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Arquitetura, têxteis e domesticação de animais, 8500 7500 a.C.

No documento Depois do Gelo (páginas 64-71)

Deixando os penhascos acima de Wadi Gjuwayr, John Lubbock anda para o sul até a noite começar a cair, num dia de primavera de 8000 a.C. Isso o leva a uma espetacular paisagem de calcário que corre como uma prateleira abaixo do planalto jordaniano. Depois de cruzar para lá e para cá o oeste asiático do Mediterrâneo ao Eufrates, está familiarizado com as árvores e reconhece com facilidade o carvalho, o pistacho e o espinheiro, embora ainda não tenham atingido o pleno reverdor. Enquanto anda, vê não apenas cabras selvagens sobre os rochedos, mas vislumbra um chacal que inicia seu trabalho noturno e uma lebre que encerra o dia. Reconhece as pegadas de javali e os restos da presa de um leopardo. Com tais animais cm volta, dorme inquieto ao abrigo de um rochedo de calcário, que muda de cor quando o sol se põe em todo o vale do Jordão.

No dia seguinte, Lubbock continua a atravessar a mata, equilibrando-se de vez em quando à borda de precipícios rochosos para olhar o futuro deserto de Negev do outro lado de um vasto abismo sem árvores. Após ter viajado cerca de 30 quilômetros desde Wadi Ghuwary, chega à entrada de um vale amplo e aberto, com uma densa cobertura de árvores e definido por altos penhascos de calcário. Vê, muito apropriadamente, dois pássaros negros gritando alto, pois esse é Wadi Gharab — o vale dos corvos. Abriga a primeira cidade que Lubbock tem a oportunidade de visitar; é de fato uma das primeiríssimas cidades do mundo: Beidha.

A trilha de cabras transforma-se num caminho bastante utilizado no meio da mata onde muitas árvores foram derrubadas. Isso logo dá lugar a pequenos campos com cerrais que acabam de brotar, ervilhas e pequenos brotos de uma safra desconhecida — linho. E então ele vê, ouve e sente o cheiro de cidade — uma massa de moradas de pedra retangulares, vozes humanas, latidos de cachorros,

cabras balindo e fumaça de lenha. Aí não há indefinições entre os domínios da natureza e a cultura humana, como havia em Ain Mallaha e Abu Hureyra. A cidade de Beidha é uma impressionante afirmação do desligamento humano do mundo natural, epitomizado pelos ângulos agudos e a ordenada disposição das construções, as cabras em seus cercados, a terra capinada para o plantio.

A oportunidade de visitar Beidha foi proporcionada pelo terceiro membro de um notável trio de arqueólogas. Já reconhecemos a contribuição de Dorothy Garrod e Kathleen Kenyon. Agora, devemos apreciar o trabalho de Diana Kirkbride. Após estudar egiptologia no University College, em Londres, na década de 1930, e trabalhar em Jericó com Kathleen, ela passou vários meses em 1955 escavando em Petra para o Departamento de Antiguidades da Jordânia. Durante esse tempo, descobriu a cidade neolítica de Beidha.

Os espetaculares templos e túmulos de 2 mil anos de Petra não conseguiram conter o interesse de Diana, e nos dias de folga ela saía à procura de "sítios de sílex” próximos. Com a ajuda de guias beduínos, encontrou vários, alguns extremamente antigos. Também descobriu um pequeno tell que se tornou o sítio de Beidha, localizado a cerca de uma hora de caminhada por entre as colinas de calcário ao norte de Petra.

Diana começou a escavar ali em 1958, e concluiu a última de suas oito temporadas de campo em 1983, quando já havia descoberto 65 construções. Era, e continua sendo, de longe a mais extensa escavação de um assentamento do Pré Neolítico, oferecendo uma intuição única da disposição de uma das primeiras cidades. O trabalho dela revelou que Beidha cresceu de uma pequena aldeia de moradas circulares interligadas para a cidade de prédios retangulares de dois andares à qual Lubbock agora chegava.

Para entrar na cidade, ele atravessa uma baixa muralha que cerca as construções. É uma barreira ao solo arenoso que ameaça cobrir os pátios, agora que foi liberado pela derrubada das árvores. Uma trilha leva Lubbock por entre prédios para um pátio murado de cerca de 8 metros de diâmetro. É o centro da cidade. À frente dele, veem-se quatro câmaras construídas de pedra com grãos espalhados no chão — os restos de uma colheita; à esquerda/direita, a fachada de um prédio particularmente grande. Ele atravessa sua porta e entra num aposento de um branco reluzente — o piso, paredes e mesmo o teto densamente rebocados. A única cor é uma grossa faixa vermelha em torno da base das paredes. No centro, ergue-se uma coluna de pedra não cortada de 1 metro de altura. Atrás dela, há uma entrada para um segundo e maior aposento. É igualmente escasso e deslumbrante, com os mesmos reboco branco e faixa vermelha, que também circundam uma lareira no meio do pico e urna bacia de pedra perto da entrada. No canto oposto, um poço revestido de pedra. E é só isso. Nenhum móvel a sugerir uma casa, nem pedra lascada ou fragmentos de ossos a sugerir uma oficina, nem efígies esculpidas a sugerir um lugar de ritual ou culto, e — o mais assustador — nenhuma pessoa visível a trabalhar ou brincar.

Embora escavada por Diana, a mais substancial tentativa de interpretar a arquitetura de Beidha foi feita por Brian Byrd, da Universidade da Califórnia. Ele ficou particularmente impressionado com o tamanho do prédio em que Lubbock entrou, avaliando que só o reboco exigiu mais de 2 mil quilos de cal viva e 9 mil quilos de madeira para os fornos. Assim, mesmo que famílias individuais tivessem construído suas casas dentro da cidade, esse prédio exigiu trabalho comunitário, e a questão-chave — não apenas no caso de Beidha, mas de todas as novas cidades com tais prédios — foi se o trabalho foi feito por vontade própria ou sob coerção de chefes das cidades. É de fato difícil imaginar uma comunidade do tamanho de Beidha, talvez de 500 pessoas, existindo sem

comando. Talvez esse viesse de anciãos respeitados que desempenhavam papel destacado na tomada de decisões que afetariam a comunidade como um todo. Ou talvez houvesse indivíduos que exerciam o poder pela força.

Brian Byrd julgou provável que esse prédio fosse usado para tomar tais decisões, um lugar em que famílias separadas podiam reunir-se. Pareceu importante que no pátio diretamente defronte da sua entrada ficasse a instalação de armazenamento de grãos. O muro circundante fora um acréscimo recente — antes, as pessoas atravessavam livremente o pátio. O novo muro, junto com outros fatos arquitetônicos, era evidentemente usado para controlar os movimentos das pessoas pela cidade e influenciar o que elas podiam ver. Supõe-se que isso fosse uma vantagem dos que tinham autoridade: os depósitos de grãos — e o conhecimento de quantos grãos eles continham — eram fontes de poder para os que controlavam sua distribuição.

Deixando o grande prédio, Lubbock anda entre as casas até chegar a outro pátio — menor que o último, não pavimentado e dando acesso a duas casas vizinhas. Cada uma tem de três a quatro degraus para um andar de cima, e um número semelhante para um porão embaixo. Lubbock escolhe uma casa na qual ouve vozes, sobe a escada e entra num aposento em que oito ou nove pessoas se sentam em tapetes de palha, em torno de uma lareira central. Há adultos e crianças, homens e mulheres; alguns dividem pão e carne, outros inalam fumaça de folhas. Todo o aposento está cheio de fumaça que só lentamente atravessam os juncos que formam o telhado. Os olhos de Lubbock enchem-se de lágrimas.

As pessoas espremem-se juntas; parece provável que uma família esteja recebendo outra. Suas roupas impressionam — atestado de outra pequena revolução que ocorreu durante o último milênio, e que passou praticamente despercebida pelos arqueólogos. Todas as pessoas citados anteriormente nessa história usavam roupas feitas de couro ou pele, ou muito ocasionalmente de fibras trançadas. As de Beidha vestem com elegância tecidos feitos de tecelagem; usam a primeira forma de linho, tingido de verde e transformado em túnicas e saias.

Não era provável que tais roupas, feitas quando as artes de fiar e tecer se achavam na infância, durassem mesmo umas poucas gerações antes de apodrecerem ou se desfazerem, quanto mais por muitos milênios desde que as pessoas se sentaram comendo em Beidha. Contudo, algumas sobreviveram, não em ruínas de cidades, mas dentro da minúscula caverna de Nahal Hemar, localizada a meio caminho entre Beidha e Jericó, na fronteira norte do deserto de Negev, longe de qualquer assentamento humano. Beduínos saquearam essa caverna na década de 1960, quando buscavam mais uma coleção dos Manuscritos do mar Morto. Em 1983, ela foi redescoberta pelo arqueólogo israelense David Alon, que escavou os depósitos sobreviventes com Ofer Bar-Yosef. Encontraram muitos pedaços de tecido, cordas e cestos. Todos eram contemporâneos das primeiras cidades do oeste asiático.

Os tecidos haviam sobrevivido porque os sedimentos eram absolutamente secos — sem umidade, as bactérias destrutivas não puderam concluir seu trabalho. Tinham sido feitos de junco, palha e capim, usando uma variedade de fiação, costura e técnicas manuais de tecelagem. Os cestos tinham sido feitos de cordas de fibras vegetais trançadas, em forma de vaso e tornadas à prova d'água por revestimento de betume de jazidas naturais em torno das margens do mar Morto. As espátulas de osso da caverna era, com a máxima probabilidade, instrumentos para a fabricação de cestos.

Alguns tecidos tinham sido feitos de fio de linho que vinham das fortes fibras dos talos de flax. Eram fiadas e depois combinadas por tricô ou tecelagem manual, usando-se um método conhecido como "junção de trama", que pode ter sido feito sobre uma tábua. Este é o mais simples tipo de tecelagem, e usado até recentemente por sociedades tribais em todo o mundo. Encontraram-se várias lançadeiras de osso que introduziam a trama, ou fio vertical, na urdidura, ou fio vertical.

Infelizmente, os fragmentos de tecido de Nahal Hemar são pequenos demais para reconstruir os artigos do vestuário do Neolítico — com uma exceção, um adereço cônico de cabeça. Fez-se uma faixa tecida para pôr em torno da testa, enfeitado com um único diorito; o chapéu então se elevava e formava um cone em forma de diamante, acabando num nó em cima e borlas. Como se trata de uma descoberta única, não temos ideia se se tratava de uma peça do dia-a-dia do povo neolítico ou um artigo de traje cerimonial usado apenas por pessoas especiais em ocasiões especiais. A última hipótese é talvez mais provável, em vista da localização isolada da caverna e dos outros objetos que continha.

Como aconteceu com o trigo e a cevada, o linho também brotara como uma espécie selvagem dentro da estepe florestal do oeste asiático, e depois fora cultivado com os cereais e legumes. Fragmentos dele foram encontrados em Jericó, Tell Aswad e Abu Hureyra, mas não foi possível saber se vinham de plantas selvagens ou domesticadas. Meu palpite é que também se plantava linho em Beidha; não se encontrou nenhum, mas a preservação e recuperação de plantas nesse sítio foram particularmente ruins.

Embora as roupas e cestos deixados em Nahal Hemar possam ter sido usados em ocasiões cerimoniais, lembram-nos do que deve ter sido um aspecto que impregnava a vida diária durante o Neolítico. O corte de junco e o cultivo de linho. É provável que a fiagem, tecelagem, trançagem, costura e tricotagem das fibras fizessem parte da vida de muitas pessoas. Elas observavam e manuseavam tecidos todo dia, sentindo o grão grosseiro contra a carne. O cheiro de betume, do trabalho com vime e pano de linho estaria sempre presente. E no entanto, praticamente tudo o que os arqueólogos sabem de suas roupas são os poucos fragmentos descobertos na caverna de Nahal Hemar.

Lubbock continua dentro da casa em Beidha, examinando cestos impermeáveis no chão e uma pilha de tricô. Pedras quentes da lareira são de vez em quando jogadas dentro dos cestos, para aquecer o líquido dentro — chá de hortelã. Um denso monte de peles, couros e tecidos no outro lado da sala sugere uma área de dormir. Uma criança jaz sobre elas com uma pele pálida e doentia. Como Lubbock tantas vezes viu em outras partes, a mortalidade infantil em Beidha é alta — uma coisa que Diana Kirkbride descobriu quando desenterrou os muitos esqueletinhos enterrados sob os pisos.

Lubbock descobre que o trabalho se faz sobretudo no porão. Este tem um piso de terra e grossas paredes que contêm seis pequenas câmaras, três de cada lado de um curto corredor. Lajes de pedra no chão proporcionam sólidas superfícies de trabalho — algumas cobertas com lascas de pedra, outras com fragmentos de osso e chifre cortados jogados fora. Algumas câmaras foram usadas para triturar pedras em contas, outras para trabalhar couro. As duas câmaras mais próximas da entrada têm grandes mós usadas para fazer farinha de trigo e cevada.

Aí, pois, está outra mudança radical, não apenas em relação aos assentamentos natufianos, mas também às primeiras aldeias agrícolas de Jericó e Netiv Hagdud. Muitas atividades foram transferidas para dentro de casa e aposentos dentro de construções individuais agora definiram funções: alguns são dedicados a comer, dormir e receber, outros a atividades artesanais e

armazenagem. Parece ter não apenas uma nova ordem na arquitetura e planta da cidade, mas também nas vidas das pessoas.

A transição das pequenas moradas circulares típicas de assentamentos do PPNA como Jericó, Netiv Hagdud c WF16 para os prédios relativamente grandes, retangulares e muitas vezes de dois

andares de Beidha e outros assentamentos do PPNB documentam uma grande transformação social. Kent Flannery, da Universidade de Michigan, afirmou que isso reflete uma mudança de uma sociedade voltada para o grupo — em que qualquer excedente de alimentos é reunido e disponível para todos — para outro em que as famílias são a unidade social. Em vez de espalharem-se entre várias pequenas cabanas circulares, essas famílias consolidaram sua presença com múltiplos aposentos dentro de uma única moradia. Eram donas e armazenavam um pouco ou talvez todo o excedente de comida que geravam, muitas vezes construindo depósitos especiais como parte de suas casas.

O passeio de Lubbock entre os becos e pátios de Beidha oferece-lhe novas experiências. Nos assentamentos de caçadores-coletores que visitou houve poucas surpresas — ele quase via de um extremo da aldeia ao outro, e todos pareciam conhecer os assuntos de todos os demais. Ali, como em outras cidades neolíticas, dobrar quase qualquer esquina pode levar a uma surpresa — inesperados grupos de pessoas, uma lareira ao ar livre, uma cabra amarrada. As pessoas simplesmente não podem saber o que se passa em outra parte da cidade — mesmo apenas a alguns metros de distância — porque muita coisa se passa por trás de grossas paredes. O número de habitantes se tornou demasiado grande para as pessoas conhecerem os assuntos e parentes umas das outras. Lubbock sente que há uma atmosfera de desconfiança e ansiedade, trazida pelo impacto da vida urbana numa mentalidade que evoluiu para viver em comunidades menores.

Junto com os carneiros, as cabras foram os primeiros animais a serem domesticados depois do cachorro, e completaram a passagem da caça e coleta para um estilo de vida agrícola. Exatamente onde, quando e por que ocorreu essa domesticação, ainda é muito debatido pelos arqueólogos.

A cabra é muito rara nas coleções de ossos de aldeias do Natufiano e do Neolítico Inicial, dominadas pela gazela — a presa preferida desde o LGM. Assim, a abundância de cabras encontradas em Beidha — 80% de todos os ossos de animais — sugere mais pastoreio que caça.

As cabras de Beidha eram também pequenas, comparadas com as cabras selvagens conhecidas. A redução do tamanho do corpo ocorre com todos animais assim que se tornam domesticados — os porcos são menores que os javalis, as vacas que o gado selvagem. Com a máxima probabilidade, isso resulta de pobre alimentação materna e a matança seletiva dos adultos machos pela , carne. Esse padrão de matança é evidente em Beidha, onde a maioria dos ossos vem de animais de cerca de 2 anos de idade, sugerindo que foram mantidos vivos até atingirem todo o seu tamanho, mas mortos antes que comessem demasiada forragem. O fato de que muito poucos dos ossos de Beidha vieram de animais jovens é um sinal seguro de que as cabras não eram mantidas pelo leite; nessa prática, os recém-nascidos são mortos para que o leite possa ser tomado para uso humano.

A domesticação cedo de cabras e carneiros não surpreende, pois o comportamento selvagem deles presta-se de imediato ao controle humano. Os dois animais são muitíssimo territoriais; relutam em desgarrar-se do rebanho e vivem dentro de grupos fortemente hierárquicos. Daí cabras e carneiros se disporem a seguir o animal maior, o que os torna susceptíveis a gravar a ideia de um ser humano como chefe. As construções de pedra proporcionavam substitutos para as cavernas em que as cabras e carneiros selvagens naturalmente se abrigam.

Permanece incerto exatamente onde e quando começou o pastoreio. Com base no tamanho e abundância, carneiros e cabras foram domesticados pela primeira vez na parte central (i.e., Síria, sudeste da Turquia) ou oriental (i.e., Iraque, Irã) do Crescente Fértil em 8000 a.C., ou possivelmente muito antes. Sabemos que os ocupantes de Abu Hureyra à margem do Eufrates pastoreavam carneiros e cabras em 7500 a.C. Nessa data, construiu-se um novo conjunto de casas de adobe, enterrando a aldeia de caçadores-coletores que Lubbock visitou. O novo povo citadino continuou inicialmente a prática do Natufiano Tardio de matar as gazelas durante a migração anual. Em 7500 a.C., porém, já haviam passado a matar carneiros e cabras, animais mantidos em rebanhos controlados.Mas devemos buscar mais a leste as mais antigas cabras domesticadas, nas aldeias do Neolítico Inicial hoje encontradas no centro do Irã.

Dessas, a aldeia conhecida como Ganj Dareh oferece o indício que mais se impõe. É um pequeno monturo no extremo sul do vale de Kermanshah, com menos de 40 metros de diâmetro e 8 de altura. A maior parte consiste de construções de adobe desmoronadas erguidas primeiro em alguma data entre 10000 e 8000 a.C. As pessoas que viviam em Ganj Dareh mataram grande número de cabras, proporcionando uma coleção de quase 5 mil ossos para estudo. Brian Hesse, da Universidade do Alabama, e Meinda Zeder, do Smithsonian Institute, empreenderam esse trabalho, descobrindo um sinal revelador de domesticação na presença de grande número de machos novos abatidos.

Os próprios rebanhos ou a simples ideia do pastoreio pode ter corrido para oeste e depois para o sul, como a prática da agricultura arável espalhou-se para o leste. Assim, o pastoreio de cabras teria alcançado o vale do Jordão por volta de 8000 a.C. Mas também é possível que as cabras tenham sido domesticadas de forma inteiramente independente em outras partes, mesmo nas vizinhanças de Beidha. No momento, os arqueólogos simplesmente não sabem.

Exatamente como se deu e foi posta em prática a ideia do pastoreio de cabra/carneiro, também é questão de debate. Frank Hole, da Universidade de Yale, acha que os caçadores tomaram consciência de uma crescente escassez de animais selvagens e tomaram medidas deliberadas para administrá-los. Isso pode ter envolvido o armazenamento de forragem para o inverno, a construção de cercas para controlar os movimentos do rebanho c o cuidado dos animais órfãos.

Muitos caçadores-coletores historicamente documentados, como os aborígines australianos, mantinham animais domesticados como bichos de estimação, e devemos supor que o mesmo se passava com as pessoas do Natufiano e do PPNA. Quando seus descendentes passaram a viver em assentamentos permanentes, é provável que alguns desses bichos de estimação se tenham tornado sexualmente maduros e reproduzido dentro dos limites do assentamento. Esses animais, isolados dos selvagens, teriam fornecido a base para os rebanhos domésticos. A reprodução seletiva desenvolveu intencionalmente determinadas características — temperamento plácido, rápido crescimento, alta produção de leite e lã densa. Presume-se muitas vezes que o cuidado de animais domesticados em

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