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Com Caçadores de Renas Economia, tecnologia e sociedade,

No documento Depois do Gelo (páginas 115-126)

12700 – 9600 a.C.

Silêncio — a não ser pela ritmada e profunda respiração de caçadores ansiosos e as retumbantes batidas de seus corações cheios de adrenalina. Alguns deles acocoram-se atrás de pedras; outros escondem-se entre moitas de ramas com a aproximação da manada. John Lubbock deita-se colado no chão, disposto a observar a matança anual de renas no vale Ahrensburg, de Schleswig-Holstein.

Por entre os talos das plantas, vê uma trilha serpeando no meio de dois laguinhos no fundo do vale. As renas usam essa rota todo outono, ao fazerem sua migração anual em busca de novo pasto no norte. Um vento gelado leva o cheiro dos caçadores, quando a terra se põe a vibrar sob o tropel de uma multidão de cascos. A emboscada está montada.

O grupo da frente das renas passa pelas pedras e afunila-se ao longo da estreita trilha. O sinal é dado e as lanças atiradas, atingindo os animais por trás. Outras lanças chegam do outro lado do vale — as condutoras são encurraladas. Aterrorizadas, fogem para o lago e nadam pela vida. Após poucos segundos, oito ou nove animais jazem no chão; alguns estremecem antes do golpe final na cabeça. Umas poucas carcaças flutuam no lago; são deixadas para afundar, pois as da terra fornecerão mais que suficiente comida, couro e chifres. As lanças são cuidadosamente recolhidas — não tanto pelas pontas quanto pelos cabos de madeira, preciosos na paisagem quase sem árvores do norte da Europa.

Alfred Rust escavou o sítio Meiendorf, no vale Ahrensburg, na década de 1930.Nos lamacentos sedimentos do fundo do vale, encontrou milhares de ossos de rena e um grande número de pontas de pedra outrora presas nas lanças. Tinham sido letais armas de caça, mais provavelmente impelidas com a ajuda de um atlatl — vara que formava um gancho em volta da ponta da lança — para imprimir força extra.

Essas armas datam de 12600 a.C., correspondendo quase ao fim do período que Edouard Lartet batizou como "Lâge du renne". O arqueólogo francês Lartet, tão admirado pelo vitoriano John Lubbock, ficara impressionado com as enormes quantidades de ossos de renas nas grutas do sul da França. Sabemos hoje que esses ossos vinham sendo acumulados pelo menos desde 30000 a.C. Mas o arqueólogo não tinha qualquer ideia da idade disso e concebeu "Lâge du renne" como a idade seguinte a "Lâge du grand ours des cavernes" (urso das cavernas) e "L'âge de l’éléphant et du rhinocéros", mas anterior a "L’âge de l’aurochs" (gado selvagem).

Dividir o que o vitoriano John Lubbock chamou de Paleolítico em quatro fases desse tipo era uma ideia inovadora em 1865, mas sujeita a algumas críticas em Tempos pré-históricos, devido a

sobreposições das espécies denominadas.Das quatro fases, L’âge du renne persistiu no pensamento arqueológico por muito mais tempo que as outras, porque muitas comunidades da era do gelo dependiam de fato da rena para seu modo de vida.

Depois que o gelo se dissolveu, a rena logo passou a usar o vale Ahrensburg como uma importante rota de travessia em suas migrações anuais da tundra desarborizada para os pastos invernais no sul da Suécia. A paisagem da tundra era muito mais amena que a que hoje conhecemos: as temperaturas de verão alcançavam 13°C e caíam a apenas menos 5°C no inverno. Quando os pioneiros chegaram pela primeira vez à região, devem ter visto com assombro os rebanhos de renas passarem pelo estreito vale — era uma oportunidade de caça de primeira.

Alguns dos sítios que Rust encontrou, como Meindorf, datavam do Bolling, e outros eram 2 mil anos mais novos, encaixando-se no período do Jovem Dryas. A essa altura, as temperaturas subárticas haviam retornado ao norte da Alemanha, embora a tundra agora sustentasse bosques dispersos de pinheiro e bétula. O mais famoso sítio do Jovem Dryas descoberto por Rust é o Stellmoor, localizado na borda leste do vale. Ali se recuperaram mais de 18 mil ossos e chifres de rena, junto com um grande número de instrumentos de sílex e mais de uma centena de hastes de flecha de pinheiro, preservadas nos sedimentos inundados.

Fora, evidentemente, um sítio de matança em massa, com grande probabilidade de tornar o lago vermelho de sangue. O arqueólogo alemão Bodil Bratlund reconstituiu a cena com um meticuloso estudo dos ossos de rena das coleções de Rust, concentrando-se naqueles em que pontas de flecha de sílex continuavam encravadas. Identificou quais partes do corpo tinham sido atingidas e a direção de onde tinham vindo as flechas.

Os caçadores atiraram as primeiras flechas horizontalmente nas condutoras dos rebanhos, mirando o coração para matar logo. As condutoras fugiam para o lago, aterrorizadas e nadando para salvar a vida — assim como suas ancestrais haviam feito quando os homens armados de lança de Meiendorf atacavam. Outras flechas se seguiam, pelas costas e por cima — encontraram-se pontas de flecha de sílex enterradas em omoplatas e na nuca — mas muitas erravam visivelmente o alvo e afundavam na lama. Depois de as carcaças serem arrastadas para a margem e esquartejadas, é provável que tivesse banquete entre os grupos que se tinham reunido para a matança anual.

Os caçadores de Stellmoor mataram gamos em escala muito maior que os de Meiendorf. Sua tecnologia era mais eficaz: as lanças haviam sido substituídas por arcos e flechas com as típicas pontas triangulares de encaixe. Na verdade, os arqueólogos hoje as chamam de pontas "ahrensburgianas", e as encontram em todo o norte da Europa durante o Jovem Dryas. Com toda probabilidade, foram uma resposta criativa à severidade do clima e constituíram um salto à frente em tecnologia.

Até agora não se encontraram os sítios de acampamento onde os caçadores de Meiendorf e Stellmoor faziam seus atatls, flechas de pinheiro e planejavam as emboscadas. Cerca de mil quilômetros ao sul, porém, na bacia de Paris — a área cercada pelas montanhas das Ardenas no noroeste e as Vosges no leste, o Morvan no sudoeste e o Maciço Central no sul — dá-se o contrário.

Mais de cinquenta sítios foram encontrados, a maioria consistindo apenas de fragmentos de artefatos de sílex — tendo-se quaisquer materiais como ossos animais e hastes de flechas de madeira decomposto há muito tempo. Três se acham particularmente preservados, Pincevent, Verberie e Etiolles, cada um ocupado durante o Bolling e seu imediato depois. Foram localizados tão perto de rios, tributários do Sena, que ficavam cobertos de aluvião toda vez que tinha uma enchente — na certa toda primavera. Em consequência, os artefatos de pedra, ossos de animais e lareiras foram

lacrados e assim preservados exatamente como tinham sido abandonados. Após meticulosa escavação e rigorosos estudos, realizados sobretudo pelas arqueólogas francesas Françoise Audouze e Nicole Pigeot, oferecem vívidos instantâneos da vida dos pioneiros e colonizadores no noroeste da Europa.

John Lubbock avança por um desses instantâneos, após sair de Meiendorf e chegar ao que se tornará o sítio de Verberie, no vale do Oise, na bacia de Paris. Hoje esse sítio se localiza em meio a uma luxuriante paisagem agrícola, mas a visita de Lubbock exigiu uma viagem pela tundra e por entre pinheiros e bétulas em fundos de vale, árvores que ofereciam bem-vindo alívio do vento cortante. É uma tarde de outono e a luz já começa a desfazer-se. Ele para na borda do sítio de acampamento e vê pessoas amontoadas em volta de uma fogueira. Elas não moram em Verberie; usam o sítio apenas por um ou dois dias para esquartejar renas emboscadas e mortas quando tentam transpor a vau do rio próximo.

As carcaças já haviam sido trazidas e largadas ali no chão, separadas alguns metros umas das outras. Os caçadores juntaram-se aos amigos em volta da fogueira — um breve descanso antes de começar o trabalho. Lubbock também se senta, ocupando uma boa posição panorâmica, para não perder essa vital e nova lição da vida na era do gelo: como transformar carcaças em postas de rena.

Três ou quatro das pessoas — homens e mulheres — começam a cortar rápida e habilmente com seus instrumentos de pedra, interrompendo-se muitas vezes para pegar uma faca de pedra melhor ou um novo cutelo numa pilha de lascas de sílex preparadas quando a caça se achava em andamento. Lubbock concentra-se no grupo mais próximo, ávido por aprender o ofício de caçador. Primeiro retira-se a cabeça do animal e depois todo o corpo é esfolado. Fazem-se cortes em volta de cada casco e ao longo de cada perna. O couro é então quase descolado — embora com muitos puxões e corte de tendões — e estendido com a superfície externa para baixo. A barriga é aberta com uma incisão que vai do esterno até as virilhas; uma massa de vísceras derrama-se pelo chão e é empurrada para um lado.

A carcaça é dividida: pernas, pélvis e fatias grossas de costela, junto com o fígado e os rins, são retirados e empilhados sobre o couro. Arrancam-se o coração, pulmões e válvulas bronquiais como uma unidade individual e depois separam-nos — o coração acrescentado à pilha de carne, o resto posto com as tripas. Como penúltimo ato, a face da cabeça decepada é talhada e aberta para expor a base da língua. Corta-se então esta, arrancada depois com um puxão forte. Por fim, retiram- se os chifres, que logo encimam a pilha de carne e órgãos.

Cada grupo trabalha em volta de sua carcaça, virando-a para fazer o corte através do couro ou separar um membro. Duas juntas maiores são transportadas a uns 100 metros de distância e entregues a duas mulheres que tiram fatias de carne. Enquanto trabalham, os açougueiros de vez em quando atiram para trás os ossos com pouca carne ou tutano, juncando o chão com curtos pedaços de vértebras, ossos das pernas e palas inferiores, fragmentos da caixa torácica.

Findo o trabalho, faz-se outro intervalo, durante o qual as fatias, junto com rins e fígados, são assadas na fogueira e comidas. Trenós são então carregados com a carne de rena restante, chuta-se terra sobre as cinzas, e os caçadores partem, levando cordas de couro torcido ao cair da tarde. Lubbock continua sentado. Após alguns minutos, chegam lobos para alimentar-se da carniça. Têm um banquete, roendo ossos, lambendo o sangue e devorando avidamente as tripas.

Também eles seguem em frente e deixam o sítio de esquartejamento de forma muito semelhante à que os arqueólogos vão encontrar um dia. Vê-se uma área de cinzas onde antes ardera

a fogueira; um punhado de lascas de sílex e nódulos quebrados onde se prepararam os instrumentos; um conjunto superficial de fragmentos de ossos roídos e instrumentos abandonados. Três áreas circulares vazias demarcam o lugar onde as carcaças foram jogadas e em volta das quais trabalharam os ágeis açougueiros. As migalhas restantes de carne, couro, tendões e tutano nos ossos descartados logo desaparecem, consumidos por pássaros, besouros e larvas. Na primavera, o rio vai transbordar suas margens e depositar finos sedimentos no sítio, deixando imperturbadas apenas as mais minúsculas lascas de sílex e fragmentos de ossos.

Lubbock visita outro assentamento, que se tornará Pincevent. Fica exatamente 125 quilômetros ao sul, mas ele toma um caminho sinuoso ao longo dos vales do Oise e do Sena até a sua confluência com o Yonne. Na chegada, vê um grupo de tendas, feitas de armações de macieira cobertas com couro de rena, em volta das quais pessoas cuidam de fogueiras e limpam peles. Estas são bem esticadas e raspadas para retirar gordura e tendões. Erguendo uma aba, ele olha dentro de uma tenda: uma pequena fogueira arde perto de um bebê deitado num berço em forma de canoa, feito de couros de animais. Outra criança, um menino de uns 4 ou 5 anos, brinca no chão, vestido apenas com um par de perneiras.

Do lado de fora, vários dos homens e mulheres mais velhos sentam-se num pequeno grupo, discutindo se já é hora de deixarem Pincevent e voltarem para seus acampamentos de inverno no sul. O outono chega ao fim e quase todas as renas já se foram — restam apenas umas desgarradas dos imensos rebanhos que há mu it o passaram em sua jornada para o norte.

Cinco famílias, cada uma com sua própria lareira construída numa cavidade no terreno, usam o sítio em Pincevent. Chegam alguns homens puxando um trenó cheio de postas de carne de rena e pilhas de chifres — muito parecidos com os que Lubbock vira partir de Verberie. Todos se reúnem em círculo; as postas são divididas e a carne partilhada. Realiza-se um banquete noturno — o último antes de o acampamento ser abandonado por mais um ano.

Quando o grande arqueólogo francês André Leroi-Gourhan escavou Pincevent na década de 1960, encontraram-se muitos ossos fragmentados de rena amontoados em volta das lareiras rebaixadas, onde a carne era assada e comida.Duas décadas depois, o arqueólogo americano James Enloe descobriu que dois fragmentos de diferentes lareiras se encaixavam, mostrando que uma única posta fora dividida. Carcaças inteiras haviam sido divididas dessa maneira — a perna dianteira esquerda de um animal foi encontrada ao lado de uma fogueira, a direita em outra. A partilha de comida ocupava o centro da vida social para os que acampavam em Pincevent — como na verdade ocorreu com todos os caçadores-coletores por toda a história humana.

Voltando 40 quilômetros rumo ao norte, ao longo do vale do Sena, Lubbock chega a um assentamento que se tornará conhecido como Etiolles. Ali, tinha lugar uma atividade muito diferente: a manufatura de artefatos. As previsíveis migrações dos rebanhos de rena eram apenas uma das atrações dos vales do norte da França para os caçadores da era glacial. Outra era a existência dos nódulos enormes e de excelente qualidade de sílex, expostos nos afloramentos de greda e calcário das encostas do vale. O sílex era a mais valiosa matéria-prima em toda a Idade da Pedra, porque podia ser trabalhados e transformados em lascas e lâminas alongadas e afiadas como as de barbear, a golpes de martelos de pedra. Das lâminas podia-se fazer uma grande variedade de ferramentas com delicados desbastes: pontas-de-lanças, raspadeiras para limpar peles, cinzéis ("buris") para gravuras em osso e marfim, sovelas para furar couros. Os pioneiros que se

disseminaram pelas terras do norte teriam ficado atentos a fontes de sílex — a Loja de ferragens da era glacial. É provável que as descobertas nos vales do norte da França fossem as melhores que encontraram.

Lubbock vê grandes nódulos de sílex chegarem ao sítio em sacos de couro de gamo, após terem sido escavados de sedimentos calcários apenas a 100 metros dali. Alguns são realmente grandes, de 50 quilos e mais de 80 centímetros de comprimento, fazendo parecer de tamanho bastante diminuto os que ele vira trabalhados em Azraq, no Oeste da Ásia. Muitos desses enormes nódulos também são imaculados por dentro, não contendo nada dos fósseis e cristais ocultos, nem fissuras internas causadas pela geada, que corrompe pedras de qualidade inferior.

O trabalho parece descontraído, misturado a conversa e comida, mas é extremamente sério: cada golpe é planejado com todo cuidado. Esses excelentes nódulos proporcionam a artesãos experientes uma oportunidade para exibir seus talentos, e a abundância de sílex permite aos novatos trabalharem com pedra nova em vez das descartadas pelos especialistas. Os nódulos — ou núcleos, como os chamam os arqueólogos — são presos entre os joelhos e golpeados com martelos feitos de pedra e chifre. Separam-se finas lascas sistematicamente; a maioria é deixada no chão onde cai, mas algumas são selecionadas e postas de lado. Vão ser transformadas em instrumentos por delicado desbaste da borda, para criar uma forma ou ângulo específicos, ou mais provavelmente usadas como estão — nada pode ser mais afiado. Após pegar ele próprio um nódulo e um martelo de pedra, machucar o polegar e não conseguir separar uma única lasca, Lubbock aprecia mais uma vez o conhecimento e habilidade, exibidos sem esforço. Pelo menos evita ter um dedo sangrando, e portanto algum progresso parece ter sido feito desde seus dias em Azraq.

A forma e o tamanho de cada lasca separada dependem exatamente do tipo de martelo usado, de onde o nódulo é golpeado, da rapidez e do ângulo do golpe. Lascas minúsculas são muitas vezes retiradas cinzelando-se ou esmerilhando-se a ponta, antes de o nódulo ser martelado para que a força do golpe não seja desviado. Os quebradores visam a produzir longas e finas "lâminas" de sílex.

A produção de lâminas talvez pareça um exercício um tanto leve, mecânico — e na verdade é assim que os arqueólogos muitas vezes descrevem o trabalho. Mas pela observação da ação em si, a impressão de Lubbock é bem diferente. Os núcleos são apalpados por dedos que apreciam a textura da pedra; o estalo de cada golpe e o tinido das lascas sobre lascas a cair no chão são ouvidos com atenção; o núcleo é o tempo todo virado, inspecionado e examinado, como se fosse uma nova paisagem de caça. Chamar esse trabalho de "quebrar lascas" ou "produção de instrumentos" parece escárnio.

Claro que a quebra nem sempre sai como planejada. Alguns nódulos que parecem perfeitos vistos de fora têm falhas internas e são descartados assim que golpeados — produzem um baque surdo em vez do sonoro "tinido" que sai da pedra perfeita. Mais problemáticos são os golpes errados e as decisões enganadas sobre quais lascas retirar a fim de modelar o núcleo. Vendo os quebradores em ação, Lubbock ouve uma ou outra praga quando um núcleo se parte em dois, ou quando uma lasca é só parcialmente separada, deixando um "degrau" no nódulo. Às vezes o núcleo é jogado fora, simplesmente largado na pilha de lascas que se acumularam no chão.

Vinte e cinco pilhas desse refugo são escavadas em Etiolles, Do mesmo modo que James Enloe reuniu ossos de animais quebrados em Pincevent, a arqueóloga francesa Nicole Pigeot reagrupou as lascas e nódulos de cada pilha. Reconstituiu as decisões e ações, segundo após segundo, dos quebradores de lascas da era do gelo que trabalharam em Etiolle cerca de 12500 a.C. Nicole descobriu que os quebradores que se sentavam junto à fogueira eram os mais habilidosos, pois seus

nódulos reconstituídos mostravam menos erros. Progressivamente, os menos habilidosos iam trabalhando a distâncias cada vez maiores da lareira, com os mais distantes fazendo tentativas experimentais e canhestras de retirar as lâminas.

Em outras partes da Europa — como nos vales dos rios Meuse e Lesse, do sul da Bélgica — o sílex era um bem muito mais precioso e não podia ser desperdiçado pelos mais inexperientes. Esses vales foram provavelmente visitados primeiro pelos caçadores da bacia de Paris, fazendo viagens exploratórias pela Ardenas, por volta de 16000 a.C. Eles encontraram numerosas cavernas que eram usadas como locais de acampamento; suas fogueiras queimaram a madeira de bosquetes cerrados de amieiros, aveleiras e nogueiras. Assim como na França e na Alemanha, as renas eram às vezes mortas por emboscadas em "armadilhas" naturais — quando transpunham rios ou atravessavam uma garganta estreita. Outras vezes, os caçadores eram mais oportunistas, espreitando e matando uma ampla variedade de animais, como cavalos selvagens, cabritos monteses, camurças c veados- vermelhos.

Os vales dos Meuse e Lesse devem ter sido paisagens produtivas, pois logo após 13000 a.C. os caçadores-coletores começaram a permanecer ali o ano inteiro. Sabemos disso pelo exame microscópico de linhas de crescimento sazonais nos dentes dos animais que eles matavam. Como fizera Lieberman ao estudar a gazela do sítio Natufiano Inicial em Hayonim, os arqueólogos identificaram se o último período de crescimento dentário das renas mortas na Bélgica da era glacial ocorria no verão ou inverno.

Como as proporções eram iguais, tornou-se evidente que os caçadores no sul da Bélgica matavam animais durante o ano todo. Moviam-se entre os vales e talvez também tinham caçado nos platôs intermediários cobertos de tundra. Mas não tinham sílex nas proximidades imediatas; era

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