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OBJETIVO DO LIVRO DE DEUTERONÔMIO

TEMA: Moisés Expõe as Leis para a Vida em Canaã

OBJETIVO DO LIVRO DE DEUTERONÔMIO

O objetivo de Moisés ao escrever o livro ou ao pronunciar os dis­ cursos era o de preparar a nova geração de Israel para viver em Canaã mediante uma reafirmação da Lei Sinaíta. Uma vez que a lei original era um tanto breve e direcionada, Moisés expressa aqui a parte fun­ damental da lei em forma de sermão, estendendo-se nós princípios básicos e falando em tom exortativo. Lembra-lhes o passado, exorta- -os quanto ao presente e encoraja-os com a promessa de Deus para o futuro. Ao recordar-lhes a lei divina, procura motivá-los para o amor de Deus. Enfatiza a segurança da Palavra de Deus e suas pro­ messas contidas na aliança com os patriarcas, procurando lembrá-los do dever de serem fiéis para que as promessas se cumpram.

Contribuições singulares de Deuteronômio

1. SUPLEMENTO DE ÊXODO: POR QUE UMA SEGUNDA LEI? Embora Deuteronômio suplemente todos os quatro livros ante­ riores, ele elabora especialmente a Lei Sinaíta de Êxodo 20-23. a. Deuteronômio 5:7-21 repete o Decálogo de Êxodo 20 quase

textualmente, apenas dando uma razão diferente para a guarda do Sábado: o livramento da servidão.

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b. Enfatiza o amor: amor de Deus por Israel (cinco vezes); ne­ cessidade de o homem amar a Deus (doze vezes); necessidade de Israel amar o estrangeiro (uma vez). “Amar” é visto como o undécimo mandamento ou a motivação latente de todos os mandamentos.

c. Esse livro realça o benefício pessoal de guardar os manda­ mentos de Deus: “para que te vá bem” (4:40; 5:16). Os man­ damentos, na sua maioria, são dados com fundamento lógico, como se estivessem apelando para o senso de retidão. Quando reafirma a pena de morte para crimes capitais, acrescenta o motivo: “assim eliminarás o mal do meio de ti”, frisando o efeito desaconselhável dessas práticas (13:5; 17:7; 19:19; 22:21 etc.). d. E mais veemente e exortativo que Êxodo. Funciona mais como

um sermão de um pregador do que como a intimação de um policial. Moisés se dirige aqui mais especialmente à consciência e ao coração do que apenas ao intelecto.

e. Enfatiza a relação inevitável entre obediência e bênção, bem como entre desobediência e maldição, o que não é mencionado em Êxodo.

f. Expressa uma forte preocupação pelos necessitados, órfãos, viúvas e estrangeiros, apenas mencionados ligeiramente em Êxodo, e inclui uma seção especial sobre direitos humanos (23- 25).

g. Tem muito que dizer sobre a vida familiar, o casamento, o divórcio, novas núpcias e os direitos da mulher em geral. h. Acentua as responsabilidades de vários líderes (16-18). i. Inclui muitas advertências acerca do perigo da prosperidade

(6:10 e ss.; 8:10 e ss.; 11:14 e ss.).

j. Enfatiza que Deus escolhe a Israel em amor e a necessidade de Israel escolher a Deus em amor (4:37; 7:7-8; 30:19-20). “SHEMA” DE ISRAEL OU “PROFISSÃO DE FÉ” (6:4 9). “Ouve, Israel, o Senhor o nosso Deus é o único Senhor”, seguido da ordem de amar a Deus e ensinar a sua Palavra, é a doutrina central da teologia hebraica. Apesar de a ênfase ser geralmente colocada na unidade de Deus, Jesus acentuou a ordem de amar a Deus (Mateus 22:37) e ao próximo. A palavra hebraica “um”,

(echad), entretanto, significa uma unidade com possíveis divisões em vez de uma singularidade absoluta (como a palavra “yakeed” expressaria). Em Gênesis 2:24, homem e mulher tornam-se “uma só carne” (echad). A palavra “um” (echad) insiste na unicidade ou unidade de Deus, mas admite uma revelação posterior das três Pessoas — Pai, Filho e Espírito Santo — como sendo Deus Único.

Essa profissão de fé (Shema) tem sido a marca autêntica da religião de Israel através da história, embora tenham deturpado a importância de “um” (echad).

3. LIVRO TEOLÓGICO PRINCIPAL DO ANTIGO TESTA­ MENTO. Os elementos integrantes da teologia do Antigo Tes­ tamento são encontrados, na sua maioria, em Deuteronômio. Contém 259 referências aos quatro livros anteriores de Moisés e apresenta uma linda combinação de amor, santidade e justiça de Deus. Adverte a Israel quanto ao passado, presente e futuro, e alude às quatro alianças do Antigo Testamento feitas com esta nação. Este livro trata de um maior número de questões de re­ lacionamento humano do que qualquer outro livro da Bíblia. 4. LIVRO DO ANTIGO TESTAMENTO MAIS CITADO. Deu

teronômio é citado 356 vezes por posteriores escritores do Antigo Testamento, e mais de 190 vezes no Novo Testamento. Foi um dos livros favoritos de Jesus, pois ele o citou mais do que outro qualquer. Ao refutar o diabo, por exemplo, Jesus enfrentou cada desafio com uma citação de Deuteronômio, vencendo-o com o simples poder da citação. O diabo, em Mateus 4:6, usou o Salmo 91, citando-o fora do contexto.

5. QUATRO LEIS ESPIRITUAIS DE ISRAEL (10:12 13). A res­ posta de Moisés para “Que o Senhor requer de ti?” resume a lei e a essência da verdadeira religião em quatro pontos:

a. Temor e reverência ao Senhor teu Deus. b. Andar em todos os seus caminhos e amá-lo.

c. Servir ao Senhor com todo o teu coração e toda a tua alma. d. Guardar os mandamentos do Senhor (os quais são “para o teu

bem”).

Mais tarde Miquéias respondeu à mesma pergunta com um resumo da mensagem dos profetas, em Miquéias 6:8.

6. RESPONSABILIDADE DOS LÍDERES PÚBLICOS (16-17). Nesses dois capítulos, vêem-se três classes de líderes: juizes, juízes- -sacerdotes e reis. As suas principais responsabilidades eram apli­ car justiça sem parcialidade. Duas salvaguardas eram exigidas para garantir o julgamento imparcial: 1) deviam abster-se de re­ ceber suborno de qualquer espécie, e 2) procurar constantemente conselho na Palavra de Deus.

7. “LEX TALIONIS” DE ISRAEL OU “PENA DE TALIÃO” (19- 21). Já expressa em Êxodo 21:23-24 e Levítico 24:20, é aqui re­ petida e declarada ser dissuasão fundamental para o crime em Israel (19:20-21). É o princípio básico do sistema de justiça ex­

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posto em Deuteronômio. Foi designado como um princípio hu­ manitário de justiça igual para todos, não como um legalista “cas­ tigo celestial” para o infrator. Seu objetivo era restringir o castigo ao limite da ofensa, e jamais deveria ser infligido com malevo­ lência ou vingança. A referência que Jesus faz a essa lei em Mateus 5:38 tinha por finalidade corrigir o seu mau uso de cobrar o “último ceitil” em disputas pessoais. Era um princípio judicial dos tribunais e não certamente um princípio pessoal de “desforra”. 8. GUERRA E DERRAMAMENTO DE SANGUE INOCENTE

(20-21). Israel foi designado o algoz de Deus contra a corrupta sociedade de Canaã. Todavia, não devia agir como os gentios. Os israelitas receberam instruções especiais para que não se tornas­ sem eles mesmos uma sociedade violenta. Para executar essa mis­ são de maneira adequada, dois princípios básicos foram enuncia­ dos nestes dois capítulos:

a. Por ordem de Deus, tinham de matar o perverso como uma responsabilidade solene, e não como opção.

b. Muito cuidado tinha de ser tomado para que dentro da socie­ dade israelita nenhuma pessoa inocente fosse morta. Deus responsabilizaria uma cidade inteira pelo derramamento de sangue inocente. Deviam evitar qualquer violência.

9. ALIANÇA PALESTÍNICA COM ISRAEL (28 30). Israel seria hóspede de Deus na Palestina e foram-lhe prometidas bênção ou maldição ilimitadas na base da obediência. Se a nação desobe­ decesse, seria punida e finalmente espalhada “de uma até à outra extremidade da terra” (28:64). Ali os israelitas não achariam des­ canso; teriam “coração tremente, olhos mortiços e desmaio de alma” (28:65). Depois da dispersão, “nos últimos dias”, o Senhor os restauraria e os ajuntaria de novo na terra (30:1-5), quando tornassem “ao Senhor” e dessem ouvidos “à sua voz”. A aliança pode ser resumida em três pontos:

a. A terra de Canaã pertencia ao Senhor, que a prometera como posse eterna aos filhos de Abraão.

b. A ocupação, entretanto, dependia da obediência à aliança do Senhor.

c. Finalmente, o Senhor restauraria e ajuntaria a nação nova­ mente quando retornassem “ao Senhor” e a ele obedecessem. 10. O GRANDE PERIGO DA IDOLATRIA. É quase incessante a admoestação de Moisés quanto à idolatria (mais de trinta refe­ rências, como em 4:16-19; 5:7-9; 6:14-15; 7:4-5; 8:19-20). O povo viera de uma terra de muita idolatria, retornara à idolatria di­ versas vezes no deserto e estava prestes a invadir uma terra cujo

povo adorava grande número de ídolos. A terra de Canaã era muito rica, mas perversa e corrupta na sua idolatria. A tendência do povo seria adotar aquela idolatria, uma vez que as práticas idólatras parecia enriquecer os cananeus. Os israelitas estavam prestes a enfrentar uma batalha espiritual, além de uma batalha militar. Moisés trata aqui dos vários ardis pelos quais o diabo poderia levá-los à idolatria.

11. PROFECIA MESSIÂNICA DE DEUTERONÔMIO: “UM PRO­

FETA SEMELHANTE A MOISÉS” (18:18-19). A vinda de Cristo como Profeta é mencionada pela primeira vez nessa passagem de Deuteronômio. A missão de um profeta era transmitir as palavras de Deus ao povo. Moisés foi um profeta poderoso em obras e palavras, em milagres e palavras da Lei. Suas obras demonstraram que ele proferia as verdadeiras palavras de Deus, como Elias o fez depois dele. Do mesmo modo, os grandes milagres de Jesus demonstraram sua messianidade e a verdade das suas palavras. Embora os milagres de Moisés, em sua maioria, tenham sido obras de julgamento, os de Jesus foram obras de misericórdia. Ao pro­ ferir essa profecia messiânica, Moisés salientou a absoluta exati­ dão e convicção profética das palavras que o Messias iria proferir (18:22).

Introdução aos