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Caçadores-coletores sedentários e agricultores imigrantes, 6500 – 6200 a.C.

No documento Depois do Gelo (páginas 145-153)

Viagens de pesca, churrascos e florestas de pinheiro após a chuva — lembranças misturadas trazidas pelo persistente cheiro de fumaça de lenha. John Lubbock acorda num duro piso de reboco na estreita extremidade de uma habitação em forma de tenda. Ao sentar-se e olhar para fora, vê um rio largo com íngremes encostas arborizadas abaixo de penhascos de calcário. O sol acabou de levantar-se. Ele ouve passos e vozes.

As paredes de palha da moradia erguem-se até um comprido pau de cumeeira do qual pendem cestos de vime e arpões de osso. Blocos de calcário cercam um fosso no chão contendo as cinzas ainda quentes de lenha de pinheiro, onde embrulhos de peixe foram assados na noite anterior. Há gamelas com água e ervas em cima das lajes do piso perto da entrada. Lubbock vira-se e encontra o silencioso olhar de uma rocha arredondada do rio, esculpida com olhos esbugalhados, lábios inchados e um corpo coberto de escamas. É do dono da casa.

Saindo, ele constata que a sua é apenas uma das vinte e poucas choupanas dispostas num terraço acima do rio. Uma aldeia de caçadores-coletores — a primeira de suas viagens europeias. A princípio, o faz lembrar-se de Ain Mallaha e Abu Hureyra, no oeste da Ásia, em 12500 a.C. Mas um segundo olhar mostra-a muito diferente — canoas atracadas e redes penduradas para secar. É uma florescente aldeia de pescadores, enquanto a cidade de Ain Ghazal sofre colapso econômico.

Algumas pessoas trabalham e outras se acham ociosamente em pé ou sentadas em pequenos grupos, aproveitando os primeiros raios de sol da manhã. Conversam sobre o tempo, planos de pesca e os filhos. Atrás da aldeia, pequenas trilhas sobem íngremes por entre aveleiras baixas até uma floresta de carvalhos, olmos e limoeiros, conduzindo aos pinheiros e altos penhascos. Uma águia paira acima no céu azul-claro, e cormorões sobrevoam a água. É o amanhecer em Lepenski Vir, 6400 a.C.

Sentado junto ao rio, Lubbock lembra a viagem desde La Riera, no norte da Espanha — uma importante caminhada pelo sul da Europa. Vários dos locais de acampamento que partilhou com os ocupantes mesolíticos passaram a ser conhecidos como sítios arqueológicos. Muitos outros jamais serão encontrados — talvez destruídos por assentamentos posteriores ou enterrados no fundo aluvial do delta do Ródano e na bacia do Pó. Ainda outros esperam ser descobertos.

Lubbock escalara os Pireneus e encontrara os cumes redondos cobertos de capim cedendo lugar a pedras lascadas, o horizonte tornando-se cada vez mais alto e fraturado com o avanço diário para leste. Nos Pireneus centrais, acampara com caçadores de cabras selvagens a mil metros, na base de um grande anfiteatro natural conhecido hoje como Balma Margineda. Após capturar cabras selvagens com os homens, Lubbock juntou-se às mulheres na pesca de trutas e coleta de amoras pretas. Mais

200 quilômetros de caminhada levaram-no a Roc del Migdia, uma caverna na base de um penhasco dentro de uma densa floresta de carvalho, no que é hoje a Catalunha. Após ajudar a encher os cestos de seus ocupantes com bolotas, avelãs e abrunhos, sentou-se com eles para olhar os abutres sobrevoando em círculos preguiçosos nas correntes termais.

A jornada de Lubbock pelo sul da França envolveu caminhadas ao longo de praias arenosas, caronas em canoas pelos pântanos do delta do Ródano, desvios para o interior quando o mar inundava a base de penhascos de calcário branco-creme ou pórfiro de intenso vermelho-escuro. Embora houvesse uma imensa variedade de árvores e plantas, nenhuma delas impressionou então o visitante - limoeiros, laranjeiras, oliveiras, palmeiras e mimosas. Essas árvores eram todas recém- chegadas à Riviera. Lubbock alegrou-se com sua ausência quando cederam o espaço a canteiros de lilases silvestres e madressilvas que despontavam nos barrancos de calcário, onde ele ouvia torrentes estrondosas e nascentes explodindo do chão.

Após percorrer as baixadas pantanosas do norte da Itália, lugares preferidos de pessoas que montam armadilhas para peixes e captura de aves selvagens, Lubbock mais uma vez subiu as montanhas, os picos cobertos de pinheiros, dos Dolomitas italianos. Fez isso seguindo as trilhas de caçadores, que por sua vez seguiam o veado-vermelho rumo aos pastos de verão. A 2 mil metros, chegou ao acampamento deles, abaixo da saliência de uma enorme rocha — ali deixada ao acaso por uma geleira há muito desaparecida. Este sítio é hoje conhecido como Mondeval de Sora. Quando escavado em 1986, encontrou-se o túmulo de um homem — um caçador posto na cova com uma série de artefatos de pedra e bijuterias esculpidas em presas de javali e dentes de gamo. Dos Dolomitas, Lubbock seguiu para o sul pela colinas ondulantes e vales profundos da Croácia. Ali dividiu pequenas cavernas com grupos de caça que vigiavam os fundos do vale à procura de presas e lascavam novas pontas de pedra para suas armas de caça.

Ao sair das montanhas e colinas, Lubbock viajou para as margens do sul da planície húngara e ali aliviou as pernas cansadas adotando novo meio de transporte: uma canoa feita de um tronco escavado. Encontrou uma à deriva; na certa soltara-se da amarração rio acima. Por 800 quilômetros viajou ao longo dos rios do sudeste da Europa, passando breves temporadas nas florestas em volta, com caçadores no encalço de javalis e ajudando pescadores de passagem a puxar suas redes.

Em algum ponto dessa viagem aquática, a canoa de Lubbock entrou no Danúbio. O rio corria preguiçosamente entre colinas cobertas de árvores, às vezes dando uma volta por um ou dois quilômetros e depois serpeando de volta entre salgueiros e álamos. Acabou passando entre penhascos íngremes e Lubbock entrou na primeira das grandes gargantas tipo desfiladeiro hoje chamadas Portas de Ferro. Foi então que surgiram grupos de moradias, espraiados ao longo dos terraços acima do rio. Pareciam muito diferentes das choupanas de palha cerrada que ele vira em outros lugares da Europa do Mesolítico, e assim, tarde numa noite, atracou e subiu a margem. Era uma noite sem lua, nublada, e as moradias surgiram como sombras curiosas, artificiais em sua geometria de criação humana. Ao encontrar fogueiras ainda quentes com cinzas, ratos e camundongos, ele percebeu que toda a aldeia dormia.

Os ocupantes adormecidos de Lepenski Vir são caçadores-coletores que se "assentaram" num estilo de vida sedentário. A mata sobreviveu no vale do Danúbio durante todo o LGM, sobretudo zimbros e salgueiros, mas também pequenos renques de carvalho, olmo e limeira, que ajudariam a semear o resto da Europa. Caçadores da era glacial faziam visitas periódicas ao vale para tocaiar cabras selvagens e pescar salmão, mas nunca permaneciam por muito tempo. Quando o clima se

tornou mais quente e as chuvas mais frequentes, brotaram as grandes folhas. As árvores escalaram as encostas das montanhas e geraram densa floresta, com grande abundância de caça e plantas comestíveis. Veados-vermelhos e javalis, lontras e castores, patos e gansos tornaram-se acréscimos na alimentação da era glacial. E assim as pessoas passaram a chegar com maior frequência às Portas de Ferro e a ter menos vontade de deixá-las. Chegavam a seus supostos acampamentos no início do outono e ficavam até o final da primavera. Esses assentamentos começaram a fundir-se com o que tinham sido antes acampamentos de pesca de curta temporada. Em 6500 a.C., as pessoas não viram mais necessidade de até mesmo deixar o rio; o que tinham sido acampamentos temporários passou a ser as primeiras aldeias permanentes nas margens do Danúbio.

John Lubbock vagueia por Lepenski Vir, entrando e saindo das moradas. Embora variem de tamanho, partilham o mesmo formato e mobiliário. Pedras talhadas com faces que parecem parte peixe e parte humana acham-se instaladas um tanto melancolicamente dentro de cada choupana. Muitas vezes estão ao lado de estruturas de pedra que parecem altares, suportadas por seixos com incisões de desenhos geométricos. Na cabana maior, localizada no centro da aldeia, alguns amuletos de osso e uma flauta repousam sobre uma laje. Esta cabana fica junto a um espaço aberto, onde o chão parece batido por pés dançantes. Embora ritual, religião e apresentações sejam sempre parte integrante da vida dos caçadores-coletores, têm aqui uma presença mais penetrante que em qualquer outro assentamento visitado por Lubbock. Para onde ele olha, há pilhas de flechas com pontas de pedia, arpões de galhada, flutuadores e pesos de rede, cestos de vime, pilões e almofarizes de pedra.

Essa variedade de equipamentos testemunha as diversas e abundantes comidas existentes para os habitantes de Lepenski Vir — não apenas carne e peixe, mas nozes, fungos, bagas e sementes. Apesar da diversidade gastronômica, porém, várias crianças que brincam nas partes rasas do rio parecem subnutridas. O raquitismo predomina na aldeia e alguns dos pequenos exibem estrias horizontais nos dentes — linhas onde o esmalte não se desenvolveu devido à saúde debilitada. A realidade é que a criatividade arquitetônica e artística em Lepenski Vir caminha junto com períodos de escassez de comida.

Três mulheres estão no meio da construção de uma casa. Fizeram uma plataforma em forma de trapézio com uma mistura de calcário triturado cozido, areia e saibro, em volta de blocos de pedra dispostos para formar a lareira central, Diante de Lubbock, elas param para desenrolar uma trouxa de couro, revelando o corpo decomposto de um bebê. Os ossos pendem uns dos outros, frouxamente unidos por ligamentos e fragmentos de pele amarela seca.

O corpo é enterrado e vedado no chão. O maxilar de um adulto é retirado de outro embrulho e posto entre duas pedras da lareira. Após não mais que uma pequena pausa, recomeça a atividade prática da obra de construção: estacas são lixadas em buracos para sustentar a cumeeira que logo será erguida e posta no lugar. Para Lubbock, as mulheres parecem ter passado do secular ao religioso e refeito o caminho inverso; mas para elas, essas divisões não têm significado algum. Seguem simplesmente com a vida, uma vida em que todo ato, todo artefato e todo aspecto do mundo natural são tão sagrados quanto profanos.

A vida em Lepenski Vir revolvia em torno do rio. Este fornecia comida, era a rodovia do Mesolítico, seu fluxo simbolizava a passagem do nascimento à morte. Pelo menos, é essa a crença de Ivana Radovanoviae, arqueóloga de Belgrado que empreendeu a tarefa de tentar ler o código

simbólico tão entremeado na vida cotidiana quanto os enterros cerimoniais e as comemorações sazonais de Lepenski Vir.

Ivana era aluna de Dragoslav Srejovic, arqueólogo iugoslavo que descobriu e depois escavou Lepenski Vir entre 1966 e 1971. Ele descobriu o sítio quando fazia o levantamento das margens do Danúbio, antes da construção de uma represa em 1970 — obra que ia submergir as margens e tudo nelas oculto. Esse é apenas um dos vários sítios nas duas margens do rio que partilham arte e arquitetura semelhantes — outros incluem Hajducka, Vodenica, Padina e Vlasac. Alguns foram acampamentos sazonais, e não aldeias permanentes; Lepenski Vir talvez tenha sido até um centro cerimonial.

Srejovic escavou muitos túmulos em Lepenski Vir. Os de crianças eram em geral feitos dentro das moradas, enterrados embaixo do chão ou em lareiras e construções de pedra que Srejovic julgou serem altares. Os adultos, em geral homens, eram enterrados entre as casas. Crânios e maxilares de boi selvagem, gamo ou outros seres humanos eram às vezes colocados com os mortos, junto com artefatos e colares feitos de contas de caracóis.

A maioria dos túmulos adultos tinha a cabeça apontada rio abaixo, para que o rio levasse seu espírito — ou assim acredita Ivana. Ela acha que o rio também simbolizava o renascimento, pois toda primavera as belugas — gigantescos esturjões brancos ainda reverenciados hoje como produtores do melhor caviar — subiam o rio para a desova. Sua chegada devia ser impressionante, uma procissão de monstros fluviais que alcançam até 9 metros de comprimento: espíritos dos mortos renascidos, segundo Ivana, tornados reais pelas esculturas que misturavam peixe e ser humano num único ser.

Lubbock sai de Lepenski Vir numa tarde de verão, sob o barulho de redes içadas da água, estacas marteladas no chão e vozes humanas conversando. Dirige-se para o sul pela exuberante floresta das colinas balcânicas, caminhando sobre um tapete de folhas, pinhas, bolotas, nozes-de- galha, frutos da faia e cascas de castanhas quebradas. Encontra gamos pastando em ensolaradas sendas na floresta; farejando o cheiro dele, eles se lançam numa lufada de ancas brancas no meio do mato baixo. Um gamo de galhada igual a um candelabro lança um olhar severo, antes de acompanhá- las num trote majestoso de seus cascos hábeis e reluzentes.

Lubbock é agora um exímio leitor dos sinais de caça, ao contrário de quando iniciou suas viagens europeias atravessando a tundra rumo a Creswell Crags, analfabeto na linguagem de pegadas e montes de cocô. Testa-se seguindo os rastros de gamos e calculando onde os javalis irão alimentar- se. Sabe onde encontrar ninhos para pegar ovos, quais fungos coletar e quais deixar. Na verdade, sente-se muito confiante em poder viver da caça e coleta nessas matas e pergunta-se porque ninguém mais optou por fazê-lo: é total a ausência de pessoas e sinais de sua presença. Em momento algum de suas viagens europeias lembra-se de ter seguido durante tanto tempo sem encontrar um único acampamento ou caverna ocupada.

Essa escassez de sítios mesolíticos no sudeste da Europa, desde o Danúbio até o mar Mediterrâneo, tem sido uma considerável preocupação para os arqueólogos. Houve ali uma verdadeira ausência de assentamentos? Foram os sítios do Mesolítico destruídos, ou alguns ainda precisam ser descobertos? Na Grécia, por exemplo, mal chegam a 12 os sítios do Mesolítico, embora haja centenas do Neolítico, milhares de períodos posteriores e muitos mais de períodos anteriores da evolução humana. Catherine Perlès, a principal estudiosa da Grécia do início da pré-história, recentemente avaliou todas as razões possíveis para a raridade de sítios mesolíticos e concluiu que

isso deve na verdade refletir uma população muito pequena, que se baseava quase inteiramente na costa.

Após uma caminhada de cerca de 400 quilômetros desde Lepenski Vir, Lubbock chega à planície da Macedônia no norte da Grécia. Chega no ano de 6300 a.C. e senta-se no galho de um robusto carvalho para ver as idas e vindas de um tipo de aldeia bastante diferente. Um aglomerado de casas estende-se numa clareira no topo de um pequeno outeiro; o terreno de um lado é pantanoso, do outro dividido por caminhos entrecruzados e cercas que definem pequenas hortas, cujas plantas acabaram de brotar. As casas, 10 ou 12 ao todo, são retangulares, com telhados de olmo e beirais projetados para fora.

Uma está sendo construída: feixes de juncos amarrados entre estacas cortadas de árvores novas. Embora essas casas sejam muito maiores e mais consistentes que as de Lepenski Vir, são os simples cercados de madeira anexos às paredes externas que despertam o interesse de Lubbock — ou, melhor, o que eles contêm. Saltando da árvore, ele se aproxima da aldeia por um atalho que sai da mata para uma abertura num baixo muro de barro que o circunda. Curva-se para examinar as plantas que brotam nas hortas. Algumas — trigo ou cevada — têm folhas que mal começam a abrir-se em volta do caule; outras — ervilhas ou lentilhas — finos talos com folhas claras redondas. Mulheres e crianças também se curvam, arrancando as ervas daninhas em volta dos brotos. Lubbock puxa uns punhados de capim — não como um gesto de ajuda, mas para alimentar os carneiros, que mais parecem cabras, parados dentro dos cercados de madeira.

Lubbock está para entrar num das primeiras aldeias agrícolas da Europa, aquela que os arqueólogos chamarão Nea Nikomedeia. Várias gerações de camponeses já viveram e morreram nessa aldeia. Seus fundadores talvez tenham vindo de outros assentamentos agrícolas da Grécia; ou da Turquia ou Chipre — talvez direto do próprio oeste da Ásia.

Foi do oeste da Ásia que desembarcaram outrora os primeiros agricultores a chegar à Europa, após carregarem seus barcos, com sementes de milho e carneiros e cabras devidamente amarrados. Alguns tinham cruzado o Egeu até as baixadas da Grécia; outros foram para Creta e a Itália. Derrubaram florestas, puseram seus carneiros e cabras para pastar, construíram suas casas e deram início a um novo capítulo na pré-história europeia.

Os primeiros camponeses chegaram à Grécia por volta de 7500 a.C. e encontraram uma paisagem em grande parte desabitada. Só na vizinhança da Caverna Franchthi, no sul de Argolid, houve uma substancial presença mesolítica. É a caverna onde Thomas Jacobsen encontrou vestígios de uma rica dieta vegetal e de comidas litorâneas, sobretudo depois que a beira-mar quase chegara à entrada da caverna. Nas camadas superiores da Caverna Franchthi, contemporâneas dos primeiros assentamentos agrícolas, Jacobsen encontrou algumas sementes de trigo, cevada e lentilhas domesticadas, mas estas eram muito ultrapassadas em número pelos restos de plantas selvagens. Ossos de carneiro, cabra e porco tinham-se, porém, tornado predominantes, indicando que o povo do Mesolítico começara roubando os assentamentos agrícolas para criar rebanhos e manadas próprios. Mas isso causou pouco impacto em seu modo devida: instrumentos de pedra, práticas de enterro, atividades de caça e coleta continuaram na Caverna Franchthi sem quase mudança alguma.

Os camponeses e caçadores-coletores viveram lado a lado durante pelo menos todo um milênio. Tinham pouco a ver uns com os outros; as planícies aluviais, que proporcionavam solos férteis para os camponeses, eram de pouco interesse para os caçadores-coletores que dependiam das florestas e do litoral.

Mas essa coabitação no sul da Grécia não poderia sobreviver. Por volta de 7000 a.C., surgiram vários novos assentamentos — um dos quais Nea Nikomedeia. Se foram construídos por uma germinante população local ou por uma nova onda de imigrantes, ainda não se sabe ao certo. A última possibilidade talvez seja a mais provável, pois surge uma excelente cerâmica — coisa não encontrada na Grécia antes dessa data.

Os depósitos finais na Caverna Franchthi contêm cerâmica e artefatos de pedra mais semelhantes aos encontrados nos assentamentos agrícolas que os situados nos níveis inferiores da caverna. As casas foram construídas diante da entrada e tratos criados para plantar colheitas. A cultura agrícola finalmente esmagara os caçadores-coletores da Franchthi mesolítica.

Eles podem ter abandonado a caverna aos novos agricultores, reduzindo-se aos poucos em número e extinguindo-se. Talvez tenham eles próprios decidido tornar-se agricultores. Ou as duas populações se ligaram tão estreitamente por casamento e reprodução interna que nem sequer sabiam mais qual era qual. Nessa confusão do que aconteceu ao povo do Mesolítico da Caverna Franchthi, encontramos a futura história do continente europeu como um todo.

O interior da casa em que Lubbock entrou em Nea Nikomedeia é escuro e silencioso, o ar rançoso e enfumaçado — bem diferente da morada clara e fresca de Lepenski Vir. Caminhando pela aldeia, ele fizera uma pausa para ajudar os membros de uma família a cobrir de barro os feixes de junco e troncos recém-cortados que formavam as paredes de sua nova casa. Agora descobre como são eficazes essas paredes, criando um espaço isolado do mundo externo.

Vasos de cerâmica e cestos de vime estão empilhados junto às paredes, tapetes de junco e couros espalham-se pelo chão. Uma plataforma de reboco, cerca de 10 ou 20 centímetros acima do chão, tem uma bacia rasa com um fogo ardendo. A fumaça infiltra-se no telhado de colmo, matando insetos e impermeabilizando os juncos. Uma mulher senta-se junto ao fogo, torcendo fibras para

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