• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 OS CAMINHOS DA PESQUISA: PERCURSO METODOLÓGICO

4.4 Elegendo as turmas no campo de investigação

5.2.2 Arte é cuidar da natureza

No conjunto de sentidos apresentados no quadro abaixo é muito clara a importância dada pelas crianças à reciclagem, ressaltando a partir dela o cuidado que devemos ter com o meio ambiente e com a preservação da natureza.

Arte

Cuidar da natureza Expressão A Arte e a relação com um pensar mais sensível

Quadro 13 - Arte é cuidar da natureza

Ana - Todos que tiver ouvindo essa conversa peço que não jogue lixo no chão, peguem e tentem reciclar lixo, não poluam o mundo, que isso não faz bem para nossa natureza, espero que sigam meu conselho. A arte ajuda a gente a cuidar da natureza, por exemplo, a gente tá reciclando, a gente tá ajudando a salvar a natureza (2ª ano).

Vivi - Na aula de artes a gente aprende por exemplo a reciclar a ajudar cuidar da natureza (2ª ano).

Léo - As aulas de artes ajuda a aprender umas coisas importantes, não poluir o ambiente, cuidar da natureza. (2º ano)

Katia - A aula de artes ela é muito legal, porque na aula de arte a gente aprende outra coisa que é muito legal por que fala sobre o meio ambiente, a natureza e eu gosto muito da aula de arte, por que ela desenvolve uma coisa que a pessoa aprende muito. (2º ano).

Mariana – Eu gosto da aula de arte, porque a arte pode se intrometer com tudo, na reciclagem e em muitas outras coisas (2ºano).

Marcos - Pra mim artes pode ser uma cultura, artes a pessoa vê em qualquer coisa, até em uma parede pintada, em uma folha de papel, pra mim artes é tudo (5º ano).

Dos seis discursos apresentados no quadro, cinco destacam a importância dada pelas crianças à reciclagem ressaltando a partir dela o cuidado com o meio ambiente e com a natureza. Entram nesse contexto a educação estética e seu diálogo com a arte, que, por sua vez, pode corroborar a formação de um homem mais pleno, visando sua ampliação de compreensão do mundo, que vai além de uma educação pautada no pensamento racionalista, indo na direção de uma formação mais abrangente e integradora, sem separação entre sensibilidade, expressão e conhecimento. Para Duarte Júnior (2006), essa formação deve estar implicada com questões de cidadania, de ética e de sensibilidade desde a infância: “(...) as pessoas educadas desde crianças, de uma maneira sensível, educando a sua sensibilidade, têm menos possibilidade de, no futuro, agirem de uma maneira grosseira e brutal, tomando o mundo e os outros como objetos” (2006, p. 115).

O que autor nos diz vai ao encontro de um processo de formação humana comprometido com questões que envolvem o cotidiano, para que possam ser oferecidas às nossas crianças oportunidades de debater com problemas que vão além dos muros da escola. É importante que haja o afastamento da educação da mera transmissão de informação, a

mesma precisa ser pensada também dentro de uma perspectiva ética inerente à formação humana:

Às relações da experiência estética com a educação ambiental: aprender-se a respeitar a natureza, a se relacionar de maneira não predadora com ela a partir da experiência estética, a partir da experiência do belo. Penso, então que essa percepção de que você tem que ter uma relação sensível com o mundo, uma relação de beleza, uma relação de harmonia com o mundo, está se ampliando para outros campos que não só arte-educação: a educação ambiental. A medicina etc. (DUARTE JÚNIOR, 2006, p. 118).

A respeito da educação ambiental comentada pelo autor, vamos ver o que nos diz a fala abaixo:

Ana - Todos que tiver ouvindo essa conversa peço que não jogue lixo

no chão peguem e tentem reciclar o lixo, não poluam o mundo, que isso não faz bem para nossa natureza, espero que sigam meu conselho. A arte ajuda a gente a cuidar da natureza, por exemplo a gente tá reciclando, a gente tá ajudando a salvar a natureza (2ª ano).

Nesse discurso, a criança ressalta a importância da reciclagem para que o mundo não seja poluído. Como a mesma sabia que a conversa estava sendo gravada, ela pareceu entender que a gravação seria ouvida por outras pessoas, assim, como é possível perceber, ela faz um apelo em sua fala para que cuidemos melhor da natureza. Nesse caso, ela atribui a importância da arte e da reciclagem para ajudar a salvar a natureza.

O que foi dito pela criança ganha notoriedade no pensamento de Duarte Júnior (2006), quando ele trata da experiência estética com a educação ambiental, onde se aprende a respeitar a natureza de forma harmônica e não predadora. O cuidado com o meio o ambiente foi uma constante na maioria das falas das crianças do 2º ano; a partir da aula de arte, elas passam a dialogar com problemas que envolvem nosso planeta; nesse caso, um problema fortemente destacado por elas foi a poluição.

Aqui, verificamos que o cuidado com o meio o ambiente, enquanto algo construído na aula de arte, foi uma afirmação majoritária entre as falas das crianças. As atividades artísticas desenvolvidas na aula de arte, tomando como referência a temática do meio ambiente, foram muito importantes para possibilitar às crianças o diálogo com problemas que envolvem nosso planeta. Como pode ser verificado abaixo, um problema fortemente destacado por elas foi a poluição:

Mariana - Eu gosto da aula de arte porque, a arte pode se intrometer com

tudo, na reciclagem e em muitas outras coisas (2ºano).

Observa-se através do exposto, que essa criança também destaca a questão ambiental quando traz a reciclagem. Porém, seu discurso expande-se, quando ela afirma que a arte pode se intrometerem tudo. Entendo que Mariana, quando utiliza o termo intrometer, está apontando a arte como possibilidade de promover diálogos com outras disciplinas, podendo abarcar diversos assuntos que caminham em direção da multidisciplinaridade que

(...) pode ser vista como a utilização de conceitos, fundamentos, bases filosóficas, procedimentos e recursos de várias disciplinas numa articulação de saberes diferenciados e, supostamente, independentes. Ao se estudar um fenômeno referente ao meio ambiente, utilizam-se elementos da Química, da Biologia, da Geografia e assim por diante (FARIAS, 2012, p. 32).

O conceito de multidisciplinaridade colocado pelo autor supracitado ganha eco na fala da professora quando ela fala de seu modo de trabalhar a temática:

Trabalhei com reciclagem em Arte e nós reutilizamos materiais recicláveis como latinhas, garrafas pets e fizemos vários brinquedos. Foi trabalhado também, o meio ambiente e acúmulo de lixo e as disciplinas de Ciências, Geografia, Português e História. O trabalho desenvolvido em torno do meio ambiente aconteceu em algumas aulas (Diário de pesquisa - outubro de 2013).

A professora relata que, juntamente com as crianças, construíram vários brinquedos utilizando materiais descartáveis, trabalhando através de diversos elementos de algumas disciplinas para promover o estudo em torno do meio ambiente. A fala da professora traz significações interessantes acerca do sentido da educação estética.

Ter um olhar diferenciado e sensível para o que acontece em nosso entorno não um privilégio exclusivo da arte, isso não significa dizer que a educação estética se resume ao meio ambiente e à natureza; ela extrapola o terreno da arte, dialogando com outros campos dos saberes, se ampliando para o mundo vivido (AMORIM, 2008; PERISSÉ, 2009; CARBONEL, 2010), considerando também que educação estética está implicada com o processo formativo que envolva as linguagens artísticas.

No próximo discurso, a criança de maneira sensível e ampla traz o conceito que ela tem sobre arte:

Marcos - Pra mim arte pode ser uma cultura, arte a pessoa vê em

qualquer uma coisa, até em uma parede pintada, em uma folha de papel, pra mim arte é tudo (5º ano).

Na fala dessa criança, ela ressalta o próprio conceito de arte dentro de uma dimensão estética, que extrapola a área artística e vem ao encontro do que foi discutido anteriormente. A criança amplia seu conceito sobre arte e deixa em aberto de onde parte seu entendimento sobre o assunto. Quando afirma que arte é cultura, ela pode estar se referindo à arte compreendida como a cultura local, a partir de sua vivência com a arte do barro, ou a arte como cultura de outros povos, ou como as diversas linguagens de arte, abordadas nas aulas de arte.

Cabe retomar aqui que não existe um conceito fixo e fechado sobre arte, conforme o que foi exposto no capítulo 1 desse estudo. Os conceitos sobre arte são diversificados e partem do contexto histórico, cultural, social, político, filosófico entre outros, estando implicado com o ensino de arte e com a educação estética.

No discurso de Marcos, quando ele afirma: “pra mim arte é tudo”, ele coloca em voga o valor do conhecimento comum (MAFFESOLI, 1998) e chama atenção para riqueza de sua afirmação, mesmo que pareça ser algo superficial, mas nesse caso pode se constituir como componente importante para se ter uma compreensão mínima sobre arte. Sendo assim, cabe aqui uma referência a Frederico Morais (1998), quando ele traz, entre os inúmeros conceitos sobre arte: “Arte é o que eu e você chamamos de arte” (p. 15). Assim, as vozes das crianças revelam seus vários pensares sobre o que é arte para elas. Um deles é arte como expressão.