3 PERCURSO METODOLÓGICO
3.5 Análise dos dados
Para a análise dos dados foram adotados os procedimentos de redução e organização
dos dados, apresentados por Miles e Huberman (1994) e que serão descritos a seguir.
A análise de dados foi feita em dois momentos: o primeiro, com os dados obtidos nas
13 entrevistas iniciais. E o segundo considerando os depoimentos de todos os 22
entrevistados. Como foi apresentado anteriormente, esta divisão ocorreu pela necessidade
verificada após as entrevistas iniciais, de se obter maior quantidade de dados que pudessem
ampliar a compreensão de alguns aspectos da análise inicial.
A primeira fase da análise consistiu em depreender os eventos de cada entrevista. Eles
foram identificados nos depoimentos obtidos, considerando cada um dos quatro tipos de
eventos: de comunicação, de tarefa, relacionados à entrada de novos membros, e de controle e
avaliação. Essa identificação teve como base o referencial teórico já apresentado nesta
pesquisa.
Após a identificação dos tipos de eventos, foi dado um rótulo, ou código, para cada
evento apresentado em cada entrevista, com um nome para a situação. Códigos são rótulos
para designar unidades de significado para a informação descritiva ou inferida compilada no
estudo, estando relacionada a pedaços de dados (textuais), que dessa forma podem ser
rapidamente encontrados, destacados e organizados. (MILES; HUBERMAN, 1994).
Segundo recomendação de Miles e Huberman (1994), o pesquisador pode isolar temas
e expressões, mas estes devem se manter na forma original. O processo de codificação, para
os autores, envolve a forma pela qual se diferenciam e combinam-se os dados coletados e as
reflexões sobre eles (MILES; HUBERMAN, 1994).
A partir dos códigos, eles foram organizados em termos de grupos e sub-grupos, de
forma a fazer sentido nas suas relações. “O objetivo dessa etapa é elaborar a categoria
essencial em torno da qual as outras categorias desenvolvidas possam ser agrupadas e pelas
quais elas são integradas.” (FLICK, 2004, p. 194). Foram feitas muitas tentativas de
agrupamento até o momento em que alguma pudesse apresentar todas as situações em uma
organização que fizesse sentido. Muitas vezes o agrupamento teve de ser reorganizado com a
entrada de novas situações, trazidas pela análise de novas entrevistas.
Figura 1: Componentes da analise de dados: modelo interativo.
Fonte: adaptado de Huberman e Miles (1998, p. 181)
Conforme o modelo de Huberman e Miles (1998), a análise de dados ocorre em três
momentos distintos, antes, durante e depois da coleta de dados. Segundo Huberman e Miles
(1998), em todos os momentos da análise é possível retornar à coleta de dados para
complementar com novas informações, de acordo com os objetivos da pesquisa. Os
momentos da análise são os seguintes:
• Redução de dados: a partir do momento em que os dados estejam disponíveis, eles
são codificados, organizados por temas, agrupados e descritos.
• Apresentação de dados: as informações são estruturadas e organizadas, para que
seja possível desenhar as conclusões ou tomar novas ações.
• Desenho e verificação de conclusões: envolve a interpretação por parte do
pesquisador, com o uso de diferentes táticas, para que se possa chegar a diferentes
resultados.
Com base no modelo de Huberman e Miles (1998), a partir do momento em que as
primeiras entrevistas foram transcritas, começou o trabalho de análise, primeiramente
destacando as passagens das falas de cada um dos entrevistados. Para cada trecho, foi
indicado o tipo de evento: novos membros; tarefa; controle e avaliação, e; comunicação.
Após isso, cada trecho foi rotulado com um nome de evento correspondente. A lista
final com todos os eventos de cada um dos quatro tipos encontra-se no Apêndice C. Esse
processo foi repetido para todas as 13 entrevistas iniciais.
Esses eventos foram então numerados, impressos em papel e recortados. Foram várias
as tentativas de organização dos eventos de cada tipo em grupos, até se chegar a uma estrutura
que fizesse sentido e, ao mesmo tempo, contemplasse todos os eventos. Nesse momento
foram utilizados post-its coloridos de diferentes tamanhos para organizar a árvore de análise
dos eventos, desde o primeiro nível de análise dos quatro tipos de eventos, até cada evento
separadamente.
A partir do momento em que a estrutura se mostrou completa, foram analisadas as
lacunas de informações que faltavam; precisavam ser esclarecidas; ou mesmo necessitavam
de mais exemplos práticos. Foi nesse momento em que alguns pontos foram alterados no
roteiro de entrevista e se voltou ao campo, para mais 9 entrevistas.
Essas novas entrevistas também foram trabalhadas da mesma forma que as anteriores,
com as passagens sendo destacadas, rotuladas e, então, voltava-se a estrutura para verificar se
o evento já existia, ou não. Caso fosse um novo evento, tentava-se categorizá-lo na estrutura
já da forma como estava. Em alguns casos a organização teve que ser repensada para que o
novo evento fosse agregado ao conjunto. Somente a partir do momento em que as novas
entrevistas não trouxeram eventos não previstos e a estrutura conseguiu manter-se estável é
que foram suspensas as entrevistas.
A partir desse momento a análise foi feita de maneira ‘tridimensional’, como mostra a
Figura 2. De um lado foi considerado o perfil dos respondentes; do outro o tipo de evento e, o
terceiro ponto focal partiu das características do eventos.
Para a análise das características dos eventos, se retornou às transcrições das
entrevistas e mesmo às gravações originais e cada um dos trechos identificados como evento
foi analisado em seu contexto original a fim de identificar a frequência, importância,
incerteza, complexidade, urgência e pessoas envolvidas. Muitas vezes foi necessário ouvir
diversas vezes a passagem até ter clara qual a percepção do entrevistado para a característica.
Ao final, essas características identificadas para cada trecho de entrevista foram
inseridas em uma planilha separada, para que pudessem ser agrupadas e relacionadas à análise
dos tipos de eventos. Apesar de os resultados serem apresentados de forma agrupada, toda a
análise foi qualitativa, considerando não só o que estava expresso na fala dos entrevistados,
mas também a inflexão de voz, pausas, repetições, gaguejar, ênfases e outros aspectos sutis da
fala dos entrevistados.
Figura 2 – Estrutura de análise dos eventos.
No documento
GESTORES VIRTUAIS E OS EVENTOS DO COTIDIANO DE TRABALHO EM UM CONTEXTO DE HOME OFFICE
(páginas 57-62)