• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 OS CAMINHOS DA PESQUISA: PERCURSO METODOLÓGICO

4.2 Instrumentos adotados para coleta de dados

A criança é capaz de dar informações e opiniões sobre seu mundo educacional, social e cultural. Isso faz dela sujeito privilegiado para o pesquisador. Sendo assim, o investigador poderá usar vários instrumentos em sua coleta de dados. Isso possibilita a oportunidade de registrar, conversar, perguntar e fotografar (FILHO; PRADO, 2011). Nessa direção, como instrumentos de coleta dos dados empíricos a investigação etnográfica permite a utilização de: observação participante, registro etnográfico no diário de bordo, entrevista gravada, fotografia e filmagem; esses foram os instrumentos utilizados para coleta de dados desta pesquisa.

O trabalho de campo do presente estudo esteve ancorado pela tripla ação indicada por Oliveira (2000), composta pelo olhar, o ver e o escrever. Para esse autor, o trabalho do pesquisador de campo está centrado no olhar, ouvir e escrever, que são componentes primordiais na construção do saber, ressaltando que entre o olhar e ouvir existe um movimento que vai nortear o pesquisador no campo da pesquisa. Segundo Oliveira (2000), o olhar e ouvir estão entrelaçados no exercício da investigação e precisam ser disciplinados, para possibilitar o aprimoramento e o refinamento da capacidade de observação.

Nesse âmbito, entram a observação participante, a entrevista e o escrever citado por Oliveira (2000). No estudo etnográfico, o exercício da escrita é muito importante, pois o investigador durante todo o tempo que permanecer no campo terá a oportunidade de observar e a partir dessa observação fará suas anotações na tentativa de compreender o contexto em que os sujeitos estão inseridos.

A partir dessas reflexões, posso inferir que o exercício da escrita ao qual Oliveira (2000) se refere vai além do foi que exposto anteriormente, pois é uma parte mais complexa e crítica, por tratar-se da configuração final de todo o processo de investigação no campo. Porém, posso afirmar também que o exercício primeiro dessa escrita parte de todos os registros feitos no Diário de Campo. Explicitarei essas questões detalhando rapidamente um dos instrumentos utilizados nesta investigação, como sendo elemento que pode ser utilizado na coleta de dados nesse tipo de estudo.

Durante o período de observação, constatei na prática que o processo de observação não consegue manter o pesquisador distanciado e sem envolvimento com os sujeitos da pesquisa. Essa é uma das questões que coloca a observação participante ou a observação com participação como um ponto de destaque nas pesquisas com crianças na atualidade. Entre as argumentações encontradas sobre essa questão encontra-se a pesquisa de Filho e Prado (2011), onde eles ressaltam que em pesquisa com crianças é impossível observar sem participar; a participação é sempre com participação:

(...) fica explícito que o pesquisador não tem como fugir da participação, já que as crianças estão o tempo todo pedindo e puxando os adultos para suas brincadeiras, interações, relações, produções, experimentos e diálogos (FILHO; PRADO, 2011, p. 99).

É nesse sentido que os laços e as relações afetivas vão se estabelecendo e as interações vão se intensificando. Corsaro (2009) reitera essa reflexão quando afirma que observação participante é “sustentável e comprometida” pois exige que o pesquisador não somente observe repetidamente, mas que também participe como membro do grupo” (2009, p. 85). Para isso aconteça, torna-se necessário:

(...) aprender de novo a ver e ouvir (a estar lá e estar afastado; a participar e anotar; interagir enquanto observa a interação) se alicerça na sensibilidade e na teoria e é produzida na investigação, mas é também um exercício que se enraíza na trajetória vivida no cotidiano (SILVA; BARBOSA; KRAMER, 2008, p. 86).

Participar como um membro do grupo como já destaquei exige uma permanência mais prolongada no campo, um novo aprendizado que aponta para um olhar mais atento e sensível sobre as ações e as falas das crianças, o que significa reaprender a ver e ouvir.

Nesse movimento, o diário de bordo foi um dos instrumentos utilizados na apreensão do que foi observado durante esta investigação. Registrei no diário de campo o que foi observado de forma reflexiva, priorizei questões como espaço físico e institucional, reações no comportamento da criança e da pesquisadora, as rotinas e ações das crianças, para posteriormente reorganizar essas considerações para tecer comentários complementares ao que foi vivido (CORSARO, 2009a; FILHO; PRADO, 2011; DELGADO; MÜLLER, 2005). O diário de bordo se constituiu como um dos elementos primordiais para analisar os dados coletados.

Porém, chega o momento em que o observar e o registrar passam a ser insuficientes, faz-se necessário também ouvir. “Isso porque a conduta observada, sem a compreensão das ideias que a sustentam, não poderá ser compreendida inteiramente” (SILVA; BARBOSA; KRAMER, 2008, p. 81).

É nesse contexto que o ouvir ganha um significado especial, pois é necessária uma escuta sensível. Sendo assim, destaco a importância das entrevistas realizadas com as crianças, pois através delas foi possível captar o que elas pensam, sentem e falam sobre determinadas questões, nesse caso sobre a arte e seu ensino

Citando os estudos de Grane e Walsh (2003), Delgado e Müller (2005) trazem a seguinte contribuição em relação às entrevistas com crianças: “Grane e Walsh (2003) preferem o uso de entrevistas aos pares ou em pequenos grupos que possibilitam discussões entre as crianças, uma vez que elas podem alterar as perguntas que fazemos” (2008, p. 153).

Foi nesse âmbito que foram realizadas as entrevistas semiestruturadas, também conhecidas como conversas informais. Esse tipo de entrevista tem a intenção de obter informações relevantes pelo pesquisador em busca de estabelecer um diálogo com seu objeto de estudo, possibilitando também que durante os diálogos outras questões possam surgir (DELGADO; MÜLLER, 2005; MINAYO, 2008).

Outros instrumentos utilizados na coleta de dados deste estudo foram os instrumentos tecnológicos, a saber, uma máquina fotográfica, uma filmadora e um gravador digital. Utilizei esses elementos por compreender que eles são instrumentos riquíssimos, para ver e rever as imagens apreendidas, como também possibilitam ouvir as gravações por várias vezes, tendo a possibilidade de apreender tudo que foi dito na íntegra pelas crianças, o que não poderia ocorrer somente com as anotações escritas. Para Leite, esses instrumentos “(...) visam minimizar intervenção do pesquisador no processo de captação de registros das ações e falas das crianças” (2008, p. 133). Posso afirmar que esses equipamentos foram ótimas contribuições para construção de olhares diferenciados durante a interpretação dos dados.

Diante do que aqui foi exposto, busquei compreender os sentidos atribuídos à arte e ao seu ensino pelas crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental tendo como foco principal as aulas de arte. Considero importante ressaltar também duas questões: a primeira é que entre todos os instrumentos utilizados na coleta de dados dessa pesquisa, foram privilegiadas as falas gravadas nas entrevistas das crianças, na tentativa de fazer um cruzamento desses discursos com as fotografias, com as filmagens, com os registros etnográficos anotados no diário de bordo a partir do que foi observado durante as aulas de artes.

Considero importante ressaltar que, para o cruzamento dos dados trouxe também algumas falas da professora do 2º e do professor do 5º ano, pois enquanto as crianças são protagonistas desse trabalho, os professores são coadjuvantes desse processo e suas falas são sem dúvidas contribuições importantes para esse estudo.