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A disseminação da agricultura na Europa Central e seu impacto na sociedade mesolítica,

No documento Depois do Gelo (páginas 162-170)

6000 – 4400 a.C.

Por volta de 6000 a.C., os povos mesolíticos do norte da Europa ouviam relatos à beira da fogueira de visitantes sobre um novo povo no leste, pessoas que viviam em grandes casas de madeira e controlavam a caça. Em breve, encontraram os próprios vizinhos mesolíticos usando machados de pedra polida, modelando vasos de cozinha de barro e arrebanhando gado para si mesmos. Quando as aldeias agrícolas chegaram às suas terras de caça, olhos mesolíticos espiaram por trás de árvores as longas casas de ripas de madeira, o gado preso com cordas c as colheitas brotando, e sentiram emoções confusas — medo, reverência, desânimo, repugnância.

A geração mais velha deve ter-se esforçado para entender o que via. Embora eles mesmos tivessem derrubado árvores e construído moradas, as novas fazendas estavam muito além da sua compreensão. Os agricultores pareciam decididos a controlar, dominar e transformar a natureza. A cultura mesolítica não fora mais que uma extensão do mundo natural. Seus machados de pedra lascada eram apenas uma elaboração da obra da natureza, o uso por ela de rios e geadas para fragmentar nódulos de pedra e fazer pontas afiadas. Cestos de palha e tapetes tecidos não passavam de formas extravagantes de teias de aranha e ninhos de pássaros feitos por mãos humanas.

A cerâmica dos agricultores — produto de barro e areia misturadas, cozido, decorado e pintado — não tinha precedentes no mundo natural. Quando amolavam e poliam seus machados, alisando-os, os agricultores pareciam decididos a negar a angulosidade natural da pedra. Construir uma casa mesolítica exigia não mais que promover e combinar a existente flexibilidade da aveleira, o encordoamento do salgueiro e as folhas de casca da bétula que já vinham prontas para o uso; as longas casas de ripas de madeira, por outro lado, exigiam que se rasgasse a natureza e construísse o mundo de outra forma.

É possível que os homens e mulheres mais velhos se tivessem retirado das florestas do centro da Europa, abandonado seus terrenos de caça e insistido em que se passasse mais tempo celebrando o mundo natural. Mas cantavam e dançavam contra a maré da história: a geração mais moça tinha ideias muito diferentes. Vários já haviam nascido num mundo em que agricultores, cerâmica, gado e trigo eram tão naturais quanto o javali e as coletas anuais de nozes e bagas. E assim fizeram contato com os recém-chegados. Trabalharam para os agricultores como mão-de-obra, rastreadores e caçadores. Dedicaram-se ao comércio, aprenderam a fazer cerâmica e a arar a terra. Suas filhas casavam-se com os agricultores e logo seus filhos se tornavam eles próprios agricultores.

Os que continuaram com sua cultura mesolítica nas florestas do norte tiveram de ajustar seus padrões de caça e coleta tradicionais. Tinha-se de obter peles, caça, mel e outros produtos florestais para o comércio; os recursos naturais eram atacados e ficavam mais esgotados. E à medida que um número cada vez maior de mulheres se juntava aos camponeses, vendo a agricultura como uma garantia de muito maior segurança para si mesmas e seus filhos, passava a ter menos delas para manter as populações mesolíticas. Terra e mulheres tornaram-se fontes de tensão que muitas vezes transbordavam na violência tão brilhantemente documentada nos túmulos mesolíticos.

Em 5500 a.C., um novo tipo de cultura agrícola surgira das margens da planície húngara: a Linearbandkeramik, que os arqueólogos felizmente abreviaram para LBK. Propagou-se com espantosa rapidez para leste e oeste, para a Ucrânia e o centro da Europa. Enquanto Lubbock remava a canoa para Skateholm, os agricultores da LBK transpunham e abriam clareiras nas florestas transitórias da Polônia, Alemanha, Países Baixos e leste da França.

Era um tipo de Neolítico muito diferente do que surgira na Grécia e se espalhara para o norte pelos Bálcãs até chegar à planície húngara. Como indica seu nome, LBK, esses agricultores decoravam sua cerâmica com faixas de linhas finas; construíam longas casas de madeira e dependiam do gado bovino, em vez de carneiros e cabras. No entanto, os arqueólogos tradicionalmente julgavam que os agricultores da LBK eram descendentes diretos dos imigrantes originais do oeste da Ásia e representavam uma nova fase de sua migração pela Europa.

A identidade deles agora foi contestada. Marek Zvelebil afirma que os povos do Mesolítico que viviam nas periferias da planície húngara adotaram práticas agrícolas por si mesmos — observando e aprendendo com os novos imigrantes, trocando estoques e grão domésticos. É provável que tenha havido alguma mistura das populações, talvez pelo casamento, talvez pelo roubo de mulheres ao estilo ianomâmi. Mas as pessoas do Mesolítico fizeram muito mais que apenas copiar os imigrantes. Adaptaram o estilo de vida agrícola para ajustar-se aos solos, climas e florestas do centro da Europa — criaram elas próprias a LBK. E quando suas novas populações agrícolas começaram a expandir-se, elas se espalharam ao mesmo tempo para leste e oeste, mantendo uma admirável consistência em todos os aspectos de sua nova cultura — a arquitetura das casas, a disposição das aldeias, a organização social e economia. E assim, segundo Zvelebil, os camponeses neolíticos LBK da Europa eram descendentes diretos dos caçadores-coletores mesolíticos nativos, e não dos imigrantes que haviam chegado originalmente à Grécia.

Qualquer que tenha sido sua ancestralidade, os novos agricultores viajaram para oeste a notável velocidade, cobrindo 25 quilômetros por geração. Assim como os agricultores imigrantes originais do sudoeste da Europa, encheram cada nova região de solos férteis com fazendas e aldeias e depois saltaram solos menos favoráveis, estabelecendo uma nova fronteira. Essa rapidez reflete mais que o sucesso de seu estilo de vida — indica uma ideologia de colonização, uma atração pela "vida de fronteira", semelhante, alguns sugeriram, à dos bôeres da África do Sul e os pioneiros do oeste americano.

A mentalidade "de fronteira" talvez possa explicar também a uniformidade cultu r a l dos agricultores LBK. Uma casa da aldeia de Cuiry-les-Chaudardes, na bacia de Paris, vai parecer quase idêntica a uma de Miskovice, na República Tcheca, construída a quase mil quilômetros de distância e vários anos antes. Os da fronteira aderiram a um assentamento "ideal", que lembravam de sua terra natal, embora essa "terra natal" tivesse começado a mudar — como tinham feito os colonos agrícolas

em Chipre, perseverando em suas pequenas habitações circulares quando a arquitetura retangular se tornava ubíqua no oeste da Ásia.

Os novos agricultores do centro da Europa roçavam pequenas faixas de florestas e construíam longas casas, em geral de 12 metros de comprimento, às vezes três ou quatro vezes maiores. Trigo e cevada eram cultivados em pequenos tratos, às vezes com ervilhas e lentilhas. Seu gado pastava nas exuberantes matas e os porcos chafurdavam no lixo de folhas embaixo das árvores. Como ocorrera em Nea Nikomedeia, a família era a unidade social essencial; tomava suas próprias decisões e tentava manter sua independência, mas no fim continuando a depender das outras em tempos de necessidade.

As longas casas eram sólidas, construídas com três colunas de madeira internas, ladeadas por fileiras de estacas que suportavam as paredes de taipa. O barro do reboco era muitas vezes retirado da parte externa imediata das próprias paredes, criando convenientes fossos para jogar fora o lixo doméstico. Dentro, as longas casas eram em geral divididas em três partes, possivelmente usadas para armazenagem, cozinha e refeição, e para dormir. Tem de ser "possivelmente", porque todas as gerações de agricultores posteriores, incluindo os dos tempos modernos, foram atraídos exatamente para os mesmos solos férteis preferidos pela LBK. Os pisos das longas casas foram destruídos por arados modernos, deixando os arqueólogos apenas com os círculos de terra escurecida que marcam onde as estacas de madeira sustentaram um dia telhados e paredes.

Algumas das longas casas ficavam sozinhas dentro das matas; em outros lugares, 20 ou 30 alinhavam-se cm ordem, cada uma com as portas dos fundos dando para o leste. Nessas aldeias, as casas achavam-se em vários estágios de conservação. Quando o último membro de uma casa morria, a morada era abandonada, mesmo tendo a estrutura perfeita. Era simplesmente deixada para desabar na aldeia, e terminava como um longo monte baixo de detritos — uma casa "morta" para combinar com a família "morta".

As próprias pessoas eram enterradas em cemitérios contíguos à sua aldeia. A preservação de ossos é em geral tão má que raras vezes sobrevive alguma coisa mais que débeis traços de esmalte de dente durável em cada cova. Quando se encontram ossos, eles sugerem que todos os membros da comunidade foram enterrados juntos — homens e mulheres, velhos e crianças. Machados, enxós, pontas de flecha e ornamentos de concha são muitas vezes colocados com os homens, esmeris e sovelas com as mulheres. Não há vestígios de indivíduos muito ricos ou poderosos, e só poucos indícios de crença religiosa e práticas rituais.

John Lubbock ainda não encontrou nenhum desses agricultores quando explora o mundo da Dinamarca mesolítica a desintegrar-se lentamente. Mas sua jornada logo o colocará frente a frente com os recém-chegados.

Da baía de Skateholm, ele transpôs a costa dinamarquesa e depois viajou para o norte, e agora chega a uma estreita enseada que acabará por tornar-se uma terra pantanosa atrás da cidade de Vedbaek, uns 20 quilômetros ao norte de Copenhague. Em 4800 a.C., a enseada é muito parecida com a lagoa de Skateholm — um valorizado local de caça, pesca e aves selvagens, pela qual as pessoas se dispõem a lutar e morrer, e onde vão morar até muito depois da morte. Vários pequenos assentamentos se espalham em volta de suas margens; Lubbock opta por visitar um e constata que foi abandonado recentemente — as fogueiras ainda fumegam e um cachorro preso a uma corda acabou de ser alimentado.

Os habitantes estão reunidos no cemitério, num outeiro baixo atrás da aglomeração de suas cabanas de mato cerrado. Espremendo-se entre eles, Lubbock vê um recém-nascido sendo baixado numa cova perto da jovem mãe. Ela não parece ter mais de 18 anos; na certa esse foi o primeiro e último filho que teve. Deitada de costas, parece resplandecente — o vestido tem argolinhas de contas de concha de lesma e uma legião de belos pingentes. Um manto com decoração semelhante foi dobrado para fazer um travesseiro no qual se espalhou seu cabelo louro. As faces ardem em intenso fulgor, empoadas com ocre vermelho — talvez um lembrete do sangue que correu.

O corpinho arroxeado é estendido ao lado dela, não na terra, mas envolto no último abraço macio de uma asa de cisne. Põem uma grande lâmina de sílex sobre o minúsculo corpo, como se teria feito se o bebê tivesse crescido e morrido como adulto. Lubbock vê o pigmento vermelho em pó ser soprado de uma cumbuca de madeira e cair flutuando sobre o cadáver do bebê.

Quando escavado em 1975, esse túmulo foi simplesmente designado como "Cova 8" do cemitério de Bogebakken, localizado durante a construção de um estacionamento de carro. Escavaram-se mais 16 outras sepulturas; quase todos os corpos tinham sido identicamente arrumados — de costas, os pés juntos e as mãos aos lados. As sepulturas eram em bem cuidadas fileiras paralelas, muito diferentes da arrumação aleatória dos corpos em posições variadas em Skateholm.

A asa de cisne na Cova 8 talvez tenha sido muito mais que um confortável lugar de descanso para o quase filho. Entre o povo Saami do norte da Europa do século XIX, cisnes e aves selvagens eram os mensageiros de Deus. Esses pássaros, afinal, podiam andar na terra, nadar na água e voar no ar — capazes de mover-se entre diferentes mundos. Talvez as pessoas do Mesolítico tivessem igualmente reverenciado seus cisnes e deixado que um fizesse aquela criança voar para seu outro mundo, onde poderia ter a vida que lhe fora negada na terra.

De Vedbaek, Lubbock dirige-se para o sul, mantendo-se perto da margem e passando por densos leitos de junco sob os amieiros que bordejam a frondosa floresta estival. Um profundo aroma musgoso de detritos decompostos flutua dos rasos, mas em toda a volta sente-se a vibrante azáfama de vida — peixes e sapos saltando, libélulas, patos e uma trilha aparentemente contínua de aldeias e campos de pesca ao longo da margem.

Embora as pessoas que Lubbock encontra reverenciem os veados-vermelhos e os javalis das florestas, esses animais não são caçados com frequência e pouco contribuem para a dieta, quando comparados com o constante suprimento de comidas do mar e de água doce: peixes, crustáceos, pássaros, enguias, camarões e uma ou outra foca ou toninha. Felizmente para os arqueólogos, essa dieta do Mesolítico deixará um traço químico em seus ossos. Não fosse por isso, e as técnicas científicas para analisar a química de ossos, os arqueólogos poderiam facilmente ter julgado que o povo mesolítico dependia mais da caça que da pesca, em vista de sua preferência por ornamentos leitos de dentes de gamo e presa de javali.

A pesada dieta marinha talvez explique por que as pessoas que Lubbock encontra parecem indispostas: barrigas dilatadas, rostos pálidos, diarreia e náusea. Copiosas quantidades de peixe podem levar a uma infestação de parasitas, que por sua vez prejudica o funcionamento dos rins e intestinos. Só resta um traço arqueológico disso quando a infestação se torna grave — os ossos do crânio às vezes engrossam, como se constatou em alguns espécimes do Mesolítico na Dinamarca.

No assentamento de Tybrind Vig, na costa oeste da Zelândia, Lubbock aperta-se na parte de trás de uma canoa que parte para a pesca noturna nas águas superficiais de uma baía de fundo lodoso. Quando cai a escuridão, acende-se uma fogueira num leito de areia na própria canoa e logo

um emaranhado de enguias pulula em torno do barco, atraído pela luz. Os pescadores põem-se em posição vertical para fisgá-las com arpões de três dentes. Lubbock permanece sentado, vendo as mariposas em volta das chamas e admirando a excelente canoa feita de um único toro de limoeiro — e mais particularmente os remos em forma de coração. Cada um foi esculpido de freixo e depois decorado com um intrincado desenho geométrico, talhado na superfície e preenchido com pigmento marrom-escuro.

Lubbock vira remos semelhantes em uso quando andara pela margem; seus companheiros do Mesolítico sabiam imediatamente, pelo desenho, de onde viera a canoa e para onde era possível que fosse. Lubbock logo percebeu que as pessoas do Mesolítico estavam tão atentas no controle do paradeiro umas das outras quanto no dos cardumes e animais.

Das ilhas, Lubbock atravessou para a Jutlândia e a mata aberta de seus solos arenosos no outro lado. O extremo norte da Jutlândia é profundamente endentado com fiordes, e ele encontra pessoas criando enormes montes de conchas de molusco, espinhas de peixe e outros dejetos domésticos. Já lera sobre esses sítios em Tempos pré-históricos. Na década de 1860, seu xará vitoriano fez duas visitas aos monturos de conchas, ou Kokkenmoddinger, como os chamavam os arqueólogos do século XIX. Durante uma visita, o John Lubbock vitoriano escavou sua parte num monturo e recolheu instrumentos de sílex.

O Lubbock moderno chegou ao que hoje chamamos de monturo Ertebolle: uma contínua massa de conchas de cerca de 20 metros de largura, vários de espessura e estendendo-se por mais de 100 pela margem. Uma extremidade é pantanosa e junto à fonte que primeiro atraiu as pessoas ao lugar. Os vastos bancos de ostras, mexilhões, berbigões e litorinas encontrados logo ao largo também eram atraentes — produto de água salgada rica em nutrientes e abrigada. Ele senta-se numa pilha de conchas e ossos jogados fora junto ao lugar onde grupos de pessoas se acham em ação. O cheiro do monturo de lixo é quase esmagador, mas só Lubbock parece notar. Algumas pessoas trabalham em pedras; outras se agrupam em volta de fogueiras ou estripam peixes. A atenção de Lubbock é atraída, porém, para uma atividade que jamais vira um caçador-coletor realizar: uma mulher transforma um punhado de barro num vaso de cerâmica.

Todos os que trabalharam no monturo em 4400 a.C. deixaram vestígios para Soren Andersen, da Universidade de Aarhus, encontrar quando escavou Ertebolle em 1983: conjuntos de lascas de sílex, ossos de animais amontoados em volta de poços cheios de carvão, densas pilhas de espinhas de peixe. Andersen não foi o primeiro a escavar o sítio. Quase cem anos antes, o Museu Nacional investigara o grande monte de concha e usara seu nome para o último dos povos do Mesolítico na Dinamarca: a cultura Ertebolle. O John Lubbock moderno lera sobre o trabalho do Museu em Tempos pré-históricos. Formara-se um comitê composto de um biólogo (Professor Steenstrup), um geólogo (Professor Forchhammer) e um arqueólogo (Professor Worsaae) para examinar o Kokkenmoddinger — a pesquisa interdisciplinar sempre foi reconhecida como necessária para investigar o passado. Como escrevera o John Lubbock vitoriano: "Muito, claro, se esperava desse triunvirato, e as esperanças mais entusiásticas foram realizadas."

Soren Andersen, trabalhando com sua própria equipe interdisciplinar, escavou dentro e em volta do monturo, à procura de casas e túmulos. O John Lubbock vitoriano supusera que as conchas se acumulavam em volta de "tendas e cabanas", os montes sendo "sítios de antigas aldeias". Mas Andersen não encontrou casa alguma; o John Lubbock moderno poderia ter-lhe dito por quê. Apenas abrigos frágeis eram erguidos em volta do monturo e, quando se expandiam, os escassos traços de

sua presença — buracos de estacas de sustentação — eram enterrados por novas camadas de conchas. Mas o John Lubbock moderno não viu sinais de um cemitério e continuou tão ignorante quanto Soren Andersen em relação ao que acontecia com os mortos.

Como todos os caçadores-coletores, as pessoas de Ertebolle sabiam exatamente onde, quando e como explorar diferentes animais e plantas à medida que mudavam as estações. No inverno, iam para o extremo norte da Jutlândia pegar os ruidosos cisnes europeus que chegavam como migrantes à costa dinamarquesa — deixando um conjunto de ossos de cisne esquartejados e artefatos hoje conhecidos como sítio de Aggersund. Alguns iam para Vanego So, uma ilhota na costa leste e perto da margem de uma baía rasa. Era perfeita para baleias desgarradas. Durante os meses de outono, visitavam regularmente a ilhota de Dyrholm. Ali pegavam enguias que abundavam nos baixios e esfolavam-nas com facas de lâmina de pedra.

Esses movimentos sazonais ao longo da costa foram identificados por uma detalhada análise de ossos de animais feita por Peter Rowley-Conwy na década de 1980, usando as últimas técnicas de "arqueozoologia", e indicaram a probabilidade de que algumas pessoas tenham vivido permanentemente no monturo de Ertebolle. Ele apenas desenvolvia, porém, as intuições do John Lubbock vitoriano, que já concluíra "ser altamente provável que os ‘construtores de montes' habitassem a costa dinamarquesa o ano inteiro", baseado nos vestígios de ossos de cisne, chifres e os ossos de mamíferos jovens descobertos nos monturos. Os primeiros indicavam ocupação de inverno, pois os cisnes eram migrantes da estação fria; os segundos sugeriam outono, quando brotavam as galhadas dos gamos; e os terceiros, primavera, quando nascem os filhotes. O John Lubbock vitoriano era arqueozoólogo antes de se conhecer o termo.

Também era atento aos vestígios botânicos, observando que a ausência de grãos sugeria que faltava "aos homens dos Kokkenmoddinger" qualquer conhecimento de agricultura. Nem as conchas escaparam de sua mente investigativa; o John Lubbock vitoriano notou que as dos monturos eram muito maiores que as que se encontram hoje na costa dinamarquesa, e que as ostras haviam desaparecido completamente. Chegou a essa conclusão pelas concentrações modificadas de sal na

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