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4. A Gestão da Transição nos Países Pioneiros

4.3 A Gestão da Transição Letã

4.3.3 A Arquitetura do Novo Sistema Letão

4.3.3.3 As Conclusões dos Estudos

Em conclusão, as projeções então efetuadas demonstravam, no longo prazo, a solvência do regime, perante a existência unicamente de contas nocionais. Face à inclusão da vertente fundeada, assente numa taxa contributiva final de 10%, certos direitos ficariam por financiar, impondo-se uma taxa de contribuição superior. Procedendo-se à redução da taxa da conta financeira para 6%, a taxa de contribuição total em vigor de 33,09% asseguraria o equilíbrio financeiro. A exceção a ambas as hipóteses residia no cenário de elevada emigração.

4.3.3.4 A Conta Nocional de Contribuição Definida

A conta nocional abrange todos os residentes e trabalhadores letões a partir dos quinze anos de idade, incluindo os independentes e os agricultores. Quem se aposentasse a partir de 1996 inclusive estaria sujeito às novas regras. A elegibilidade requeria dez ou mais anos de descontos (European Commission, 2007). A não satisfação deste prazo encaminha os indivíduos para o recebimento de uma pensão social depois dos 67 anos de idade, independentemente do sexo, conforme descrito no ponto 4.3.3.7.Como é típico dos esquemas NDC, também no sistema letão o capital acumulado é função das contribuições incidentes sobre os diversos rendimentos profissionais. Neste país, fixou-se em dez salários médios o limite máximo da incidência contributiva. O propósito deste plafond era o de limitar a responsabilidade do Estado e o de abrir espaço à gestão privada de pensões, no respeitante ao excedente acima deste patamar, um princípio igualmente seguido pelos Estados onde vigoram os esquemas NDC. Na Letónia, atingida a idade mínima de reforma, o cidadão é livre de aposentar-se e exercer uma atividade profissional, acomodando-se progressivamente do afastamento da vida ativa, (European Commission, 2007).

Em termos de indexação, a Letónia optou por revalorizar as contas nocionais ao crescimento da massa contributiva total. No respeitante à pensão, no começo do processo de transição, não era economicamente possível indexá-la à taxa de crescimento daquela, mas somente à inflação, porque os pensionistas recebiam de harmonia com as antigas regras, incluindo os detentores de privilégios especiais concedidos a partir dos 40 anos. Devido à generosidade das mesmas, mas também à queda do PIB, no início da década de noventa, os encargos com estas prestações revelaram-se demasiado elevados. Efetivamente, com o passar do tempo, a tendência seria a de existirem cada vez mais

aposentados ao abrigo das contas nocionais. Perspetivava-se a possibilidade de se introduzir, gradualmente, a indexação ao crescimento real, mas, de acordo com as projeções, tal requereria a constituição de reservas. Segundo Palmer et al. (2006), considerando a impossibilidade da indexação das pensões à massa contributiva total em simultâneo com a existência de contas financeiras durante os primeiros anos, os decisores optaram prioritariamente pela introdução destas últimas em 2001, tendo-se decidido manter a atualização das pensões à taxa de inflação até ao ano seguinte. Entre 2002 e 2003, as pensões mais baixas, isto é, as que não excediam três pensões sociais ou uma certa verba mínima então estipulada, passaram a ser indexadas à inflação acrescida de 25% do crescimento real da massa contributiva total. Entre 2004 e 2006, as pensões mais baixas passaram a ser indexadas a 50% do crescimento real da massa contributiva total, acrescido do ajustamento à taxa de inflação. A denominada Lei das Pensões determinou que entre 2006 e 2010 todas as pensões, de montante não superior a cinco pensões sociais, receberiam uma indexação de 25% da massa contributiva total e, daquela última data em diante, o aumento seria de 50% a somar à inflação, para todos os pensionistas.

Realçamos a forma distinta de obtenção da pensão comparativamente à dos restantes países aqui estudados, onde, no quociente entre o saldo da conta nocional, à data da aposentação, e a esperança média de vida unissexo da respetiva coorte, se usam projeções da mortalidade, conforme referido em European Commission (2007). A atualização da projeção só ocorre quando as evidências justifiquem. Segundo Palmer et al. (2006), dois argumentos favoreciam o uso de mortalidade projetada das coortes letãs. Sem prejuízo da aplicabilidade destes dois fundamentos a qualquer país, o segundo é particularmente relevante para nações sujeitas a convulsões sociais e económicas:

- Comparando o uso de dados observados no ano civil, com o recurso a projeções da mortalidade, obtêm-se, expectavelmente, valores mais próximos dos reais, minimizando o diferencial entre a mortalidade previamente usada no cálculo da anuidade e a posteriormente verificada. Evidentemente, esta última só se conhece com exatidão depois do falecimento dos participantes; - Se a anuidade assentar em informação histórica recente, permitem-se flutuações indesejáveis e injustas no cálculo dos montantes das pensões entre anos consecutivos. Desde meados da década de oitenta, a Letónia sofreu variações rápidas e significativas nas taxas de mortalidade. Entre 1985 e 1987, durante a campanha antialcoolismo lançada por Gorbatchev, registou-se um acentuado aumento da esperança média de vida dos homens, que regrediu no final daquela década. O desmembramento da ex-União Soviética e a mudança para a economia de mercado agravaram ainda mais a diminuição.

Sustentados naqueles dois argumentos, os decisores entendiam como desadequada a adoção de uma longevidade assente apenas em informação histórica de curto prazo. No plano financeiro, a anuidade não incorpora qualquer taxa de desconto, entrando unicamente em linha de conta com a demografia.

Durante o período da mudança, o custo de financiamento das pensões por velhice excedia os 20%, destinados unicamente a financiar as contas nocionais dos trabalhadores no ativo. Por esta razão, quaisquer contribuições superiores àquela eram encaradas como um imposto destinado a suportar os custos de transição e a atribuição da pensão mínima garantida, socialmente imprescindível. Uma das grandes dificuldades iniciais incidiu sobre esta a última, pois não foi fácil encontrar o equilíbrio adequado na determinação do seu montante, ditada por critérios de justiça entre os trabalhadores mais antigos, a aposentarem-se de acordo com o novo regime, e os que abusaram da não declaração fiscal da totalidade das importâncias auferidas. Efetivamente, no começo, as regras não discriminavam entre as pessoas detentoras de carreiras longas no antigo regime, prejudicadas pela desestruturação do mercado laboral durante os anos da transformação económica e os que, conscientemente, omitiram informação sobre os rendimentos reais fugindo ao pagamento das respetivas contribuições. Felizmente, a equidade preponderou, no sentido de tratar-se com justiça o primeiro grupo, estabelecendo-se uma regra transitória, detalhada no ponto 4.3.4.2, salvaguardando a adequação da designada garantia mínima, proporcionadora àqueles trabalhadores de um nível de vida condigno na aposentação. Porém, na fase de desenho da arquitetura, emergia uma outra questão relevante, prendendo-se com a baixa idade de reforma e com a concessão generalizada de direitos especiais. A filosofia da mudança impunha uma subida da idade mínima de aposentação, fixando-se em 60 anos para ambos os sexos, representando para a mulher um incremento de cinco anos, comparativamente ao enquadramento anterior. Posteriormente, em 2003, a idade mínima passaria, gradualmente, para os 62 anos, em ambos os sexos. Porém, só em 2008 este requisito se tornaria efetivo para as mulheres.

A legislação de 1995 associada ao processo de mudança continha parágrafos específicos, detalhando o tratamento da retirada de certos direitos especiais. Adiante, no ponto 4.3.4.2, referem-se, no plano técnico, os princípios de atuação neste domínio.

4.3.3.5 A Conta Financeira de Contribuição Definida

A componente financeira é obrigatória para os nascidos após 1 de julho de 1971, ou seja, para pessoas com menos de 30 anos de idade, na data de arranque. Sem prazo limite, a adesão é voluntária para os cidadãos nascidos entre 2 de julho de 1951 e 1 de julho de 1971. Até ao momento, encontra-se vedada a subscrição destas contas aos nascidos antes de 1951. De harmonia com a legislação inicial, as contribuições respeitavam o seguinte escalonamento: 2%, nos anos de 2001 a 2006, 4%, em 2007, 8%, em 2008, 9%, em 2009 e 10% de 2010 em diante, igualando-se, no final, as taxas destinadas a cada uma das vertentes, com a contribuição para a conta nocional a reduzir-se ao longo do processo na mesma proporção. A crise de 2008 levaria, mais tarde, à revisão deste escalonamento, conforme descrito no ponto 4.3.5.

Comprometida em manter as contas públicas equilibradas, a Letónia não quis começar a edificação desta vertente com défices, razão pela qual, numa primeira fase, a legislação deixou em aberto o escalonamento, para posterior decisão governamental sobre os critérios que seriam os acima descritos. No princípio, em 2002, registou-se um número baixo de adesões voluntárias, cifrando-se em apenas 8%. No entanto, a taxa de participação aumentaria para 28%, em 2003, em resultado da autorização concedida aos gestores privados para administração deste tipo de contas e do respetivo investimento em publicidade.

No momento da aposentação, permite-se aos detentores das contas financeiras contratar uma anuidade ou a sua transferência para o fundo de reserva das contas nocionais, recebendo uma só pensão, resultante da soma das duas contas. Esta característica é única da arquitetura letã. Conforme referem Mavlutova et al. (2012), originalmente previa-se que, em termos médios, a conta nocional assegurasse uma pensão de cerca de 40% a 50% do salário médio letão, incrementando a conta financeira daqueles patamares para valores situados entre 45% e 60%.

4.3.3.6 O Terceiro Pilar

Numa breve referência ao terceiro pilar, constata-se que a lei então vigente prevê a comercialização de planos de pensões de contribuição definida de adesão individual e coletiva, voluntária, com benefícios fiscais no campo das entregas e dos rendimentos dos ativos. As gestoras dos fundos de pensões são autorizadas a operar pela State Insurance Inspectorate, tendo alargado as suas competências com a atribuição de poderes de regulação.