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Outros Aspetos Relevantes da Gestão da Transição

4. A Gestão da Transição nos Países Pioneiros

4.1 A Gestão da Transição Sueca

4.1.4 Outros Aspetos Relevantes da Gestão da Transição

4.1.4.1 A Velocidade de Transição e os Direitos Adquiridos

Os decisores começaram por definir um prazo de vinte anos de transição para o novo regime. Posteriormente, devido a atrasos processuais, encurtaram-no para dezasseis anos. A mudança deu-se, assim, gradualmente, de acordo com o seguinte critério (Swedish Pension Agency, 2011):

- Os nascidos antes de 1938 permaneceram ao abrigo das regras do ATP;

- Os nascidos entre 1938 e 1953 ficaram abrangidos por um regime de transição, auferindo uma pensão ponderada entre as novas e as antigas regras. Cada geração vê aumentada em 0,05% (1/20) a sua participação no novo sistema. Assim, quanto mais novos, menor o peso da pensão do ATP. Os primeiros a serem abrangidos, os nascidos em 1938, receberão 80% do anterior regime e 20% do novo. Os nascidos em 1939 aufeririam 75% do ATP e assim sucessivamente. Existe uma garantia adicional da não atribuição de uma pensão inferior à do ATP, até 1994; - Os nascidos de 1954 em diante teriam uma pensão inteiramente apurada, segundo as regras do

novo regime.

Na definição da velocidade de transição, levantava-se a questão de quais coortes de nascimento seriam primeiramente abrangidas pelo novo regime, bem como se a transição seria gradual, com as pensões a serem obtidas a partir de uma média ponderada entre novo e velho regimes ou, em alternativa, se a primeira coorte deveria, desde logo, ser abrangida integralmente pelas novas regras. Inclusivamente, chegou-se a equacionar a hipótese, mais tarde adotada em Itália, de se integrar apenas no novo regime os indivíduos que ingressariam pela primeira vez no mercado de trabalho. Esta hipótese era inadmissível em presença do objetivo pretendido de estabilidade financeira de longo prazo, pois as taxas de

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contribuição de certos cenários financeiros, estudados à época, apontavam para valores situados em torno de 29%, em 2040 (Palmer, 2001). Os decisores encontravam-se conscientes de que, quanto mais demorada fosse a transição, maior seria o esforço contributivo no futuro, pelo que esta deveria dar-se o mais rapidamente possível. Certos políticos suecos defendiam como injusto um período de conversão curto para os indivíduos que, por qualquer motivo, não haviam planeado a entrada no mercado de trabalho mais cedo. Esta situação colocava-se de forma mais sensível para as mulheres que haviam iniciado a vida profissional de forma mais participativa após a segunda guerra mundial. O critério final foi o então anteriormente descrito. No entanto, numa análise retrospetiva, amadurecida pela passagem do tempo, Palmer reconhece que a transição foi desnecessariamente lenta. Na sua opinião, teria sido preferível uma transição integral ou, pelo menos, mais rápida para o novo esquema.

No que concerne à determinação dos direitos adquiridos no antigo sistema (ATP), ainda que calculando um capital inicial, criaram-se contas nocionais assentes no registo histórico de rendimentos desde 1960, ano de introdução do ATP e quando começou a compilação desta informação. Estabeleceu-se uma taxa de contribuição de 18,5%, próxima da necessária para financiar os encargos do regime anterior (Palmer, 2006b).

De acordo com os critérios então adotados, até ao ano de 2018 nenhum pensionista receberá aos 65 anos uma pensão calculada integralmente com base nas regras do novo sistema. Isto significa que, durante várias décadas, as pensões concedidas pelo antigo regime continuarão a representar ainda um encargo significativo.

4.1.4.2 Os Fundos de Reserva

No processo de transição, os AP Funds do anterior regime tiveram uma função importante, ao permitir aliviar no curto prazo as necessidades financeiras. O custo dos compromissos, criados com a transição, excedia a receita do Estado disponível para financiamento dos compromissos com pensões do antigo regime. Durante os anos de 1999 a 2001, e por forma a compensar o aumento do encargo no OE, transferiram-se verbas dos fundos de reserva para aquele. A transferência deu-se de uma só vez, ascendendo a cerca de um terço do património dos fundos. No longo prazo, estimava-se ainda necessário o recurso aos fundos de reserva para colmatar o défice gerado pela aposentação da grande coorte de indivíduos nascidos na década de quarenta.

Atualmente, o modelo sueco centraliza todos os pagamentos e recebimentos em quatro fundos de reserva, retendo neles os excedentes gerados e diminuindo-os quando as receitas são inferiores às pensões liquidadas. Estes fundos encontram-se investidos em ativos financeiros sendo, por isso, creditados/debitados pelos ganhos/perdas ocorridos. A sua função é a de absorver saldos líquidos negativos entre contribuições e despesas com pensões, por forma a estabilizar os níveis de pensões e

manter a taxa de contribuição, face a choques económicos e demográficos. Possuem independência legal e administrativa e as dotações são feitas em partes iguais para os quatro fundos, assim como os débitos das pensões. Encontram-se separados não só por razões que se prendem com a limitação de concentração de poder da gestão, mas também porque tal segregação poderá aumentar o efeito de diversificação e incentivar uma salutar competitividade entre equipas de gestão dos vários fundos na busca de um melhor desempenho. Numa perspetiva mais global podem, então, ser encarados como um só. Inclusivamente, a sua missão é idêntica, encontrando-se sujeitos à mesma supervisão. O denominado

Sixth National Fund, não recebe contribuições, nem paga pensões, constituindo uma herança do antigo

regime, encontrando-se, de alguma forma, desenquadrado no novo sistema. Os fundos de reserva20

contribuem de forma importante para a sustentabilidade financeira, tendo as regras de investimento e de governação sido reavaliadas desde a sua origem. Previamente à reforma, a gestão havia sido criticada por preterir retornos, privilegiando a concretização de objetivos políticos, subsidiando o Estado e o mercado hipotecário com baixas taxas de juro. A nova política de investimento viria a determinar critérios assentes no binómio risco-retorno, não permitindo investir com propósitos económicos como os de outrora. As orientações nessa matéria possibilitam a tomada de posições significativas no segmento acionista até 70% da carteira e a assunção de ativos com risco cambial até ao limite de 40%.