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Colonização, estilos de vida mesolíticos e a transição para o Neolítico no oeste da Escócia,

No documento Depois do Gelo (páginas 178-188)

20000 – 4300 a.C.

Minha versão da história europeia, desde as pinturas de Pech Merle à origem dos túmulos megalíticos, esqueceu várias regiões do continente, que se estendem do extremo sul da Itália ao norte da Noruega, dos Alpes suíços à Meseta espanhola. Embora faltasse a essas regiões o drama que ocorreu em outros lugares, elas são parte da história europeia c sua arqueologia fornece mais intuições sobre como as pessoas reagiram ao aquecimento global e à agricultura.

Infelizmente, todas, com exceção de uma, têm de continuar ignoradas, pois esta versão logo deve cruzar o Atlântico para tratar dos primórdios da história americana. A única exceção é uma região onde eu mesmo passei muitos anos em busca do passado mesolítico: a Escócia. Não toda a Escócia, mas duas ilhas ao largo na ponta mais ao sul da cadeia insular das Hébridas, ao largo da costa ocidental. Trata-se de Islay e Colonsay que, junto com as ilhas vizinhas de Jura e Oronsay, formam um pequeno arquipélago conhecido como Hébridas do Sul. Embora fiquem na periferia geográfica da Europa e sejam desprovidas de quaisquer sítios espetaculares como Lepenski Vir ou Skateholm, essas ilhas têm sua própria história, que contribui para nossa compreensão da Europa como um todo. Assim, nesse enviado à Europa, vou contar brevemente a história delas desde a era glacial até o Neolítico, pelo relato de minhas próprias escavações nessas ilhas.

As quatro ilhas das Hébridas do Sul partilham várias características típicas do oeste da Escócia, e, no entanto são muito diferentes umas das outras. São em grande parte desprovidas de árvores, têm litorais acidentados com baías arenosas. Suas populações atingiram o pico no século XIX e foram diminuindo aos poucos desde então; predomina a criação de gado ovino, embora a atividade seja economicamente muito dispendiosa. Islay, cobrindo mais de 600 quilômetros quadrados, é a maior e mais diversa, com extensas charnecas de urzes e dunas, uma substancial cidade principal, várias aldeias e a maior densidade de destilarias de uísque da Escócia. Colonsay é muito menor, não mais de 13 quilômetros de largura, menos de 5 quilômetros de comprimento, enquanto Oronsay — ligada a Colonsay na maré baixa — é um minúsculo cisco de terra de menos de cinco quilômetros quadrados de extensão. Jura é outra ilha grande e muito mais acidentada que Islay, a paisagem dominada por três picos cônicos conhecidos como os Paps.

Em 20000 a.C., essas ilhas eram quase inteiramente cobertas pela camada de gelo que se estendia até o extremo sul das chamadas terras médias inglesas. Havia apenas uma zona livre do gelo — uma colina, hoje denominada Beinn Tart a’Mhill, e as baixadas em volta que hoje formam "a Rinns", península mais Ocidental de Islay. O fato de ter escapado ao gelo é crucial para a história posterior

da ocupação humana. Isso deixou intatos seus sedimentos ricos em sílex, que acabariam fornecendo matérias-primas para os primeiros habitantes de Islay e influenciando onde escolheram viver.

Durante cinco mil anos, as encostas de Beinn Tart a'Mhill erguiam-se acima das paisagens terrestres e marítimas de neve e gelo em volta. Cinquenta quilômetros a leste, os Paps de Jura perfuravam o gelo e pareciam vulcões fumegando quando cercados por nuvens. Um canal marítimo isolava a Rinns do resto de Islay, transformando-a numa ilhota ao largo.

Por volta de 15000 a.C., o gelo começou a derreter-se; a fachada da geleira recuou para leste até, em 12000 a.C., as Hébridas do Sul ficarem completamente livres. As planícies da Rinns eram agora cobertas por grandes faixas de areia e saibro. A leste havia outeiros de pedra e sedimento — morainas — que assinalavam o lugar até onde tinham chegado as geleiras, tendo este sido nivelado e devolvido à posição pelo gelo. Mais a leste, houve um complexo quebra-cabeça de pântanos, rochas expostas, areias, aluviões e calhaus antes de se chegara mais mar, o trecho de água que separa Islay do continente escocês.

Dentro de mais mil anos, formara-se uma camada de solo, sustentando uma mistura de matos e pequenos arbustos — tundra tipo ártica. Aliviada da massa de gelo, a terra elevou-se em altura, fazendo baixar o nível do mar. O canal que antes corria entre a Rinns e a fachada da geleira tornou- se rasa e muitas vezes seca na maré baixa.

Nessa data — 11000 a.C. — grande parte da Inglaterra fora recolonizada por pessoas que seguiam os passos dos pioneiros que tinham esquartejado seus mortos na Caverna Gough e capturavam lebres árticas em Creswell Crags. A Escócia, porém, continuou inteiramente despovoada até 8500 a.C. Mas se tinham feito visitas exploratórias a partir do sul; um grupo de caça da era glacial chegara a Islay e perdera pelo menos uma ponta de flecha — uma ponta de sílex desenhada na mesma forma das usadas para caçar rena em Stellmoor, em 10800 a.C.

Um dos meus alunos encontrou essa ponta numa tarde de agosto de 1993, quando colhíamos artefatos de sílex num campo arado perto da aldeia de Bridgend, em Islay. Foi posta num saco junto com várias peças não identificadas, mas com chance de ser do Neolítico ou da Idade do Bronze. Só constatei isso alguns dias mais tarde, depois que ela foi lavada e deixada para secar em nosso laboratório de campo. Meus colegas Bill Finlayson e Nyree Finlay, os dois da Universidade de Edimburgo e peritos em artefatos de pedra, concordaram que poderiam ser uma ponta Ahrensbur. Mas nenhum de nós pôde ter certeza. Se assim fosse, significava que pessoas haviam estado na Escócia dois mil anos de qualquer assentamento conhecido.

A ponta de Bridgend não foi a primeira de flecha ahrensburiana encontrada na Escócia; cinco outras de desenho semelhante tinham sido descobertas antes — duas nas ilhas Orkney, duas em Jura e uma em Tiree, outra ilha das Hébridas.Mas estavam quebradas, ou eram de desenho questionável, ou não podiam ser incluídas numa locação exata, tendo sido encontradas muito antes da adoção dos métodos de registro modernos. O novo espécime era completo, parecia idêntico a uma ponta ahrensburiana, e sabíamos o lugar exato onde fora encontrada. E assim, logo voltamos ao campo e fizemos uma coleta mais intensa de seus sílex, na esperança de encontrar o primeiro assentamento da era do gelo na Escócia. Mas os únicos artefatos que encontramos eram de evidente data do Neolítico ou da Idade do Bronze.

O campo em Bridgend era apenas mais um dos vários que minha equipe vasculhava em busca de assentamentos pré-históricos, como parte do projeto que dirigi em Islay e Colonsay entre 1987 e 1995. Embora registrássemos sítios do Neolítico e períodos posteriores, meu interesse era encontrar

os de uma data da era glacial e — idealmente — mesolítica. Os primeiros foram relativamente fáceis de descobrir. Encontramos mais de vinte conjuntos de artefatos distintivamente mesolíticos — instrumentos e os detritos de sua fabricação.

Quando em Islay, deixava muitas vezes meus alunos trabalhando nos campos ou lavando sílex e encontrava-me com Alistair Dawson, da Universidade de Coventry, um especialista em refazer as mudanças do nível do mar na Escócia. Nós dois e Kevin Edwards, agora da Universidade de Aberdeen, que estudava grãos de pólen da turfa de Islay, tentávamos descobrir como fora a ilha para seus antigos habitantes do Mesolítico.

Alistair é um escocês que parece sentir-se mais à vontade nas colinas ou nas praias selvagens do Atlântico que no laboratório ou numa sala de conferência. Tinha sua própria equipe na ilha e extraiu longas colunas de sedimento de Gruinart — a parte de extrato mais inferior da ilha através da qual correra o canal marítimo que outrora isolava a Rinns. À medida que se aprofundavam suas colunas, ele descobriu que o sedimento mudava da turfa da época moderna para aluvião e barro depositados pela água do mar; abaixo dessa, havia turfa, um retorno à terra seca, antes de os sedimentos tornarem-se mais uma vez depósitos marinhos. No laboratório de sua universidade, Alistair extraiu diatomitos — plânctons fossilizados — dos sedimentos; a sucessão de diferentes tipos revelou-lhe as sutis mudanças de terra seca a água salobra, água marinha e depois a sucessão inversa, da mesma maneira como os grãos de pólen informavam sobre a história da vegetação. Alistair também retirou pequenos gravetos e outro material vegetal. Estes foram datados por radiocarbono para estabelecer exatamente quando haviam ocorrido as inundações.

Examinando os sedimentos, diatomitos e as datas de radiocarbono, Alistair refez a trajetória do nível do mar em volta das Hébridas, que caíra imediatamente depois que as camadas de gelo desapareceram por volta de 13000 a.C., atingindo em seguida um nível semelhante ao de hoje, cerca de 8500 a.C. Ele descobriu que no decorrer de mais dois milênios, o nível do mar subira mais uma vez, inundando o canal de Gruinart e isolando a Rinns do resto de Islay. Mas o oeste da Escócia não parará de subir e descer, após haver sido aliviado do grande peso de gelo, e acabara ultrapassando o mar em ascensão. E desse modo, cerca de dois mil anos atrás, o canal mais uma vez se tornou terra seca e assim continuou até hoje.

Alistair também "lia" a paisagem moderna a fim de entender seu passado da era glacial. Havia, por exemplo, os outeiros de rocha e saibro cobertos de urzes que assinalavam a extensão mais a oeste da geleira. Perto dali, ele constatou um monte de areia e saibro longitudinal que descreveu como uma moraina. Marcava onde outrora um túnel d'água corria embaixo do próprio gelo, entupido pelo saibro; quando o gelo derreteu-se, o que antes era um túnel foi deixado como sua imagem refletida, um monte longitudinal arredondado. Nós caminhamos ao longo das praias e examinamos montes de calhaus, vários metros acima da marca da maré alta, que mostrava como o nível do mar fora antes mais alto do que é hoje.

Quando nos planaltos da Rinns, Alistair mostrou-me um espessa argila laranja que fica embaixo das urzes e teria sido levada pelas águas se a camada de gelo tivesse coberto toda Islay. Esse barro fora criado vários milhares de anos antes do LGM, quando toda a ilha ficava sob uma camada de gelo flutuante durante uma glaciação anterior. Seu interesse para mim estava nos grandes nódulos de sílex que continha, transportados por uma geleira muito antiga dos depósitos de greda agora sob o mar da Irlanda. Durante vários milhares de anos, o sedimento laranja vinha sofrendo erosão e caindo no mar; esses nódulos de sílex angulosos foram levados de volta às praias da Rinns como seixos inteiramente lisos e arredondados.

Em nenhum outro lugar da Escócia se encontrariam tantos seixos tão grandes e de excelente qualidade, Como o sílex era uma matéria-prima fundamental para os caçadores-coletores pré- históricos, tive certeza de que se pioneiros da era glacial tivessem chegado à Escócia, logo teriam descoberto a Rinns e continuado caçando em sua vizinhança. Mas, lamentavelmente, quase uma década de pesquisa e escavação em Islay não originou mais indícios de caçadores-coletores da era do gelo além da única ponta de sílex de Bridend.

As primeiras pessoas a estabelecer-se na Escócia chegaram em 8500 a.C., viajando do norte da Inglaterra e deixando-nos seu mais antigo sítio conhecido em Cramond, perto de Edimburgo. Não se conhecem quaisquer sítios nas Hébridas do Sul até 7000 a.C. Quando acabaram chegando, as pessoas foram atraídas a Rinns com seus ricos depósitos de seixos rolados. Um dos primeiros assentamentos localizou-se a não mais de uma centena de metros de uma praia rica em sílex; foi uma oficina do Mesolítico, onde se separaram pela primeira vez os seixos.

Esse sítio passou a ser conhecido como Coulererach, tendo sido descoberto por Sue Campbell, que cultiva uma fazendola do mesmo nome na costa oeste de Islay. No período de vários anos, ela coletou lâminas de sílex, lascas e pedras quebradas em suas valas de drenagem e entregou-os ao museu da ilha numa caixa de sapato. Ao vê-los em 1933, logo percebi que ela descobrira um sítio mesolítico. Escavamos vários pequenos "poços de teste" em seu pasto, para localizar o sítio, e depois uma longa vala, tendo de atravessar dois metros de turfa para chegar à superfície do terreno mesolítico. Ali se espalhavam artefatos e detritos de fabricação de artefatos, as bordas tão novas quanto no dia em que tinham sido feitos.

Nyree Finlay — hoje da Universidade de Glasgow — examinou a coleção e encontrou alguns seixos habilmente trabalhados, junto com outros que apenas tinham sido desbastados a pancadas. Alguns eram tão pequenos e tinham tantas inclusões de cristais, que nenhum quebrador de sílex experiente os teria escolhido para trabalhá-los. Nyree sugeriu que Coulererach era o lugar onde as crianças aprendiam a fazer alguns artefatos de sílex, muitas vezes usando as pedras rejeitadas pelos peritos em fragmentação ou encontrando-os por si mesmas nas praias. Era o equivalente a Eliolles na França.

Ao contrário dos escavadores em Eliolles, porém, não conseguimos expor grandes áreas da superfície do terreno mesolítico no pasto de Sue Campbell, pois a escavação levava a permanente alagamento. Desse modo embora encontrássemos fragmentos de carvão, jamais descobrimos os locais de fogueira do Mesolítico, nem soubemos se se tinham construído cabanas em Coulererach. Adquirimos apenas uma coleção de artefatos de pedra e tivemos de adivinhar se haviam ocorrido antes outras atividades além da feitura de instrumentos. Desconfio que sim, pois Coulererach fica perto de Loch Gorm, que é o maior lago no interior de Islay. Eu via o tempo todo lontras e gamos em volta de suas margens, e desconfio que as pessoas que acamparam cm Coulererach, cm 6500 a.C. caçaram esses animais.

Nessa época, a paisagem de Islay era muito diferente dos desolados pântanos de turfa cobertos de urzes atuais. Os grãos de pólen vedados dentro e abaixo da turfa de Coulererach nos disseram que salgueiros e amieiros cresciam nos tempos mesolíticos, junto com bétulas e carvalhos, no terreno superior e mais seco. A turfa também continha pequenos fragmentos de carvão. Alguns tinham sido transportados pelo vento de lareiras de cozinha, mas sua quantidade sugeria o incêndio deliberado de árvores e juncos em volta do lago — exatamente como o que ocorrera em Star Carr em 9500 a.C.

Coulererach foi apenas um dos vários sítios mesolíticos em Islay que examinamos. Todos apresentaram grandes números de artefatos de sílex, mas infelizmente nenhum osso (de animal ou humano), pois tinham sido destruídos pelos solos ácidos da ilha. Os ossos de animais nos teriam ajudado a descobrir quais sítios tinham sido usados em qual estação, como fizera Peter Rowley- Conwy em Skateholm, Ringkloster e vários outros sítios na Europa. Mesmo assim, os instrumentos de pedra de cada sítio indicavam quais atividades tinham ocorrido ali.

Em contraste com os de Coulererach, os artefatos que escavamos em Gleann Mor, um sítio localizado nos planaltos e a vários quilômetros de uma praia de seixos, consistiam de diversos pequenos núcleos de sílex jogados fora no fim de sua vida útil. Parece que um acampamento de caça ali foi usado apenas em uma ou duas ocasiões, quando as pessoas procuravam gamos na Rinns. Alguns tinham sido feitos de minúsculas lascas, mais provavelmente resto de um suprimento que fora transportado pela ilha. De Gleann Mor, os caçadores-coletores devem ter retornado a um sítio como Coulererach para reabastecer seus sacos de instrumentos.

Encontramos um sítio na margem leste do estuário que chamamos Aoradh, nome de uma fazenda próxima. Era quase vizinho de um esconderijo de observação de pássaros, e imaginamos que as pessoas do Mesolítico tinham feito a mesma coisa que os visitantes modernos. O estuário de Gruinart é hoje famoso por seus bandos de gansos de inverno que passam todo verão no Ártico — um padrão migratório que provavelmente remonta ao Holoceno Inicial. Como os do Mesolítico, os observadores de pássaros modernos em Gruinart veem mais que gansos. Focas muitas vezes se congregam nos bancos de areia no estuário, e lontras brincam nas partes rasas; aves a patinhar sondam a lama; francelhos e falcões-peregrinos mergulham para pegar roedores nas dunas, e muitas vezes se veem veados-vermelhos entre as árvores. Sem sinais do mundo moderno à vista, podemos sentar-nos em Gruinart e sentirmo-nos perto do que viram os olhos mesolíticos.

A quantidade de artefatos em Aoradh também sugeria que esse sítio não fora usado mais que em algumas ocasiões; provavelmente há muitos conjuntos de artefatos ao longo das margens do estuário. Mas outro sítio que escavamos, Bolsay, fora sem dúvida um local muito preferido, usado repetidas vezes ao longo de várias centenas de anos. Hoje esse sítio fica no pasto aberto e perto de um pântano conhecido como Loch a'Bhogaidh; no Mesolítico, situava-se na floresta, vizinho a uma fonte, e Loch a'Bhogaidh fora um lago de água doce. A escavação em Bolsay foi a maior que empreendi, recuperando mais de 250 mil artefatos de sílex, que não passavam de uma pequena fração dos enterrados no terreno.

A princípio achamos que Bolsay fora um acampamento-base mesolítico, mas quando se analisaram os instrumentos, vimos que eram dominadas por microlitos, muitos deles usados como pontas de flecha. Havia poucos sinais de vida doméstica, como instrumentos para limpar couros e buracos de estaca para moradias. Os microlitos se tinham aparentemente acumulado em muitas visitas breves de caçadores que se sentavam perto da fonte enquanto consertavam equipamento de caça, aproveitando um dos mais privilegiados lugares na ilha.

Escavações em Coulererach, Gleann Mor, Aoradh c Bolsay forneceram vislumbres de como diferentes locais em Islay tinham sido usadas para diferentes atividades durante o Mesolítico. Mas as pessoas não se limitaram a apenas uma ilha. Durante as décadas de 1960 c 1970, um dedicado arqueólogo amador chamado John Mercer encontrou vários conjuntos de microlitos em Jura. Foi na muito menor ilha de Colonsay, porém, que obtivemos uma visão inteiramente inesperada da vida do Mesolítico.

Procurar sítios mesolíticos em Colonsay é quase como procurar agulha num palheiro, pois envolve a busca de microlitos em lamaçais de turfa e dunas de areia. Quando começamos a trabalhar ali, mal havia campos arados para examinar, pois quase toda a agricultura já se transformara de lavoura em pasto — transformação ocorrida em todas as montanhas das ilhas escocesas desde a década de 1960. Passamos várias semanas cavando poços de teste no meio da turfa, musgo e areia soprada para chegar à superfície do terreno mesolítico em locais onde imaginávamos que se poderia encontrar um assentamento. Alguns punhados dispersos de artefatos de sílex foram recuperados, mas nenhum continha microlitos, e todos pareciam mais provavelmente datados da Idade do Bronze e do Neolítico. Começou a parecer que Colonsay fora totalmente deserta durante o período Mesolítico. Isso não teria sido surpreendente. Devido à sua distância do continente, muitos mamíferos jamais tinham colonizado a ilha; sem veado-vermelho, cabrito montes e animais de pelo como a raposa para caçar, as pessoas do Mesolítico teriam pouco incentivo para remar canoas pelos 20 quilômetros de Islay ou Jura até Colonsay.

Nossas primeiras impressões, porém, estavam muito erradas. Houve uma ótima razão para visitar a ilha — como mostrariam nossas escavações em Staosnaig, uma pequena baía na costa leste de Colonsay.

Vi pela primeira vez essa estreita baía, com sua praia arenosa, da barca que faz a travessia

No documento Depois do Gelo (páginas 178-188)

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