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Economia e sociedade durante o Jovem Dryas 10800 9600 a.C.

No documento Depois do Gelo (páginas 43-51)

Mais uma vez, John Lubbock está parado na margem ocidental do lago Hula e olha a aldeia de Ain Mallaha do outro lado. Cinquenta gerações, 1500 anos, se passaram desde que ele testemunhou uma vibrante atividade na aldeia em meio aos carvalhos, amendoeiras e pistaches. Os tempos mudaram. As matas são esparsas. As árvores e o mato baixo não têm o exuberante crescimento que parecia embalar as pessoas de Ain Mallaha com a promessa de comida abundante. Dentro da aldeia, telhados e paredes ruíram, e algumas moradas não passam de montes de detritos. Há agora novas construções circulares, mas são coisas pequenas e desconjuntadas.

Cinquenta quilômetros a sudoeste, a aldeia de Hayonim foi inteiramente abandonada. Após 200 anos de ocupação, as pessoas deixaram a caverna para viver no terraço, usando as moradas anteriores para o enterro de seus mortos. Mas mesmo essas novas casas se acham agora desertas. Galhos e mato seco, cobras e lagartos, líquens e musgos são os únicos moradores, quando a natureza começa a retomar sua pedra, acolhendo as paredes de calcário, os pilões de basalto e as lâminas de sílex de volta à terra. O mesmo se dá em Abu Hureyra — as pessoas se foram, as moradas vazias deixadas para desmoronar, artefatos abandonados e esquecidos.

A data é 10800 a.C. A vida sedentária da aldeia existe apenas nas histórias, passadas de geração em geração, de pessoas que vivem em acampamentos transitórios espalhados por todas as matas que resistem e a agora estepe que mais parece deserto. A conquista cultural dos natufianos persiste não mais como um débil eco nos artefatos, trajes e costumes sociais dessas pessoas — pessoas às quais os arqueólogos se referem como natufianos tardios. Muitas delas se reúnem periodicamente em Ain Mallaha, El-Wad ou Hayonim, trazendo os ossos de seus mortos para reenterrá-los junto dos ancestrais, no que se tornaram sítios sagrados, existindo naquele mundo de sombras entre a história e o mito.

O experimento de vida aldeã sedentária durou quase 2 mil anos, mas acabou fracassando, obrigando as pessoas a retornarem a um estilo de vida peripatético mais antigo. Antes de fazê-lo, a cultura natufiana espalhara-se muito além das inatas mediterrâneas que segundo Ofer Bar-Yosef foram sua "terra natal". A assinatura dessa cultura — os microlitos em forma de meia-lua — se

espalharam por todo o oeste asiático, com assentamentos dos natufianos tardios aparecendo desde os desertos do sul da península arábica até as margens do Eufrates.

A disseminação da cultura natufiana sugere que as aldeias sedentárias foram em parte vítimas de seu próprio sucesso. É provável que seus habitantes tenham aumentado em número sem cessar. Os caçadores-coletores móveis têm uma restrição natural a seus números, pois precisam carregar não apenas suas posses, mas também as crianças, quando se mudam de um sítio para outro. Os partos têm de ser espaçados em intervalos de 3 a 4 anos, uma vez que não é possível carregar mais de uma criança de cada vez. Os moradores natufianos de Ain Mallaha, Hayonim e outras aldeias podiam reproduzir-se mais livremente.

Parece provável que a disseminação da cultura natufiana tenha resultado em parte de grupos de pessoas que deixavam suas aldeias para estabelecer novos assentamentos. Pode ter sido esta a única forma de rapazes e moças ambiciosos adquirirem poder para si mesmos. Mas outro motivo de dispersão também se apresenta: não tinha mais comida suficiente para todos. Os natufianos tardios que se dirigiam para o deserto de Negev, para estabelecer aldeias como Rosh Horesha e Rosh Zin, ou as próximas da costa mediterrânea como Nahal Oren,ou assentamentos como Mureybet nas margens do Eufrates, podem ter sido alguns dos migrantes originais.

As pessoas da aldeia tinham começado a explorar demasiado os animais e plantas selvagens dos quais dependiam. Os ossos de gazela de seus montes de detritos oferecem uma história reveladora de tentativas de administrar os rebanhos que acabaram por sair pela culatra e levaram à escassez de comida. Carol Cope, da Universidade Hebraica em Jerusalém, fez estudos meticulosos dos ossos de gazela de Hayonim e Ain Mallaha. As gazelas montanhesas caçadas por gente dessas aldeias se comportavam de forma bastante diferente das caçadas em Abu Hureyra. Permaneciam na vizinhança dos assentamentos natufianos o ano todo, jamais formando os enormes rebanhos emboscados perto do Eufrates.

Carol descobriu que as pessoas natufianas preferiam matar os animais machos. Isso era evidente porque os ossos das patas (os astragali) que estudou se dividiam facilmente em dois grupos com base no tamanho, os maiores superando em número os menores em quatro por um. Grandes patas implicam grandes corpos, e para as gazelas, esses corpos seriam machos.

Quando o povo kebarano usara a Caverna de Hayonim, 5 mil anos antes de os natufianos se estabelecerem, matava gazelas machos e fêmeas em igual proporção. Ao escolherem de preferência os machos, os natufianos tentavam provavelmente conservar as populações de gazelas. Embora os dois sexos nascessem em igual proporção, só uns poucos machos eram de fato necessários para manter os rebanhos. Carol Cope pensa que o povo natufiano decidiu que os machos eram sacrificáveis, reconhecendo ao mesmo tempo a necessidade de que o maior número possível de fêmeas desse à luz novos machos.

Se esse era o objetivo deles, deu horrivelmente errado. Os natufianos cometeram o erro de não apenas caçar os machos, mas de escolher os maiores que encontravam para matar. Assim, as gazelas fêmeas eram deixadas para reproduzir-se com os machos menores — que provavelmente não seriam a sua escolha natural. Como pais pequenos dão origem a filhos pequenos, e os natufianos matavam os filhos maiores, as gazelas foram-se reduzindo em tamanho a cada geração. Daí os ossos encontrados nos montes de detritos da Caverna Hayonim serem de animais muito maiores que os dos montes do terraço — tendo entre os dois 500 anos de diferença.

Gazelas menores significavam que havia menos carne para alimentar uma população sempre crescente. Essa escassez era agravada pela exploração exagerada das "hortas selvagens": tinham-se cortado demasiados talos de cereais selvagens e colhido demasiadas bolotas e amêndoas para que ocorresse o reabastecimento natural.

A saúde do povo nalufiano começou a ressentir-se disso, sobretudo a das crianças. Isso se evidencia nos dentes. Os dos natufianos enterrados em Hayonim têm uma frequência muito mais alta de hipoplasias que seus antecessores pré-natufianos. Também lhes restavam menos dentes ao morrer, e os dentes que resistiam tinham cáries — mais dois sinais de má saúde.

A escassez de alimentos pode levar a crescimento físico medíocre — como é evidente entre as vítimas de fome endêmica hoje. Isso pode explicar por que muitos dos natufianos tardios, como os enterrados em Nahal Oren, eram mais baixos que os que viveram primeiro em Ain Mallaha. Assim como no mundo moderno, os homens eram mais afetados que as mulheres, e assim os sexos do natufiano tardio eram mais semelhantes em tamanho físico do que ocorrera antes.

Não se pode atribuir apenas as escassezes de alimentos nas aldeias natufianas, levando à emigração e eventual abandono, aos próprios natufianos, que não conseguiram controlar seus números. É provável que os problemas de crescimento populacional hajam sido eclipsados por alguma coisa sobre a qual as pessoas não tinham controle algum: a mudança climática.

O Jovem Dryas, mil anos de frio e seca, foi provocado pelo enorme influxo de águas glaciais derretidas no Atlântico Norte, quando as camadas de gelo norte-americano desabaram. O impacto disso nas paisagens do oeste asiático é logo visto nos grãos de pólen do núcleo de Hula. Os sedimentos depositados dentro desse lago após 10800 a.C. mostram uma impressionante redução na quantidade de pólen de árvores, indicando que grande parte da mata morrera por falta de chuva e de calor. Na verdade, dentro de 500 anos já haviam retornado a condições pouco diferentes das do LGM: um devastador colapso das reservas de alimentos, exatamente quando os níveis de população tinham alcançado um pico recorde.

Com o duplo impacto de pressão populacional e deterioração climática, não ficaremos surpresos com o colapso da vida aldeã do Natufiano Inicial. Mas as pessoas não podiam simplesmente voltar ao modo como seus antepassados kebaranos tinham vivido. Não apenas eram seus números populacionais substancialmente maiores, mas o povo do Natufiano Tardio tinha um legado de vida sedentária: nova tecnologia, novas relações sociais, novas atitudes em relação a plantas e animais, novos conceitos sobre terra e moradias, talvez mesmo sobre posse e propriedade.

Não tinha retorno dessas ideias, embora as pessoas retornassem ao antigo estilo de vida de acampamentos transitórios e pés cansados.

Antes de seguirmos a história dos natufianos tardios do vale do Jordão e retornarmos à das viagens de Lubbock, temos de fazer uma breve visita mil quilômetros a leste. Isso nos leva além da agora deserta aldeia de Abu Hureyra, além do Eufrates e pelas encostas das montanhas Taurus e Zagros adentro. Ali, em vez de as aldeias serem abandonadas durante o Jovem Dryas, foram criadas pela primeira vez.

A região das Zagros tem fronteiras mal definidas e é topograficamente diversa; inclui a parte superior da planície mesopotâmia, colinas ondulantes, vales profundos, penhascos e picos de montanhas. As mudanças em exposição e altitude criaram impressionantes diferenças na medida de

chuva e temperatura, produzindo muitos bolsões localizados de exuberante vegetação mesmo quando as condições gerais eram de seca e frio.

Em toda a região, as temperaturas caíram e a chuva diminuiu, abatendo muitas das árvores que se haviam recentemente disseminado a partir da costa mediterrânea. Mas os protegidos vales das terras baixas ofereceram um refúgio para bosques de carvalho, pistacho e tamariz, assim como para animais de caça obrigados a descer das encostas mais altas agora demasiado frias.

Os caçadores-coletores tiveram de seguir as plantas e animais e assentar-se entre esses vales em muito mais altas densidades do que quando vagavam pelas colinas. Entre os vales, construíram uma das mais elaboradas arquiteturas já vistas na história do mundo, Hallan Çemi Tepesi, encontrada nas margens de um riozinho nos contrafortes das montanhas Taurus, é a mais intrigante dessas novas aldeias. Em 1991, o sítio arqueológico foi ameaçado pela construção de uma barragem. Uma equipe conjunta de americanos e turcos fez escavações e descobriu vestígios de estruturas com fundações de pedra e paredes de taipa. Exatamente quando foram construídas, ainda não está claro; as poucas datas por radiocarbono abrangem mais de 200 mil anos, mas o principal período de ocupação parece ter sido por volta de 10000 a.C. As pessoas de Hallan Çemi Tepesi tinham reunido uma ampla variedade de plantas comestíveis, incluindo amêndoas, pistacho, ameixa e legumes. Caçavam cabras selvagens, gamo e javali.

Algumas das construções eram moradas domésticas com lareiras, utensílios para moagem e artefatos utilitários. Mas outras tinham estatuetas, vasos de pedra decorados e obsidiana vinda de 100 quilômetros ao norte. As tarefas domésticas tinham sido excluídas dessas construções, reservadas para atividade social ou ritual.

Os vasos de pedra decorados eram feitos de fino calcário; alguns tinham bases chatas, e outros redondas, com lados furados para suspensão sobre uma fogueira. Muitos eram enfeitados com arabescos, ziguezagues e meandros gravados. Alguns tinham imagens de animais — uma fila de três cachorros na superfície de um vaso. Vários almofarizes tinham sido muito polidos; um tinha o cabo esculpido na forma da cabeça estilizada de uma cabra. Encontraram-se muitas contas, em várias formas e tamanhos, e feitas de pedras coloridas. As chamadas estatuetas eram feitas da mesma pedra branca usada para fazer os vasos.

Hallan Çemi Tepesi parece demasiado sólida para um acampamento sazonal de caçadores- coletores; investiu-se muita mão-de-obra nas construções, e os vasos de pedra maiores foram evidentemente feitos como mobília. A cultura material altamente desenvolvida e o comércio de obsidiana sugerem uma sociedade tão complexa quanto a que floresceu em Ain Mallaha — e talvez mais imersa num mundo de símbolos e ritual. John Lubbock só descobrirá a consequência desses fatos muito mais tarde em suas viagens — quando chegar à Mesopotâmia em 11000 a.C., após ter viajado por quase todo o mundo.

Os arqueólogos ainda se esforçam por entender o novo estilo de vida que o povo do Natufiano Tardio dos vales do Jordão e Eufrates adotou durante o Jovem Dryas. Uma fonte reveladora de indícios é sua prática de sepultamento, e como isso mudou em relação à dos seus ancestrais que moravam em aldeias. Talvez o fato mais impressionante seja que as pessoas não eram mais enterradas usando elaborados adereços de cabeça, colares, braceletes e pingentes feitos de ossos de animais e conchas marinhas. O fato de que um quarto dos natufianos iniciais tinham sido enterrados desse jeito sugere que alguns eram muito mais ricos e poderosos que outros.

Riqueza e poder evidentemente dependiam do estilo de vida sedentário da aldeia. Isso proporcionou a uma elite a oportunidade de controlar o comércio que trazia conchas marinhas e outros artigos para as aldeias. O retorno a estilos de vida móveis varreu a sua base de poder e a sociedade tornou-se mais uma vez igualitária, em grande parte como fora no período kebarano. A ausência de conchas marinhas enfeitando os mortos não se devia ao fato de essas conchas não mais estarem disponíveis — são encontradas em abundância nos assentamentos do Natufiano Tardio. Em vez de serem postas nos mortos, eram simplesmente jogadas fora com o lixo doméstico, junto com contas e pingentes de osso. As conchas tinham perdido o valor porque não havia mais controle de sua distribuição - os caçadores-coletores podiam catar conchas marinhas por si mesmos e negociá-las com quem quisessem.

Outro sinal de retorno a uma sociedade mais igualitária foi a mudança do enterro de pessoas predominantemente em grupos — na certa como membros de uma única família ou linhagem — para os enterros individuais. É evidente que o fazer parte de uma mesma família não mais tinha o mesmo significado — as pessoas eram valorizadas com base em seus feitos e personalidades, e não de seus laços familiares. Mas é uma terceira mudança nas práticas de enterro que mais revela sobre a mudança na sociedade durante o Natufiano. Grande proporção de enterros natufianos é uma amontoada coleção de ossos, ou um esqueleto incompleto — frequentemente sem o crânio.

Esses são conhecidos dos arqueólogos como enterros secundários. Mostram que os ritos funerários eram muito mais que o simples fato de pôr o corpo na cova e deixá-lo lá. Em vez disso, tinha pelo menos dois, talvez vários, estágios no ritual de sepultamento — com toda probabilidade culminando quando muitos grupos se reuniam para o passamento final dos mortos.

É um dia de outono em 10000 a.C. A noite desce sobre o lago Hula, aparentemente anunciada por uma revoada de gansos. John Lubbock instala-se perto de sua pequena fogueira, feliz por ver a escuridão baixar e o sono chegar. Mas em , poucos minutos é perturbado por vozes humanas que vêm de um grupo cansado da estrada que passa a caminho de Ain Mallaha. Alguns são velhos e andam com cajados; outros são jovens e carregados pelos cansados pais. Altos latidos vêm da aldeia caindo aos pedaços, respondidos por pouco mais que ganidos dos cachorros que viajam com essas pessoas. Para os cachorros, Ain Mallaha será apenas mais um de muitos assentamentos visitados no correr de um ano. Mas para as pessoas, é um lugar sem igual — é seu lar ancestral e esta é a primeira visita que lhe fazem em muitos anos.

Suas viagens os levaram a vários outros dos seus acampamentos temporários — sítios abandonados quando a caça e as plantas locais ficaram demasiado esgotadas para sustentar a sua presença. Visitaram lugares onde pessoas tinham morrido e sepultadas. Em cada cova os ossos foram exumados e postos em cestos para serem trazidos para Ain Mallaha. De algumas, trouxeram esqueletos quase completos, mantidos inteiros pela pele seca e os tendões; de outros, apenas o crânio. Sempre que descansavam na viagem, os velhos recordavam as visitas que seus pais e avós haviam feito a Ain Mallaha, trazendo os ossos de seus mortos para reenterro. Os jovens ouviam avidamente. Sabiam as histórias de cor: que os ancestrais tinham morado em Ain Mallaha o ano todo; que tinha abundância de comida; que eles enfeitavam os corpos com roupas elaboradas e joias; que o lobo se tornara cachorro.

Lubbock junta-se ao grupo e entra na aldeia de Ain Mallaha, onde se fazem respeitosos e formais cumprimentos com o punhado de gente que vive nas decadentes moradas e guardam o sítio.

Os cestos e os poucos pertences que eles trazem são arriados. Acende-se uma fogueira e partilha-se um pouco de comida antes que o sono os reclame a todos.

Durante os poucos dias seguintes, chegam mais grupos a Ain Mallaha, cada um trazendo cestos com os ossos dos seus mortos. Quase cem pessoas já se reuniram, prontas para reviver o passado ancestral. Passam-se mais dois dias, enquanto se batem as matas em busca de caça e plantas comestíveis para os banquetes. Contam-se histórias, e torna-se a contá-las.

Lubbock ajuda na limpeza dos detritos de uma das moradas desabadas: pedras, galhos, madeiras podres e a Terra. Os antigos cemitérios de Ain Mallaha são reabertos. Em meio a hinos e cantorias, retiram-se os corpos dos novos mortos dos cestos e colocam-nos na Terra. Fazendo isso, o passado e o presente juntam-se num só. O ato de reenterro, os dias de festejos que se seguem, a vida comunitária, as histórias contadas e os banquetes recriam para os vivos os dias do passado ancestral. Esquece-se momentaneamente do desafio do presente — a luta pela sobrevivência durante a severidade da seca do Jovem Dryas.

As pessoas permanecem em Ain Mallaha o quanto suas reservas de comida permitem — dez dias, talvez duas semanas no máximo. Falam sem parar de onde estiveram, e do que pode guardar o futuro. Trocam presentes: pedras, conchas e, o mais intrigante de tudo, bolsas de couro com grãos de cereais, ervilha e lentilha.

Finalmente, os grupos partem para lados diferentes, cada um tendo ganhado novos membros e perdido outros. Estão todos agradecidos pela volta ao seu estilo de vida transitório nas áridas paisagens das colinas mediterrâneas, no vale do Jordão e além. Afinal, é o único estilo de vida que conheceram, e que adoram. Lubbock passou a adorá-lo também, sobretudo quando na companhia dessas pessoas que têm urna história para contar sobre cada vale e cada colina, cada poço e cada conjunto de árvores. Ele entra num grupo que parte caminhando para o sudeste, dirigindo-se para o vale do Jordão. Mochilas de sementes pendem de suas cinturas e balançam como pêndulos, parecendo conscientes do próprio tempo, sabendo que pouco resta para os que caçam e coletam seu alimento.

Não há indício arqueológico evidente de que o povo do Natufiano Tardio levava mochilas de cereais, lentilha e ervilha. Mas se o fazia, e depois espalhava as sementes quando chegava a seus campos outonais e colhia a safra de verão, antes de passar a viver em outra parte, isso explicaria como evoluíram o trigo e a cevada domesticados.

O trabalho experimental de Patrícia Anderson mostrou que o replantio de campos existentes — como podem ter feito os natufianos iniciais — teria causado pequena diferença na proporção de variantes não-quebradiças, devido à quantidade de sementes já existentes no solo. O que era necessário para que ocorresse a domesticação era que novos tratos de cereais, ervilha e lentilha fossem regularmente semeados e colhidos, e isso é provável que muitos latufianos tardios tenham feito. Mas que poderia tê-los levado a fazê-lo?

Sabemos que os tempos eram difíceis nas paisagens cada vez mais áridas do Jovem Dryas, mas ainda não está claro o grau de dificuldade. As secas certamente fizeram com que muitos poços e rios

No documento Depois do Gelo (páginas 43-51)

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