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Arte/Educação e Educação Estética: uma abordagem implicada

CAPÍTULO 2 ESTÉTICA, EDUCAÇÃO E ARTE: TECENDO UMA TEIA DE

2.3 Arte/Educação e Educação Estética: uma abordagem implicada

Amorim (2008), em sua pertinente pesquisa Por uma Educação Estética: Um Enfoque na Formação Universitária de Professores4, tem como ancoragem principal o diálogo teórico com sete pesquisadores brasileiros que estudam a Educação Estética e traz em seu estudo várias discussões e reflexões em torno do referido tema e da arte-educação. Para a autora, esta preocupação com a esfera sensível do homem está situada na educação por ser responsável pela formação do sujeito. Isso acaba promovendo o casamento entre educação e arte, cujos herdeiros são os termos Arte-Educação e Educação Estética (AMORIM, 2007, p. 77). Nessa perspectiva, Loponte traz uma importante contribuição em relação ao imbricamento desses termos:

Arte-educação é um termo bastante específico que é associado aqui no Brasil ao movimento político em defesa do ensino da arte na escola, em contraposição a ideia de ‘Educação Artística’ que está ligada a uma concepção mais espontaneísta ou modernista da arte na educação. Educação estética nos remete a uma questão filosófica mais ampla que ultrapassa o ambiente escolar e as disciplinas de arte. Claro que as duas questões estão ligadas de alguma forma. Acredito em um ensino de arte que contemple e valorize a educação estética dos alunos, bem além de simplesmente conhecer obras de arte e de artistas (LOPONTE, 2006, p. 125).

As equivalências e distinções entre a arte-educação e educação estética destacadas no discurso dessa autora possibilitam uma abertura para discussões em torno de como a arte pode educar e sobre a importância da educação estética na formação de professores, para que a mesma possa se estender no âmbito da educação formal, como também da educação não- formal.

Vale destacar aqui as contribuições de Barbosa (2003) em relação à discussão em pauta. A referida autora, no lugar de arte-educação, prefere utiliza o termo arte na educação, que ela considera como um elemento fundamental para uma formação humana mais sensível e reflexiva:

A Arte na Educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento individual. Por meio da arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a

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Para saber mais sobre a importância da Educação Estética na formação universitária ver: AMORIM, Verussi Melo. Por uma educação estética um enfoque na formação universitária de professores. Dissertação (Mestrado), linha de pesquisa: universidade, docência e formação de professores. PUC-CAMPINAS, 2007.

capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 2003, p. 18).

Tomando como referência as injunções perspectivadas acima atribuídas à educação estética e à arte-educação, o ensino de arte no contexto escolar não pode ser tomado como o espaço/tempo que se volta para formação de artistas, descoberta de talentos, e nem ter inicialmente a preocupação com apresentações artísticas, bem como ser usado para facilitar a compreensão dos conteúdos de outras disciplinas:

Arte-educação não significa um treino para alguém se tornar um artista, não significa a aprendizagem de uma técnica, num dado ramo da arte. Antes, quer significar uma educação que tenha a arte como uma de suas principais aliadas. Uma educação que permita uma maior sensibilidade para com o mundo que cerca cada um de nós (DUARTE JÚNIOR, 2011, p. 12).

Duarte Júnior (2011) reitera essa afirmação quando argumenta que a arte-educação não tem como pressuposto formar artistas em alguma das linguagens de arte, e sim, se constitui como um elemento primordial para o desenvolvimento da educação estética. Essa, por sua vez, extrapola o território da arte, perpassando as diversas áreas do conhecimento, tendo como impulso inicial a experiência vivida. A arte-educação, através do ensino de arte, possibilita a ampliação da sensibilidade em direção a uma realidade pensante. Essas implicações promovem a junção entre os dois termos. Porém, eles não são equivalentes, pois, mesmo estando imbricados, existem as especificidades de cada campo.

Em relação à educação estética, Alvarez destaca:

A educação estética pressupõe aprendizagens escolares que contribuam efetivamente para o desenvolvimento e para a humanização do indivíduo, experiências que transcendam o individual e se estendam para uma dimensão sociocultural, privilegiando, assim, a interação entre a escola e a vida (2010, p. 65).

No que se refere à arte-educação, Zanella (2006) defende que trata-se de uma disciplina composta por conteúdos e com especificidades referentes aos diversos campos da arte:

A arte-educação, por sua vez, embora possa ter essa preocupação com a polissemia da vida e a instituição das relações estéticas, caracteriza-se como um campo disciplinar-ensino das artes- que tem um objeto definido; as artes, seja a música, artes cênicas, plástico-visuais. Como campo disciplinar a arte- educação é marcada pela polêmica das tendências pedagógicas, e do que conheço muito caracterizada por perspectivas essencialistas ou os comportamentalistas no que se refere a concepção do sujeito (ZANELLA, 2006, p. 132).

Partindo desse princípio, a arte-educação vai lida com as concepções que dizem respeito ao estético e ao artístico: “O estético em arte diz respeito, dentre outros aspectos, à compreensão sensível-cognitiva do objeto artístico inserido em um determinado tempo/espaço sociocultural” (FERRAZ; FUSARI, 2010, p. 54).

Nesse âmbito se situam as obras de arte nas suas diversas expressões, onde o contato dos alunos com essas obras pode favorecer uma maior compreensão em relação à arte, sem priorizar o fazer artístico, possibilitando o conhecimento em arte a partir da apreciação artística e da sua contextualização. Essas questões contemplam o processo de ensino- aprendizagem em arte nas suas diversas linguagens ancorado pela abordagem triangular (BARBOSA, 2010).

Nessa direção situa-se a educação estética pensada no âmbito da arte, onde está contemplada a experiência artística que está relacionada diretamente com a arte, seja através do apreciar arte, do fazer arte e do travar relações com a arte dentro do contexto cultural, social e histórico no qual o aluno está inserido. Nessa direção, Barbosa partindo do conceito de experiência estética da arte com base no pensamento de John Dewey (1933) traz a seguinte contribuição:

O que difere a experiência estética da arte da experiência estética de outra natureza é o material. O material das artes consiste em “qualidades”; o da experiência intelectual não possui qualidade própria intrínseca, mas são signos e símbolos que substituem outras coisas que podem em outra experiência ser experimentados qualitativamente (BARBOSA, 1998, p. 23).

A experiência estética da arte, assim denominada por Barbosa, pode ser considerada também como experiência artística, que possibilita o contato do aluno com a arte nas suas diversas expressões, em que novos sentidos emergem num mundo de significações criadas e compartilhadas pelos sujeitos envolvidos no processo. Assim, a educação estética parte de um mundo vivido, para se alargar numa dimensão reflexiva no âmbito do ensino de arte, tendo a oportunidade de dialogar com outras áreas dos saberes.

Para melhor refletirmos sobre essas questões, Barbosa (1998) traz uma excelente contribuição:

É preciso ficar claro que a educação estética não é ensinar no sentido de formulação sistemática de classificações e teorias que produzem definições sobre arte e análise acerca da beleza e da natureza. Esse não é o principal propósito da educação estética. O que chamamos de educação estética de crianças, adolescentes e adultos é principalmente a formação do apreciador

de arte usando a terminologia e o sentido consumatório que Dewey dava à experiência apreciativa (BARBOSA, 1998, p. 41).

Em meio à complexidade dessas discussões, é possível perceber que a arte amplia a compreensão do mundo, indo além das questões racionais, e que não se desvincula da experiência do corpo. A forma pela qual fazemos arte nos faz lidar com a nossa criatividade, com a nossa percepção, possibilitando também a fruição artística: “A fruição artística nos ajuda a compreender como uma obra de arte conduz ao mundo dos sentidos e da ressignificação de nossas experiências vividas” (ALVAREZ, 2010, p. 30).

As obras de arte nos abrem portas para saber mais sobre o mundo, sobre o eu e sobre o outro, estabelecendo uma dialética entre sujeitos produtores e sujeitos fruidores, ampliando questões ligadas à subjetividade e à intersubjetividade, possibilitando a construção de novos sentidos para nossas vidas. Essas são algumas das questões abordadas nos estudos em foco, que enfatizam também que a arte educa. Para Perissé (2009), a arte educa porque envolve um processo formativo:

A arte é formativa, porque dá forma a sentimentos e ideias. A dor, o amor, a traição, a compaixão, a luta pela verdade, a crueldade, a miséria, a pilhéria, o medo, a desastrada quebra de um segredo, o pessimismo, o heroísmo se formam e se transformam em melodias, em pinceladas enérgicas, em frases, em desenhos, em movimentos, em cores inéditas, em efeitos especiais, em ritmos, em tons, em linhas, em curvas, etc. Mas também é formativa quando nos forma, quando forma e transforma nós próprios. Quando nos faz intuir, sentir, captar de modo denso e profundo algo que de outro modo teríamos grande dificuldade para descobrir (2009, p. 52).

Norteada por essa perspectiva posso inferir que a arte nos transforma e amplia o nosso olhar estético sobre o mundo e sobre a arte e seu ensino. Esse imbricamento entre a arte/educação e a educação estética nos revela que ambos são fenômenos implicados, portanto inseparáveis. Porém, torna-se importante ressaltar que nem sempre o ensino da arte contempla a educação estética, tanto em relação às expressões artísticas quanto à esfera sensível ligada a uma dimensão reflexiva que dialogue com a experiência vivida.

Diante do exposto, é possível perceber que nem sempre a educação estética se faz presente no ensino de arte. Como já colocado anteriormente, o ensino de arte muitas vezes está centrado na técnica, na livre expressão, ou atividades artísticas que visam às festas comemorativas da escola. Sendo assim, é necessário que haja uma intervenção consciente em relação à educação estética nas aulas de arte por parte do professor, e isso só será possível a

partir do desenvolvimento estético desse professor, que deverá ter como suporte principal a experiência estética e a experiência artística.

É possível inferir que tanto os sentidos atribuídos à arte através da arte/educação, como também à educação estética, são questões que têm impactos no chão da escola e consequentemente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, onde se inserem a infância e a criança. Assim, é necessário e importante compreender os sentidos que emergem em torno dessas questões nas discussões contemporâneas. Para isso, recorro mais uma vez aos recortes temporais no capítulo seguinte para assim situar melhor, historicamente, os sentidos atribuídos à criança e à infância, os quais têm impacto direto no modo como pensamos o processo educativo para esses sujeitos.

CAPÍTULO 3 INFÂNCIA, EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA, ARTE E SEU ENSINO NOS