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Análise Moral da Conquista de Canaã por Josué

O livro salienta uma questão ética crucial: como se justificaria que um povo escolhido por Deus se apossasse de Canaã, massacrando a população, tomando a sua terra e riquezas? Defrontamo-nos com esse problema moral em outros livros, como Números e 1 e 2 Samuel, onde Israel impõe armas contra os pagãos em vez de pregar a Palavra. Por que não foram enviados a Canaã como evangelistas em vez de carrascos? Diversas razões importantes devem ser observadas a partir do cenário histórico:

1. Devido à Degradante Religião de Canaã. A religião de Canaã tinha-se tornado tremendamente abominável aos olhos de Deus e da própria moralidade. Escavações ugaríticas mostraram a extrema obscenidade da religião que tinha um panteão de deuses: El, o deus principal, é or­ gulhosamente apresentado como sendo inteiramente sensual, sórdido e sanguinário até consigo mesmo; as três deusas cananéias, enroladas em serpentes, são apresentadas em posturas vis e sensuais. O sistema prestava homenagem a serpentes, era totalmente depravado e estava fadado à destruição.

2. Devido à Sua Cultura Corrompida. A adoração ao sexo demoníaco e aos ídolos de guerra refletiam uma sociedade permeada da mais grosseira imoralidade e violência. Escavações arqueológicas revelam que os seus templos eram centros de vício com sacerdotes sodomitas e sacerdotisas prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares se tinha tornado ritual comum. A baixeza da idolatria de Canaã formava contraste com a idolatria do Egito e da Mesopotâmia, cuja moralidade não tinha caído em tão profunda vulgaridade e brutalidade. A cultura estava fadada à destruição (Levítico 18:25).

3. Devido às Admoestações e Paciência de Deus. O texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de Canaã e podia dá-la ou negá-la a quem quisesse, por razões nem sempre evidentes aos homens. O seu plano de cessão e período de experiência é observado diversas vezes muito antes de Moisés e Josué:

a. Através de Noé, Deus profetizou julgamento para os cananeus pela sua obscenidade (Gênesis 9:22-27).

b. Para Abraão e os seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã, a qual eles rece­ beriam depois de cheia a medida da iniqüidade dos amorreus (Gênesis 15:13-16). c. Justamente como aconteceu com os habitantes de Sodoma antes da sua destruição, o Senhor

deu aos cananeus muitas oportunidades de arrependimento (Gênesis 18:25; Romanos 1:18- 22). Deus esperou 400 anos.

4. Devido à Comissão Divina de Israel. Israel não foi designado para ser apenas uma organização religiosa, mas um governo civil com obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira comissão era executar o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo com a aliança noéica (Gênesis 9:6). Apesar de sempre reticente na execução daquele sórdido dever, Israel estava sob o comando específico do Senhor para tomar a terra, destruir os cananeus e receber a sua riqueza (Números 31:7; Deuteronômio 9:3; 7:15; Josué 1:1-7). Na realidade, os ataques de Israel eram quase sempre respostas aos ataques iniciais dos cananeus (Números 21:1; 23-24, 33; Josué 9:1-2; 10:1-4; 11:1-5).

5. Devido às Promessas da Aliança Feitas por Deus. Conforme o Senhor declarou a Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina por Israel estender-se-á desde o Egito até o Eufrates (Gênesis 15:8; Deuteronômio 1:7-8; 30:5). Antes daquela futura ocupação final, entretanto, o Senhor nova­ mente limpará a terra da vil idolatria e brutalidade introduzida por um sistema religioso inspirado por Satanás (Apocalipse 14:16 e ss.; 19:15).

extremo norte.) De acordo com a profecia de Jacó, Simeão e Levi não receberam área especial, mas ficariam espalhados em Israel. 10. “ESCOLHEI HOJE A QUEM SIRVAIS” (24:15). Este foi o fa­

moso desafio de Josué no fím da sua vida, quando ele reuniu as tribos em Siquém. Vendo a tendência do povo para a idolatria, avisou-os do perigo de presumir que estavam servindo ao Senhor, sem o servir na realidade. O povo reagiu favoravelmente à solene chamada de consagração e austeridade, o que proporcionou um final feliz a esse livro de fé e vitória.

11. VENDO CRISTO EM JOSUÉ. Embora não haja profecias sobre Cristo no livro de Josué, diversos tipos podem ser observados. O “cordão de escarlate à janela” de Raabe (2:18,21) é visto com freqüência como tipo da obra redentora de Cristo. Como o sangue nas ombreiras das portas no Egito livrou do anjo da morte os que estavam na casa, também o cordão de escarlate em Jericó iden­ tificou os da casa de Raabe que tinham fé (Hebreus 9:19-22). Da mesma forma, o “Príncipe do exército” é uma cristofania, sem dúvida (Josué 5:14). E o próprio Josué é, nesse livro, o tipo por excelência de Cristo, tanto no seu nome (“Jesus”, ou “salvação” do Senhor) e na sua obra de trazer o povo ao descanso (Hebreus 4:6-10). A vida cristã está também retratada por Paulo em Efésios 6 como uma batalha que pode ser vencida pelo uso da armadura de Deus.

0 Livro de luízes

Introdução

AUTORIA

A. T ÍT U L O

O título “Juizes” (Shophetim) é devido aos líderes levantados intermitentemente por Deus, para que houvesse liderança em épo­ cas de emergência durante o período que vai de Josué até o reinado de Saul. O nome “Juizes” descreve duas funções desses líderes:

a. Livrar o povo dos seus opressores, na função de líder militar. b. Resolver disputas e defender a justiça, na função de líder

civil.

B. A U T O R

O livro é anônimo, mas a tradição judaica o atribui a Samuel por diversas razões. Ele era escritor e educador (1 Samuel 10:25). A ênfase dada à tribo de Benjamim sugere a época do rei Saul, quando Samuel ainda julgava, antes de o nome da cidade de Jebus ter sido mudado para “Jerusalém” (Juizes 1:21; 19:10).

CENÁRIO HISTÓRICO

A. D A T A — 1375-1075 a.C.

1. O livro de Juizes é o único que registra um longo período da Vústóvia de Israel. Descreve três guerras civis, sete opressões de cinco inimigos, sete guerras de libertação, um número de ma­ gistraturas judiciais pacíficas e, finalmente, uma magistratura malsucedida de Sansão, a qual quase terminou com os filisteus assumindo o controle.

2. Apesar de o período total de trégua e opressão chegar a 410 anos, o tempo envolvido foi de aproximadamente 300 anos até a morte de Sansão. O confronto entre as magistraturas provin­ ciais e as relatadas em Juizes justificam essa diferença.

B. E $ T A D O D A N A Ç Á O

1. Após a morte de Josué, Israel ficou sem um líder nacional por mais de 300 anos. As tribos mostravam-se independentes e cada indivíduo era uma lei perante si próprio. Durante esse tempo o Senhor levantou juizes principalmente nas emergências para livrá-los dos inimigos invasores e defender a justiça civil. 2. Esse foi um período em que o Senhor testou a nação para ver

como ela guardaria a sua aliança num ambiente pagão e idólatra (3.1-5). Os israelitas caíram em uma condição crônica de apos­ tasia. Aceitavam entusiasticamente os livramentos do Senhor, mas quando lhes faltava uma forte liderança, retornavam ra­ pidamente às práticas pagãs que os rodeavam.

3. O estado espiritual da nação contrasta vivamente com o da época de Josué. Seu livro apresenta uma história de obediência, fé e vitória sob a liderança teocrática desse grande homem de Deus. Juizes, porém, é um livro que apresenta uma história de contínuo fracasso: “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (17:6). Se não fosse pelas misericordiosas operações de livramento do Senhor durante esse período, a nação teria afundado numa idolatria pagã irrecuperável.

OBJETIVO DO LIVRO DE JUÍZES

O objetivo principal de Juizes é preservar um registro do caráter de Israel durante o tempo em que este não tinha um líder nacional, e enfatizar sua necessidade de um rei teocrático. Os muitos ciclos de fracasso e castigo salientam repetidamente a verdade deuteronômica de que o abandono da fé no Senhor traz inevitavelmente o castigo da servidão e o caos.

Contribuições singulares de Juizes

1. MOTIVO DO JULGAMENTO. Do mesmo modo que o Livro de Josué revela as bênçãos da aliança através da fé e obediência, Juizes retrata as maldições da desobediência. Josué é um livro pleno de vitórias; Juizes, pleno de derrotas. Embora os maiores trechos do livro sejam de descanso e paz depois do arrependimento, a ênfase está nas conseqüências inevitáveis da idolatria conforme veemente admoestação de Moisés. À medida que evoluíam os ciclos de ido­ latria, os períodos de opressão tornavam-se mais longos, e os de descanso mais curtos. No final, os filisteus controlavam os acon­ tecimentos, até mesmo seduzindo e destruindo o homem forte de Israel, Sansão. As histórias de Dã e Benjamim terminam o livro com esse motivo de julgamento: deixando de obedecer ao Senhor e assim conquistar facilmente seus inimigos, os israelitas são con­ quistados por eles e julgados por Deus.

O Livro de Juizes

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2. NECESSIDADE DE UM REI PARA ISRAEL (17:6; 18:1; 19:1; 21:25). Essa necessidade é retratada com clareza nos capítulos 1- 16, e é afirmada quatro vezes na parte final. Sem um rei, eles se encontravam num estado de anarquia. Por que Deus os deixou sem um líder ou não lhes deu imediatamente um rei conforme promessa de Deuteronômio 17-18? Parece que o objetivo desse período de espera era ajudá-los a reconhecer a necessidade de alguém que os governasse. Foi também um período de teste para deixá-los manifestar a escolha da aliança do Senhor como o seu Rei teocrático, conforme palavras de Moisés (Deuteronômio 12:2, 5). Foi-lhes permitido escolher a liderança do Senhor sem ne­ nhuma coação de um monarca. Os fracassos apenas intensificaram a necessidade de tal liderança.