4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.5 Análise dos eventos de Controle e Avaliação
4.5.2 Controle do projeto
Doze dos vinte e dois gestores entrevistados trabalham com a estrutura de projetos, ou
seja, possuem um objetivo central para a equipe, de algo que precisa ser entregue em um
prazo determinado, e têm a equipe estruturada de acordo com esse objetivo, sendo os
membros integrados à equipe, na medida em que são necessários para cumprimento dos
objetivos, por um prazo determinado (KENSKI, 2015). A estrutura de projetos pode, por um
lado, facilitar o controle de entregas, prazos e fluxo do trabalho, mas, por outro lado, dificulta
a integração dos membros, uma vez que eles entram na equipe conforme a sua utilidade ao
projeto e saem no momento em que suas habilidades deixam de ser necessárias ao projeto.
Dessa forma, são três os eventos relacionados ao controle do projeto, como mostrado pela
Figura 9.
Figura 9 – Eventos de controle do projeto.
Fonte - Elaborado pela autora.
Controle do projeto
Decisão sobre o envolvimento em projetos
Gestão do cronograma e prazos do projeto
Decisão sobre a forma de mensuração dos
resultados, entrega e fechamento do projeto
Evento 1: Decisão sobre o envolvimento em projetos
O primeiro evento diz respeito à decisão sobre se envolver ou não em um projeto. A
autonomia dada ao gestor virtual torna possível que ele escolha os projetos em que quer estar
envolvido, não só para si como para cada membro da equipe. Essa decisão envolve diferentes
variáveis, para cada um dos entrevistados, em cada caso. A G2-V-F-P, por exemplo, precisa
de aprovação superior para que ela e sua equipe se envolvam em um novo projeto. Tanto o
G9-V-S-P como a G11-SV-S-T consideram a quantidade de encontros presenciais antes de
aceitar se envolver em um novo projeto, pois isso prejudica toda a sua rotina diária, já que
eles vivem em cidades diferentes do escritório da empresa. Alguns gestores também
colocaram o fato de somente aceitar projetos que já têm as pessoas necessárias na equipe,
como forma de evitar novas contratações, ou ter que integrar um novo membro.
Para o G8-V-R-T, que está envolvido em um projeto de longa duração, ele nem
considera deixar o projeto, antes da conclusão desse, por mais que tenham surgido boas
oportunidades, para participação em projetos que ele considera mais estratégicos. No geral, os
gestores virtuais entrevistados podem escolher os projetos que querem participar ou não,
como afirma a G18-SV-R-T:
Porque eu, se eu quiser, eu nego aquele trabalho, nego aquela demanda. Eu
não sou obrigada pelo meu chefe, necessariamente a pegar. Isso não implica
necessariamente em falta de responsabilidade com os prazos que já foram
acordados, de forma alguma.
Outro lado da possibilidade de escolher os projetos, foi apresentado pelo G5-SV-R-T,
que coloca uma dificuldade do home office, que é ser lembrado para um novo projeto, por não
estar em evidência. “É muito legal quando alguém entra em contato que você nem está
esperando, porque ela ficou sabendo do seu trabalho via outra pessoa.” Para ele, o mais
importante é fazer os projetos com qualidade e dentro do prazo, pois é o que garante que
continue sendo convocado para bons projetos.
Evento 2: Gestão do cronograma e prazos do projeto
A gestão do cronograma e dos prazos é o segundo evento desse grupo. A falta de um
acompanhamento diário das ações e de ter todos envolvidos no mesmo espaço, faz com que
muitas questões de prazo sejam mais difíceis de serem negociadas. Para evitar isso, por
exemplo, a G18-SV-R-T cria um acompanhamento pessoal dentro do cronograma do projeto,
“eu já posso pensar e então fazer um planejamento prévio de alguma atividade do
cronograma. Eu fico com o cronograma aqui do lado. Está vendo?”.
Para auxiliar na gestão dos prazos, quatro depoentes disseram que preferem
compartilhar todo o cronograma do projeto tanto com os envolvidos no desenvolvimento,
como com os clientes e a gestão da organização, como coloca o G14-V-R-P “A gente tem um
sistema interno, esse sistema é um sistema de workflow e toda a gerência do projeto é feita por
esse sistema.” É isso o que acontece, também, com a GV 15-V-F-P, que coleta diariamente as
informações da equipe sobre o andamento dos projetos. Esta gestora costuma utilizar a
sexta-feira a tarde para rever o cronograma e passar para a equipe na semana seguinte.
Uma das questões sobre a gestão do cronograma, diz respeito aos imprevistos. “Ou o
cliente pede mais coisas, ele não entende que se está pedindo mais ele tem que ampliar o
prazo.” (G3-N-R-T). Em um projeto de longa duração, por exemplo, como o realizado pelo
G5-SV-R-T, ele conta que, no meio do prazo determinado para o projeto, o cliente precisou
adiantar todas as datas, fazendo a equipe ter que sacrificar muitas atividades, especialmente
pessoais, para conseguir cumprir com os novos prazos mais curtos.
Alguns depoentes preferem colocar prazos curtos e assumir o excesso de trabalho,
como a G4-N-R-T e a G11-SV-S-T. Outros depoentes têm prazos curtos por imposição dos
superiores e clientes, como forma de diminuir os custos do projeto. Já a G1-SV-R-T prefere
criar cronogramas de trabalho que tenham espaço para assumir imprevistos sem precisar
sacrificar as demais atividades nem entregas, o que não acontece com a G11-SV-S-T e a
G12-N-R-T que, muitas vezes, precisam renegociar os prazos.
Evento 3: Decisão sobre a forma de mensuração dos resultados, entrega e fechamento do
projeto
A finalização de cada fase do projeto, ou o encerramento final podem estar repletos de
questões que, na maioria dos casos, já existiam antes dos membros da equipe estarem
trabalhando virtualmente, mas que foram alterados pela mudança no ambiente de trabalho,
especialmente devido à distância física existente entre as pessoas. Assim, nesses casos, a
forma de conduzir o fechamento, fazer as entregas e até receber feedback de clientes é
diferente.
Para o G3-N-R-T, a forma como os clientes recebem cada fase é o melhor feedback.
caminho certo ou se deve alterar o rumo do projeto. Apesar disso, a falta de momentos de
interação, para mostrar o que está sendo feito, pode prejudicar, especialmente no caso de um
projeto que tenha muitos pedidos de ajustes ou alteração a cada entrega. Como forma de
evitar isso, a G11-SV-S-T tenta não aceitar projetos que ela perceba que podem ter muitos
ajustes, pois isso pode atrapalhar o seu cronograma pessoal, a sua avaliação como gestora e de
sua equipe e até comprometer a produtividade, a disponibilidade para novos projetos e os
pagamentos das pessoas que recebem de acordo com as entregas.
Também sobre a forma de mensurar os resultados, a G4-N-R-T afirma que,
dependendo do projeto, especialmente se envolve o uso massivo de tecnologias no
acompanhamento da equipe e prazos, o resultado pode vir muito rápido. Outros entrevistados
afirmam que quanto mais estruturado é o acompanhamento do projeto, especialmente quando
usam sistemas de controle, têm maior facilidade de comprovar a eficiência da equipe e os
resultados dos projetos que desenvolvem.
Alguns dos depoentes, como o G5-SV-R-T, tem o seu pagamento vinculado ao
fechamento de projetos, ou fases. Assim, mais do que somente o acompanhamento e
mensuração de resultados, são as entregas bem feitas que garantem que ele consiga se manter
trabalhando para a mesma empresa, nesse modelo de trabalho.
Desta forma, os eventos de controle do projeto envolvem diferentes decisões, desde a
decisão de aceitar ou não um projeto, que é feita de acordo com diferentes interesses,
passando por todas as questões do desenvolvimento do projeto, especialmente com relação à
prazos, até a entrega de cada fase do projeto e o encerramento final. Por mais que esses
eventos não sejam específicos do trabalho do gestor virtual, mas sim de diferentes gestores de
projeto, o fato do trabalho ser desenvolvido remotamente trouxe outra conotação para muitas
das situações já conhecidas dos gestores que atuam presencialmente.
No documento
GESTORES VIRTUAIS E OS EVENTOS DO COTIDIANO DE TRABALHO EM UM CONTEXTO DE HOME OFFICE
(páginas 116-119)