e pintassilgos a esvoaçar entre os cardos roxos. Quando esse atalho se encontrou com o Hertford, um riacho de suave corrente, com cisnes e filhotes a nadar, percebi pelas palavras trocadas com o camponês que havia chegado.

O sítio ficava à esquerda, mas não se via qualquer arqueologia, nem muros tombados ou calombos cobertos de mato a indicar uma era passada. Diante de mim abria-se um campo de pasto como qualquer outro; atrás, uma margem de rio onde abelhas trabalhavam em amoras, botões-de- ouro e rosas-de-cão. Olhando-se para leste e oeste, o pasto plano do Vale Pickering estendia-se até onde a vista alcançava, interrompido apenas por ocasionais fossos e pequenas plantações. Ao norte, a terra começava a subir em direção aos pântanos de Yorkshire, e ao sul para as ondulantes colinas descampadas. O ar desprendia um perfume de ulmária; senti-me primeiro tentado a nadar e depois tirar uma soneca.

Como podia aquele não assinalado canto de Yorkshire ser sensatamente comparado a Lascaux e Tutancâmon? Sem a menor dúvida, era uma comparação absurda. Mas foi feita por ninguém menos que o falecido Sir Grahame Clark, Professor da cadeira Disney de Arqueologia da Universidade de Cambridge, Mestre de Peterhouse, Membro da Academia Britânica. Certamente não era um homem precipitado; mas tampouco modesto; e Star Carr era sua preciosa escavação.

Assim como o túmulo de Tutancâmon e as pinturas de Lascaux são simbólicos de mundos antigos e desaparecidos, também o é o sítio de Star Carr — o mundo perdido dos caçadores-coletores habitantes de florestas da Europa que viveram no período que os arqueólogos chamam Mesolítico. Esse foi o novo mundo da cultura europeia. Um mundo criado pelos descendentes dos caçadores de rena de Stellmoor e das dançarinas de Gönnersdorf, depois que o Jovem Dryas terminou tão de repente quanto começara e as camadas de gelo da Europa acabaram afinal de derreter-se.

Há muitas centenas, provavelmente milhares, de sítios mesolíticos na Europa — um registro arqueológico inteiramente diferente daqueles efêmeros traços de povos da era do gelo que tinham chegado antes. Alguns têm túmulos exóticos; outros, impressionantes. Mas Star Carr não tem nenhuma das duas coisas. Então por que é um sítio tão especial?

A resposta é simples, Star Carr fica onde o Mesolítico de fato começou. Começou ali, no sentido literal — é um dos mais antigos assentamentos mesolíticos conhecidos em toda a Europa. Começou ali para mim pessoalmente — Star Carr foi o primeiro sítio mesolítico de que tomei conhecimento, e revelou-se fundamental para a minha decisão de tornar-me arqueólogo. E começou ali num sentido histórico: antes de Grahame Clark fazer suas escavações de 1941-1951, o período Mesolítico era quase ignorado em comparação com o Paleolítico, que veio antes, e o Neolítico, que a ele se seguiu. Foi o primeiro sítio na Europa, de qualquer período, a ser datado por radiocarbono.

Em 1865, o John Lubbock vitoriano não tinha a mínima ideia dessa crucial fase da Pré-História. Escreveu em Tempos pré-históricos: "A partir do cuidadoso estudo dos vestígios que chegaram até nós, parece que a Arqueologia pré-histórica pode ser dividida em quatro grandes épocas." Descrevia em seguida o período Paleolítico — "quando o homem partilhava a posse da Europa com o mamute, o urso das cavernas, o rinoceronte peludo e outros animais extintos"; o período Neolítico — "caracterizado por belas armas e instrumentos feitos de sílex e outros tipos de pedra"; a Idade do Bronze e a Idade do Ferro. Nenhuma menção ao Mesolítico; simplesmente não existia em 1865.

Mais adiante no livro, o vitoriano Lubbock diz que o arqueólogo dinamarquês professor Worsaae queria dividir a idade paleolítica em duas fases. A primeira envolvia implementos de pedra associados a animais extintos, e a segunda referia-se a descobertas feitas no litoral dinamarquês, sobretudo grandes montes de conchas que também continham espinhas de peixe, ossos e artefatos de animais, chamados Kjökkenmöddings (monturos de cozinha, ou depósitos de lixo). Outro arqueólogo dinamarquês, professor Steenstrup, acreditava que os monturos faziam parte da Nova Idade da Pedra, do Neolítico de Lubbock. Após pesar os escassos vestígios dos dois lados, o John Lubbock vitoriano tomou o partido de Steenstrup: embora achasse que os Kjökkenmöddings representavam um período definido da história dinamarquesa, na certa ficava dentro do próprio Neolítico.

Sabemos hoje que Worsaae estava certo e Steenstrup inteiramente errado; o Mesolítico é muito distinto dos períodos Paleolítico e o Neolítico da pré-história europeia. Trata-se dos caçadores- coletores do período holocênico na Europa, os que viviam em densas florestas antes da chegada dos primeiros agricultores. Grahame Clark foi pioneiro em estudos mesolíticos na Grã-Bretanha na década de 1930, compilando um catálogo e classificação dos artefatos de pedra do período. Mas só com a escavação de Star Carr seus interesses se voltaram para o estilo de vida e meio ambiente do Mesolítico. Ao fazer isso, apenas alcançava a arqueologia dinamarquesa, que já vinha atacando esses problemas desde que os Kjökkenmöddings foram escavados pela primeira vez na década de 1850 — embora Worsaae e Steenstrup discordassem sobre a idade deles.

Naquela pacífica tarde de verão, imaginei a atividade do jovem professor de Cambridge e sua equipe chegando a Star Carr, montando acampamento e começando o trabalho de escavação. Clark escolhera Star Carr depois que se descobriram artefatos de pedra num fosso de drenagem. Acabou sendo uma escolha perspicaz, Na turfa saturada de água daquele campo em Yorkshire, ele encontrou os restos de um acampamento de caçadores-coletores com um grau de preservação sem precedente, não apenas de ossos de animais, mas de instrumentos de chifre e madeira. Nem de perto algum sítio

mesolítico da Grã-Bretanha, encontrado antes ou desde então, se aproximou de seu nível de preservação.

Os habitantes do Mesolítico se teriam sentado exatamente onde eu me sentei naquela deliciosa tarde. Mas nas colinas ao norte e ao sul de então faltavam os muros e as casas de fazenda construídas com pedras do campo de Yorkshire; eles viam nesse lado encostas cobertas de floresta de bétula e um espesso matagal de fetos. E à sua frente estendia-se não um pasto, mas um enorme lago, a margem demarcada hoje pelo declive pouco fundo no qual eu cochilara.

O lugar de acampamento deles foi uma base de caça nas florestas de bétula e ao longo da beira do lago. O veado-vermelho era sua presa preferida, mas também caçavam javali, cabrito montes, alce e auroque. Coletavam plantas, capturavam patos e mergulhões, e com toda probabilidade pescavam em canoas. Chegavam a Star Carr todo verão, e uma de suas tarefas essenciais era queimar as densas fileiras de juncos que margeavam o lago. No acampamento, conjuntos de instrumentos eram feitos e consertados — novas pontas e farpas encaixadas nas flechas, peles de animais limpas e depois costuradas para roupas, e arpões de Calhadas manufaturados.

As galhadas teriam sido reunidas no outono e inverno, escondidas no sítio pronto para essa visita. Talhar os arpões era um ofício ao mesmo tempo de habilidade e laborioso. A galhada era trabalhada com instrumentos de pedra em forma de cinzéis. Cortavam-se sulcos paralelos ao longo da peça, e depois soltava se um segmento plano; este era cortado, modelado e alisado. Alguns preferiam fazer pontas de galhada com várias farpas finas, outros talhavam apenas umas poucas, de forma grosseira; talvez fossem desenhos para capturar diferentes tipos de caça ou apenas experiências, pois ninguém sabia qual desenho era o mais eficaz para caçar.

Assim, sentado naquele campo de Yorkshire, tive de imaginar a cena mesolítica: as chamas crepitando pelos juncos secos, olhos marejados pela fumaça, crianças excitadas correndo atrás de aves selvagens, lebres e camundongos. Os juncos que tinham queimado bem, as chamas alcançando os galhos pendentes para que os amentilhos florescessem em vivido laranja, eram levados na brisa e por um momento flutuavam no lago, antes de afundar. Os juncos eram queimados para proporcionar uma vista do outro lado do lago e melhorar o acesso às canoas. A prática também estimulava o crescimento de novos brotos, que permitiriam contar com gamos pastando quando as pessoas retornassem mais uma vez para caçar nas margens. Em diferentes partes do mundo pré-histórico, nessa data de 9000 a.C., outros também fomentavam novos brotos — de trigo e cevada, nos campos de Jericó.

Naquela noite, as pessoas talvez tivessem dançado c cantado, cheias de carne de gamo e embriagadas com drogas herbais. Eu imaginava algumas vestidas com couros e máscaras de galhada, movendo o corpo sensualmente, como corças, à música de cantos, tambores e flautas de junco. Os dançarinos de repente paravam, farejavam o ar e corriam em pânico; iam ser mortos pelas flechas dos caçadores, que lhes agradeciam e celebravam por renunciar às suas vidas.

Imaginei as pessoas partindo no dia seguinte, após dormirem sob as estrelas — algumas encaminhando-se para as colinas, outras viajando de canoa rumo à costa leste. As máscaras de corça foram jogadas fora com os ossos dos animais, o lixo da feitura dos arpões c artefatos de pedra. E ali iam permanecer, logo esquecidas — enterradas sob os juncos mortos que se transformariam em turfa, até sua descoberta mudar nossa compreensão do passado.

As escavações de Clark produziram grande parte dos indícios sobre os quais trabalhara minha imaginação. Ele encontrou máscaras de gamo — mas elas também podem ter sido usadas como

disfarce de caça em vez de fantasias de dança. Encontrou igualmente várias formas e tamanhos diferentes de pontas de galhada farpadas e restos de plantas comestíveis, embora nenhuma que se soubesse ter propriedades embriagantes. Havia um remo de madeira, mas sem canoa alguma.

Clark concluiu as escavações em 1951. Isso, porém, era apenas o início de uma constante reanálise e reavaliação dos indícios de Star Carr que continuam até hoje. Clark julgou que o assentamento fosse um acampamento-base de inverno, devido à grande quantidade de galhadas — coisa presente apenas em animais caçados durante a última parte do ano. Mas quando, em 1985, os arqueozoólogos Peter Rowley-Conwy e Tony Legge reanalisaram os ossos de animais, não encontraram nada que sugerisse ocupação de inverno. Em contraste, havia mais indicações de início do verão, dos quais os dentes de gamo eram os mais reveladores. Examinando que dentes se tinham deteriorado e comparando-os com padrões conhecidos de desenvolvimento dental em gamo moderno, Legge e Rowley-Conwy tiveram certeza de que a maioria dos animais fora morta entre maio e junho.

A queimada de juncos só foi identificada em meados da década de 1990. Obra de Petra Dark, arqueóloga especializada em reconstituição ambiental que é minha colega na Universidade de Reading. Ela tomou novas amostras da turfa da margem e do centro do antigo lago e fez um estudo microscópico admiravelmente detalhado dos grãos de pólen, partículas de carvão e fragmentos vegetais numa sucessão de fatias da espessura de uma lâmina. A primeira destas vinha de uma época anterior àquela em que as pessoas tinham chegado ao Vale Pickering c mostrava que a vegetação fora muito característica das paisagens da era do gelo ervas, capins, salgueiros-do-rio, pinheiro e bétula.

Após 9600 a.C., os grãos de pólen já haviam mudado e incluíam os de alamos e zimbros, e depois seriam dominados pela bétula. Logo após 9600 a.C., surgiram partículas de carvão na turfa, espalhadas das primeiras fogueiras de acampamento feitas próximo ao lago. Um repentino aumento na quantidade de carvão, junto com fragmentos de junco e amentilhos queimados, indica o início de intensa atividade; uma clareira anual por queimada na vegetação ao lado do lago continuou durante 80 anos. As pessoas então ignoraram o lago por uma ou duas gerações, para retornarem cerca de 8.750 a.C. e continuarem as mesmas atividades de antes durante pelo menos mais outro século. A essa altura, o salgueiro e o choupo invadiam o lago, transformando grande parte dele em "carr" — densas fileiras de árvore em poças d'água. Em 8500 a.C., a aveleira se apoderara da paisagem, e após um episódio de queimada, as pessoas abandonaram Star Carr e foram caçar e coletar em outro lugar. O lago praticamente desaparecera.

Árvores como aveleira, bétula, pinheiro e choupo ressurgiram de seus esconderijos da era do gelo logo após o fim do Jovem Dryas, expandindo-se rapidamente em extensas áreas florestais e retomando sua marcha para o norte.

Uma vez estabelecidas, as novas matas tiveram pouca paz. Pois logo atrás das espécies pioneiras e resistentes vinham as árvores que preferiam condições mais quentes e úmidas, cujas necessidades eram satisfeitas pelo avanço do aquecimento global. Entre elas o carvalho, o olmo, o limoeiro e o amieiro, que sobreviveram nos vales do sul da Europa e cuja disseminação para o norte fora interrompida pelo Jovem Dryas.

À medida que essas espécies viajavam de seus abrigos da era glacial, deixavam atrás uma esteira de grãos de pólen como um registro da viagem. Carvalhos, por exemplo, já eram encontrados por todo Portugal, Espanha, Itália e Grécia quando o Jovem Dryas chegou ao seu repentino fim. Em

8000 a.C., tinham bordejado a costa oeste da França e alcançado o extremo sudoeste da Grã- Bretanha; cm 6000 a.C., percorriam todo o continente europeu e as partes mais ao sul da Escandinávia. Em 4000 a.C., tinham chegado à ponta norte da Escócia e à costa oeste da Noruega. Por essa época, porém, os carvalhos mais ao sul vinham sendo derrubados por camponeses que abriam clareiras para o cultivo de lavouras. O limão fez uma viagem diferente, começando no sudeste, após sobreviver ao grande congelamento no norte da Itália e nos Bálcãs. Foi margeando seu caminho para o leste e centro da Europa, e só chegou ao sudeste da Inglaterra por volta de 6000 a.C. A aveleira, o olmo e o zimbro fizeram trilhas semelhantes pelo continente. A floresta resultante foi uma rica mistura de espécies, não apenas de árvores, mas de uma variada gama de arbustos e plantas de subsolo, fungos, musgos e liquens. Engoliu toda a Europa.

Também os animais tiveram de adaptar-se ou migrar para sobreviver. Alguns não conseguiram. Os mamutes, rinocerontes peludos e gamos gigantes se extinguiram, talvez tocados para o abismo por lanças de ponta de pedra. Outros, como as renas e os alces, sobreviveram mudando-se para o extremo norte ou para as altas montanhas, onde as densas florestas não tinham condições de predominar. Os grandes beneficiários do aquecimento global foram o veado-vermelho e o javali, que logo se tornaram a presa preferida dos caçadores mesolíticos. Enquanto os veados-vermelhos viviam em grandes rebanhos nas tundras e em terras de vegetação sobretudo rasteira do sul da Europa, o cabrito montes e o javali tinham sobrevivido ao LGM e ao Jovem Dryas nos vales abrigados, em meio a mirrados carvalhos e olmos.

À medida que iam evoluindo a paisagem e as comunidades animais, também o faziam as vidas das pessoas. Para os caçadores, as mudanças no comportamento animal eram tão importantes quanto as das próprias espécies. Os que tinham acampado em Etiolles e caçado em Meiendorf dependiam dos rebanhos migratórios de renas. Tinham esperado e espreitado o percurso dos animais por trilhas bem batidas, e depois chacinado grandes números em emboscadas, nos vales estreitos ou confluências de rios. Mas nas novas florestas, o gamo vivia em rebanhos pequenos e dispersos, em grupos familiares e às vezes apenas aos dois ou três. Portanto, a sangrenta matança pela força bruta teve de ser substituída pela astúcia — emboscar animais solitários, atirar flechas através de densa vegetação rasteira, seguir por mais tempo a trilha quando a presa fugia deixando um rastro de sangue.

Não surpreende que essas mudanças no ambiente e nas práticas de caça viessem acompanhadas do desenvolvimento de nova tecnologia. As pontas-de-lança e de flechas parrudas foram substituídas por microlitos: pequenas lâminas lascadas de pedra, em geral sílex, que logo se tornaram o mais importante elemento da tecnologia de instrumentos de pedra em toda a Europa.

Nesse sentido, o povo europeu chegou à mesma decisão tomada pelo povo kebarano do oeste da Ásia no mínimo 10 mil anos antes — de que fazer pequenas lâminas e lascá-las numa série de formas distintas era o uso mais eficaz de seus recursos de pedra. O que as armas resultantes perdiam em termos de força bruta e capacidade de penetração era muitíssimo compensado por sua diversidade e flexibilidade.

Os microlitos eram empregados não apenas como pontas e farpas de flechas, mais também como pontas de brocas e sovelas utilizadas na perfuração de couro, casca de árvore e madeira. Além de dar eficazes lâminas de faca, podiam ser usadas em arpões de três ou mais dentes para fisgar peixe, e introduzidas em placas de madeira para raspar legumes. Proporcionavam uma tecnologia de encaixe e desencaixe — o equivalente da Idade da Pedra ao mais moderno processador de

alimentos hoje, com suas peças e empregos aparentemente infindáveis. Nada podia estar mais de acordo com as necessidades do povo mesolítico: assim, surgiram várias oportunidades diferentes para seu uso em qualquer estação, dia ou mesmo viagem de caça — localizações de presa inesperada, encontros casuais de nozes amadurecidas antes do tempo, abrigo para um acampamento de pernoite, uma oportunidade de pesca.

Encontram-se em geral os microlitos espalhados no lixo doméstico dos assentamentos. Muito ocasionalmente têm sido achados ainda fixados num cabo de flecha, presos com resina de pinheiro. E mais raro ainda, enterrados nos animais que mataram. Nos carrs dinamarqueses de Vig e Prejlerup, os dois mais ou menos contemporâneos de Star Carr, escavaram-se esqueletos de auroque quase completos. Haviam sido atacados mas fugido da captura. O espécime de Vig tinha duas pontas de flecha enterradas nas costelas e duas outras lesões nos ossos. Uma delas sarara — o osso começara a crescer em volta do ferimento, mostrando que não era a primeira vez que o bisão-europeu fora atingido e conseguira escapar. A segunda, que não sarara, fora, claro, um dos disparos fatais que inalaram o animal. O bisão de Prejlerup era idêntico; embora se tivessem encontrado pontas de flecha em seu traseiro, é necessário supor que também fora atingido em tecido mole e sangrado até a morte. As duas descobertas criam imagens de caçadores rastejando pelo mato baixo, atacando os machos e depois perseguindo os animais feridos — nos dois casos sem sucesso.

Os microlitos talvez tenham sido envolvidos em algumas ações notáveis, mas em si mesmos são dos menos impressionantes e complexos instrumentos pré-históricos, Para encontrar a última palavra em tecnologia do período Mesolítico, precisamos nos voltar não para a pedra, mas para os instrumentos feitos de madeira e fibras vegetais. Pela primeira vez na história europeia, elas são razoavelmente abundantes no registro arqueológico; parecem testemunhar uma revolução tecnológica.

A presença desses novos artefatos talvez reflita apenas as oportunidades mais amplas à disposição de artesãos e mulheres na exuberante floresta do Mesolítico, ou talvez se deva ao lato de

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