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CAPÍTULO 4 OS CAMINHOS DA PESQUISA: PERCURSO METODOLÓGICO

4.4 Elegendo as turmas no campo de investigação

5.1.7 Arte nas datas comemorativas

No quadro abaixo, as crianças mais uma vez dão ênfase ao desenhar e ao pintar mas, de seus discursos, emerge um sentido que relaciona dentro da perspectiva das aulas de arte as datas comemorativas:

Quadro 10 - Arte nas datas comemorativas

Mateus - Eu me lembro de uma aula de artes que a gente pintou um desenho no dia do índio.

Valéria - A aula de arte que mais gostei foi no dia que a gente fez a árvore de Natal. Léo- Gostei muito da aula de arte na páscoa, a gente pintou um coelho

Lucas - É fácil fazer artes, porque eu gosto muito de desenhar e de fazer artes. Agora nós está aprendendo a fazer uma árvore de natal.

Ana- Eu participei de uma aula de artes que no dia das mães a gente ia dar um presente de pintura e eu se interessei, eu não queria só pintar, desenhar, eu queria dar um presente bem bonito, nesse dia eu se interessei um pouco mais num desenho de uma colega que ela se inspirou e eu fui imitando algumas coisas dela, ela desenhou uma coisa muito bonita, ela pegou vários papéis no chão e fez o desenho dela.

Bia – A aula que mais gostei foi da árvore de natal. Nós pegou a bolinha, picou elas e colocou na árvore e colocou uma estrela em cima.

De acordo com Almeida (2004), esse modelo de ensino, que tem como base as datas comemorativas, está ancorado nas “atividades livres”, ou seja, os professores sugerem um tema e as crianças desenvolvem livremente atividades que podem estar vinculadas às diversas expressões artísticas, desde que contemplem o tema sugerido. Essas atividades geralmente estão relacionadas com temas ligados às datas comemoradas dentro do calendário escolar, dia das mães, do soldado, da árvore etc.

Esse modelo de arte concebida como atividade teve influência da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1971 que instituiu e implantou a Educação Artística, conhecida como “atividade artística” e não como uma disciplina do currículo escolar. Nesse contexto para ensinar educação artística, o professor deveria dar conta das diversas linguagens artísticas, isso gerou grandes implicações para o ensino de arte na educação básica, envolvendo questões teóricas, metodológicas, conceituais e a polivalência.

Para Silva (2005), a concepção do ensino de arte como atividade centralizada no fazer artístico contribuiu para relegar a arte a um lugar inferior no âmbito escolar, pois a mesma era isenta de qualquer conteúdo para o ensino de arte. Essa concepção está situada na tendência educacional tecnicista e é abordada nos estudos de Barbosa (1975), Almeida (2004) e Silva (2005).

Para Silva (2005), essa concepção de ensino, mesmo tendo uma trajetória conceitual curta, influenciou diferentes práticas pedagógicas no ensino de arte nos anos iniciais do Ensino Fundamental nos dias atuais, entre essas práticas está a arte como atividade ligada às datas comemorativas. Essa concepção de ensino de arte tinha como base a simples realização de atividades artísticas repetitivas como meio para o desenvolvimento de uma visão e consciência muito técnica da produção artística. Neste contexto, o olhar artístico e o fazer ficam muito restritos ao processo de reprodução e repetição.

O olhar de diferença da criança e de seu mundo fica praticamente suprimido nestas situações. O fazer-exprimir e o conhecer artístico, tal como colocado nas falas das crianças abaixo, fica restrito à reprodução de objetos ou figuras que retratam a data em questão; mesmo que elas expressem seu gosto pela aula, a possibilidade de criação de sentidos por elas fica bem menor nessa abordagem. As falas abaixo revelam um aprendizado bastante pontual:

Mateus - Eu me lembro de uma aula de artes que a gente pintou um

desenho no dia do índio (2º ano).

Léo - Gostei muito da aula de arte na páscoa, a gente pintou um

coelho (2º ano).

Valéria - A aula de arte que mais gostei foi no dia que a gente fez a

Mesmo as crianças expressando o gosto pela aula, a possibilidade de criação de sentidos por elas nessa concepção de arte fica bem menor, pois a ênfase é dada às datas comemorativas. As falas de Mateus e Léo denotam bem isso quando apontam os períodos comemorativos do ano letivo, já a fala de Valéria trata de uma data comemorativa que está situada no final dessa investigação tive a oportunidade; de presenciar a aula a qual ela está se referindo, onde as crianças montaram uma árvore de natal.

Fotografia 16 - Crianças montando a árvore de natal

Fonte: A autora

Embora as imagens denotem a vivência de um processo relacional partilhado que envolve a colaboração dos principais atores desse processo, a saber: criança-criança, criança- professor, o procedimento impelido pela professora acaba por inibir um grande repertório de experiências no que se refere ao processo de criação artística.

Não posso deixar de considerar também que a construção da árvore de natal feita pelas crianças juntamente com a professora parte de materiais recicláveis a partir das aulas que abordam a importância da reciclagem e do cuidado com o meio ambiente; sem dúvida, esses são temas relevantes que precisam e devem ser discutidos com as crianças, porém esse diálogo não parte de um fazer artístico contextualizado com arte. A ênfase dada à construção da árvore de natal fica por conta do meio ambiente e da decoração da sala para comemoração da festa de natal.

Essa concepção de arte como atividade, tendo como impulso as datas comemorativas explícitas nas falas das crianças, reflete um período já destacado anteriormente, que foi marcado pela falta de professores formados na área de arte e pela polivalência. Assim as atividades artísticas quase sempre partiam de temas ligados às inúmeras e sucessivas datas

que a escola considerava importante comemorar. Essas atividades geralmente eram feitas de forma improvisada com o intuito de serem apresentadas nas datas comemorativas e nas festas da escola, tendo como base um teor religioso e cívico (BARBOSA, 1999; SILVA, 2005; AZEVEDO, 2010).

Nesse âmbito, também, estão inseridos os desenhos produzidos pelas crianças, que são usados nas exposições da sala de aulas em datas comemorativas. Os desenhos abaixo estavam expostos em uma das paredes da sala bem no início do processo de observação.

Fotografia 17 - Desenhos da bandeira do Brasil produzidos pelas crianças

Fonte: A autora.

Conversando com a professora sobre os desenhos, a mesma reiterou a relação existente entre os desenhos produzidos e a fixação de datas comemorativas, neste caso, tendo como base o dia da bandeira:

Eu trabalho com arte sempre ligada a alguma coisa, porque a imagem deixa marcar na criança. Aí quando a imagem está ligada a uma data comemorativa, ela fica marcada, a gente usa esse recurso pra marcar na criança o sentido da data. No dia da bandeira, coloquei uma bandeira colada no quadro e pedi que cada criança fizesse a imagem da bandeira, elas fizeram e pintaram. O propósito foi delas saberem a importância da data da bandeira. Elas viram as cores e o significado de cada cor na composição da bandeira (Diário de bordo- setembro de 2013).

A partir do que foi dito pela professora é possível inferir, ancorada no pensamento de Almeida (2004), que a arte como atividade é uma prática que tem a intenção de criar um repertório de temas que fique à disposição das crianças, para que no momento oportuno possa ser solicitado e o trabalho possa ser realizado. Esse procedimento acaba por desconsiderar a relação entre forma e conteúdo.

Para esse contexto entra também a arte como técnica, a partir da cópia, onde o fazer artístico fica restrito ao processo de reprodução e repetição. O olhar de diferença da criança e de seu mundo fica praticamente suprimido nestas situações. O fazer e o conhecer artístico das crianças ficam restritos à reprodução de objetos ou figuras que retratam as datas comemorativas.