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M: ABACATE TERRA

1.3 ANALOGIA E CONCEITOS CORRELATOS

1.3.2 Analogia e modelo

Quando se trata de definir, exemplificar e aprofundar-se nos estudos sobre modelos, a variabilidade semântica é bastante grande. Dentro da esfera de significados e teorias sobre modelos e seus usos didáticos, vale a pena registrar as principais concepções, justamente para diferenciá-las de analogia. Apesar de analogia e modelo serem conceitos distintos e de nenhum deles estar subordinado ao outro (MÓL, 1999), a sua distinção faz-se necessária, pois os professores têm os confundido, tratando-os como sinônimos. Oliva Martínez et al.(2004, p. 4) exemplificam a confusão com a fala de um professor pesquisado: “Me gusta utilizar un circuito hidráulico como modelo para explicar la corriente eléctrica”. Rigolon e Obara (2010, p. 24) também verificaram que licenciandos de Biologia confundem analogia com modelo. Por exemplo, um licenciando afirmou: “Analogia seria uma representação, de algo seguindo um modelo já existente”.

A pluralidade de significados existente para modelo talvez possa mostrar o porquê de seu conceito estar envolvido a tantos outros, por vezes, erroneamente. Segundo Houaiss (2009), modelo pode ser entendido como a representação de um objeto em medidas reduzidas para depois ser reproduzido em dimensões reais. Por exemplo, faz-se primeiramente o modelo de um navio ou de uma casa e depois o navio ou a casa em tamanhos naturais, obedecendo às proporções do modelo. Essa acepção de modelo faz jus ao seu emprego etimológico inicial. A

palavra modelo vem do italiano modelo, que por sua vez veio do latim vulgar modellum. Esta é o diminutivo do latim modus que significa “medida em geral; medida que não se deve ultrapassar” (HOUAISS, 2009).

Depois, nas Artes Plásticas, o modelo deixou de ser uma concepção primária para uma realização concreta posterior para exercer o efeito contrário. O modelo é então um objeto do qual o artista o reproduz em seu trabalho (HOUAISS, 2009). O objeto original do qual se faz outras reproduções, então, é o modelo. O modelo é o exemplar, o que deve ser copiado: fazenda- modelo, escola-modelo.

Em vários casos, por diferentes que sejam os empregos do modelo, o que se observa é a condição de ser uma representação de algo e essa representação é, será ou deve ser reproduzida. Nas escolas, os professores utilizam modelos em resina que representam partes do corpo humano, figuras que representam o átomo, maquetes que representam o ciclo hídrico, miniaturas que representam ferrovias, etc.

De tal maneira, modelo “sempre existe como representação de algo” (FRANCISCO JÚNIOR, 2010, p. 136). Para Krapas et al. (1997), é a representação de uma ideia, objeto, processo ou sistema. Um modelo substitui ou ocupa o lugar por ele representado. Para Sardinha (2007, p. 89), o modelo “seria uma metáfora consolidada, elevada ao grau de conhecimento licenciado pela comunidade científica”.

Segundo Mól (1999, p. 64), o modelo é uma comparação explícita feita “entre um conceito alvo e uma imagem ou objeto que o represente. Os modelos podem apresentar-se na forma de uma imagem ou de um objeto”. Os modelos representados por imagens são as gravuras ou figuras, podendo ser também fotos. Os modelos representados por objetos concretos são denominados simplesmente como modelos ou objetos. De acordo com Mól (1999), o modelo pode ser entendido como a representação física de um conceito ou objeto que não se pode manipular com facilidade. Essa dificuldade de manipulação pode ser consequência de dificuldades práticas (e.g., órgãos humanos internos) ou devido ao tamanho do que se representa, podendo ser muito grande (e.g., Sistema Solar) ou muito pequeno (e.g., moléculas). Há também os modelos virtuais, bi ou tridimensionais, que existem apenas em representações computacionais.

De modo mais particular, os modelos de interesse pedagógico são o mental, o científico e o pedagógico. O primeiro modelo a aparecer é o mental, isto é, a representação cognitiva que um sujeito faz de um determinado conceito ou fenômeno. Inclusive, como já mostrado, o modelo mental é uma construção feita basicamente por meio de relações analógicas. “A elaboração de modelos pressupõe o uso da imaginação e do raciocínio

analógico” (FRANCISCO JÚNIOR, 2010). Se os modelos mentais estão no centro dos processos cognitivos (KRAPAS et al., 1997), então o raciocínio analógico também está.

Segundo Borges (1997, p. 207), o modelo mental é um modelo que só existe na mente de alguém. Dessa forma, cada pessoa só pode falar a respeito de sua própria concepção. Intuitivamente a ideia é simples: “pensar envolve a criação e a internalização de modelos simplificados da realidade”. Os modelos mentais são usados para caracterizar as formas pelas quais as pessoas compreendem os sistemas concretos com os quais interagem.

“Quando algum produto resultante de um processo de modelagem passa a ser compartilhado por uma certa comunidade, recebe o nome de modelo conceitual e pode ser, em determinadas situações, transformado em um objeto concreto” (KRAPAS et al., 1997, p. 186). Esses são os modelos conceituais, construídos de forma rigorosa, consistente e coerente para representar um sistema, objeto, situação ou fenômeno de maneira mais próxima possível da realidade (FRANCISCO JÚNIOR, 2010).

Quando o modelo conceitual é compartilhado pela comunidade científica pode então ser considerado como um modelo científico. Neste âmbito, os modelos ocupam uma posição intermediária entre a realidade observada e a teoria. “A ciência cria modelos para representar e explicar o mundo” (FRANCISCO JÚNIOR, 2010, p. 150). Kac (1969 apud GONZÁLEZ GONZÁLEZ, 2002, p. 5) sugere que os modelos na Ciência “son, en la mayor parte, caricaturas de la realidad”. Os modelos são, ao mesmo tempo, objetos e produtos da Ciência.

No entanto, como ressalta Francisco Júnior (2010) para se tornar consensual, o modelo passa por inúmeras etapas que nem sempre dependem de sua coerência apenas. Muitas vezes, aspectos políticos, econômicos ou até mesmo geográficos influenciam sua aceitação pela comunidade científica.

Uma vez estabelecido um modelo científico, pode-se adaptá-lo para fins educacionais de modo a torná-lo mais didático. Esse é o modelo pedagógico. Nesse sentido, Francisco Júnior (2010, p. 143) afirma que o uso de analogias “pode ser entendido como um processo de modelização com fins educacionais, uma vez que se intenta, a partir do mapeamento entre atributos similares de duas estruturas, construir ideias sobre o desconhecido”.

De acordo com Gilbert e Boulter (apud KRAPAS et al., 1997, p. 190), o uso de modelos pedagógicos visa promover caminhos intelectuais específicos de compreensão dos modelos consensuais pelos estudantes, de tal modo que “o modelo pedagógico se torna a fonte a partir da qual se desenvolve um modelo mental aceitável do modelo consensual”.

O que se observa nos vários tipos de modelo é um caminho pelo qual a representação cognitiva de um objeto ou fenômeno vai tomando forma e, ao mesmo tempo, modificando-se para diferentes propósitos (Figura 5).

Figura 5. Sucessão de transformações do modelo.

Na forma como se constitui, pode-se dizer que o modelo é uma comparação entre sua representação e a realidade. O modelo mental estabelecido numa analogia pode ser comparado com a realidade. Deste modo, segundo Francisco Júnior (2010, p. 147), “não há como distinguir o conceito de modelo do conceito de analogia, uma vez que o cerne da elaboração de modelos é o raciocínio analógico”.

Entretanto, Oliva Martínez et al. (2004, p. 190) afirmam que há uma sutil diferença entre analogia e modelo que vale a pena levar em conta, principalmente para fins didáticos, uma vez que as metodologias para seus usos são diferentes. Os autores sucintamente definem que “un modelo es una abstracción de semejanzas entre dos conceptos o fenómenos, es decir refleja los aspectos que mantienen en común el objeto y el análogo; una analogía sería la comparación directa de dos conceptos o fenómenos sin recurrir explícitamente al modelo”.