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Notamos que a sociedade moderna vem passando por grandes transformações tecnológicas e científicas, trazendo ao homem um número incalculável de informações dos mais variados tipos, gerando a necessidade de adquisição de um conhecimento que lhe permita qualificar, selecionar, analisar e contextualizar informações, de modo que elas possam ser incorporadas às suas próprias experiências.

Para acompanhar essas transformações, observamos que a Educação Estatística está evoluindo de maneira muito rápida, com um crescente desenvolvimento na Educação Básica.

Segundo Batanero (2001), existem motivos pelos quais há um interesse maior hoje em dia pelo ensinamento da Estatística.

O interesse pelo ensinamento da estatística, dentro da educação matemática, vem ligado ao rápido desenvolvimento da estatística como ciência e como sendo útil a investigação, a técnica e a vida profissional, impulsionado pelas formas de divulgação, pelo seu potencial e rapidez de cálculo e as possibilidades de comunicação (BATANERO, 2001, p. 6).

Batanero (2001) refere que a Educação Estatística vem sendo uma grande preocupação do Instituto Internacional de Estadística (ISI), desde que foi fundado, em 1885, e após ter estabelecido o Comitê de Educación, em 1948, em que foi encarregado de promover a formação Estatística e que tinha como prioridade melhorar as informações estatísticas nos países em via de desenvolvimento, o que implicava a necessidade de preparar suficiente número de técnicos estatísticos nesses países. Após a criação do Comitê, foram criadas várias conferências com o intuito de promover uma melhor estatística e sua introdução nas escolas.

Em 1982, foi criado o ICOTS (International Conference on Statistical

Education), na Universidad de Sheffield que acontece a cada quatro anos que tem

a preocupação com os estudos e ensinamentos da Estatística.

Em 1991, o ISI criou uma nova seção no Comitê de Educação, passando as preocupações e responsabilidades sobre a Educação Estatística ao IASE

(International Association for Statistical Educacion), que teria, a partir desse

momento, a responsabilidade de desenvolver a Educação Estatística no âmbito internacional, em qualquer nível educacional, com o desenvolvimento de

softwares, com o ensino de Estatística nas empresas e indústrias, no governo, no

currículo, bem como nos livros e materiais didáticos.

Uma das grandes preocupações, segundo Batanero (2001), quanto à implantação de novos currículos que dizem respeito à Estatística, são os professores, pois segundo a autora,

Os novos currículos da educação primária e secundária5, incluem em forma generalizada, recomendações sobre o ensino de estatística. No entanto, na prática são poucos os professores que incluem esse tema, ou em outros casos, trata muito brevemente ou em forma excessivamente formalizada (BATANERO, 2001, p. 6).

Conforme a autora isso se dá porque existem várias dificuldades provenientes do progresso da Estatística em nossos dias, tanto do ponto de vista do conteúdo como da demanda de informação. “Estamos caminhando para uma

sociedade cada vez mais informatizada e uma compreensão das técnicas básicas

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de dados e sua interpretação adequada são cada dia mais importantes” (p. 6).

Levando a entender que o ensino de Estatística está cada vez mais necessário, tanto para a vida pessoal do aluno como para uma futura vida profissional.

Outro aspecto, segundo a autora, de extrema importância para o ensino da Estatística, desde os primeiros anos do Ensino Básico, é que o tema é de natureza interdisciplinar, pois os conceitos de Estatística aparecem em outras matérias, como as Ciências Sociais, a Biologia, a Geografia, etc, sendo os professores obrigados a passar as noções da Estatística aos alunos para que eles possam compreender o assunto tratado por meio desse tema.

Batanero (2001) alega que os professores consideram muito fácil a elaboração de tabelas e gráficos e dedicam pouco tempo no ensinamento dessas construções. No entanto, elaborar tabelas e gráficos requer habilidades, pois pode ocorrer perda de valores originais de cada dado ao passá-los para a distribuição de freqüências e, também, ao nomear eixos.

A preocupação com a formação de professores, segundo Cazorla e Castro (2008), no que diz respeito à Estatística, já vem há tempos preocupando os pesquisadores. Segundo Snee (1993 apud CAZORLA e CASTRO, 2008), é necessário mudar o conteúdo da Estatística e o modo de focá-la, nos cursos de Licenciatura, de forma a propiciar aos alunos, futuros professores, o uso do Pensamento Estatístico e de métodos com base nos problemas do mundo real.

A grande preocupação com os alunos no Ensino Básico, para que adquiram um bom conhecimento no que diz respeito à Estatística, é que tenham uma formação crítica para os diversos assuntos que envolvem todo cidadão perante a sociedade em que vive.

Gal (2002) define como conhecimentos básicos de Estatística: a capacidade de interpretar, avaliar criticamente e comunicar a informação e as mensagens estatísticas.

Para Gal (2002, p.1), “os conhecimentos básicos de estatística são uma

capacidade essencial que se espera dos cidadãos em uma sociedade saturada de informação”. Esse tipo de conhecimento é um componente necessário do

O autor destaca ainda a importância de realizar uma leitura de dados quantitativos de forma crítica, pois é uma necessidade básica exigida por nossa sociedade, já que encontramos diariamente tabelas e gráficos expressando informações ao leitor.

Um estudo sobre o ensinamento da Estatística em vários currículos, realizado por Scheaffer et al (1998 apud GAL, 2002), aponta que são essenciais e devem ser incluídos no estudo dos temas estatísticos na Escola Básica, os seguintes assuntos:

 O sentido dos números  A compreensão das variáveis

 A interpretação de tabelas e gráficos

Segundo os autores, esses aspectos são importantes e precisam ser tratados com ênfase suficiente, para que haja uma compreensão por parte dos alunos.

Brigth, Curcio e Friel (en prensa, apud BATANERO, 2001, p. 82), consideram os seguintes componentes para a compreensão de gráficos:

• Traduzir um gráfico em outro ou em uma tabela e vice-versa requer uma troca na forma de comunicar a informação e interpretar o gráfico em um nível descritivo;

• Interpretação implica reorganizar o material e separar os fatores mais ou menos importantes, buscar relacionar os elementos específicos do gráfico ou entre os elementos e as escalas dos eixos.

• Interpolação/extrapolação implica a extensão da interpretação, identificando tendências ou acordos implícitos.

Tais componentes exigidos para uma boa compreensão de gráficos ajudarão em nossa análise, quanto aos resultados apresentados na presente pesquisa.

Gal (2002) alega que os conhecimentos estatísticos podem servir às pessoas e às comunidades de diversas maneiras, tanto nos fenômenos sociais

como pessoais. Podem contribuir com a capacidade que as pessoas têm em tomar decisões, quando se deparam com situações que estão baseadas em oportunidades.

Wallman (1993 apud GAL, 2002), refere que o conhecimento estatístico é a capacidade de entender e avaliar criticamente os resultados estatísticos que estão presentes na vida de todo cidadão e a capacidade de reconhecer e contribuir nas decisões públicas e privadas, pessoais e profissionais.

Moore (1998 apud GAL, 2002), disse em seu discurso para a American

Statistical Association (ASA), que é difícil pensar em questões de política que não

tenham um componente estatístico. Afirma ainda que a Estatística é um método geral e fundamental e que os dados e as variações estão sempre presentes na vida moderna.

Cazorla e Castro (2008) afirmam que não só as palavras, símbolos e discursos podem ser armadilhas para o cidadão na sociedade, mas também o poder dos números faz parte dessas armadilhas.

As informações que rodeiam o cidadão na sociedade, estão cheias dessas armadilhas e, muitas vezes, eles não estão preparados para contestá-las. Segundo Cazorla e Castro (2008), isso acontece porque os números atribuem uma racionalização quanto as decisões complexas, amparados pela sensação de que “nada será definido como verdadeiro a não ser que seja sustentado por uma

pesquisa estatística”, (CROSSEN, 1996, p. 28 apud CAZORLA E CASTRO,

2008), pois as informações são tratadas com maior precisão e são analisadas somente pelos pesquisadores, garantindo a não manipulação da imprensa e do público.

Não se tratando de uma pesquisa estatística, o leitor não terá confiança nos dados nem terá ferramentas necessárias para analisá-las, e a maioria deles não possui sequer noções básicas de Estatística.

Diante desse problema que ronda todo cidadão, as autoras questionam como a escola pode formar leitores que possam lutar com essas armadilhas que os cercam constantemente na sociedade. A resposta imediata das autoras é:

A nosso ver, uma experiência de leitura não será completa sem o entendimento da lógica das informações matemáticas e estatísticas que permeiam os discursos, as ciladas e as armações dos “donos das informações”. Nesse sentido é preciso romper esse hiato palavra/número, é preciso letrar e numerar todo cidadão, para que esse possa entremear-se nas armadilhas discursivas perigosas e traiçoeiras, produzir sentido outros das coisas, dos fatos, dos fenômenos, desarmá-las, enfim (CAZORLA e CASTRO, 2008, p. 47).

Como dizem Cazorla e Castro (2008), “os donos da informação” podem maquiar seus dados por meio de escolhas na Estatística, ou seja, optar por utilizar tabelas e gráficos que lhe sejam convenientes para convencer o público, não precisando, dessa forma, mentir seus dados.

Um exemplo de casos que se encaixam nessa situação, foi apresentado no capítulo I deste nosso trabalho, no qual mostramos uma reportagem levada ao ar em um dos canais de televisão.

Antes de cobrarmos uma postura dos alunos devemos questionar se o professor que ministra as aulas relativas ao ensino de Estatística sente-se preparado para passar esse conhecimento aos alunos.

Entendemos que cabe à escola preparar cidadãos que estejam seguros para realizarem a leitura dos dados, sem que caiam em armadilhas, para isso, os professores que preparam esses alunos, precisariam de uma formação adequada para que pudessem realizar a tarefa.

Para tanto, segundo Cazorla e Castro (2008), é preciso repensar os cursos de Licenciatura em Matemática e Pedagogia, que formam professores que irão lecionar Matemática na Educação Básica, a fim de que sua formação inicial e, também, continuada lhes ofereça subsídios suficientes para que sejam capazes de articular as informações Matemáticas e Estatísticas, fazendo com que os alunos adquiram maior conhecimento, tornando-se capazes de analisar e julgar as informações divulgadas pela mídia, representadas em forma de tabelas e gráficos.

Para Batanero (2001), a Educação Estatística não é só dos técnicos que produzem estas estatísticas mas sim dos profissionais e cidadãos que devem interpretá-las e tomar suas decisões baseadas nas informações, bem como

devem colaborar na obtenção dos dados requeridos sendo, portanto, um motor no desenvolvimento.

Partiremos agora para uma apresentação dos elementos estatísticos que dão suporte à realização de nosso estudo.

2.4 O PAPEL DA REPRESENTAÇÃO NA FORMAÇÃO DE CONCEITOS