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Céu e Inferno em Çatalhöyük Florescimento do Neolítico na Turquia,

No documento Depois do Gelo (páginas 78-86)

9000 – 7000 a.C.

John Lubbock aproxima-se do fim de sua jornada pela revolução neolítica no oeste asiático, que transformou os caçadores-coletores de Ohalo nos agricultores, artesãos, mercadores e sacerdotes de Ain Ghazal. Dessa cidade, ele viajou 500 quilômetros para noroeste, em companhia de pastores e mercadores, atravessando o deserto sírio de oásis em oásis. Isso o levou ao Eufrates, onde na confluência com o rio Khabur ele visita a cidade de Bouqras, estabelecida num promontório que dá para a planície aluvial. Em seus prédios, encontra pinturas de parede — imagens de grandes gaivotas, grous ou cegonhas — a primeira visão de uma quantidade sempre crescente de obras de arte que vai encontrar nos estágios finais de sua jornada oeste asiática.

Mas Bouqras, como Ain Ghazal, já passou do seu auge; muitas das casas de adobe entraram em decadência. A planície aluvial antes provinha ampla terra para caça, pastagem e civilização. Agora chegaram os tempos difíceis, e a população diminuiu de mil para pouco mais de duas centenas no máximo. Alguns artesãos especializados continuam a trabalhar, produzindo ótimas tigelas de mármore e alabastro.

Lubbock parte para nordeste, seguindo o Eufrates pelas montanhas Taurus a leste e entrando nas ondulantes encostas de colinas do planalto Anatólio. Ali, o rio muda de direção, fazendo um arco para oeste por entre colinas estéreis de calcário entremeadas de planícies com florestas. Ali, não mais de 3 quilômetros ao sul do Eufrates, ele encontra a aldeia de Nevali Çori a cavaleiro das margens de um pequeno riacho tributário. Há cerca de 25 prédios abandonados — todos de um só andar, retangulares e construídos de blocos de calcário ligados com argamassa de barro — mas nenhuma pessoa. A aldeia está deserta, só se veem camundongos e ratos que correm de um lado para outro.

Várias casas foram alinhadas num terraço, com estreitas passagens entre si. Algumas são particularmente grandes, com quase 20 metros de comprimento, e divididas em aposentos vizinhos. A maioria tem piso de argamassa; onde estes decaíram, surgem canais de escoamento de pedra e túmulos.

Os pisos estão cobertos de lixo — ossos de animais, pilões quebrados, instrumentos de sílex e cestos desgastados. É evidente que o abandono da aldeia foi uma coisa feita aos poucos, com um lento declínio dos padrões de higiene e ordem. Em meio ao lixo, Lubbock encontra estatuetas de barro e sílex que caíram de prateleiras de madeira. Um rosto humano estilizado parece conhecido; lembra as máscaras usadas pelos "sacerdotes" de Ain Ghazal, que por sua vez eram semelhantes às máscaras de Nahal Hemar.

A área diante das casas também é uma bagunça. Vários grandes poços de assar começaram a encher-se de aluvião; outros ainda mostram os revestimentos de pedras. Cercados de animais desabaram, e ainda há grupos de pedras de moer em meio a casas e palha. Quem quer que tenha vivido em Çori evidentemente foi agricultor como o povo de Beidha, Jerico e Ain Ghazal; mas os daqui tinham crenças religiosas bastante diferentes, como Lubbock avalia ao entrar no que os arqueólogos chamam de "prédio de culto".

Fica na ponta noroeste do terraço, um prédio quadrado com os fundos na encosta natural. O telhado de junco quase desabou inteiramente, e as paredes desmoronam. Lubbock tem de espremer- se por entre madeiras caídas para descer os poucos degraus até o interior. Ao fazer isso, uma legião de cobras brota de debaixo do lixo no piso.

Um banco de pedra corre ao redor das paredes, dividido em partes por 10 colunas de pedra. Há outras colunas parecendo lages no meio do aposento. Estas têm capitéis em forma de T e parecem ombros humanos; quando ele olha de perto, vê um par de braços humanos esculpidos em baixo relevo em cada face. Dos degraus, olha um nicho na parede defronte. Contém uma cabeça humana, sobre a qual repousa uma cobra — cabeça e cobra esculpidas em pedra. As paredes em volta foram outrora densamente rebocadas e cobertas com exóticos murais pintados em vermelho e preto. Mas a maior parte do reboco caiu no chão, deixando as pinturas como as peças de um quebra-cabeça embaralhado.

Lubbock encontra outras esculturas, algumas de pé, algumas embutidas nas paredes e colunas. Há um grande pássaro, talvez abutre ou águia; uma terceira ave de rapina encima uma coluna com duas cabeças femininas esculpidas. E assim prossegue — mais pássaros, rostos que parecem parte animal e parte humano, outra cobra.

As escavações cm Necali Çori foram dirigidas por Harald Hauptmann, da Universidade de Heidelberg, entre 1983 e 1991, antes de o sítio ser inundado por um novo lago atrás da Represa de Ataturk. O assentamento foi criado na mesma época das cidades do PPNB do vale do Jordão, entre 8500 e 8000 a.C. Seus habitantes foram agricultores com trigo domesticado e rebanhos de carneiros e cabras, embora também se praticasse a caça e a coleta. Quando descobertos, as esculturas e entalhes de Nevali Çori não tinham nenhum precedente no Neolítico, embora tenham nítida origem nos de Göbekli Tepe, o centro de ritual no topo de monte do Neolítico Inicial localizado a não mais de 30 quilômetros de distância. Na verdade, foi só por escavar em Nevali Çori que Klaus Schmidt pôde reconhecer de pronto as lages de calcário naquele lugar como tendo vindo de colunas esculpidas do Neolítico.

O desenho do prédio de culto de Nevali Çori, com suas colunas de pé e bancos, tem uma impressionante semelhança com os prédios do PPNA de Göbekli Tepe, com exceção de sua forma mais retangular que circular. Em 8500 a.C. porém, prédios retangulares eram também só o que se podia ver sobre aquela colina de calcário. As construções circulares, com suas grossas colunas esculpidas, tinham sido deliberadamente enterradas por toneladas de terra, e a área, onde ficavam, demarcada por um muro de pedra. Novos prédios retangulares foram construídos além desse muro, deixando um espaço vazio onde antes ficavam os prédios anteriores agora sepultados. Dentro desses novos prédios, ergueram-se de novo colunas esculpidas com animais selvagens, de forma idêntica aos enterrados sob a terra mas sem seu tamanho monumental. Como Schmidt ainda não encontrou vestígios de atividade doméstica ligadas a esses novos prédios, ele desconfia de que Göbekli continuou como um centro ritual até ser abandonado, provavelmente por volta de 7500 a.C.

O prédio de culto em Nevali Çori, porém, fizera parte de um assentamento dominado por moradias, da mesma forma que se encontraram prédios especiais na aldeia de caçadores-coletores de Hallan Çemi Tepsi — o assentamento de 10000 a.C. localizado 200 quilômetros a leste de Nevali Çori. Também se encontraram prédios de culto num assentamento localizado a meio caminho entre as duas, conhecido hoje como Çayönu. Isso oferece mais indícios do florescimento de uma cultura no sudeste da Turquia.

Çayönu tem um histórico de escavação muito mais longo que Nevali Çori e Hallan Çemi Tepsi — começou em 1962 e continuou até 1991. O sítio fica na extensão mais ao norte das baixadas mesopotâmicas, localizado na planície de Ergani, que é cortada pelo Eufrates e o Tigre. Fica à sombra das montanhas Taurus, numa paisagem inteiramente árida — embora um rio sazonal ainda corra pelo sítio. Quando ocupado, havia mangues e pântanos próximos, onde os castores e lontras eram capturados. É um sítio impressionante para visitar-se, um lugar de imensa tranquilidade c com um forte senso de seu passado pré-histórico — um enorme alívio após termos lido de passar pelas várias barreiras militares que bloqueiam hoje as estradas do leste da Turquia.

A ocupação começou em Çayönu pelo menos em 9500 a.C., tornando-a contemporânea das primeiras ocupações de Jericó e da construção do centro ritual de Göbekli Tepe. Seu primeiro povo também construiu moradias circulares, cultivou o trigo e continuou dependendo de animais selvagens, sobretudo porcos, gado e gamo. Em 8000 a.C., porém, já praticava uma forma inteiramente diferente de arquitetura. Fizeram-se grandes prédios retangulares de pedra, usando uma "planta de grade" como fundação — quer dizer, uma série de baixas paredes paralelas sobre as quais se pusera um piso de madeira e argamassa. Tratava-se provavelmente de proteção contra o chão úmido e as periódicas inundações. Pelo menos 40 desses prédios com "planta de grade" foram construídos, os maiores divididos em múltiplos aposentos e oficinas. Asli Özdogãn, da Universidade de Istambul, escavador mais recente, acredita que pelo menos seis fases arquitetônicas são visíveis nos estilos e formas ligeiramente novos de prédios adotados.

A grande expansão da aldeia refletiu a adoção de uma economia agrícola mista plenamente desenvolvida — provavelmente um dos primeiros assentamentos a fazer isso. Construiu-se uma "praça" central, supostamente para reuniões e cerimônias públicas, junto com o prédio de culto onde se faziam enterros coletivos e guardavam-se crânios humanos — nada menos que 70 foram descobertos dentro de um único aposento. Embora não se encontrassem objetos de arte monumental em Çayônu para comparação com os de Nevali Çori e Göbekli Tepe, mais de 400 estatuetas de barro, sobretudo de seres humanos e animais, foram escavadas do meio do lixo doméstico. Mas apesar desse uso do barro, e de uma ampla gama de atividades artesanais que incluem a feitura de tigelas

de pedra, não se encontrou na aldeia nenhum vestígio de vasos de cerâmica. Mesmo assim, o povo de Çayönu certamente forçava as fronteiras da tecnologia — pegavam minério de cobre de jazidas a 20 quilômetros de distância e martelavam-no em contas, ganchos e folhas de metal.

Lubbock parte de Nevali Çori para oeste e faz uma longa viagem, cruzando as montanhas Taurus e entrando no planalto da Anatólia central. Passa por várias pequenas aldeias e algumas cidades maiores. Durante parte da jornada, ele viaja com pastores e em outra com pessoas que visitam parentes em aldeias distantes ou se dirigem para as "brilhantes colinas negras".

Essas colinas são feitas de obsidiana e encontradas na região que descrevemos hoje como Capadócia. Mesmo em 7500 a.C. as pessoas já as vinham visitando havia vários anos, para recolher o vidro vulcânico depois comerciado e trocado em todo o oeste asiático. A obsidiana que Lubbock viu em Abu Hureyra, Jericó e Ain Ghazal veio da Capadócia — muito provavelmente depois de passar por muitas mãos e famílias diferentes no caminho.

Não surpreende, portanto, que grandes montes de lascas e núcleos jogados fora cerquem muitas das obras em obsidiana, da qual só os melhores pedaços foram retirados. As oficinas, nas quais se podem obter enormes lucros da pedra em troca de contas, peles e minério de cobre, são abundantes. Mas a obsidiana cobre uma área demasiado grande para que se controle todo acesso. E Lubbock passa por muitos pequenos grupos que ou pegam grandes nódulos no chão ou simplesmente quebram grandes lascas de afloramentos da altamente valorizada pedra negra.

Seus companheiros se dirigem para a cidade que conhecemos hoje como Asikli Höyük, localizada na parte oeste da Capadócia, um espraiado assentamento de prédios de adobe. Mas Lubbock toma um rumo diferente, e atravessa o planalto anatólio até sua planície mais ao sul, indo para a cidade neolítica de Çatalhöyük.

Durante toda sua viagem desde Nevali Çori, a vegetação mudou constantemente de estepe para mata e de mata para estepe, sensível as muitas variações na topografia e água — vale de encostas a pique, colinas ondulantes e planície chã cortada por muitos rios. Algumas das matas são agora compostas de enormes carvalhos, por entre os quais ele capta passageiros vislumbres de gamo e gado. Enormes aves de rapina parecem circular interminavelmente no céu.

É 7000 a.C., e Çatalhöyük se acha no seu auge. Quando Lubbock se aproxima, entra numa paisagem densamente cultivada. Os sinais de derrubada de árvores são comuns — a mata evidentemente se transforma num precioso recurso, pois os cortes mais novos são das árvores menores. Aparecem pequenos campos, em que mulheres e crianças completam seu dia de trabalho, e meninos conduzem rebanhos de carneiros e cabras de volta à segurança noturna da cidade. Esta agora se torna visível, surgindo como uma sólida massa à meia luz do entardecer.

Çatalhöyük é inteiramente diferente de qualquer lugar que Lubbock já viu. Parece ter um muro perimetral contínuo, que não tem entrada nem desejo de receber hóspedes indesejáveis. Olhando mais de perto, Lubbock percebe que não é de modo algum um muro único, mas o resultado de muitas paredes juntas de prédios individuais que se apegam uns aos outros como com medo do que há fora deles. Um rio sujo, coalhado de lixo, estagna-se ao longo de um lado, levando a mangues e pântanos fedorentos atrás da cidade. Do outro lado há uma lagoa lodosa, em torno da qual se instalam as cabras para passar a noite.

Lubbock observa os trabalhadores do campo que voltam para casa; eles sobem em escadas de madeira para os telhados, dispersam-se e desaparecem por um labirinto de caminhos ali em cima, degraus e escadas que conduzem de nível em nível e de casa em casa. Entre os caminhos há telhados de barro planos, alguns evidentemente usados como oficinas para fabricação de instrumentos e cestos. Uns poucos desabaram, deixando buracos escancarados que revelam os aposentos embaixo. Às vezes os caminhos beiram pátios inteiramente cercados por paredes de adobe; destes vem o fedor de detrito humano.

Cada casa tem um alçapão de entrada no lado sul e pequenas janelas em qualquer parede exposta acima do telhado vizinho. Algumas portas estão abertas, soltando fumaça e a luz de tremulantes lâmpadas de azeite no ar frio da noite; às vezes um brilho mais ousado, mais forte, emana de uma lareira bem alimentada.

Escolhendo uma porta aberta, Lubbock desce por uma escada de madeira para a área de cozinha de um pequeno aposento retangular. Vê à sua frente uma lareira elevada — uma plataforma com um rebordo para evitar algum transbordamento de cinzas. Emite um profundo fulgor e um baixo calor do combustível de estrume animal. Próximo, construiu-se um forno na parede, revelando adobes ordenados, e ao lado uma bilha de barro com um buraco na base, do qual caem lentilhas. Há utensílios espalhados, um cesto com raízes e uma cabra pequena amarrada na parede. Como tal, é uma cena doméstica conhecida, que poderia ser encontrada em Jericó ou Am Ghazal. Mas então Lubbock se volta e vê uma cena monstruosa de touros irrompendo da parede.

São três, à altura da cintura — cabeças brancas com raias pretas e vermelhas, das quais brotam enormes chifres pontudos que parecem ameaçar toda a vida humana dentro da casa. Ao lado de Lubbock, uma mulher e um homem sentam-se numa plataforma elevada vizinha aos touros, cabisbaixos, comendo pão em silêncio. Entre eles, uma criança deixou seu pão intocado no prato de madeira.

Em volta dos touros as paredes são pintadas com fortes desenhos geométricos — imagens nítidas e opressivas acima de impressões palmares em preto e vermelho semelhantes às pintadas na caverna francesa de Pech Merle no LGM. Mas enquanto aquelas mãos de caçadores-coletores da era do gelo eram acolhedoras, estendidas em saudação aos visitantes dentro da caverna, estas mãos agrícolas de Çatalhöyük parecem mais uma advertência ou um pedido de socorro — seu povo está preso dentro de um bestiário do qual não pode escapar.

E assim começa a excursão noturna por Çatalhöyük, uma visão de pesadelo do mundo que a agricultura trouxe a esses membros da humanidade. Primeiro, Lubbock rasteja por uma pequena entrada para escapar do aposento, mas isso não leva a parte alguma, apenas a um depósito onde se empilham cestos e couros. Por isso ele retorna ao telhado e tenta outra casa, e depois outra e mais outra. Em cada uma, encontra a mesma coisa — a lareira, o forno, a bilha de grão, a plataforma, tudo disposto de forma idêntica, em aposentos de tamanho e forma quase idênticos. Muitos aposentos têm estatuetas de barro dentro de pequenos nichos, ou simplesmente no chão; algumas são evidentemente de mulheres, outras de homens, mas muitas parecem inteiramente sem sexo. A mais espantosa é uma mulher que se senta num trono, ao lado de uma bilha de grão. Tem de cada lado um leopardo; repousa uma mão em cada cabeça, e as caudas dos animais se enroscam em seu corpo.

Os touros variam de aposento para aposento, mas são sempre chocantes, sobretudo quando encontrados nos fortes raios de luar que agora entram pelas minúsculas janelas, ou pelas chamas que dão vida às feras. Há cabeças de touros com longos chifres retorcidos, outras com as caras cobertas

de desenhos exóticos, e ainda outras empilhadas umas em cima das outras do chão ao teto. Alguns aposentos têm colunas de pedra com chifres, ou longas filas de chifres postas em bancos, desafiando qualquer um a sentar-se ao seu alcance.

Juntam-se a desenhos geométricos imagens de grandes abutres negros atacando perversamente pessoas sem cabeça, e cenas de gamos e bois enormes cercados por minúsculas pessoas em frenesi. As pessoas reais dormem em suas plataformas. Jazem em posições contorcidas, às vezes acordando de repente e olhando Lubbock que passa, como se pudessem ver mais um intruso em suas vidas.

Lubbock sobe e desce escadas, de aposento em aposento, de horror em horror, até cair exausto e jazer prostrado diante de outra parede esculpida. Põe-se de joelhos de frente para um par de seios femininos que emergem do adobe e reboco. Os dois mamilos estão divididos, e dentro há crânios de abutres, raposas e fuinhas: a própria maternidade violentamente conspurcada. Lubbock não aguenta mais e rasteja pelo chão para a escuridão de breu de um depósito. E ali se esconde, na esperança de que a luz do dia traga libertação desse inferno neolítico.

Era um frio dia de novembro de 1.958 quando James Mellaart, bolsista do Instituto Britânico de Arqueologia em Ancara, chegou ao monturo de Çatalhöyük. Ele vinha buscando sítios arqueológicos na planície de Konia, no planalto anatólio, desde 1951, e na verdade vira o monturo de longe em seu segundo ano de trabalho. Quando por fim o examinou, este encontrava-se coberto de mato, a superfície batida pelos ventos sudoeste, que haviam revelado os inequívocos vestígios de paredes de adobe e exposto artefatos como pontas de flecha de obsidiana e fragmentos de cerâmica. Mellaart soube imediatamente que fizera uma descoberta importante. Ao seu olho treinado, os artefatos eram inequivocamente do Neolítico, um período de assentamento então desconhecido na região. E o monturo era enorme, de 450 metros de comprimento e cobrindo 13 hectares. Mas ele não tinha ideia de como aquilo ia se revelar importante. Çatalhöyük simplesmente mostrou ser o mais notável assentamento neolítico já descoberto — embora esse status deva agora ser dividido com Göbekli Tepe, ou talvez mesmo a ele cedido.

Mellaart escavou o assentamento entre 1961 e 1966, revelando não mais que uma minúscula fração da quina sudoeste. Suas descobertas de paredes pintadas, cabeças de touros, túmulos e estatuetas humanos logo se tornaram famosas em todo o mundo. Junto com estes havia uma impressionante série de artefatos, incluindo espelhos feitos de obsidiana e cabos de adaga delicadamente talhados.

Mas que descobrira ele, exatamente? Havia uma série de aposentos: os maiores e mais elaborados julgados santuários, os menores, moradias domésticas. E no entanto, apesar das esculturas e pinturas, sinais de artesãos especializados e complexidade arquitetônica, não havia indício de casta sacerdotal, chefes políticos ou prédios públicos.

Mellaart entrou no Instituto de Arqueologia de Londres, onde suas aulas na década de 1970 eram fascinantes, sobretudo para um universitário chamado Ian Hodder. Em 1993, Hodder se tornou

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