2.2 Trabalho virtual
2.2.3 Gestores virtuais
Diante do exposto anteriormente, as normas e práticas da gestão tradicional de equipes
precisa ser repensada para as equipes virtuais, de forma a estar adequada não só às funções,
mas a todo o modelo de trabalho e limites da atuação em um espaço não tão delimitado
(ELRON; VIGODA-GADOT, 2006). O gestor virtual tem o grande desafio de lidar tanto com
novas questões impostas pelo meio, quanto com as atividades mais usuais, que são desafiadas
por esta nova realidade ainda, em parte, desconhecida. Para Mihhailova (2009), com certeza
surgem problemas quando os gestores utilizam técnicas comuns de gestão de equipes, para as
equipes virtuais.
Ao se abordar o termo ‘gestor de equipe’ já se remete a uma figura do cotidiano
organizacional dotada de comportamentos esperados e expectativas sobre o que representa o
papel. As equipes virtuais são estruturadas em diferentes bases de trabalhos, tarefas, métricas,
além de um cenário único. Assim, não tem como esperar que essa nova ‘realidade virtual’
consiga ser gerida pelas mesmas bases e teorias desenvolvidas para lidar com uma realidade
presencial. Também não é suficiente ao gestor virtual saber lidar com as tecnologias. Ele deve
possuir novas habilidades para saber projetar a sua presença por meio de mídias, as quais não
consegue comunicar da mesma forma que nas relações face a face, e que se configuram como
aspectos subjetivos como expressões faciais, gestos e inflexões de voz (ZIVICK, 2012).
Para Cascio (2003), os gestores adequados para lidar com o trabalho virtual devem
possuir uma atitude aberta e positiva, focando em soluções para os problemas e em
resultados; que facilitem, encorajem e definam a performance para os membros da equipe;
habilidade em comunicação efetiva, tanto formal como informal, que inclua o uso de
diferentes procedimentos e tecnologias; prevenindo que os membros possam se sentir isolados
e que os motive e agregue, independente da distância geográfica e cultural; precisa ter
habilidade para saber delegar e acompanhar o trabalho de forma a garantir o cumprimento de
prazos; e saber como e quando utilizar cada TIC e como balancear momentos síncronos e
assíncronos.
Nas equipes virtuais, a cobrança e controle direto é muito difícil de acontecer, mesmo
com o apoio das tecnologias. A confiança na equipe se torna, assim, um aspecto primordial no
desenvolvimento e manutenção da união da equipe, uma vez que não há a co-presença nem a
mesma quantidade de afinidades culturais das equipes presenciais (ALTSCHULLER;
BENBUNAN-FICH, 2010).
Para a maioria dos trabalhadores virtuais, o único contato que possuem com a
organização é por meio de seu superior imediato, sendo mais sensíveis às questões que
envolvem esta relação (WIESENFELD; RAGHURAM; GARUD, 1999). Para Bell e
Kozlowski (2002), é responsabilidade do gestor fornecer objetivos, estruturas e normas que
auxiliem os membros da equipe a se auto-gerenciarem.
As responsabilidades de um gestor de equipes virtuais se iniciam com a percepção das
necessidades da equipe, providenciando os recursos necessários para que cada um desenvolva
as suas atividades. Para Zivick (2012), eles são responsáveis por dar feedbacks e
comunicações sistemáticas e substanciais, dando poder à equipe para que possam operar com
maior autonomia, estruturar um bom ambiente de trabalho, garantir o sacrifício
compartilhado, especialmente para reuniões síncronas com funcionários em diferentes fusos
horários, além da definição de regras, normas e papéis. Para Barros e Silva (2010), o gestor
virtual é também responsável por registrar a mudança na forma de trabalho, garantir o
desenvolvimento próprio e da equipe, implementar as rotinas da equipe, manter a equipe
integrada e motivada e trabalhar as dificuldades de adaptação.
Devido ao fato de que a comunicação é, em grande parte, mediada pelas TIC, o tempo
até que os membros da equipe possam confiar nos demais é maior, levando à necessidade de
dedicação e esforço extra do gestor para que todos se comprometam com a tarefa (ELRON;
VIGODA-GADOT, 2006). Alguns aspectos da gestão podem se tornar um pouco mais
fragilizados pela falta de controle direto dos subordinados, que leva à necessidade de uma
relação de maior confiança e liberdade para que cada funcionário possa tomar as decisões
relativas às suas atividades.
Dentre outras atividades que devem ser feitas pelos gestores virtuais, estão o processo
de coaching para desenvolvimento das habilidades necessárias para atuar como trabalhador
virtual; monitoramento da performance e processos da equipe; monitoramento do ambiente
interno e externo, filtrando as informações de terceiros; e coordenando a entrada e
socialização de novos membros da equipe (BELL; KOZLOWSKI, 2002; CASCIO, 2000).
Apesar de todas as responsabilidades específicas do gestor virtual de equipes, para
Konradt e Hoch (2007), o repertório de papéis que eles desempenham é mais limitado por não
terem acesso a todas as atividades que exigem contato face-a-face. Para os autores, a distância
ocasiona diminuição da troca de significados do trabalho e percepções de efetividade. Assim,
independente do fato de o gestor ser virtual ou não, os aspectos simbólicos que definem e
fortalecem a identificação como ‘gestor’ – especialmente os artefatos, como mesa e sala
diferente, placa de identificação e privilégios organizacionais - se alteram no contexto virtual,
muitas vezes ameaçando pontos chave do autoconceito, como a identidade, autoestima e
senso de controle (WIESENFELD; RAGHURAM; GARUD, 1999).
Há ainda muito a ser pesquisado sobre o trabalho dos gestores virtuais, desde as
características do trabalho e as competências necessárias, até as maneiras de conseguir uma
boa performance de trabalho e as peculiaridades do trabalho virtual. Neste sentido, a presente
pesquisa pretende investigar quais são os eventos do cotidiano dos gestores virtuais de equipe.
2. 3 Eventos
Uma dificuldade dos estudos organizacionais está em identificar com clareza as
atividades nas quais o gestor gasta seu tempo e quais as que possuem maior peso e
representatividade. De acordo com Smith e Peterson (1994), muito desse tempo é gasto em
comunicações com subordinados, pares e superiores, ou como porta voz de um para o outro,
filtrando e decodificando a mensagem para atingir os objetivos desejados.
A atividade de gestão compreende diferentes papéis, que podem estar em conflito,
uma vez que o gestor age como intermediador de diferentes necessidades, segundo a função, a
organização e a cultura. Para Smith e Peterson (1994) o maior conflito de papel está na
diferença entre a forma como a vida na organização é experienciada pelo gerente e a soma
total das exigências impostas sobre ele pelos demais.
No documento
GESTORES VIRTUAIS E OS EVENTOS DO COTIDIANO DE TRABALHO EM UM CONTEXTO DE HOME OFFICE
(páginas 31-34)