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Debates de linguística e genética históricas

No documento Depois do Gelo (páginas 170-178)

A viagem de canoa final das excursões europeias de Lubbock leva-o além das ilhas que se erguem como gigantescas rochas entre os Países Baixos e o sul da Inglaterra. Estas, e uma ilha maior ao largo de Yorkshire, são todas remanescentes da Doggerland — as terras baixas pelas quais Lubbock seguiu a pé após deixar Creswell Crags em 12700 a.C. A Grã-Bretanha é de novo uma ilha — pela primeira vez em 100 mil anos.

Lubbock não tem tempo para retornar à Caverna Gough, percorrer a floresta de carvalhos que agora se expande onde ele pegou com armadilha lebres árticas na tundra e viu corujas da neve. Sua jornada europeia está quase no fim. Numa escura noite no ano de 4500 a.C., ele se aproxima de um assentamento hoje chamado pelos arqueólogos de Téviec e localizada na costa do norte da França. Seu destino é assinalado por luz de fogueira e música. Um banquete e um enterro em andamento, com talvez uma centena de pessoas atentamente concentradas em silhuetas que oscilam perto das chamas.

A dança e o canto param de repente, e os elementos são absorvidos: o crepitar das chamas, o distante quebrar dos vagalhões do Atlântico e o vento uivante. Lubbock olha o cadáver junto ao fogo: um homem com uma basta barba e espessos cabelos pretos, o corpo vestido, decorado com contas e salpicado de ocre vermelho.

Um vulto fantasiado — semi-humano, semiveado chifrudo — salta sobre as chamas batendo um tambor. Dirige-se ao morto e ordena que sejam levantadas lajes de pedra da terra. Duas mulheres avançam e erguem-nas, expondo outro corpo numa sepultura ladeada por pedras. Lubbock curva-se para a frente e vê os ossos claramente definidos entre a pele amarela esticada. O xamã ajoelha-se junto à sepultura e afasta para o lado o corpo desidratado — que se desintegra, os ossos misturando- se com outros ainda mais velhos já empilhados dentro.O novo corpo é posto na cova. Um por um dos pertences do falecido é arrumado ao seu lado e um conjunto de lâminas de sílex sobre seu peito. Após mais um borrifo de ocre vermelho, as lajes são recolocadas no lugar. Acende-se então uma fogueira na sepultura, na qual se põem solenemente as mandíbulas de um veado-vermelho e um javali. Quando as chamas se extinguem, reiniciam-se o canto, a dança e o banquete.John Lubbock participa — da última dança de suas viagens europeias.

O assentamento-cemitério mesolítico de Téviec foi descoberto e escavado pelos arqueólogos franceses M. e S. J. Péquart em fins da década de 1920 e na de 1930, junto com um cemitério vizinho conhecido como Hoëdic. Esses sítios haviam sido localizados muito antes em baixos outeiros numa extensa planície litorânea, mas o mar em elevação deixara-os em ilhotas ao largo da Grã-Bretanha.

O estudo dos túmulos, esqueletos e detritos domésticos mostrou que os habitantes mesolíticos da fronteira marítima do Atlântico partilhavam muitas características com os das terras escandinavas. Tinham uma alimentação diversa — grandes mamíferos, aves aquáticas, crustáceos, frutos e nozes — e lutavam para proteger seu território e suas mulheres. Também usavam a roupa para anunciar sua identidade: os alfinetes dos mantos usados pelos enterrados em Téviec eram feitos dos ossos de javali, e os das pessoas de Hoëdic, de ossos de veado. Poucos de nós hoje saberíamos diferenciar esses prendedores de manto, mas as diferenças teriam sido gritantes aos olhos mesolíticos.

Os artigos valorizados pelas pessoas de Téviec e colocados em seus túmulos eram muito parecidos com os que Lubbock vira em outras partes: lâminas de sílex, dentes de gamo, presas de javali c adagas de osso. Os mais ricos encontravam-se de novo com os adultos mais jovens, que conquistavam sua riqueza pela força física e agilidade mental, e depois a perdiam quando a velhice lhes reduzia a rapidez. Como em Oleneostrovski Mogilnik, os homens eram enterrados com artigos mais utilitários que as mulheres, e os sexos tinham suas próprias joias distintas: caurins para os homens e contas de litorina para as mulheres.

Os túmulos múltiplos são uma das mais impressionantes características dos cemitérios de Téviec e Hoëdic. Precisamos imaginar — assim como imaginaram os Péquarts e arqueólogos posteriores — que os enterrados em túmulo revestido de pedras eram membros de uma única família; os laços sanguíneos parecem ter sido de particular importância para essa gente. Mas nem todos os túmulos eram desse tipo. Muitos eram de indivíduos solitários, e alguns cobertos por estruturas em forma de tenda feitas de galhadas.

Não nos devemos surpreender com a abundante indicação de ritual e banquete em Téviec e Hoëdic: seus habitantes deviam sentir-se inseguros e precisavam apaziguar os deuses. Não apenas enfrentavam o impacto dos agricultores da cultura LBK, que viviam não mais de 50 quilômetros a leste, mas também perturbação idêntica vinda do sul.

Enquanto a LBK se espalhava pela Europa central, os sítios do Neolítico surgiam em volta da costa mediterrânea. Alguns arqueólogos acreditam que estes se originaram com a chegada de imigrantes, descendentes diretos de agricultores no oeste da Ásia cujos recentes ancestrais haviam criado assentamentos na Grécia e no sul da Itália, como Nea Nikomedeia. Outros arqueólogos rejeitam essa ideia; acreditam que o próprio povo nativo do Mesolítico do centro e oeste do Mediterrâneo adotou a cultura neolítica, após fazer contato com agricultores tio leste.

O ponto de concordância é que o Neolítico mediterrâneo entre 6000 e 4500 a.C. parece muito diferente do da Europa central. Naquela região, há uma clara separação entre sítios que têm o "pacote" Neolítico completo, por um lado — os da LBK com casas revestidas de madeira, gado, carneiro, colheitas, cerâmica e machados de pedra — e do outro sítios do Mesolítico, com microlitos, ossos de gamo e javali. No Mediterrâneo, porém, os elementos mesolíticos e neolíticos misturam-se em sítios individuais, parecendo ter sido usados pelas mesmas pessoas ao mesmo tempo. São predominantemente sítios de caverna e, para arqueólogos como James Lewthwaite, da Universidade de Bradford, e Peter Rowley-Conwy, esses sítios sugerem que os caçadores-coletores nativos

escolheram seletivamente do pacote neolítico, sem desejar tornar-se eles próprios agricultores completos.

Lewthwaite afirmou que os habitantes mesolíticos da Córsega e Sardenha adotaram carneiros e cabras para compensar a falta de caça — os veados-vermelhos jamais colonizaram aquelas ilhas. Após fazer isso, evitaram os cereais e as casas de madeira para continuar com seu tradicional estilo de vida de caça e coleta, que agora se tornava mais seguro com os pequenos rebanhos dos quais cuidavam.

Outros caçadores-coletores optaram pela cerâmica do pacote neolítico como uma coisa útil na cozinha e eficaz para exposição social. Calcavam conchas no barro mole para fazer vasos de desenho, muito diferente de quaisquer outros leitos na Europa. Alguns preferiram adotar o cultivo de cereais para compensar lacunas sazonais na disponibilidade de alimentos selvagens: semeavam-se grãos, trigo ou cevada exatamente como se fossem mais uma planta selvagem. Em consequência dessa adoção parcial e desordenada do pacote neolítico, pessoas que não eram nem estritos caçadores-coletores do Mesolítico nem agricultores do Neolítico ocuparam o Mediterrâneo.

Os que usaram a caverna Arene Candide, na paisagem de rochedos escarpados e vales estreitos do noroeste da Itália, caracterizaram o tipo híbrido dos estilos de vida que surgira. Escavações na década seguinte a 1946 revelaram uma longa sequência de camadas de ocupação, começando com os detritos de caçadores-coletores e terminando com agricultores completos. Entre os dois extremos, estavam os detritos de pessoas que viveram da caça de javali no estilo mesolítico e criação de ovelhas no estilo neolítico.

Esta foi a conclusão de Peter Rowley-Conwy, após estudar os ossos de animais. Ele constatou que os porcos tinham sido selvagens e caçados pelo grande tamanho dos ossos. Do mesmo modo, viu que os carneiros eram mantidos para dar leite, porque demasiados filhotes tinham sido mortos. Por esse método, o leite de fêmeas adultas ficava disponível para uso humano. Assim como as que habitavam a Córsega, as pessoas de Arene Candide no Mesolítico haviam fundido elementos da cultura neolítica com seu tradicional estilo de vida mesolítico.

Na década de 1980, a maioria das pessoas acreditava que esse tipo de adoção desordenada da cultura neolítica fora em grande parte responsável pela gradual disseminação da cultura agrícola por todo o centro e oeste do Mediterrâneo, depois ao longo da fachada atlântica de Portugal e França e pelos principais vales do Ródano e Garonne. Mas João Zilhão, da Universidade de Lisboa, já desde então contestava essa crença. Ele acha que devemos voltar às ideias popularizadas por Gordon Childe na década de 1930 sobre agricultores imigrantes que trouxeram o pacote neolítico completo às praias mediterrâneas.

Segundo Zilhão, os dados dos sítios das cavernas, que supostamente mostram cerâmica e carneiro lado a lado com animais caçados e artefatos mesolíticos, foram mal interpretados. Essas associações, afirma, são causadas por animais furões, responsáveis por uma confusão total de qualquer estratigrafia que possa ter sobrevivido. Ele sugere que os ossos de cabras selvagens foram às vezes confundidos com carneiros domesticados, e as datas de radiocarbono são ou um erro crasso, por terem sido contaminadas, ou mal interpretadas; e também que foram usadas para datar fragmentos de cerâmica com as quais não tinham a menor associação.

Zilhão enfatiza que a ascensão final do mar inundou a costa onde se tinham estabelecido as primeiras fazendas de colonizadores do Neolítico. Os sítios das cavernas sobreviventes na certa não passavam de acampamentos ocasionais usados pelos agricultores em excursões de caça, ou quando levavam os rebanhos aos pastos.

Para apoiar sua afirmação, Zilhão cita provas da Gruta do Caldeirão. Os achados dessa caverna portuguesa sugerem que um ou mais barcos carregados de colonizadores chegaram cerca de 5700 a.C. e estabeleceram um assentamento agrícola, enquanto os povos indígenas do Mesolítico continuaram caçando e coletando inteiramente imperturbados. Em 6200 a.C., grandes comunidades prósperas de caçadores-coletores tinham surgido nos estuários dos rios Tejo e Sado da região central de Portugal. Elas criaram monturos de conchas de tamanhos equivalentes aos de Ertebolle na Dinamarca. Pesquisas em outras partes em Portugal não encontraram quaisquer outros traços de presença mesolítica após 6200 a.C. — parece que toda a população fora viver nesses estuários.

Os monturos portugueses eram usados como terrenos de cemitério, além de despejos de lixo — de forma muito semelhante aos da Grã-Bretanha. Os túmulos encontram-se predominantemente abaixo das camadas dos montes e parecem ter sido dispostos em discretos grupos, talvez de família. Alguns eram ladeados com grandes lajes de pedra, lembrando os túmulos de Téviec e Hoëdic. Essas semelhanças não devem surpreender. Embora nos falte qualquer comprovação direta do litoral do Atlântico, suas comunidades mesolíticas sem dúvida deviam ter grandes canoas, e usavam-na para percorrer longas distâncias na costa, estabelecendo contatos do sul de Portugal ao norte da França.

Entre 1979 e 1988, Zilhão escavou a Gruta do Caldeirão, localizada numa região ao norte dos monturos de conchas, e sem quaisquer sítios do Mesolítico.Os detritos neolíticos, entre eles cerâmica e instrumentos de pedra, foram encontrados diretamente acima dos de caçadores da era glacial, junto com vários ossos de carneiros domesticados e javali. Pastores que gostavam de dedicar-se à caça de vez em quando tinham evidentemente usado a caverna.

A Gruta do Caldeirão também era usada como necrotério. Cerca de 5200 a.C., os corpos de três homens, uma mulher e uma criança foram estendidos no piso da caverna, as cabeças encostadas na parede, para os animais carniceiros e os elementos decompô-los, espalhá-los e enterrá-los. Duzentos ou 300 anos depois, no mínimo mais 14 indivíduos foram deixados na caverna.

Segundo Zilhão, esses cadáveres eram de agricultores cujos antepassados tinham chegado de barco à costa portuguesa. Ele especula que o assentamento agrícola deles ficava no vale, seus vestígios arqueológicos hoje enterrados no fundo, abaixo dos sedimentos fluviais. Durante várias centenas de anos, eles continuaram cultivando, enquanto os povos do Mesolítico continuaram caçando e coletando nos estuários dos rios mais ao sul, exatamente como faziam mais ao norte na Espanha. Zilhão indica que comunidades semelhantes de agricultores imigrantes, formando encraves inteiramente separados dos nativos povos do Mesolítico, espalharam-se por todas as regiões litorâneas do sul da Europa. Enquanto os que usavam a Gruta do Caldeirão floresciam, por volta de 5000 a.C., os monturos dos estuários dos rios Tejo e Sado tinham sido abandonados. Não se sabe o que aconteceu com seus antigos habitantes; podem ter morrido ou simplesmente abandonado o estilo de vida de caça e coleta para tornarem-se eles próprios agricultores.

A disputa entre os que preferem a colonização por agricultores imigrantes, como Zilhão, e os como Lewthwaite e Rowley-Conwy, que acreditam que os povos do Mesolítico adotaram a cultura do Neolítico, poderia ser resolvida por um tipo de indício inteiramente novo que se tornou disponível recentemente para estudar o passado: a genética dos vivos hoje. Esse novo campo de estudo é conhecido como genética histórica e sua influência em nosso estudo do passado deve tornar-se cada vez mais disseminada e profunda. Como também vamos recorrer à genética histórica quando analisarmos o povoamento das Américas, será útil uma breve introdução a esse campo, antes de considerarmos seu impacto na questão europeia.

A possibilidade de reconstituir a história da população através de genes humanos surge do fato de que, embora sejamos todos membros de uma única espécie, Homo sapiens, e termos um alto grau de semelhança genética, variamos em detalhes específicos. A semelhança está presente porque todas as pessoas no mundo hoje se originaram da mesma pequena população que viveu na África há mais de 130 mil anos. As rigorosas condições do penúltimo máximo glacial provocaram a redução da população a não mais de 10 mil indivíduos. Isso reduziu o total de variação genética atual, e é conhecido como um gargalo populacional. Quando ocorreu o aquecimento global há 125 mil anos, essa população se expandiu. As pessoas dispersaram-se da África e o primeiro Homo sapiens entrou na Europa, Ásia, e acabaram por chegar às Américas. Quaisquer populações existentes, como as do H. neanderthalensis na Europa, foram inteiramente substituídas sem dar contribuição alguma ao fundo de genes modernos.

Em consequência dessa história evolucionária, as pessoas hoje encontradas em extremos opostos da Terra são muito semelhantes em sua constituição genética. Mas não idênticas. Mutações aleatórias ocorrem constantemente, a maioria das quais sem efeitos positivos nem negativos em nosso comportamento e fisiologia. A probabilidade de exatamente a mesma mutação ocorrer de forma independente em duas pessoas diferentes c extremamente remota. Portanto, se duas pessoas têm a mesma mutação, é provável que tenham partilhado um ancestral recente no qual ocorreu essa mutação. E, claro, se essas duas pessoas vivem agora em diferentes partes do mundo, isso permite aos especialistas em genética reconstituir o padrão da dispersão humana.

E mais. Pode-se considerar constante a taxa de mutação genética — embora se é isto na verdade que ocorre ainda não foi estabelecido. Medindo-se a extensão da variabilidade genética entre duas populações humanas, e tendo-se uma estimativa para a taxa na qual ocorrem as mutações, pode-se calcular a quantidade de tempo transcorrido desde que as duas populações ficaram isoladas uma da outra.

Esses fatos brutos proporcionaram a base para um método completamente novo de estudar o passado humano — e que dispensa manuais de história e até mesmo escavações arqueológicas. E necessário apenas documentar e depois interpretar a variabilidade genética encontrada cm seres vivos de todo o mundo, e então se podem estabelecer os padrões e datas de dispersões, migrações e colonizações passadas. Mas, em todas as áreas da ciência, pôr a teoria em prática é muitas vezes mais difícil que o previsto.

Luca Cavalli-Sforza foi o paladino da genética histórica. Seu livro de 1994, História e Geografia dos Genes Humanos, co-escrito com dois colaboradores, é um dos pontos de referência acadêmica na criação de nossas visões da história humana. Nesse livro, Cavalli-Sforza afirmou que o mapa genético do tempo moderno da Europa mostra um gradiente de frequências de gene do sudeste ao noroeste. Isso só poderia ser, alegou, um legado dos imigrantes neolíticos que se propagaram da Grécia, pelo leste, centro e sul da Europa até chegarem ao extremo noroeste. Fato que se tornou conhecido como modelo da "onda de avanço", que não dava ao povo indígena do Mesolítico papel algum em todo o desenvolvimento neolítico europeu. Segundo essa visão, o povo da cultura LBK tinha de ser descendente de imigrantes do oeste da Ásia, e não do mesolítico local, como propôs mais recentemente Zvelebil; a interpretação de Zilhão da região mediterrânea tem de ser preferida à de Lewthwaite e Rowley-Conwy.

O modelo da "onda de avanço" ganhou mais apoio, em 1987, de outra fonte de indícios não arqueológicos. Cohn Renfrew — sucessor de Grahame Clark como Professor da cadeira Disney de Arqueologia em Cambridge — dedicou-se a um dos problemas-chave de linguística histórica: a origem

da família de línguas indo-europeias. Essa família inclui quase todas as línguas faladas hoje na Europa, e a linguística há muito tem debatido quando e onde a língua da qual elas evoluíram era falada.

Renfrew forneceu uma convincente resposta: a protoindo-europeia como é chamada a língua original, era falada pelo povo neolítico da Anatólia — a Turquia da época moderna — e/ou do oeste da Ásia em 7500 a.C. Espalhou-se por toda a Europa e algumas partes do centro e do sul da Ásia, enquanto os agricultores migrantes neolíticos colonizavam essas terras. Segundo Renfrew, as línguas não indo-europeias, como a basca e a finlandesa, refletem as regiões onde populações mesolíticas sobreviveram e contribuíram para o Neolítico, e por fim para a diversidade linguística e cultural da época moderna. Mas essas foram poucas e distantes entre si: as afirmações de Renfrew se encaixam perfeitamente nas datas genéticas de Cavalli-Sforza indicando a "onda de avanço" de agricultores neolíticos imigrantes pela Europa.

As afirmações de Renfrew sofreram imediato ataque tanto de linguistas quanto de arqueólogos — sendo o problema-chave que as línguas podem se espalhar inteiramente independentes das pessoas. Uma contestação das afirmações de Cavalli-Sforza veio em 1996 de Bryan Sykes e seus colegas na Universidade de Oxford. Eles estudaram um tipo de DNA diferente do DNA nuclear em que se baseou Cavalli-Sforza — o DNA mitocondrial — e chegaram a uma conclusão muito diferente.

A maior parte do nosso DNA encontra-se no núcleo de cada célula e é herdada em iguais proporções de mãe e pai, por um processo conhecido como "recombinação". Isso envolve uma imprevisível mistura de genes dos pais, e quando repetidos geração após geração a possibilidade de reconstituir a história evolucionária torna-se extremamente difícil. O DNA mitocondrial (DNAmt) é encontrado no corpo da célula, e não no núcleo, e herdado apenas da mãe. Adquiri todo meu DNAmt de minha mãe, e nada dele passou para meus filhos. Sem as complexidades da recombinação, a relação genética entre as pessoas é muito mais fácil de estabelecer, e em geral considerada mais precisa.

O DNA mitocondrial também tem uma taxa de mutação muito mais alta que o DNA nuclear, e uma frequência muito mais alta dessas mutações é inteiramente neutra, não beneficiando nem prejudicando a saúde do indivíduo. O valor disso é apenas que existe o potencial para se obter uma

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