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5. A Solvência e a Equidade de um Esquema de Contas Nocionais de Contribuição Definida

5.1 Análise da Solvência

5.1.3 Conclusões Sobre a Solvência

Com estes cenários demostrou-se que, apesar de o ABM melhorar a solvência de um sistema público de pensões assente em esquemas do tipo NDC, mesmo com a existência daquele estabilizador, a arquitetura não é totalmente solvente, perante a ocorrência de choques sobre a longevidade dos pensionistas e sobre o número de contribuintes, identificando-se três grandes tendências de comportamento do sistema:

- Nos choques com um caráter permanente, o mecanismo permite que o sistema acabe, no longo prazo, por convergir para uma situação de solvência, embora necessite, durante um longo período, de financiamento externo. Concretamente, no choque sobre a longevidade são necessários 71 anos de financiamento externo e no choque sobre o número de contribuintes 60 anos. Nunca se verifica a recuperação dos montantes das contas nocionais e pensões. Este é o enquadramento dado pelo cenário 1, nos pontos 5.1.2.1 e 5.1.2.2;

- Em caso de choques sucessivos sobre os dois riscos estudados, o mecanismo não evita ao sistema a necessidade permanente de transferência de outros fundos externos, nunca voltando a atingir-se a posição de solvência, nem a reposição original do passivo. Este é o comportamento esperado de acordo com o cenário 2, nos pontos 5.1.2.1 e 5.1.2.2;

- Nos choques com uma natureza de curto prazo, o mecanismo responde de forma eficaz, retornando o sistema rapidamente a uma situação de solvência. Verifica-se a reposição dos valores de pensões e de contas nocionais, poucos anos após os choques. Tratam-se dos cenários 3, nos pontos 5.1.2.1 e 5.1.2.2.

Apesar de afirmarmos que o sistema não é totalmente solvente nos cenários 2, a realização deste tipo de choques e a utilização da metodologia de stress tests não permitem, por construção, determinar a probabilidade do sistema entrar em insolvência. Porém, em Auerbach & Lee (2006) apresenta-se um estudo utilizando um modelo estocástico para examinarem o comportamento de esquemas do tipo NDC sobre a economia e população (ativa e reformada) americana. Para o efeito, simularam estocasticamente:

- A mortalidade, com base no método proposto em Lee & Carter (1992);

- A fecundidade, com base nos métodos propostos em Lee (1993) e em Lee & Tuljapurkar (1994). A migração líquida foi tratada deterministicamente. Os autores geraram estocasticamente vários cenários populacionais futuros, através do método de Monte-Carlo, obtendo-se distribuições de probabilidade e respetivos quantis. Por meio da aplicação de séries temporais, simularam estocasticamente variáveis económicas tais como os níveis de produtividade e as taxas de rentabilidade das obrigações do tesouro americano. Com estas variáveis e com a população projetada, anteriormente referida, simularam os respetivos salários futuros, o número futuro de pensionistas, por idades, e o retorno esperadodo fundo de reserva. Com base nestas simulações, estimaram a evolução do fundo de reserva para oito tipos distintos de esquemas NDC, quanto à forma de indexação e dos estabilizadores incorporados. As tipologias em análise eram compostas por duas formas de indexação e cinco mecanismos de equilíbrio, dos quais dois tinham associado apenas um tipo de indexação, perfazendo então um total de oito combinações. Neste estudo, uma destas arquiteturas é idêntica à sueca possuindo, assim, o mesmo mecanismo de equilíbrio e a mesma forma de indexação. Uma das principais

conclusões a que chegam é a de que o sistema sueco e o respetivo mecanismo de equilíbrio impedem, de uma forma bastante eficaz, o acumular de défices no fundo de reserva, no longo prazo, atendendo a que, mesmo para um quantil de probabilidade baixo, de 2,5%, cenário utilizado por aqueles autores, o défice potencialmente acumulado é muito reduzido. Admite-se que se o estudo feito pelos autores incidisse sobre a população portuguesa se retirariam conclusões idênticas. No entanto, para o provar, ter-se-ia de elaborar um estudo análogo sobre a população nacional. Assim, no capítulo 9 optámos por fazer o estudo numa abordagem determinística, assente novamente em técnicas de stress tests, para analisar o impacto da introdução de alterações ao ABM.

Em Auerbach & Lee (2006) conclui-se, ainda, que um sistema de pensões por velhice assente num esquema NDC, com um mecanismo de equilíbrio como o sueco, não impede a acumulação de excedentes, devendo integrar algum mecanismo de aumento das indexações, nas situações em que o rácio de equilíbrio é superior a um, de forma a evitar-se a acumulação excessiva de recursos financeiros no fundo de reserva. A existência de meios financeiros em excesso, face ao necessário para se garantir a solvência, para um determinado nível de confiança pré-definido, é socialmente prejudicial, pois tratam-se de verbas destinadas a permanecerem estagnadas na esfera do Estado, quando teriam melhor finalidade se canalizadas para as mãos dos pensionistas, melhorando as suas taxas de substituição. Outra conclusão importante ali mencionada é a de que, quando a indexação é feita com referência ao crescimento da massa contributiva total, em detrimento da utilização do salário médio, o sistema torna- -se, na perspetiva da solvência, mais estável, isto é, com menores flutuações no fundo de reserva, tanto positivas como negativas, diminuindo a acumulação de défices, mesmo desprovido de um mecanismo de equilíbrio.

Assim, aqueles autores concluem que embora o esquema NDC sueco não seja solvente em todos os cenários, conforme também demonstrado pela análise por nós desenvolvida, a probabilidade de acumular défices é, no entanto, muito baixa. Por esta razão, na apreciação, que se fará no ponto 7.5, ao comportamento do modelo vigente na Suécia, perante os choques à dimensão equidade, quando aplicado à população portuguesa (com relação à qual se pretende melhorar a gestão da distribuição dos recursos disponíveis, especialmente em contextos envoltos em restrições orçamentais), assume-se a inexistência de problemas de solvência no longo prazo. Nos capítulos 10 e 11 retornar-se-á à avaliação deste tema como resposta a algumas situações que adiante se identificarão, em resultado da investigação em torno da melhoria de equidade desenvolvida no capítulo 9.